httpv://www.youtube.com/watch?v=EfzuOu4UIOU O Pop Literário de Sexta não viveria sem eles, mas trailers de livros partem, segundo uma boa tirada de Drew Grant na Salon, de “um conceito razoavelmente ridículo: tentar vender literatura para pessoas que prefeririam esperar pela adaptação cinematográfica”. Seja como for, o gênero está em ascensão (transparência total: eu mesmo já cometi um e dificilmente escaparei de outros) e tem até seu próprio prêmio no âmbito da anglofonia, o Moby Awards, que destaca os melhores e os piores exemplares do mercado no período de um ano. Nem sempre é fácil distinguir uns dos outros. Grande vencedor (sem ironia) do Moby 2011, o vídeo acima ilustra bem a observação de Grant sobre o ridículo do conceito. Feito para promover o último romance de Gary Shteyngart, já lançado no Brasil com o título “Uma história de amor real e supertriste” (Rocco, tradução de Antônio E. de Moura Filho, R$ 49,50), o trailer é quase uma superprodução. Tem participações especiais de colegas do autor – especialmente Jeffrey Eugenides, Edmund White e Jay McInerney – e até do astro hollywoodiano James Franco. Tudo para levar à estratosfera aquele manjado mandamento, “ria de si mesmo antes que os outros o façam”, caro a…
J.K. Rowling anunciou que está escrevendo um novo romance – e que desta vez é um livro adulto! Só isso. Nem tema, nem data aproximada de lançamento, nada. J.K. Rowling está escrevendo um livro, é adulto, ponto. Tão desmesurado é o poder da mãe de Harry Potter, há não mais de 15 anos uma pobretona aspirante às letras, que todos se agitam: o “Guardian” aposta num romance policial, livreiros soltam fogos, editores afiam as unhas – ela informou julgar natural que a “nova fase” de sua carreira ocorra noutras casas editoriais, o que evidentemente não deixou felizes suas parceiras de HP Bloomsbury no Reino Unido, Scholastic nos EUA, Rocco no Brasil e dezenas de outras pelo mundo. Como se sabe, a varinha mágica de Rowling foi turbinada pelo bônus de vender mais de 450 milhões de exemplares dos livros do bruxo adolescente de óculos, 11 milhões só nas primeiras 24 horas do lançamento americano de “Deathly hallows” (Relíquias da morte), o último da série, em 2007. Mas conseguirá sua mágica migrar com igual força para outro mundo, outra visão de mundo – ou o que quer que ela queira dizer com esse papo de literatura “adulta”, policial ou não? Não…
Contra a maré: a jovem escritora americana Edan Lepucki faz, no site “The Millions”, uma interessante lista de seis “Razões para não se autopublicar em 2011-2012” (em inglês, acesso gratuito). Autora (agora no feminino, com o colunista ajoelhado no milho, valeu Hilary Kaplan!) de uma única novela mais ou menos obscura – que as grandes casas editoriais esnobaram e que acabou lançada por uma editora pequena – e no processo de escrever seu segundo livro, alguns dos motivos que Edan enumera para ter tomado a decisão de não eliminar intermediários na relação com o leitor são previsíveis e até banais: a crença no papel fundamental dos editores, por exemplo, ou o fato de nem sequer possuir um leitor eletrônico. No entanto, ela parece se aproximar de uma verdade pouco comentada quando observa que a onda das autopublicações não tem incluído muitos exemplos de “ficção literária” – isto é, aquela literatura artisticamente ambiciosa, mais inquieta com questões de forma, que vai buscar seus leitores numa parcela menos numerosa e mais exigente do público. Antes que me atirem pedras, convém esclarecer: não considero a ficção literária superior a outras formas de ficção, apenas diferente; para mim, é um outro gênero, tanto em…
Evento da indústria editorial, a 15ª Bienal do Rio, que ocupa de amanhã ao dia 11 de setembro uma área de 55 mil metros quadrados no Riocentro, não é exatamente uma feira literária – não no sentido estrito desta palavra. É uma feira do livro, o que faz tanta diferença que explica o aparente paradoxo do sucesso de massa do evento num país com três quartos da população em situação de analfabetismo funcional e que carrega o modesto índice de leitura de 4,7 livros anuais per capita, aí incluídas obras didáticas e técnicas. Se a Flip é uma delicatessen, a Bienal é um hipermercado. Em Paraty, embalados em certa aura de alta cultura, poucos milhares de leitores vão ver e ouvir autores que só muito raramente dão as caras nas listas de best-sellers. No Riocentro, grandes vendedores de livros e até personalidades de outras praias atraem uma multidão prevista em 640 mil pessoas a uma festa que cresceu quinze vezes em público e 40 vezes em área em menos de trinta anos – não por acaso, o mesmo período em que explodiu no Brasil e no mundo a chamada cultura da celebridade. Na Flip, o ator Marcello Antony seria um…
O escritor escocês Ewan Morrison provocou um barulho considerável no Festival de Livros de Edimburgo, há poucos dias, com uma palestra (transcrição resumida do “Guardian”, em inglês) tão fundamentada quanto apocalíptica em que, além de dar razão a quem prevê para o futuro próximo o fim do livro de papel (para o qual estima uma sobrevida de apenas uma geração), pinta um cenário em que o próprio ofício de escritor como o conhecemos deixará de existir: Os e-books, no futuro, serão escritos por principiantes, por equipes, por entusiastas de suas respectivas especialidades e por autores já estabelecidos na era do livro de papel. A revolução digital não emancipará os escritoires nem abrirá uma nova era de criatividade: vai levá-los a ofertar seu trabalho em troca de muito pouco ou de nada. A literatura, como profissão, terá deixado de existir. A futurologia é uma disciplina traiçoeira, mas Morrison não é propriamente um maluco que sobe no caixote para pregar o fim do mundo. Apresenta-se munido de todas aquelas tendências estatísticas já bastante conhecidas que apontam para a progressiva perda de valor do conteúdo na era digital (rumo à gratuidade absoluta?) e para o crescimento aparentemente irresistível da pirataria. Registra a decadência…
O excesso de notícias gerado pela Flip fez com que tivesse menos destaque do que merece o anúncio, feito pela ministra da Cultura, Ana de Hollanda, do novo programa de apoio à tradução de autores brasileiros da Biblioteca Nacional. O mercado – editores, escritores e agentes – recebeu a novidade com empolgação. Ambicioso a ponto de prever investimentos até 2020, e lançado a tempo de ter impacto na Feira de Frankfurt em 2013, quando o Brasil será pela segunda vez o país homenageado, o consenso é que o presidente da Biblioteca Nacional, Galeno Amorim, conseguiu costurar um programa próximo do que o mercado sempre reivindicou – e que a esta altura muitos já nem esperavam, desanimados com a crise política que cercou o ministério da Cultura nos últimos meses. O fato que é nunca houve uma ferramenta tão robusta de divulgação de nossa quase secreta literatura no exterior. Em outubro do ano passado, comentando a participação da Argentina como país homenageado no megaevento alemão, eu disse aqui neste espaço que, com todos os percalços e críticas feitas à festança armada pelos vizinhos, tínhamos muito a aprender com eles. Essa impressão se baseava sobretudo no quanto eles tinham investido na concessão…