Um amigo me dá a notícia que, confirmada, seria um dos mais eloquentes sinais do fim do mundo como o conhecemos: “O Google Translate virou uma ferramenta perfeita!”
Como assim? Até outro dia mesmo, eu me lembrava bem, a burrice cômica dos tradutores automáticos e os textos pedregosos e repletos de armadilhas que eles produziam eram parte da paisagem virtual. Pareciam indicar um limite claro – e provavelmente eterno – para a automação, preservando uma área enorme para a ação humana: traduzir, como de resto escrever, é uma operação sofisticada demais para prescindir de um cérebro biológico, certo?
E agora vinha o meu amigo, também ele escritor, dizer que o Google Translate tinha gastado rios de dinheiro em pesquisa e virado uma ferramenta perfeita!
Cético, fui conferir. Logo descobri com alívio que não, o Google Translate está longe de ser uma ferramenta perfeita. Duvido que seja um dia. Mas, caramba, como melhorou!
Sua relativa acurácia pode ser conferida neste quadro (em inglês) publicado mês passado pelo “New York Times”, que pega trechos em diversas línguas – inclusive de “O pequeno príncipe”, “Cem anos de solidão” e “A metamorfose” – e compara quatro traduções de cada um deles para o inglês: uma humana e três automáticas.
Outro exemplo: mandei o Google traduzir o segundo parágrafo deste post para o inglês e, em seguida, de volta para o português. Deu nisso:
How so? Until the other day, I remember well, stupid comedy of automatic translators and texts rocky and full of pitfalls that they produced were part of the virtual landscape. Seemed to indicate a clear limit – and probably forever – for the automation, while preserving a huge area for human action: to translate, as indeed writing is too sophisticated an operation to forgo a biological brain, right?
E então:
Como assim? Até outro dia, eu me lembro bem, comédia estúpida de tradutores automáticos e textos rochoso e cheio de armadilhas que eles produziam eram parte da paisagem virtual. Parecia indicar um limite claro – e provavelmente para sempre – para a automação, preservando uma área enorme para a ação humana: a tradução, como, aliás, a escrita é uma operação muito sofisticada para prescindir de um cérebro biológico, certo?
Ruim? Não, bastante bom. Funcional, fiel às idéias principais. E no plano textual não tem nada que um rápido copidesque não conserte.
Depois disso, confesso, ando cheio de dúvidas sobre a eternidade daquele limite.
26 Comentários
Tenho um amigo turco que também é tradutor. De vez em quando brincamos de deixar o inglês de lado e conversar usando o Google Translate, e é sempre bem engraçado 🙂 Mas, sim! Está melhorando o dito.
Abss!
ps. foi um prazer!
Sergio,
eu estava percebendo essa mudança, mas ao mesmo tempo desconfiava que era apenas coincidência nas consultas que eu fazia. Então é verdade!
eu também desconfiei de que estava melhorando.. mas achei que era só impressão (ou sorte) minha, rs.
Ficou melhor no que diz respeito a textos longos, uma revisão final basta para deixar o texto mais claro. gostei da observação sobre o tema no seu blog!
Este post pode ser considerado de utilidade pública.
Todo prosa, você traz cada pérola… Não sei se celeste, mas com certeza no porto certo…
É que meu nome é também Pérola Celeste Porto e eu quiz brincar um pouquinho com as palavras… Se google pode… por que não, nós, né?
Entendeu? Não?
Fico com aquela frase linda de Jesus:
“O que faço ( falo) agora, não entendes, entenderás depois…
J;)
Eu tenho medo da Rosângela.
Muito bom saber disso Sérgio, belo post.
Já até sei aonde isso vai: qualquer dias desses as pequenas editoras – e não só elas, vai ter muita editora grande também – vão pegar textos em inglês (ou em mais um ou dois idiomas quaisquer) e passar no Google Translate, depois publicar – inventando um nome de tradutor qualquer, tipo aqueles que a Martin Claret inventava. Vão aumentar ainda mais seus lucros, eliminando a figura do tradutor humano.
