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Palavras jogadas fora
NoMínimo / 23/06/2008

Há risco de um autor como Guimarães Rosa ser esquecido ou ficar elitizado? Penso que é o contrário: o que não fica é o que é superficial, fraco e ruim. O dicionário “Houaiss” tem 400 mil palavras. O rádio, a televisão, o jornal, a literatura que se faz hoje não chegam a 20 mil: estão jogando fora 380 mil. Em entrevista (só para assinantes) à “Folha de S.Paulo”, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão defende uma causa justa, a permanência de Guimarães Rosa, com o inacreditável argumento acima. Para começar, o “Houaiss” tem apenas “cerca de 228.500” verbetes, segundo a apresentação de Mauro de Salles Villar, da Academia Brasileira de Filologia, um dos diretores de sua equipe editorial. Mas isso não é o mais importante. A lógica quantitativa da autora de “Mínima mímica” (Companhia das Letras), recém-lançada coletânea de ensaios rosianos, me fez pensar num depoimento de Josué Montello sobre Machado de Assis, arquivado na Academia Brasileira de Letras: Certa vez, um mestre meu, Lourenço Filho, resolveu fazer o levantamento do vocabulário do “Dom Casmurro” e teve essa surpresa: não passava de 2 mil palavras. Com essas 2 mil palavras, Machado de Assis conseguira dizer tudo, só não disse –…

Começos (ainda) inesquecíveis: Rubens Figueiredo

Este post foi publicado pela primeira vez em 24/11/2006: * Não não. Papel, não. Ninguém vai falar de papel aqui. Não é coisa que se fale. Papel. Mas já reparou como tem papel por aí, espalhado, empilhado, grampeado, no mundo inteiro, um mundo de papel. Olha bem. Papel de parede, lenço de papel, papel-moeda, toda hora a gente está pegando ou olhando para um papel. Que nem você aí parado. E não precisa nem se mexer porque é aqui perto, bem pertinho, nessa página mesmo, que tem uma pessoa a um passo e a poucas páginas da maior complicação da sua vida por causa de um punhadinho bobo de papel. Não conheço muita gente que concorde comigo, mas lamento que Rubens Figueiredo tenha abandonado tão definitivamente o estilo efervescente de seus três primeiros livros, “O mistério da samambaia bailarina”, “Essa maldita farinha” e “A festa do milênio” – em que brincava desvairadamente com a linguagem em farsas rebuscadas e divertidíssimas –, para se dedicar aos meios-tons melancólicos de obras como “As palavras secretas”, “Barco a seco” e “Contos de Pedro”. Sim, foi esta segunda fase, sem dúvida competente, que tornou Rubens respeitado pela crítica brasileira. Mas eu, que sempre tive…

Bolaño + metrô = Porsche?
NoMínimo / 20/06/2008

O subtítulo da reportagem de Leon Neyfakh para “The New York Observer” (via Gawker) torna a leitura simplesmente obrigatória: “Carregar ‘2666’ de Bolaño é como dirigir um Porsche conversível”. Como? Onde? Que paraíso é esse em que a prova de um romance charmoso que ainda não foi lançado (lá, claro) tem o mesmo poder de atração sobre o sexo oposto que os maiores símbolos de status jamais fabricados pelo engenho humano? Segundo a reportagem, o metrô de Nova York. Um lugar tão coalhado de belos jovens livrescos de ambos os sexos que um livraço inédito discretamente exibido vale mais que uma rebuscada dança do acasalamento. Bom, acaba que a história não é bem assim. O texto é muito divertido e sai testando sua hipótese com homens e mulheres, todos ligados à indústria editorial ou ao jornalismo cultural – quem mais teria acesso a provas tipográficas que valem por um carrão? O resultado é o retrato de um mundo de sonhos para ratos de livraria: quem disser que a literatura não tem nada a ver com sedução (como demonstra a pesquisadora) está mentindo. Excitante, mas alienígena. Não adianta tentar repetir o truque entre Botafogo e Central. De qualquer forma, a hipótese…

