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Elza em Parati
NoMínimo / 16/04/2009

Mais três autores brasileiros estão confirmados na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip): Arnaldo Bloch, Sérgio Rodrigues e Tatiana Salem Levy. Durante o evento, que vai de 1 a 5 de julho, eles participarão de um debate sobre pesquisa e invenção. O furo foi dado hoje pelo repórter Miguel Conde no blog Prosa Online. Só me resta confirmar a informação e dizer que considero essa mesa sobre “pesquisa e invenção” um achado. Não só porque o tema é um fio realmente comum aos três livros em questão, de resto tão diferentes, mas porque não há nenhum outro aspecto de meu romance que me interesse tanto discutir.

O poder da leitura
NoMínimo / 13/04/2009

Creio que pelo trechinho abaixo já dê para sentir a qualidade da resenha que o escritor Ernani Ssó publicou hoje sobre meu romance “Elza, a garota” em sua coluna no site gaúcho Coletiva.net. Quem acha que escritores valorizam elogios — mesmo ocos — acima de qualquer coisa não conhece o poder das leituras capazes de iluminar aspectos de um livro que se mantinham penumbrosos até para o autor: Não há uma simetria de tipo matemático entre as duas partes. Isso poderia ser bonito, talvez prazeroso, certamente tranquilizador. O que há são sombras, sonhos, lacunas, mentiras e assombrações ligadas às vezes de modo imprevisto, ou desagradável. O que se pode dizer, por exemplo, sobre os conspiradores da Intentona assessorando a guerrilha pós-64 com a mesma competência política e militar demonstrada anteriormente? Ou o reflexo de Elza — uma boba alegre, no mínimo — sobre a cunhada adolescente de Molina? Ou os Rios de Janeiro: o de antes e o de agora? Não exatamente a cidade, mas o que foi feito dela, o que foi feito do mundo, o que foi feito de nós. Para os que suspiram aliviados porque os sonhos comunistas continuaram sonhos, o romance ergue esse Rio de Janeiro…

Sigam o Xico Sá!
NoMínimo / 08/04/2009

“Acordei, fui ao banheiro…” E eu com isso, meu amigo, você diria, ai na sua moita existencial, nem aí para o que se passa na vida de seu ninguém. “Dei a descarga…” E daí, colega, não fez mais que o recomendável pela boa educação materna. “Bebi um copo d´água…” (…) E por aí segue a narração, tintim por tintim, de tudo que se passa na vida da tal criatura. Só não comunica das suas humaníssimas ventosidades intestinais e traques do gênero. O resto vale na miudeza cotidiana. Eis o espírito da mais nova modinha da Internet, meu jovem, o tal do twitter, que você, novidadeiro por excelência, já deve ter enfadado de ouvir falar. Xico Sá, em seu blog, entre pasmo e irritado com o Twitter, a nova doença infantil da internet. Sei não, estou pensando em seguir esse cara.

Julho está aí mesmo
NoMínimo / 03/04/2009

Lobo Antunes, Carlos Fuentes, Atiq Rahimi, Simon Schama, Sophie Calle e, caramba, Gay Talese… Na expectativa de uma das boas edições da curta história da Flip, já reservei a pousada. O preço dá saltos em torno de 20% a cada ano, mas o que se pode fazer?

Elza manda mais notícias
NoMínimo / 02/04/2009

Em reportagem publicada hoje no Último Segundo do iG, Mauricio Stycer me faz uma pergunta tão boa quanto difícil – e até agora inédita – sobre o papel do pensamento relativista em “Elza, a garota”, um romance feito de meios-tons em que heróis e vilões se confundem. E me faz explicar por que, apesar disso, eu considero o livro anti-relativista. Pena que minha conversa com Carlos Herculano Lopes, publicada ontem em página inteira no jornal “Estado de Minas”, só esteja disponível online para assinantes. Em compensação, está a um clique de distância a resenha generosa que Paulo Polzonoff Jr. publicou em seu blog. E a entrevista para o “Espaço Aberto” de Edney Silvestre e o papo com Maria Beltrão no “Estúdio i” – este com participação de João Paulo Cuenca – já podem ser vistos no portal Globo.com.

Serrote iluminista
NoMínimo / 31/03/2009

Quando olho para trás, fixo-me no século 18, no Iluminismo, em sua fé no poder do conhecimento e no mundo de idéias em que ele operou – aquilo a que o iluminista se referia como República das Letras. O século 18 imaginava a República das Letras como um reino sem polícia, sem fronteiras e sem desigualdades, exceto as determinadas pelo talento. Qualquer um podia juntar-se a ela exercendo os dois atributos principais da cidadania: escrever e ler. Escritores formulavam idéias e leitores as julgavam. Graças ao poder da palavra impressa, os julgamentos se estendiam por círculos cada vez mais amplos, e os argumentos mais fortes venciam. Este trecho do ótimo artigo do historiador Robert Darnton, chamado O Google e o futuro dos livros – que consegue fazer um alerta progressista e não tecnofóbico sobre a avalanche do Google Book Search – estabelece um diálogo sutil com a revista-livro em que é uma das atrações: a inteligentíssima “Serrote” (224 páginas, R$ 29,90). Publicação quadrimestral do Instituto Moreira Salles, ela mal foi lançada e já é uma das melhores provas disponíveis no mercado brasileiro de que os ideais (utópicos?) do Iluminismo não se apagaram por completo. Um produto para a elite? Sem…

