“Chega, vá!” é um grande argumento crítico-literário.
O relato de Ivan Lessa sobre a troca de cachações (por enquanto apenas metafóricos) entre o escritor Martin Amis e o crítico literário Terry Eagleton, ambos ingleses, está impagável – mesmo porque o site da BBC Brasil é gratuito. Amis, que vai se firmando como o grande porta-voz mundial da islamofobia, foi apanhado pelo adversário de guarda, mais que baixa, nanica.
Só Ivan para nos lembrar que supercílios abertos, de um lado, e gargalhadas ferozes, do outro, salvam o debate literário desse tédio brasileiríssimo que nem a anunciada – e já revogada – venda de Jorge Amado para Harvard conseguiu abalar.
Falando nisso, Gonçalo M. Tavares ganhou o Portugal Telecom. Faz sentido, viva a lusofonia, coisa e tal. Mas a vaga de um prêmio literário peso-pesado para a literatura brasileira volta a ficar aberta. Alguém se habilita? Brasil Telecom, talvez?
Ainda PT: será que só eu fiquei constrangido com os clichezões trevisânicos enfileirados por Dalton Trevisan, o segundo colocado, na mensagem “emocionante” que enviou para ser lida na cerimônia de premiação? “Quem me dera o estilo do suicida em seu último bilhete”? Uau.
Não foi à toa que o Ivan se mandou.
23 Comentários
As polemicas daqui sao somente sobre árbitros de futebol; camélias do distrito federal; sobre qual roteirista de novela é melhor …ou pior.
Pois é Sergio nao entendi isso. O premio era só para escritores brasileiros que escreviam em portugues e agora é para todo o mundo lusofono?
Dê uma palhinha do bilhete do D.Trevisan, vai?
João, desculpe, tinha esquecido link para a matéria que reproduz a mensagem. Agora está lá.
Sim, o Portugal Telecom agora é um prêmio da lusofonia.
Abraços.
o povo quer saber:
D.Trevisan ao mandar bilhete com colagens de seus contos está esnobando a premiacao ou inflando seu ego?
…ou ainda tristim porque nao colocou a mao nas 100 milhas?
“o estilo do suicida em seu último bilhete” é um paradoxo. Se é “o último bilhete” deixa de ter/ser estilo.
Não foi mas mandou alguém pra receber o prêmio… é louco mas não rasga dinheiro… sei…
Gostei do bilhete. Vai lá, é uma empilhação, e também uma empulhação de clichês, mas ainda prefiro os caladões misteriosos aos escritores mordidos pela mosca azul do Veloso.
Eu gostei da inclusão dos portugueses. Até porque ano passado não saiu nenhum livro nacional do nível de Jerusalém.
Ivan Lessa pode ter se mandado por bons motivos, mas não custava ter pesquisado um pouco mais antes de escrever sua coluna. O trecho que ele cita como parte de um ensaio do Amis não veio de ensaio nenhum, veio de uma entrevista, e foi precedido pelas palavras: “Há definitivamente um desejo – você não o sente? – de dizer: A comunidade islâmica terá que sofrer”, etc.
Ou seja, Amis não está defendendo essas medidas. Suas palavras continuam sendo incômodas, mas o contexto é outro, e Lessa deveria ter lido o ensaio de Amis antes de escrever sobre o assunto. Ele preferiu confiar no que Eagleton escreveu, embora o erro já tivesse sido apontado por todos os grandes jornais britânicos. Bola fora.
Abraços,
Lucas
O cara se recolheu ao silêncio aí pelos anos 50 do século passado, ganhou prêmios e mais prêmios e sempre mudo como um caramujo. E de repente, assim, não mais que de repente, resolve se manifestar, ainda que por vias indiretas. E o monumento misterioso que atraía nossa curiosidade com estranho e poderoso magnetismo, mostra-se frágil, titubeante, tossindo inspiração de colegial. Que pena, Dalton, achar de abrir a boca. Logo agora, que você dobrou a esquina dos oitenta anos? Não precisava disso, meu caro!
Gostei do bilhete também. É pelo menos uma satisfação. Estranho seria se ele fosse lá, pimpão, pegar o prêmio…
Ele podia ter ido e não falar nada. Ou soltar um palavrão.
