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Um prêmio de peso para poesia e conto e outros links
Pelo mundo / 15/08/2011

Depois de uma série de prêmios literários cheios de cifrões, mas todos monopolizados por romances, chegou a vez da poesia e do conto. O prêmio Moacyr Scliar, que o governo do Rio Grande do Sul anuncia amanhã, vai contemplar o melhor livro brasileiro de cada um desses gêneros, em anos alternados, com R$ 150 mil para o autor e R$ 30 mil para a editora. * No site da “New Yorker”, Giles Harvey junta numa só crônica (em inglês) suas tentativas frustradas de ser um jogador de futebol decente, os bons conselhos literários de Virginia Woolf, um papo velho demais de Noam Chomsky e o mais famoso gol que Pelé não marcou, aquele contra o Uruguai em1970. No campo eu não sei, mas com as palavras o cara é bom de bola. * Polêmica: “Enquanto o debate literário clama por mais e melhores antologias, Pires pede ‘referências centrais e critérios claros’ na organização de uma antologia geracional”. Nelson de Oliveira responde a Paulo Roberto Pires na “Ilustríssima” (só para assinantes). To be continued. * Para mim, o debate literário clama mesmo é por mais e melhores apreciações críticas. Já começou a se preparar para o I Concurso Todoprosa de Resenhas?…

Como sobreviver ao fim do mundo
Pelo mundo / 10/08/2011

Quis o acaso que eu estivesse lendo dois ensaios de peso sobre a famosa “crise do romance” quando os jornais de terça-feira trombetearam o fim do mundo, com as bolsas de valores derretendo em todos os cantos do planeta e as multidões de saqueadores de Londres ateando fogo à cidade que até então parecia a prova mais risonha de que o multiculturalismo globalizado podia dar em boa coisa, afinal. Essa atmosfera de fim dos tempos – ou no mínimo de fim de uma era, uma vez que o apocalipse maia em 2012 é duro de levar a sério – foi o ruído de fundo perfeito para a leitura de É possível pensar o mundo moderno sem o romance?, de Mario Vargas Llosa, e O romance é concebível sem o mundo moderno?, de Claudio Magris, ensaios que são, respectivamente, a abertura e o fecho do monumental volume de crítica literária organizado pelo italiano Franco Moretti, “A cultura do romance” (Cosac Naify, 2009, tradução de Denise Bottmann). Respondendo a provocações em que a ordem dos fatores altera, sim, o produto, o consagrado romancista peruano e seu colega italiano, que também é crítico, não poderiam deixar de adotar posturas diferentes diante de uma…

Camus teria sido morto pela KGB e outros links
Pelo mundo / 08/08/2011

O acidente de carro que matou Albert Camus em 1960 pode ter sido arquitetado pela KGB, diz o jornal italiano “Corriere della Sera” (em inglês, via “Guardian”, aqui). * Nos cinqüenta anos da morte do grande Dashiell Hammett, o Babelia lembra (em espanhol) a dignidade do silêncio à la Bartleby que o levou à cadeia no auge do mccarthismo. * Resposta (em inglês) da Kurt Vonnegut Memorial Library ao banimento do livro “Matadouro 5” do currículo de uma escola americana: distribuição de 150 exemplares gratuitos do livro aos alunos. * Paulo Roberto Pires reflete sobre antologias e antologias na Ilustríssima de ontem (só para assinantes). * “A ironia é elitista”, minha crônica de ontem no Sobre Palavras, poderia ter saído aqui. * Escritores estão se tornando “versões baratas de celebridades”, diz David Foster Wallace nesta entrevista, falando da demanda crescente por viagens de divulgação e leituras em livrarias – ou, na versão brasileira, Flap, Flep, Flip, Flop, Flup. httpv://www.youtube.com/watch?v=S9VAgdEzUss&feature=related

