A vida não está em ordem alfabética como há quem julgue. Surge… ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são migalhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cume e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, achata-se e resta-lhe apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e você continua insistentemente no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado… até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, você deixou na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começa a desconfiar de que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas. E que belas garatujas! O trecho acima é de “Tristano morre” (Rocco, tradução de Gaetan Martins de Oliveira), romance em forma de monólogo de um moribundo que o escritor italiano Antonio Tabucchi (foto) lançou em 2004. Tabucchi morreu ontem, aos 68 anos,…
Interessado em compreender melhor as entranhas do novo mundo dos e-books, em especial a luta dos modelos comerciais antípodas oferecidos por Amazon e Apple e como se situam escritores, editores e livreiros diante deles? Bem, levando-se em conta que, a maior parte do tempo, o Brasil ainda age como se nada disso existisse, você precisa em primeiro lugar saber inglês. Cumprido tal requisito, não existe curso melhor e mais intensivo do que ler a carta aberta – pró-Apple e grandes editoras – que o escritor best-seller Scott Turow (foto), presidente do Authors’ Guild, a associação dos escritores dos EUA, enviou aos membros da organização. Depois é só tomar fôlego e emendar, rolando a tela, na longa lista de comentários postados no site da AG, divididos entre o apoio e a crítica ao ponto de vista de Turow. Além de ser didático, o debate dá inveja: fora um papalvo internético ou outro, o grau de civilidade, informação, articulação e até estilo dos debatedores é de derrubar o queixo. * No momento histórico em que a Enciclopédia Britânica deixa de circular em papel, que tal olhar em volta e medir nosso atraso em relação ao país que ocupa a extremidade oposta da…
O ensaio do crítico americano Lee Siegel no décimo número da revista “serrote”, chamado John Updike ou A desimportância de ser sério, tem duas partes instigantes que, no entanto, não se encaixam muito bem. Ambas – e sua (des)conexão – vão comentadas abaixo. Na primeira parte Siegel defende John Updike (foto, 1932-2009) do que considera uma campanha sórdida – nem tão nova, mas acelerada à medida que sua vida se aproximava do fim – para desmoralizar um dos grandes escritores americanos da segunda metade do século 20. Os maiores inimigos de Updike seriam, pela ordem, o crítico James Wood e o escritor David Foster Wallace, mas o complô acabaria envolvendo Harold Bloom e a própria revista “New Yorker” em que Updike se consagrou – e que mesmo involuntariamente, nothing personal, teria aplicado no criador de Coelho Angstrom um golpe duro ao contratar Wood. O ensaísta é galhardo e até valente em sua defesa crítica de um escritor de inegáveis méritos, prolífico e generoso, que de alguma forma tornou-se uncool e anda necessitado de defesa em seu país. Deixa a sensação de que poderia ter feito um trabalho melhor em demonstrar por que Updike é importante, como eu acredito que seja…
httpv://www.youtube.com/watch?v=EfzuOu4UIOU O Pop Literário de Sexta não viveria sem eles, mas trailers de livros partem, segundo uma boa tirada de Drew Grant na Salon, de “um conceito razoavelmente ridículo: tentar vender literatura para pessoas que prefeririam esperar pela adaptação cinematográfica”. Seja como for, o gênero está em ascensão (transparência total: eu mesmo já cometi um e dificilmente escaparei de outros) e tem até seu próprio prêmio no âmbito da anglofonia, o Moby Awards, que destaca os melhores e os piores exemplares do mercado no período de um ano. Nem sempre é fácil distinguir uns dos outros. Grande vencedor (sem ironia) do Moby 2011, o vídeo acima ilustra bem a observação de Grant sobre o ridículo do conceito. Feito para promover o último romance de Gary Shteyngart, já lançado no Brasil com o título “Uma história de amor real e supertriste” (Rocco, tradução de Antônio E. de Moura Filho, R$ 49,50), o trailer é quase uma superprodução. Tem participações especiais de colegas do autor – especialmente Jeffrey Eugenides, Edmund White e Jay McInerney – e até do astro hollywoodiano James Franco. Tudo para levar à estratosfera aquele manjado mandamento, “ria de si mesmo antes que os outros o façam”, caro a…