Lucas, acho que ele soltou um Grande Palavrao! tipo: “Maldito Barriga Verde!” .
Deveria entao, já que decretou o fim de sua auto-reclusao, a)gravar um vídeo fazendo seu discurso e encaminhar; b) discursar por videoconferencia; c)passar o discurso para um robo que sairia formal e impessoal do mesmo jeito (a foto dos tres ganhadores e representante me leva a pensar isso. além de poder ser em uma das línguas oficiais da ONU). Quiçá a venda do Castelo de Conde Vlad Drácula tem algo a ver com isso?
Oi
Colagem de frases da própria obra não significa “clichê”. Dalton Trevisan é excelente contista e mantém seu nível literário melhor do que Rubem Fonseca.
PS: Conheçam o contista Moreira Campos, autor cearense já falecido. Numa noite, assisti à leitura de um conto seu pela atriz Maria Luísa Mendonça na tv Cultura.
Dalton Trevisan é, infelizmente, relíquia viva dos anos 60 e 70. Pena que não parou por lá.
Sua obra, sendo escrita hoje, faz pouco sentido.
Daqui a pouco vão dizer que Dalton escreveu esse bilhete há décadas, já prevendo que ganharia um prêmio desse porte, e foi escrevendo os contos ao longo dos anos, usando as frases do bilhete.
Rafael,
quem pode sabe? lógica de vampiro…
Ivan Lessa e meio chato as vezes, alem de ser, conforme observa o Lucas, unreliable no que tange a atribuicao de pontos de vistas de terceiros, que ele as vezes reporta de uma forma um tanto idiossincratica.
Mesmo morando ha oitocentos seculos na Inglaterra, o vetusto Lessa ainda nao aprendeu a escrever de forma clara nem a ordenar suas opinioes de modo sobrio e desapaixonado.
O conflito Amis-Eagleton sera melhor acompanhado caso se recorra ao debate tal qual exercido ate o momento, e de preferencia de modo isento, sem cheerleading por um lado ou pelo outro.
Olá Sérgio. Olá comentaristas.
Sendo esta uma comunidade de escritores (publicados ou não), envio uma dica que talvez lhes interesse: uma utilíssima widget para publicação (protegida) de textos on line (docs, pdfs, etc) que pode ser incorporada aos seus blogs.
Caso queiram divulgar o
link do conto “La Sindone”, agradeço antecipadamente a gentileza. 🙂
Acesse o Scribd aqui:
( http://www.scribd.com/doc/406903/La-Sindone-conto-de-C-S-Soares )
Forte abraço!
Claudio Soares
http://www.pontolit.com.br
Meio chato?
Bemveja, você está de muito bom humor, hein?
Sumido Bemveja, o Ivan é meio maluco, sem dúvida, mas chato – um cronista de humor tão gauche e texto tão delirantemente lúdico? Tem gosto pra tudo, é claro, mas não me parece a melhor escolha vocabular. Agora, se é uma piada (ser chamado de chato por você bate algum recorde mundial de hipérbole, sei lá), tudo bem. Apareça de vez em quando.
Como não encontrei maneira de me comunicar com Sérgio Rodrigues particularmente, uso o espaço para solicitar um endereço para remessa de meu recente romance Nunca Seremos Felizes.
De meus tempos de editor de livros de autores brasileiros da Editora Record, 80 a 86, convivi com Dalton Trevisan, no Rio e Curitiba. Só mesmo convivendo com ele para perceber o seu alto senso de humor. Aposto que ele sorri enquanto se discute seriamente o seu bilhete.
Jeferson, respondi da primeira vez, mas imagino que você não tenha visto. Me escreva por favor no sergio@todoprosa.com.br. Abs.
Caros Sérgio e Rafael, eu acho o Lessa ocasionalmente chato pelo mesmo motivo porque acho Marco Sá Corrêa e Christopher Hitchens chatos; são muito self obsessed! Cada palavra controversa e cada construção sintática desnecessariamente complicada revelam um narcisismo irresolvido, que atrapalha a inteligência e o juízo deles.
motivo por que