Espaço Aberto
NoMínimo / 27/03/2009

Hoje às 21h30 estarei no programa “Espaço Aberto”, da GloboNews, conversando com Edney Silvestre sobre “Elza, a garota”. Horário ingrato, eu sei. Mas rolam reprises amanhã em três horários (1h30, 8h30 e 16h30), domingo às 6h05 e, por fim, segunda-feira às 12h30.

É hoje!
NoMínimo / 26/03/2009

Todos os leitores do Todoprosa estão convidados a comemorar comigo:

A Batalha da Praça da Sé
NoMínimo / 24/03/2009

Atendendo a pedidos, segue um trecho do capítulo 5 de “Elza, a garota”. Quem conta esta história é Xerxes, um velho comunista de 94 anos que conheceu (biblicamente, será?) a moça do título: Na noite de sábado, peguei o trem para São Paulo com mais três camaradas, dois que eu nem me lembro e o Guarani. Descemos na Estação da Luz na manhã do domingo, o domingo em que seria a passeata, junto com gente que vinha de tudo quanto era lado, de Santos, do Sul, do Rio, de Minas, estivadores do tamanho daquelas estátuas realistas-socialistas ao lado de funcionários públicos com óculos fundo-de-garrafa e musculatura de louva-deus – tinha de tudo. Na estação, já começamos a sentir o clima. Estava um dia bonito, e como tínhamos algumas horas para matar antes da passeata propus um passeio pela cidade, que eu não conhecia, mas o Guarani disse que o combinado era irmos direto para a casa de um camarada nosso, um gráfico chamado Enzo, que morava no Brás. Lá seria a concentração de alguns companheiros, almoçaríamos de graça antes de seguir num grupo maior para a Praça da Sé. Chegamos antes das dez e a casa já estava cheia. Era…

Garoupa
NoMínimo / 23/03/2009

Posso vender meu peixe mais um pouco? É esta semana só: mais uns dias e a gente vira o disco, melhor dizendo, passa para a próxima lista de reprodução. Quem estiver interessado numa entrevista mais lenta e profunda sobre “Elza, a garota”, e transcrita de uma forma fascinantemente literal que expõe a gagueira mental do autor (como diria Silvio Romero), não deve perder a versão integral da conversa que tive com Miguel Conde, do “Prosa & Verso”, publicada no blog homônimo. Sobre a versão condensada de pingue-pongue que, no último sábado, escoltava a densa resenha de Sérgio de Sá no “Globo” de papel, ela leva a vantagem nada desprezível do espaço virtual ilimitado. E quem morar no Rio e não tiver programa melhor para esta quinta-feira, dia 26, será muito bem-vindo para tomar um prosecco e trocar dois dedos de prosa comigo na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, onde estarei autografando o livro a partir das 19h.

Começos inesquecíveis: J.M. Coetzee

A primeira coisa que a parteira notou ao ajudar Michael K a sair de dentro da mãe para dentro do mundo foi que tinha lábio leporino. O lábio enrolado como pé de caramujo, a narina esquerda fendida. Escondeu a criança da mãe por um momento, enfiou o dedo no botãozinho de boca e ficou agradecida de ver que o palato estava inteiro. O começo de “Vida e época de Michael K” (Companhia das Letras, tradução de José Rubens Siqueira), romance de J.M. Coetzee lançado em 1983 e premiado com o Booker, marca também o início da consagração internacional do grande escritor sul-africano.

‘Memórias póstumas de Brás Cubas’ é um livro espírita?
NoMínimo / 19/03/2009

Algumas das melhores perguntas que me fizeram até agora sobre meu romance “Elza, a garota” partiram do jornalista e escritor Luciano Trigo, que acaba de publicar a entrevista em sua coluna no G1. Não pretendia voltar ao assunto agora, mas o quebra-pau político que se esboçou aqui na caixa de comentários esta semana me convenceu da pertinência de abusar mais um pouco da autopromoção e publicar esta amostra do papo: G1: Você não teme que seu livro seja “apropriado” pela direita? Acredita que haverá reações negativas por parte da esquerda? Isso causa preocupação? SÉRGIO: Qualquer pessoa que leia o livro vai perceber logo nas primeiras páginas que ele não pode ser apropriado pela direita. A direita brasileira sai muito mal disso tudo. Isso não quer dizer que a esquerda saia bem. Acredito mesmo que essas categorias, pelo menos em termos tão absolutos, estejam virando relíquias da Guerra Fria, o papo hoje é um pouco diferente. Mas, mesmo quando elas faziam todo o sentido, julgar uma obra de literatura por esses parâmetros sempre foi má idéia. E espero que o “Elza” seja julgado como literatura, porque é o que ele é. Dito isso, claro que me preocupa um pouco o uso…