Manual para tweets, Itamaraty literário e outros links
Pelo mundo / 03/08/2011

Estava demorando: sai em inglês um seriíssimo manual de estilo para quem quer se aprimorar na comunicação com um mundo em que qualquer mensagem além de 140 caracteres parece tão longa quanto um livro de Jonathan Franzen. “Microestilo: a arte de escrever pequeno” é de autoria de um publicitário, o que faz todo o sentido. Especialista em branding, Christopher Johnson acredita que as técnicas de condensação usadas por profissionais de comunicação na criação de marcas, slogans, títulos e frases de efeito podem ser úteis ao cidadão comum. Mas o que este sujeito estaria interessado em vender online? A si mesmo, claro. * Depois do bom programa de apoio à tradução da Biblioteca Nacional, mais um indício de que o Brasil está finalmente acordando em seu berço esplêndido para a importância de exportar literatura: os vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura – Rubens Figueiredo por “O passageiro do fim do dia” e, na categoria estreante, Marcelo Ferroni por “Manuel prático da guerrilha” – podem correr o mundo em viagens de divulgação bancadas pelo Itamaraty. No “Estadão” de hoje. * Corajoso para publicar o que muitos sussurram pelos cantos, o jornalista e escritor paulista Ronaldo Bressane descasca o novo livro de…

Massacre da Noruega: literatura e trauma nacional
Pelo mundo / 01/08/2011

“Como reagirão os escritores policiais da Noruega ao massacre de Utoya?”, perguntava ontem um tweet do jornal inglês “Observer”, dando um endereço que conduzia a um artigo de Brian Oliver, intitulado “Quando escritores são confrontados por um trauma nacional” (em inglês, acesso gratuito). Resposta possível: “Não reagirão. Escritores policiais não têm que reagir a tal coisa. Basta que reajam os policiais”. Mas o artigo não é tolo, embora também não seja profundo. Faz um rápido apanhado do bom momento vivido pela literatura policial nos países escandinavos e sustenta a tese de que, na cultura nórdica, a ficção retém um lugar privilegiado de arena de debates públicos que está praticamente esquecido no resto do Ocidente. Ao contrário do que sugere o tom ligeiramente ridículo do tweet que gerou, o texto de Oliver não força a barra de uma ligação direta entre o que explode nas manchetes e o que vai parar nas páginas dos romances. Ainda bem. A não ser em casos de subliteratura, essa ligação não costuma ter nada de direta, simples ou urgente. Uma excelente reflexão sobre o tema, a partir de um “trauma nacional” incomparavelmente mais devastador que o da Noruega, encontra-se no livro “Guerra aérea e literatura”,…

Comprando livro pela capa
Pelo mundo / 29/07/2011

A capa do novo livro do jovem escritor gaúcho Antônio Xerxenesky, “A página assombrada por fantasmas”, uma coletânea de contos sobre livros e escritores que acaba de sair pela Rocco, parece ter sido inspirada pelo mesmo vento que soprou a capa do novo romance do escritor inglês Julian Barnes, The sense of an ending, que a Jonathan Cape põe na rua semana que vem – e que mesmo inédito já está na lista do prêmio Man Booker. As evidentes diferenças – a arte do livro inglês é mais limpa e mais preparada para disputar aos gritos a atenção do leitor na livraria, enquanto a do brasileiro leva a um limite ousado a ideia de palimpsesto, de rasura – não escondem o fato de que se trata de capas irmãs. Em ambas, as letras parecem prestes a desaparecer, a se desfazer em borrões. Os lançamentos praticamente simultâneos eliminam qualquer possibilidade de influência de uma sobre a outra. O que o belo trabalho da designer gaúcha Ieve Holthausen tem em comum com o de seu colega britânico parece ser apenas aquilo que, à falta de um nome melhor, o pessoal chama de Zeitgeist. As letras que aspiram a sumir teriam algo a…

Naipaul preto x Naipaul branco. Mas cadê o cinza?
Pelo mundo / 25/07/2011

Duas entrevistas com o escritor britânico V.S. Naipaul publicadas por tradicionais jornalões no mesmo dia, o último sábado, são tão radicalmente opostas que o primeiro efeito do contraste não pode deixar de ser uma perplexidade cômica: qual dos dois retratos é fiel ao prêmio Nobel de Literatura de 2001? Ou seriam ambos falsos? Quando se vai além dessa primeira impressão é que começam a surgir questões interessantes sobre o jornalismo cultural. No Sabático, suplemento literário do “Estado de S.Paulo”, o enviado especial Andrei Netto encontra-se em Londres com um Naipaul “formal, mas simpático e muito gentil”. No Babelia, suplemento literário do espanhol “El País”, o correspondente Walter Oppenheimer teve sorte diferente na casa de campo do escritor, em Wiltshire: “A entrevista vai mal. Desde o primeiro instante. Não há química. O olhar de Sir Vidia destila cada vez mais impaciência, mais desprezo”. As entrevistas que eles arrancaram do autor de “A máscara da África” – relato de viagens lançado ao mesmo tempo aqui e na Espanha – são condizentes com esses inícios em chaves opostas. Com Netto, interlocutor abertamente simpático que evita até a sombra de questões espinhosas, Naipaul é paciente, loquaz, quase vulnerável (não disponível online). Com Oppenheimer, que…