Por que os leitores se mudaram para Cabul
NoMínimo / 19/06/2008

Li o esboço de um debate interessante, embora incipiente, nas entrelinhas do “Rascunho” de junho. De um lado, o carioca Nelson Motta, de cuja literatura não sou propriamente um fã, diz numa longa entrevista coisas sensatas como esta: Faço uma literatura de entretenimento, uma literatura pop. Minha grande ambição é alegrar, divertir as pessoas, emocioná-las um pouco, esclarecer uma coisa ou outra. É para isso que eu rezo literalmente, todo dia, antes de escrever: para que meu trabalho possa alegrar, divertir e esclarecer. (…) Já é muito difícil você conseguir essas coisas. Muita gente que quer fazer arte não consegue sequer fazer um bom entretenimento. E, às vezes, naquilo que tem o espírito de entreter com leveza, você também encontra arte e profundidade. Do outro lado – num artigo que, a meu ver, acaba atirando em alvos demais – o pernambucano Raimundo Carrero, escritor de vôo estético mais longo e ambicioso, passa em certo momento por um caminho que corta o de Nelson Motta num ângulo inesperado. Carrero parte de um lugar-comum: fala de uma ficção “que se dilacera entre a obra de arte e a obra voltada apenas para o leitor, transformada em mercadoria”. Chega a criticar de passagem…

Um personagem para chamar de eu
NoMínimo / 17/06/2008

Num artigo para a revista The Chronicle of Higher Education (via Arts & Letters Daily), o crítico americano Michael Dirda conta que, há algum tempo, perguntaram-lhe numa sala de aula que personagem dos livros gostaria de ser. A resposta esperada, diz ele, era certamente “literária”, algo como Odisseu (Ulisses) ou Huckleberry Finn. Mas ele respondeu: “Bond, James Bond”. E explica por quê: “Ele tem os melhores brinquedos, atrai mulheres lindas e vence em todos os jogos, seja golfe, bacará ou – em Devil may care – tênis”. São todas boas e másculas razões, sem dúvida. Só faltou dizer que Bond tem que matar gente, muita gente, o que, para alguns de nós, basta para estragar tudo. Mesmo que os mortos sejam todos “malvados”, há quem prefira manter distância dessa prática. Fiquei pensando se a literatura brasileira tem alguém que eu gostaria de ser. Houve um tempo em que talvez respondesse Mandrake sem hesitação. Hoje não sei. Será que nossa galeria de heróis, quase todos atormentados, não se presta a esse tipo de brincadeira? Aceito sugestões.

Começos (ainda) inesquecíveis: Hilda Hilst

Publicado pela primeira vez em 7/9/2006: * Deus? Uma superfície de gelo ancorada no riso. Isso era Deus. Ainda assim tentava agarrar-se àquele nada, deslizava geladas cambalhotas até encontrar o cordame grosso da âncora e descia em direção àquele riso. Tocou-se. Estava vivo sim. Quando menino perguntou à mãe: e o cachorro? A mãe: o cachorro morreu. Então atirou-se à terra coalhada de abóboras, colou-se a uma toda torta, cilindro e cabeça ocre, e esgoelou: como morreu? como morreu? O pai: mulher, esse menino é idiota, tira ele de cima dessa abóbora. Morreu. Fodeu-se disse o pai, assim ó, fechou os dedos da mão esquerda sobre a palma espalmada da direita, repetiu: fodeu-se. Assim é que soube da morte. Começa assim “Com os meus olhos de cão” (Editora Globo, 2001), novela lançada em 1986 pela escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004). Ou assim começa sua parte em prosa: tomei a liberdade de excluir os doze versos curtos que a antecedem para ir direto a esse monumental, enigmático Deus “ancorado no riso”. Observa Alcir Pécora, organizador das obras reunidas de Hilda, que “o obsceno é nome do cordame grosso com que se desce a este fundo”. Acrescentar alguma coisa? Eu não. Ancorado…

Escritores de crachá
NoMínimo / 13/06/2008

O projeto de regulamentação da profissão de escritor, de autoria do deputado federal Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), leva cascudos unânimes dos três escritores que Jonas Lopes ouviu para o post publicado hoje em seu ótimo blog Gymnopedies: Milton Hatoum, Antonio Fernando Borges e eu. Fiquei contente de ver minha opinião tão bem acompanhada, claro, mas ao mesmo tempo preocupado: se algum escritor não se levantar em defesa da coisa urgentemente, vou concluir que nossa tradição burocrática e cartorial é tão forte que dispensa até o apoio daqueles que teoricamente busca favorecer.