Envergonhado com a ação do procurador de Uberlândia contra o dicionário Houaiss, por suposto crime de racismo numa das acepções do verbete “cigano” (verbete que, por via das dúvidas, já foi tirado do ar na versão online do dicionário, tornando o caso ainda mais deprimente)? Console-se pensando no estado americano do Arizona, onde uma campanha de extremistas de direita do Tea Party contra os “estudos étnicos” na rede educacional acaba de botar na lista negra, entre outros autores, um tal de William Shakespeare. * O escritor Michel Laub esqueceu a reverência no banco do táxi, pegou a crônica A um jovem, de Carlos Drummond de Andrade – publicada no livro “A bolsa & a vida”, de 1962 – e editou os 31 conselhos literários que o poeta dá a um certo Alípio para transformá-los num decalogozinho mais ao gosto da era digital. O resultado contém alguns toques de atualidade perfurocortante: Se sentir propensão para o ‘gang’ literário, instale-se no seio de uma geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio. * Jonathan Franzen está sendo – de novo – bombardeado por acusações de misoginia, desta vez devido às…
httpv://www.youtube.com/watch?v=Adzywe9xeIU&feature=player_embedded#! Eis a versão integral (cerca de 15 minutos) do curta de animação que ganhou o Oscar ontem à noite, The fantastic flying books of Mr. Morris Lessmore (Os fantásticos livros voadores do Sr. Morris Lessmore, nome próprio que contém um trocadilho intraduzível, algo como “Maisé Menosmais”). Essa declaração de amor ao livro de papel começa com um furacão que arranca as casas de seus alicerces e as palavras das páginas impressas, metáfora óbvia da onda digital. Mudo, o filmete é escrito e codirigido pelo ex-animador da Pixar William Joyce e mistura técnicas (stop-motion, animação computadorizada e desenho) para produzir uma bonita homenagem aos livros físicos. Embora ameace derrapar aqui e ali (personagens em preto e branco ganham cor ao ter contato com livros, por exemplo), o curta consegue no fim das contas driblar a maior parte dos lugares-comuns associados ao tema. Destaque para o momento em que, na mesa de operação, o velho tomo carcomido em francês tem uma parada cardíaca e só ressuscita quando o Sr. Lessmore começa a… lê-lo! Um tom profundamente nostálgico perpassa o filme, da música à direção de arte. Isso é condizente com uma cerimônia do Oscar em que o grande premiado foi “O…
J.K. Rowling anunciou que está escrevendo um novo romance – e que desta vez é um livro adulto! Só isso. Nem tema, nem data aproximada de lançamento, nada. J.K. Rowling está escrevendo um livro, é adulto, ponto. Tão desmesurado é o poder da mãe de Harry Potter, há não mais de 15 anos uma pobretona aspirante às letras, que todos se agitam: o “Guardian” aposta num romance policial, livreiros soltam fogos, editores afiam as unhas – ela informou julgar natural que a “nova fase” de sua carreira ocorra noutras casas editoriais, o que evidentemente não deixou felizes suas parceiras de HP Bloomsbury no Reino Unido, Scholastic nos EUA, Rocco no Brasil e dezenas de outras pelo mundo. Como se sabe, a varinha mágica de Rowling foi turbinada pelo bônus de vender mais de 450 milhões de exemplares dos livros do bruxo adolescente de óculos, 11 milhões só nas primeiras 24 horas do lançamento americano de “Deathly hallows” (Relíquias da morte), o último da série, em 2007. Mas conseguirá sua mágica migrar com igual força para outro mundo, outra visão de mundo – ou o que quer que ela queira dizer com esse papo de literatura “adulta”, policial ou não? Não…