Aliás, verdade seja dita: vai ter muito tradutor berda merda pegando serviço, mandando o Google Translate fazer o grosso do trabalho, e depois só dando uma “ajeitada” e pronto.
Oh Céus… O século XXI cada dia fica mais… mais… grotesco? interessante? irônico? divertido?… Que sais-je?
Aliás, aos desavisados tecnológicos (andei percebendo que são muitos por aqui), um aviso que talvez interesse: o navegador Chrome – surpresa: do Google! – , rival do Internet Explorer, já tem uma ferramenta de tradução embutida. Ou seja: nem é preciso você dar um pulo ao Google Translate. Basta acessar qualquer página em idioma estrangeiro que lá no alto vai aparecer algo mais ou menos assim: “Esta página está em [o idioma da página]. Deseja traduzila? Sim | Não”
Link para baixar o navegador Chrome (o mais rápido e estável navegador atualmente, sem contar essas firulas de tradução, sincronização de bookmarks, etc.):
http://www.google.com.br/chrome
Não precisa agradecer 😉
Mais uma coisa Sérgio: existem formas de construção da frase que facilitam uma tradução mais correta. “Machine translation”, aliás, é a bola da vez no que tange ao processamento de linguagem natural. Abs.
O Google Chrome, ao meu ver, é o melhor navegador do momento e não só pela sua ferramenta de tradução.
Quando à Rosângela, aposto que é uma norteamericana que traduziu seu texto em algum tradutor que não é da Google.
Eu também havia percebido recentemente a grande melhora da ferramenta.
O exemplo que você postou é incrível, pois passar para uma língua e depois passar de volta é uma prática que eu também experimentava em tradutores mais antigos e que costumava causar “perda total” na frase.
Esse estágio atual era desejável, e pode melhorar um pouco mais. Muito além, acredito que nem seja necessário. Algumas sutilezas de escolha vocabular, por exemplo, devem ficar para o ser humano.
Mas o trabalho de tradução tornou-se bem simplificado!
@paulosantoro
Uma vez coloquei num velho “translator” a seguinte frase:
Miles Davis, with his velvet horn, created the cool jazz.”
O resultado foi:
Milhas Davis, com seu chifre de veludo, criou o jazz fresco.
Nunca mais usei essa geringonça…
Ahaha, maravilhoso!
Vinícius Antunes… quá, quá, quá…
Viajas também nas crônicas dos outros, né?
Daniel Brasil????? huahuahuauhaua
Alguém por favor poderia me dizer se a melhoria foi somente para as páginas traduzidas do inglês, ou do espanhol também?
O Google está utilizando sendo muito esperto no aprimoramento de suas traduções automáticas. Eles têm uma ferramenta, o Translator Toolkit, que oferece aos usuários ferramentas de memória (um tipo de arquivo para tradutores profissionais) em troca da retenção das soluções que cada profissional encontra. Assim, o Google, a um custo marginal e negligenciável, adiciona ao seu “corpus” os aperfeiçoamentos que milhões de humanos fazem às traduções automáticas, o que certamente é uma força de trabalho gratuito com a qual o Babelfish não pode contar.
Por fim, segue uma resenha defendendo a tradução humana contra a automatizada: http://www.nytimes.com/2010/04/11/books/review/Howard-t.html?scp=8&sq=google%20translator&st=cse
Ainda em tempos pré-google, quando a internet chegou lá em casa, eu tinha uns 14 anos e só ouvia Led Zeppelin. Fiquei encantando com a possibilidade de com meu parco Inglês entender mais das letras que cantava, usando os tradutores. Pois bem, desisiti de tudo logo no cabeçalho, que indicava se tratar de uma canção de Roberto Planta e James Página.