O diálogo e o diálogo de Richard Price
NoMínimo / 12/06/2008

Para quem, discordando de Moacyr Scliar, trata o diálogo literário com o respeito que ele merece, é imperdível o artigo (em inglês, acesso livre) publicado na New Yorker de abril por James Wood, o mais influente crítico literário americano deste início de século. Wood fala de Richard Price, a esta altura um nome já ascendido – mais do que em ascensão – na literatura policial de seu país. (Parêntese incontido: um crítico erudito que entende e respeita a literatura “de gênero”, que inveja!) Embora dois livros de Price tenham sido traduzidos há alguns anos no Brasil, “Clockers” e “Freedomland”, ambos pela Rocco, ele permanece meio obscuro por aqui. É possível que isso mude em breve, com sua vinda à Flip e o anunciado lançamento de Lush life por uma editora mais afeita à construção de reputações, a Companhia das Letras. De qualquer maneira, a edição não ficará pronta para a festa. Price será um autor sem livro em Parati. A dificuldade maior que sua obra enfrenta fora de casa, porém, tem tudo a ver com o que James Wood considera sua maior qualidade: o talento para a reinvenção literária de uma fala cheia de gírias, imagens e achados poéticos cria…

Diálogo de surdos
NoMínimo / 11/06/2008

Espantosa esta intervenção do escritor e médico gaúcho Moacyr Scliar num festival de literatura no interior de São Paulo, semana passada. Em vez de uma arte fina e difícil, que frustra a maioria dos que nela se aventuram para premiar uns poucos com ouro puro, o diálogo literário, segundo ele, seria enchimento de lingüiça: Para Scliar, o diálogo é apenas um recurso para preencher espaço em uma história. “Quando me deparo com um livro, busco descobrir a quantidade de diálogos que estão ali. Se forem muitos, não acredito que seja um bom livro.” Descartada a possibilidade de que Scliar se referisse aos diálogos de seus próprios livros, caso em que teria um argumento respeitável, resta a conclusão lógica de que, lá de sua tumba em Stratford-upon-Avon, Shakespeare está clamando aos céus: Lord, what fools these mortals be!

Um ingresso, meu reino por um ingresso…
NoMínimo / 10/06/2008

Aconteceu de novo. Algum dia um pesquisador terá que investigar por que nós, brasileiros, temos essa incompetência atávica para organizar uma simples venda de ingressos. Quem não tiver paciência para detalhes escatológicos deve pular este post, breve resumo de uma manhã tensa – no fundo besta – de terça-feira. O site da Flip anunciava a venda pela Ingresso Rápido a partir de hoje às 9h. Um amigo que ligou antes dessa hora conseguiu, após esperar numa fila de cinqüenta pessoas, ser atendido – “um momeiinnnto!” – pelo call center da empresa, no (11) 4003-1212. Foi informado de que a venda começaria às 10h e o obrigaram a desligar. Depois disso, claro, só encontrou linhas ocupadas. Observação importante para que o suspense de thriller fique completo: as mesas mais concorridas, como vimos em outros anos, costumam se esgotar em poucos minutos. Nessa situação, cada ligação telefônica que cai é acompanhada de acordes funestos, cada segundo de espera na porta de um servidor superlotado cai como grão de areia na ampulheta do Juízo Final… Àquela altura, o site ingressorapido.com.br não mencionava Flip nenhuma. Não mencionava às 9h. Continuou não mencionando às 10h. Às 10h31, finalmente, apareceu uma página dedicada ao evento. Uma…