Bataille: ‘Literatura é coisa de criança’
Pelo mundo / 22/07/2011

Eu acho que há algo essencialmente infantil na literatura. Isso pode parecer inconciliável com a admiração que se tem pela literatura, e que eu acredito compartilhar, mas creio ser uma verdade profunda e fundamental que não se pode compreender realmente a literatura se não for do ponto de vista de uma criança, o que não significa dizer uma perspectiva inferior. (…) Eu acho que a literatura é um perigo muito grande e muito grave, e que só se é realmente um homem ao confrontar esse perigo. Deixo o leitor com a voz mansa – e as ideias ferozes – do escritor francês Georges Bataille nessa entrevista de 1958 para a TV, sobre seu livro “A literatura e o mal” (em francês, com legendas em inglês). Bom fim de semana a todos. httpv://www.youtube.com/watch?v=-WiwNekNJGA

Concentração dividirá o mundo entre senhores e escravos
Pelo mundo / 29/06/2011

Antes do tsunami digital, o poder pertencia aos detentores da informação. Agora, com a informação mais desvalorizada que cruzados e cruzeiros nos anos Sarney e Collor, a moeda em alta será cada vez mais a capacidade de concentração – aquela exigida por exemplo de quem mergulha na primeira página de um livro para emergir na última, sem parar dez mil vezes no meio do caminho para conferir o e-mail ou se divertir com vídeos virais no YouTube. Parece um paradoxo, mas não é. O turbilhão das informações online é superficial para quem o consome, não para quem o produz. Toda horizontalidade tem uma dimensão vertical que a sustenta: o vídeo viral que se engole em um minuto e meio exigiu tempo e concentração de seu autor ou autores. A capacidade de imersão atenta e refletida que o mundo digital parece disposto a aniquilar é, no fundo, um dos pilares de sua linha de produção. Uma pesquisa feita no mês passado nos EUA pela Nielsen apurou números interessantes: a maior parte dos proprietários de tablets (70%) e smartphones (68%) passam parte significativa de seu tempo de uso do aparelho (30% e 20%, respectivamente) diante da TV. Isso é dispersão em estado…

‘Como vendi 1 milhão de e-books em cinco meses!’
Pelo mundo / 24/06/2011

A história do escritor independente – isto é, sem editora – John Locke, publicada esta semana pelo “Los Angeles Times” (em inglês, acesso gratuito), é um interessante caso de sucesso no mundo dos e-books. Um mundo que, se no Brasil ainda cabe numa xícara, nos EUA já desenha uma paisagem de contornos vastos e cada vez menos nebulosos. Vale a pena conhecer o caso porque, mais cedo ou mais tarde, suas lições poderão ser aplicadas aqui. As duas questões fundamentais levantadas pela história são: Quanto pode ou deve custar um e-book? E que percentual desse valor deve caber ao autor, que no mercado editorial convencional leva em torno de 10%? Com uma série de thrillers de mistério, Locke acaba de entrar para o clube dos escritores independentes com mais de um milhão de downloads na livraria virtual Amazon. Isso significa que mais de um milhão de proprietários do leitor eletrônico Kindle, que pertence à Amazon, compraram seus livros. Pagaram por cada um deles o preço quase simbólico de 0,99 cents – cerca de R$ 1,60. Ah, mas assim é fácil vender tanto? Não, não é. A maior parte dos escritores autopublicados não vende nem mil livros. Além de seus prováveis…

A ‘literatura expandida’ do novo Harry Potter e outros links
Pelo mundo / 20/06/2011