Desta vez a lista do Flavorwire (em inglês) é picante: cartas de amor com conteúdo sexual, na maior parte dos casos explícito, assinadas por escritores famosos. Leitura muito divertida. James Joyce (foto), insuperável, faz até Charles Bukowski parecer um coroinha. * O crítico acadêmico João Cezar de Castro Rocha publicou na última edição do Prosa & Verso um artigo alentador e de leitura obrigatória. Ainda bem que a fauna e a flora da universidade são diversificadas a ponto de incluir visões lúcidas, autocríticas e generosas como esta: Dada a pluralidade da produção atual, é impossível decretar a morte da crítica ou o impasse definitivo da literatura, simplesmente porque há muito tempo não mais existe uma única forma de poesia, prosa ou crítica — aspecto que desautoriza juízos totalizadores. A tarefa atual da crítica é realizar uma arqueologia das formas do presente, a fim de descrever os movimentos novos esboçados na prosa, na poesia, no ensaio e na interlocução crescente com os meios audiovisuais e digitais. O único modo de fazê-lo é dedicar-se à leitura atenta da produção contemporânea, em lugar de proferir sentenças magistrais, com base na hermenêutica mediúnica dos profissionais do obituário alheio. Trata-se de evitar a vocação fóssil…
Que caras obtemos quando as descrições físicas de personagens famosos da literatura, feitas pelos próprios autores nas obras originais, são submetidas ao software de produção de retratos falados da polícia? Este tumblr, chamado The Composites (dica do Book Bench), é dedicado à brincadeira. Os resultados são variáveis, o que se compreende. Mesmo escritores realistas não costumam abrir mão de uma margem de imprecisão quando se trata de descrições físicas, para que a imaginação do leitor faça a sua parte. As ilustrações acima são dois exemplos que pincei na galeria. O escracho da esquerda, de Sam Spade, combina bem com a famosa comparação do detetive a um “Satã louro”, feita por Dashiell Hammett logo na abertura de “O falcão maltês”. Curiosamente, Humphrey Bogart o imortalizou com feições inteiramente diferentes no cinema, deixando para Robert Mitchum, que fisionomicamente se assemelhava muito mais a Spade, o consolo de encarnar o Philip Marlowe de Raymond Chandler. Já Emma Bovary, à direita, mesmo não tendo sido descrita por Gustave Flaubert como uma beldade de parar o trânsito, surge embarangada demais para o meu gosto, como se já tivesse ingerido veneno. Quem entraria naquela carruagem com essa mulher? E quem iria imaginar que ela fosse praticamente…
Esta semana esbarrei em duas notícias pouco comentadas que, embora inteiramente desvinculadas uma da outra, são bons exemplos das linhas que a cultura digital traça em sua atarefada remarcação do território da inteligência coletiva, cada uma numa extremidade – a da ampliação da inteligência e a da ampliação da burrice. Tendo como único ponto em comum o fato de terem sido garimpados na banda anglófona da rede (onde, como se sabe, desenrola-se a vanguarda da revolução eletrônica), estou falando dos seguintes nacos de informação: 1. Empreendimento conjunto de duas universidades americanas, a Brown University e a University of Tulsa, The Modernist Journals Project disponibiliza gratuitamente na internet, em pdf, versões escaneadas de revistas e jornais de língua inglesa (de diversos países) que tiveram relevância para o modernismo artístico, sobretudo literário, entre os anos de 1890 e 1922. Trata-se de um trabalho em andamento que disponibiliza – e pretende disponibilizar cada vez mais – material raríssimo, até então encontrável somente em grandes bibliotecas e mesmo assim quase nunca em conjunto, a qualquer pessoa que tenha acesso a uma lan house em qualquer ponto do planeta. 2. Em um artigo intitulado 25 razões para o Google odiar o seu blog (em inglês),…