Orwell: É a política, estúpido!
NoMínimo / 18/03/2009

Todos os escritores são vaidosos, egoístas e preguiçosos, e bem no fundo de suas motivações jaz um mistério. Escrever um livro é uma luta terrível, exaustiva, como um longo padecimento de alguma doença dolorosa. Algo que nunca se deve fazer, a menos que se seja movido por um demônio irresistível que não se pode compreender. Até onde nos é dado saber, esse demônio é o mesmo instinto que faz um bebê se esgoelar por atenção. No entanto, também é verdade que ninguém escreverá nada legível a menos que se esforce constantemente para apagar sua própria personalidade. A boa prosa é como uma vidraça. Não posso dizer com certeza qual dos meus motivos é o mais forte, mas sei qual deles merece ser seguido. E lançando um olhar retrospectivo sobre minha obra, vejo que é invariavelmente quando me faltava um propósito político que eu escrevi livros sem vida e fui traiçoeiramente atraído por passagens pedantes, frases sem sentido, adjetivos decorativos e bobagens em geral. Dica do leitor Diego Hartmann, esse texto (em inglês, acesso gratuito) de George Orwell sobre o que o levava a escrever ficou ressoando por um bom tempo aqui em casa. “Propósito político”, diz o pai do Big…

Notícias de ‘Elza’
NoMínimo / 16/03/2009

“Elza, a garota” (Nova Fronteira, 240 páginas, R$ 29,90), meu novo livro, começou a chegar às livrarias neste fim de semana e já nos próximos dias deve estar com boa distribuição nacional. Para quem ainda não sabe, trata-se de um romance histórico que mistura de forma pouco convencional pesquisa jornalística, ensaio e, claro, ficção para contar a tragédia de Elvira Cupello Calônio, codinome Elza Fernandes, uma menina de 16 anos que ficou sob suspeita de traição ao PCB e, condenada à morte pelos companheiros, foi estrangulada com uma cordinha de varal. Isso ocorreu em março de 1936, quando o governo Vargas caía de sarrafo na oposição após o fracasso da chamada Intentona Comunista. Foi um erro histórico da esquerda e um momento de apoteose do anticomunismo canarinho, com conseqüências que marcariam os rumos do país por todo o século 20. Como diz Zuenir Ventura na orelha, “acabar com o comunismo foi fácil; difícil é se libertar do anticomunismo”. O caso Elza é notícia velha, mas recalcadíssima. Mais do que fechar o foco no crime em si, que alimentou sua cota de manchetes histéricas na época, o que me interessa no livro é investigar as décadas de silêncio que o Brasil…

Começos inesquecíveis: James Baldwin

Estou em pé à janela de um casarão no sul da França enquanto a noite cai, a noite que me conduzirá à manhã mais terrível da minha vida. A primeira frase de “O quarto de Giovanni” (Giovanni’s room, Penguin Books, 1990, tradução caseira), novela lançada em 1956 por James Baldwin, está entre os começos mais singelos e perfeitos – no sentido de conjurar de saída um clima, uma voz e uma expectativa na cabeça do leitor – que se pode encontrar na literatura em qualquer tempo. Há quem considere a trágica história de amor entre o americano David e o italiano Giovanni, ambientada na Paris dos anos 1950, um dos pontos mais altos de uma certa “literatura gay”. O rótulo é reducionista e desnecessário, mas o resto da frase continua valendo.

Papo de mulher
NoMínimo / 13/03/2009

Este artigo de Katha Pollitt para a revista eletrônica Slate (em inglês, acesso gratuito), a propósito do livro A jury of her peers – American women writers, de Elaine Showalter, lida de forma inteligente e pouco previsível com um assunto que a moda dos estudos culturais transformou nos últimos tempos em algo bastante burro: a questão do gênero na literatura. O texto passa longe de defender a compartimentação do mundo em prateleiras rotuladas (gay, negra, feminina), uma visão em que, de modo um tanto bizarro, universidade e indústria editorial têm se dado as mãos. Mas também não deixa de reconhecer que descartar o debate com um simples muxoxo – como quem diz “é tudo literatura, só me interessa a qualidade” – seria fechar os olhos para aspectos importantes da questão. Vale a pena ler a resenha inteira. Gostei principalmente do exercício de imaginar uma certa Janet Franzen, autora de “As correções”: Muitas escritoras já se queixaram de que a ficção escrita por mulheres é subestimada porque nós subestimamos os temas domésticos e pessoais em oposição aos grandes assuntos masculinos como guerra e caça à baleia. É um argumento importante, mas eu acho que ocorre algo mais profundo. Na verdade, há…