O “novo projeto” de J.K. Rowling não é mais um livro protagonizado por Harry Potter, diz a versão oficial, mas isso não impede a autora de continuar fazendo mágica. Venha o que vier, uma coisa parece certa: será mais uma aula sobre como usar os recursos do mundo digital para manter vivo e vendável um mundo ficcional. Num momento em que tanto se fala de “literatura expandida”, convém prestar atenção. O site pottermore.com, que entrou no ar na semana passada, consiste por enquanto apenas de uma página ilustrada por duas corujas, em que se vê a assinatura da autora sob um aviso: “Em breve”. Isso foi o suficiente para deflagrar um surto de histeria (notícia aqui de VEJA.com) entre os milhões de fãs de Harry Potter. Seria um jogo online? Uma enciclopédia sobre o “mundo potteriano”? Apenas uma ferramenta de promoção do último filme da série, “Harry Potter e as relíquias da morte – Parte 2”, que estreia mês que vem? Os boatos de que se trataria de um novo livro foram desmentidos por um porta-voz da autora, mas persistem – o que é compreensível, se for levado em conta que Rowling já admitiu dar prosseguimento à série e que…

Salman Rushdie televisivo e outros links
Pelo mundo / 13/06/2011

Mais uma notícia para arquivar na editoria “Fim do romance”? Salman Rushdie vai escrever uma série televisiva americana de ficção científica chamada The next people. “É o melhor de dois mundos. Você pode trabalhar com produções semelhantes às do cinema, mas tendo o devido controle (criativo)”, disse, elogiando o papel fundamental dos autores no formato: “The Sopranos era David Chase, West wing era Aaron Sorkin.” * Para quem não vai a Parati: terminada a festa, algumas das maiores estrelas da Flip darão mole em São Paulo e no Rio de Janeiro. O blog “A biblioteca de Raquel” preparou um roteiro. * Você sabia que, pelo método tradicional de arquivamento de sobrenomes ingleses, os Mcs, como McEwan, vêm antes dos Mas, como Mamet? Mas será que isso ainda faz algum sentido? Mark Sarvas, do referencial blog “The Elegant Variation”, sobre as agruras de quem tem uma biblioteca caseira para organizar. * O mais engraçado daquela última polêmica literária nacional é que, embora ela não tenha ido a lugar nenhum, com defesas dispersas espelhando a inconsistência intelectual do ataque, começam a pipocar as vozes que tentam surfar a marola, como se algo muito importante tivesse ocorrido no panorama da crítica. Meu Deus….

Jane Austen em versão pornô
Pelo mundo / 10/06/2011

Agora é definitivo: depois de dar a partida na moda dos mashups com o sucesso de “Orgulho e preconceito e zumbis”, que abriu a porta para a invasão dos clássicos da literatura por criaturas pop variadas, de monstros marinhos a robôs steampunk, Jane Austen acaba de se consagrar como a rainha incontestável da reciclagem literária brincalhona-oportunista. A coroação se dará com o lançamento pela editora americana Cleis Press, mês que vem, de Pride and prejudice: hidden lusts (“Orgulho e preconceito: prazeres ocultos”), obra erótica de uma certa Mitzi Szereto. A julgar pelos clichês “românticos” acumulados na capa, estamos no terreno daquele erotismo prêt-à-porter dos livrinhos de banca de jornal, e portanto distantes do sexo transgressivo de Sade, Bataille e Rèage, embora Szereto insinue no site do livro (que inclui um clipe chinfrim) a inclusão supostamente subversiva de alguns temperos gays. No site somos informados também de que esse é o romance que Jane Austen teria escrito “se tivesse coragem”. O estilo do material de divulgação sugere prazeres mais humorísticos que eróticos: Em “Orgulho e preconceito: prazeres ocultos”, todo o elenco de personagens do clássico de Austen é flagrado com as calças desabotoadas e as saias levantadas, numa versão recontada que…

O poder das metáforas
Pelo mundo / 23/05/2011

A experiência é meio tosca, provavelmente, como costumam ser os produtos da psicologia social americana, mas não tenho dúvida de que aponta para sacadas profundas sobre a mente e a linguagem. No caso, uma comprovação do insidioso poder das metáforas. Diante de uma reportagem que compara o crime a uma “fera que tem a cidade como sua presa”, dois terços dos leitores dizem que a solução é um aumento da repressão policial (enjaular!). Quando a reportagem pinta o crime como “um vírus que infecta a cidade”, a turma que defende reformas sociais (curar!) equilibra o jogo com a galera linha-dura, deixando o resultado perto de meio a meio. Detalhe fundamental: as reportagens, introdução retórica à parte, são idênticas. Mais detalhes neste artigo (em inglês) de David DiSalvo publicado pela “Psychology Today”. (Via blog de livros da “New Yorker”.) * Amanhã à noite estarei em São Paulo para um debate sobre blogs literários com Raquel Cozer, do “Estadão”, e Flávio Moura, do Instituto Moreira Salles, como parte da festa do aniversário de um ano do blog da Companhia das Letras. A mediação ficará a cargo de André Conti, editor da casa. Ainda estou pensando numa boa metáfora para o papel dos…