O bate-boca entre Paul Auster (à esq.) e o fogoso primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tem um certo tom farsesco, mas é uma bem-vinda prova de que os escritores, se já não gozam do cartaz de antigamente, ainda podem atuar como consciência crítica dos poderosos – talvez sobretudo em temas como direitos humanos em geral e liberdade de expressão em particular. Aqui (em inglês), uma boa nota da “Time” digital sobre o caso. Para resumir: numa entrevista à imprensa turca, Auster disse ter cancelado uma visita ao país porque seu governo mantém dezenas de jornalistas presos por crime de opinião. Erdogan se queimou e recorreu à ironia num discurso aos membros de seu partido, de inclinação muçulmana: “Oh, nós realmente dependemos do senhor!”, disse, como se se dirigisse ao escritor do Brooklyn. “Quem liga se o senhor vem ou não? A Turquia vai perder prestígio?” Em seguida, botou Israel no meio e a conversa degenerou, mas de uma coisa a reação de Erdogan deu bandeira: a mordida do intelectual novaiorquino que escreve ficção – uma criatura sem dentes, como nos acostumamos a pensar – doeu. * ERRO DE EDIÇÃO: Não é a primeira vez que acontece. Sete, a crônica…
httpv://www.youtube.com/watch?v=EqlPKnPTz7s De vez em quando um leitor me pergunta se tenho alguma coisa contra poesia, um tema que nunca abordo aqui no blog. Sempre explico – e explico agora de novo – que não, claro que não tenho nada contra poesia. Ocorre que é preciso fazer escolhas e a do Todoprosa é falar só de prosa, como o nome indica. Questão de foco. O que nunca acrescentei, mas acrescento agora, é que existe um aspecto da poesia que realmente não costuma me cair bem: a recitação. Talvez porque eu suspeite da musicalidade fácil das palavras, como João Cabral. Ou quem sabe o pessoal anda abusando mesmo da afetação nos saraus da vida. Refletindo sobre essas questões, decidi abrir uma exceção e… falar de poesia! Mais especificamente, de recitação de poesia: o Pop Literário de Sexta traz um hilariante vídeo tutorial (em inglês) que ensina tudo o que não se deve jamais fazer ao ler poesia em voz alta, a menos que se almeje o ridículo. Algumas dicas: Insira pausas… nas frases… quer elas estejam lá… ou não. Leia versos que não são perguntas… como perguntas? Chegando perto do fim do poema? TALVEZ O PRÓXIMO VERSO DEVA SER GRITADO PARA DAR…
Selexyz é o nome da livraria das fotos acima, diante da qual um lugar-comum como “templo dos livros” ganha uma inesperada força expressiva. Foi montada no interior de uma antiga igreja dominicana em Maastricht, na Holanda, e vem em primeiro lugar entre as 20 livrarias mais belas do mundo, segundo uma das mais inspiradoras listas que o Flavorwire já compilou. O Brasil também comparece (com a Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim, em São Paulo). * Se essa lista fosse um documentário, poderia ter a narração em off de Jonathan Franzen, que acaba de recitar (aqui, em inglês) no festival Hay de Cartagena, na Colômbia, a maior defesa dos livros impressos ouvida nos últimos tempos. De forma um tanto surpreendente, o autor de “Liberdade” não se referiu ao aroma inebriante da tinta no papel ou algum outro clichê do gênero. Atacou justamente aquilo que os entusiastas do meio digital mais exaltam: a aura de impermanência – ou seja, a plasticidade, a permeabilidade, a interatividade, o compartilhamento, a coautoria – do texto lido na tela. “Talvez ninguém ligue para livros impressos daqui a cinquenta anos, mas eu ligo”, disse Franzen, um dos autores confirmados na próxima Festa Literária Internacional de…