Flip, as preliminares
NoMínimo / 09/06/2008

O Todoprosa estará na Flip, é claro. Não tendo mais idade para acampar ou dormir no carro, reservou pousada há um mês – no escuro, como sempre. A programação oficial só foi divulgada semana passada e não fez disparar o coração de ninguém, mas sem dúvida é sensata, consistente. Não antecipo nenhuma revelação-com-trombetas do tipo que me emplastrou numa cadeira da Tenda dos Autores ano passado, ouvindo Coetzee ler trechos de Diary of a bad year – sim, fui uma das cinco pessoas que gostaram, e na época expliquei por quê. Mesmo assim, quero ver e ouvir Roberto Schwarz, Humberto Werneck, Martín Kohan, Nathan Englander, Neil Gaiman, Richard Price, Cees Nooteboom e Tom Stoppard. E mais alguma coisa que calhar. (Adendo às 12h23: o cancelamento da participação do historiador inglês Tony Judt tem peso considerável, mas, como se vê, não afeta meus planos.) E só vou perder o bate-bola entre José Miguel Wisnik e Roberto da Matta sobre futebol porque ele foi escalado para os 44 do segundo tempo, digo, 17h de domingo, quando Parati já terá sido desertada por quase todo mundo que trabalha para ganhar a vida e correrá sobre as ruas de pés-de-moleque, arrastando filipetas de festinhas…

Começos (ainda) inesquecíveis: Dashiell Hammett

Domingo é dia de relembrar o inesquecível. Este post foi publicado pela primeira vez em 23/6/2006. * O maxilar de Spade era largo e ossudo, seu queixo era um V muito pronunciado, abaixo do V mais suave formado pela boca. As narinas se arqueavam para trás para formar um outro V, menor. Os olhos amarelo-cinzentos eram horizontais. O tema do V era retomado pelas sobrancelhas um tanto peludas que se erguiam a partir de duas rugas gêmeas acima do nariz adunco, e o cabelo castanho-claro tombava – de suas têmporas altas e retas – em uma ponta, por cima da testa. De modo bem ameno, ele parecia um satã louro. Disse para Effie Perine: – O que é, meu bem? O início de “O falcão maltês” (Companhia das Letras, tradução de Rubens Figueiredo, 2001), obra-prima lançada em 1930 por Dashiell Hammett (1894-1961) e fortíssimo concorrente ao título de maior romance policial da história, marca o momento – não desprovido de choque – em que a descrição da literatura realista encontra o grafismo econômico dos gibis.

O Estado deve incentivar escritores a escrever?
NoMínimo / 05/06/2008

O André Gonçalves sugere um excelente tema de debate: Como disse, está havendo o Salão do Livro, aqui em Teresina. E 9 entre dez “escritores” reclamam da falta de apoio, da falta de incentivo, etc, etc, etc. Pergunto: até que ponto é obrigação/responsabilidade do Estado ou da iniciativa privada bancar/financiar livros (considerando-se que 90% deles, eu inclusive, ou mais, sejam de interesse único e exclusivo do autor e sua família, ou fruto de vaidade, ou qualidade literária sofrível)? Como incentivar novos escritores? Concursos premiam um de cada vez, e olhe lá. Enfim, qual o papel do Estado nisso tudo? Bem, se acreditar que isso pode ser um bom tema, ótimo. Senão, ao menos pode-se discutir por aqui. Isso me fez lembrar de um link sugerido ontem na caixa de comentários do post da “Granta” por outro leitor: uma reportagem do “Jornal do Brasil” de três semanas atrás – que tinha me escapado por completo – sobre as insatisfações que começam a pipocar no bonde literário da Petrobras, o mais gordo e populoso do país. O tema, que a partir deste momento está aberto para debate, é controverso. Vou gostar de ler as opiniões dos dois lados. Mas não digam que…