Mas quanto aos limites, Sérgio, no meu entender eles serão eternamente intransponíveis, mas no seguinte sentido: não é o emissor que o estabelece, mas o receptor.
Na música, por exemplo, o MP3 é de fato uma versão muito ruim de uma gravação. O vinil ainda é o melhor formato. Mas pra perceber, além de uma boa aparelhagem, o sujeito precisa ter um mínimo de sensibilidade musical.
O mesmo serve pra briga entre películas e formatos digitais, na fotografia e no cinema. Por mais fiel que seja uma câmera HD, uma boa projeção em trinta e cinco é superior. É simples, mas não é todo mundo que nota, claro.
No texto é a mesma coisa. Vai ter gente saindo satisfeita com traduções automáticas, outros ficarão com traduções humanas, outros – é meu caso para quase todas as línguas – tentarão achar a melhor tradução. E quem pode, lê no orginal!!!
O limite existe, intuitiavamente sinto que ele é eterno, mas nunca entendi bem a razão… O único que chegou perto foi um professor da Eco, que disse: “não adianta, a natureza do ser humano é analógica. Zero e um pressupõe verdades absolutas, e verdades absolutas, não existem. É uma criação artificial que acarreta perdas…”
Isso que se deixa de lado, pra mim, é valioso demais… para outros, não tem importância…
Tenho utilizado o translator com frequência para solcitar informações ou assistência em softwares que não possuem suporte em português. Notei a melhora significativa que nestes casos específicos dão uma grande ajuda. Entretanto se a pessoa não tiver pelo menos um nível mediano no idioma final cometerá pecados graves. Basta dizer que a pontuação e o estilo influenciam directamente o resultado . Portanto é necessário uma boa compreensão do uso da pontuação no idioma de origem e um bom conhecimento do estilo do idioma para o qual se pretenda a tradução. Eu gostei particularmente da possibilidade de se contribuir, imediatamente, para a melhoria da tradução. Eu mesmo já utilizei o recurso embora tivesse a consciência de que estava a trabalhar de graça para uma grande companhia.
Tudo bem, Pedro David, para você não existe verdades absolutas, e assim sendo você deve ser um resultado da relatividade, e o que voc~e acabou de dizer é tão relativo para você que de nada adiantaria eu te dizer que o Absoluto está salvando muita gente e conviver com elas maravilhoso! Temos sido felizes assim cheio do Absoluto. E estou para dizer, que o Absoluto tempera tanto a terra que por isso ela é esse refrigério… se não houvesse o Absoluto o mundo estaria bem pior.
Pois sei que você é ralativista e vai achar que o que falei é relativo e se for relativo o que acabei de te dizer, então você pode muito bem considerar o absoluto. Ou não?
Grande artigo, Sergio. Realmente o teste de tradução que você fez trouxe um ótimo resultado. Não é para fins profissionais, substituindo o trabalho cuidadoso dos ótimos tradutores (humanos) que temos, mas é uma grande ferramenta para quem tem dúvidas em outra língua, ou a desconhece, mas não quer deixar de ter acesso à informação.
Agora só falta a tal engenhoca começar a criar, eu digo, escrever ficção. Ainda chegaremos a isso, não duvido nada !! Mesmo que num possível início, ainda bastante remoto, falte o tal quê da emoção, essa epopéia não me parece mais tão impossível !
A mágica do google translater para ser funcional é que ele não é um tradutor 1 + 1 = 2, ele pede sugestões, correções dos usuários, então quando se tenta traduzir algo, se não ficou muito bom ou ficou errado, é possível corrigir e isso vai para base de dados e outros usuários podem concordar ou não em futuros usos de termos, expressões, palavras, frases semelhantes.
E reportagens completas escritas por máquinas? Eu acho que não estamos tão longe…
http://www.wired.co.uk/news/archive/2009-12/16/the-rise-of-machine-written-journalism.aspx
A hegemonia do inglês está com os dias contados? | Sobre Palavras - VEJA.com