Está provado: a literatura muda o mundo
Pelo mundo / 20/05/2011

É um lugar-comum dos últimos cento e tantos anos, inclusive ou sobretudo entre escritores, reconhecer que a literatura não tem o poder de transformar a realidade e que sua relevância, se houver, deve ser buscada apenas dentro do círculo simbólico que ela instaura, e só enquanto o instaura. Uma relevância virtual, portanto. O impacto sobre a consciência do leitor individual, e olhe lá, seria o máximo a que uma obra literária tem o direito de aspirar, e mesmo esse impacto estaria restrito ao campo das iluminações efêmeras, raramente capazes de influenciar as ações do tal leitor no mundo. Papo furado. As provas de que a literatura, como qualquer construção simbólica, interfere na chamada realidade concreta estão por toda parte. O erro é imaginar que esse impacto teria que se dar de forma previsível, programada, como acreditavam por exemplo os (será que ainda existentes?) cultores da ficção politicamente engajada. Os efeitos são sempre imprevisíveis. É possível que Jorge Amado não tenha conquistado um único leitor para a causa stalinista com seus panfletários romances da série “Subterrâneos da liberdade”. Já o impacto de Gabriela e Dona Flor sobre as carreiras de Sônia Braga e Bruno Barreto foi monumental, para não mencionar a…

A ficção contemporânea é mesmo tão medíocre?
Pelo mundo / 16/05/2011

A pergunta do título, que parece pairar no ar do mundo globalizado, foi feita pelo “Los Angeles Review of Books” a Mark McGurl, autor de um livro recente sobre a importância dos cursos universitários de “escrita criativa” para a literatura americana das últimas décadas, chamado The program era. Sua resposta, da qual transcrevo os trechos abaixo, não poderia deixar de ser uma defesa dos tais cursos, que nos EUA são o bode expiatório preferido dos que – numa atitude de “oportunismo desesperado”, segundo McGurl – apregoam a morte da literatura (o equivalente nacional seria a “profissionalização do escritor”, a “ciranda dos festivais” ou algo do gênero). Vale a pena ler a entrevista inteira, em inglês, aqui. Ouve-se essa ideia no ar o tempo todo. Virou um truísmo entre pessoas culturalmente sofisticadas (…), que aconselham os que estão procurando por uma instigante “justaposição de narrativa pessoal com os fatos do mundo” a ouvir rádio ou ler livros de memórias em vez de perder tempo com uma obra contemporânea de ficção literária. A não-ficção lida com “algo real no mundo”, enquanto a ficção contemporânea tem a ver com – o quê? Com quase nada, conclui-se, uma vez que “algo real no mundo”…

O romance perdido de Karl Marx e outros links
Pelo mundo / 11/05/2011

Está certo que o pós-modernismo andou abusando do truque, mas não é espantoso que ninguém tenha ainda construído um romance em torno do romance perdido de Karl Marx? Skorpion und Felix, Humoristischer Roman (Escorpião e Félix, romance humorístico) foi escrito em 1837, quando o então futuro autor do “Manifesto comunista” tinha 19 anos, e aparentemente destruído por ele mesmo – com exceção de uns poucos fragmentos, que chegou a publicar. Humor filosófico e provável influência do “Tristram Shandy” são atributos que costumam ser associados a esse livro, o que parece mais que suficiente para fazer de Marx um irmão espiritual de… Machado de Assis! Se alguém se habilitar, aviso logo que me terá como leitor. E que me contento com um agradecimento em corpo 8 no fim do volume. * Close reading de tweets? Isso mesmo. E ainda inclui um glossário de pés métricos dos nomes de rappers: iambos, troqueus etc. Pode, Arnaldo? * E por falar no Twitter: a “Wired” fez uma antologia de comediantes profissionais que se dedicam a fazer rir em menos de 140 caracteres. Alguns conseguem. * O neonazista americano educava o filho de 10 anos entre armas e relíquias nazistas. O filho aprendeu bem a…