O sucesso do Bond ‘falsificado’
NoMínimo / 04/06/2008

“Devil May Care”, o novo romance de James Bond escrito por Sebastian Faulks, tornou-se o livro de ficção de capa dura de venda mais rápida na história da Penguin, com a marca de 44.093 exemplares nos quatro dias desde que o título chegou às prateleiras. Os números se seguem a uma campanha promocional de proporções comparáveis às de “Harry Potter”, inclusive, na fase pré-lançamento, com notícias do trabalho de Sebastian Faulks como dublê de Ian Fleming publicadas em todos os maiores jornais. Confesso que não poderia estar menos interessado no livro de Faulks. Mas a notícia (acesso livre, em inglês) é representativa da nova ordem que há alguns anos se anuncia no mundo editorial. Neste tempo, uns poucos livros recebem de seus editores um tratamento de marketing até então dispensado apenas a certos filmes de Hollywood. Os outros 99,88% disputam as migalhas e um cada vez mais improvável papel de azarão. A comparação com Harry Potter deve ser feita com muita cautela: o último livro da série do mago vendeu 3 milhões de exemplares em seu primeiro fim de semana. Apesar de infinitamente mais modesto, o caso da nova aventura de James Bond acrescenta um dado instrutivo ao panorama ao…

Machado, o Pelé das letras? E vice-versa?
NoMínimo / 02/06/2008

A discrepância aparentemente aberrante da comparação entre o escritor e o jogador de futebol contém nela mesma o xis do problema: ambos são necessários para que se formule a trama de um país mal letrado e exorbitante, cuja destinação passa pelas reversões entre a “alta” e a “baixa” cultura, pelo confronto e pelo contraponto das raças, pela palavra e pelo corpo, e cuja “formação” não poderia se dar apenas na literatura: o ser brasileiro pede minimamente – para se expor em sua extensão e intensidade – a literatura, o futebol e a música popular. (Aliás, uma certa intangibilidade enigmática, comum aos dois, pode ser reconhecida também em João Gilberto.) Se Machado de Assis tornou-se quase inseparável – depois da interpretação de Roberto Schwarz – do equacionamento das “idéias fora do lugar”, isto é, dos desnivelamentos e disparates entre a escravidão cotidiana e a pretensão universalizante do liberalismo burguês que pautou as nações modernas, o futebol brasileiro e Pelé são inseparáveis do “lugar fora das idéias”, o vetor inconsciente por meio do qual o substrato histórico e atávico da escravidão se reinventou de forma elíptica, artística e lúdica. Os ensaios de fôlego que compõem o recém-lançado “Veneno remédio: o futebol e…

Começos (ainda) inesquecíveis: Juan Rulfo

A retrospectiva desta seção está aqui todo domingo. Este post foi publicado pela primeira vez em 17/9/2006. * Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo. Um dia a dúvida tinha que aparecer nesta seção: será que o começo de “Pedro Páramo” (Record, 2004, tradução de Eric Nepomuceno), romance publicado em 1955 pelo mexicano Juan Rulfo (1917-1986), só é inesquecível porque o livro todo é? Ou existirá alguma coisa na primeira linha dessa obra-prima da literatura latino-americana que a faria reverberar mesmo sozinha, no ar seco de um México mítico, sustentada entre o tema ancestral da busca do pai e a sonoridade estranha de nomes como Comala e Páramo?

‘Granta’: perto daqui
NoMínimo / 31/05/2008

Outra boa notícia para quem se preocupa com o coeficiente literário do país (a semana está pródiga): a edição brasileira da “Granta” conseguiu manter sua promessa de semestralidade, feito digno de festa num mercado em que, quanto menor e mais sofisticado o público, mais tudo tende a virar devezenquandário – quando não a sumir de vez. Franquia da revista trimestral britânica que acaba de chegar ao número 101 e tem a reputação de ser uma das principais publicações literárias do mundo, a “Granta” brasileira, editada pela Alfaguara/Objetiva, estreou em novembro do ano passado com um número inteiramente traduzido do inglês, dedicado a escritores americanos com menos de 35 anos. O número 2 chega às prateleiras com o “preço sugerido” de R$ 36,90 – o que é mais uma boa notícia: o número de estréia era onze reais mais caro – e é o primeiro em que a revista põe em prática seu compromisso de misturar conteúdo traduzido (60%) e nacional (40%). Traz como tema as viagens, sob o título “Longe daqui”. Os primeiros brasileiros a saírem na “Granta” são os cineastas Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, com relatos memorialísticos; os ficcionistas Ignácio de Loyola Brandão e Ricardo Lísias, com contos;…