Aí não, Babelia! A última edição do bom caderno literário do jornal espanhol “El País” trouxe na capa, com a assinatura de William Ospina, um abrangente apanhado da literatura produzida na região amazônica, “O grande rio dos mitos”, a pretexto dos quinhentos anos de Francisco de Orellana, “descobridor” do rio. O problema é que o texto é abrangente demais: inclui entre os expoentes da literatura amazônica “Os sertões”, de Euclides da Cunha, o clássico brasileiro sobre a guerra de Canudos – que, como se sabe, fica na Bahia.
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Desde o surto de suicídios deflagrado pelo sucesso de “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, não se via uma epidemia romântica de fundo literário como essa: casais de namorados escrevem seus nomes em cadeados, prendem-nos nas pontes de Veneza e atiram as chaves na água. Inspirada num livro do escritor italiano Federico Moccia, a gracinha virou febre e vem sendo reprimida pelas autoridades, que temem danos ao patrimônio histórico. O jornal “La Repubblica” cobrou em editorial multa de 3 mil euros e um ano de prisão para a turma do “cadeado do amor”. Reportagem completa do “Guardian”, em inglês, aqui.
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A revista “Banipal”, em inglês, lançou este ano uma edição inteiramente dedicada a escritores líbios. Não, Muamar Kadafi não está entre eles, embora já tenha se arriscado na prosa literária. Mais um sinal de que uma era chega ao fim?
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Lembro que as inscrições para o I Concurso Todoprosa de Resenhas terminam às 12h do dia 12 de setembro. Restam menos de vinte dias, portanto. A julgar pelos textos que já chegaram, teremos uma disputa de alto nível.
2 Comentários
Caro Sérgio:
A citar o Euclydão, William Ospina talvez tenha comido mosca, pois deveria citar seu livro póstumo formidável: “À Margem da História” (1909). Lá encontraria o gênio de Euclides da Cunha em sua maturidade analítica, dissecando os contrastes da natura e do homem na Hileia, que ele pensou em batizar de Um Paraiso Perdido. Livro onde se lêem parágrafos como esses (que não resisto sem citar):
“É que, realmente, nas paragens exuberantes das héveas e castiloas, o aguarda a mais criminosa organização do trabalho que ainda engenhou o mais desaçamado egoísmo.
De feito, o seringueiro, e não designamos o patrão opulento, se não o freguês jungido à gleba das ‘estradas’, o seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o homem que trabalha para escravizar-se”.
Caro Sérgio: Como percebi, segundo antes do clique, que minha citação do Euclides eram 2 parágrafos (meu comentário anterior), pus o “s” em “parágrafo” e me esqueci de atualizar a desinência verbal. Favor corrigir(não quebremos a serenidade do repouso final daqueles heróis aboletados no panteão lusófono).