Enrique Vila-Matas publicou na última sexta-feira no “El País” o artiguete que traduzo abaixo: Embora inconciliáveis entre si, três atitudes diante da arte literária podem ser igualmente fascinantes. No fundo, as três respondem à questão de como posicionar-se diante do mundo, como viver. Se me perguntassem, seria difícil precisar com qual me afino mais, pois todas têm a mesma carga de verdade íntima, o que não faz mais que comprovar que, como sustentava Niels Bohr, o oposto de uma verdade não é uma mentira, mas outra verdade. Mesmo assim, reconheço que por algum tempo tive minhas preferências e admirei, acima de todas, a atitude elegante dos solitários, dos que têm desejo de clausura, de torre de marfim, uma necessidade de isolamento para atender apenas à sua obra. Tudo mudou quando me dei conta de que estava reparando apenas em criadores de indiscutível estatura moral e intelectual; andara estudando, por exemplo, Wittgenstein, lendo tudo sobre o ano que ele passou em radical solidão na cabana de Skjolden, na Noruega, onde sentiu uma grande euforia ao ver que podia se dedicar inteiramente a si mesmo, ou melhor, ao que acreditava ser a mesma coisa, a sua lógica, o que lhe permitiu ter…
Não é simples dar conta da notícia de que Vladimir Putin, ex-presidente, atual primeiro-ministro e novamente candidato à presidência da Rússia, propôs num longo artigo de jornal – intitulado “Rússia: a questão étnica” – a formulação de uma lista oficial de cem livros que traduzam um certo espírito russo, a serem adotados nas escolas de todo o país como forma de fortalecer sua unidade cultural. O jornalista russo Alexander Nazaryan, residente nos Estados Unidos, optou neste artigo (em inglês) por encarar a notícia pelo lado escuro – o que no caso do primeiro-ministro, ex-agente da KGB, faz sentido – e comparar Putin a Adolf Hitler no nacionalismo exacerbado e manipulador. “Engenharia social por meio de uma literatura sancionada pelo Estado: nenhum outro ato de Putin até agora foi tão escancaradamente soviético em seu desejo de manipular e subjugar o intelecto humano”, alarmou-se Nazaryan, prevendo como contraponto ao cânone oficial uma lista de livros banidos, embora Putin não toque neste assunto. Eis o lado ruim, certo, mas qual seria o bom? Simples: o fato mesmo de acharem – Putin e Nazaryan – que a literatura tem essa importância toda em pleno século 21. Tanto as ideias do primeiro-ministro quanto as de…
Assolado por uma sensação de perda de tempo toda vez que abre “Em busca do tempo perdido”? Em busca de uma razão utilitária para ler – com perdão da palavra – ficção? Bem, a executiva americana Anne Kreamer também estava, até que descobriu uma série de pesquisas que associam a leitura de ficção literária com “inteligência emocional”, empatia, capacidade de imaginar o outro e se adaptar a situações novas, eficiência no trabalho em equipe – e, como consequência de tudo isso, maiores chances de descolar bons salários no mundo corporativo, especialmente na era da globalização. O artigo (aqui, em inglês, no blog da Harvard Business Review) vale mais como curiosidade do que como guia de comportamento para futuros executivos. Por um lado, o que Anne Kreamer afirma não é muito diferente de algo que já virou lugar-comum entre letrados, uma espécie de último reduto de “relevância social” da ficção num mundo em que ela perdeu centralidade: aquilo que Amós Oz chama de “antídoto contra o fanatismo”, a “virtude moral” de exercitar sistematicamente a imaginação de tudo que ultrapassa o círculo limitado do ponto de vista individual do leitor. (O mesmo vale para histórias contadas em filmes, peças de teatro etc.?…
httpv://www.youtube.com/watch?v=ocvlo3XG8aY&feature=related O livro é de aconselhamento literário do tipo sério – ou quase isso. O filmete de animação (em inglês) que acompanhou seu lançamento, porém, é puro escracho, com aquela sátira da vida boêmia podre de chique à la Scott e Zelda Fitzgerald que já era falsa no original: como escrever um bom romance, ganhar rios de dinheiro e ser sexualmente irresistível, tudo sem derramar o dry martini? Tem coisas que só o Pop Literário de Sexta faz por você.