A bomba norte-coreana que explodiu no noticiário da semana traz em seu nome ecos da Grécia antiga. É do grego bómbos – uma palavra de origem onomatopaica, isto é, de imitação de um som natural – que provêm, no fim das contas, todas as bombas e bombs e bombes que tornam minado o vocabulário da maioria das línguas do mundo. Bómbos queria dizer na origem “estrondo seco, trovão”, sentido que passaria ao latim bombus (usado ainda para designar zumbido, além de explosão). A acepção da palavra como máquina de bombear líquidos saiu da mesma fonte, por fazer também ela um barulho infernal.
Detonada a primeira bomba, seguiu-se uma reação em cadeia. O inglês foi buscar bomb no francês bombe, que por sua vez viera do italiano bomba. O termo estreou oficialmente em nossa língua em 1572, num verso de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões: “As bombas vêm de fogo, e juntamente/ As panelas sulfúreas tão danosas”. Acredita-se que tenhamos importado o vocábulo do espanhol.
Naquele tempo as bombas eram estalinhos comparadas às que o século 20 inventaria. Mesmo assim, no início dos 1700, o pioneiro “Vocabulário Português e Latino” não escondia o assombro com o poder destrutivo da bomba: “Bola de ferro coado, oca e cheia de pólvora, que lançada por trabucos, rebenta com o fogo, que se lhe pega, e abrasando tudo o que acha ao redor de si, fere ou mata as pessoas em que dá”.
Uma curiosidade: três décadas antes da explosão da bomba atômica lançada em 1945 pelos EUA na cidade japonesa de Hiroxima, o escritor inglês H.G. Wells já tinha patenteado a expressão atomic bomb. Naquele escrito de 1914, Wells, autor de “A guerra dos mundos” e um dos pioneiros do gênero ficção científica, errou ao imaginá-la como um artefato que “continuaria a explodir indefinidamente”. Mas pensando bem, como vemos agora, talvez não tenha errado tanto assim.
Publicado na “Revista da Semana”.
4 Comentários
Prefiro a de chocolate.
Apenas uma correção: acredito que HG Wells tenha registrado a marca e não patenteado. Patentes e marcas são coisas diferentes. Marcas são signos distintivos como Coca-cola, ou a maçã dos computadores do Steve Jobs e podem ser renovadas. Patentes são invenções e a sua proteção dura só 20 anos. Para HG Wells ter patenteado a bomba, ele precisaria tê-la inventado, descrito em um documento detalhando de tal maneira que outra pessoa pudesse reproduzí-la e este documento seria analisado pelo órgão do governo concessor de patentes (Einstein trabalhou examinando patentes). Se ficasse comprovado que a invenção era nova (ninguém no mundo tinha feito) e inventiva (não era óbvia), a patente teria sido concedida. Todo mundo saberia como reproduzir por causa do relatório descritivo, mas ninguém poderia fazê-lo pelo período de 20 anos. (A descrição serve para que os concorrentes reproduzam em suas pesquisas e tentem conseguir uma tecnologia ainda melhor para ter uma patente à qual chamarem de sua.
A imprensa ajuda a divulgar a confusão entre marcas e patentes.Nem o açaí e nem o cupuaçú foram patenteados no exterior. Nem poderiam, não são invenções. Os nomes açaí e cupuaçú foram registrados como marcas. Quase do mesmo jeito que apple. Só que apple é signo distintivo para computadores, mas não para maçãs. Açaí~não é signo distintivo para açaí. Poderia ser para roupas…
Taí, o termo carta-patente, ou simplesmente patente, vem de carta aberta (o tal relatório descritivo).
Giqqs, Wells nem registrou nem patenteou a expressão. O uso é apenas metafórico. Um abraço.
Acho que substituir o termo “patenteado” por “cunhado” ficaria melhor então, o que acha?
Já são tantas as confusões com as patentes… até “quebradas” elas já foram… como se isso fosse possível.
Aliás, patente poderia ser uma boa palavra para a sua seção de “A palavra é”, que tal? Aproveitando as comemorações dos 200 anos do sistema de patentes no Brasil. Fica a sugestão. Abraço.