A capa ao lado (“Este é o primeiro livro que eu leio em seis anos”), nome alternativo de “A garota com tatuagem de dragão”, de Stieg Larrson, é a preferida de todos os tempos pelos leitores do blog de humor Better Book Titles, que desde 2010 imagina “títulos melhorados” para livros famosos. O nome que coube à obra do autor sueco, claro, caberia em vários outros sucessos. * E por falar em capa de livro: se esta aí embaixo, à direita – um legítimo produto brasileiro, de uma coleção popular da editora Record nos anos 1980 – não for a pior do mundo em todos os tempos, como a denominou Gabe Habash no blog da Publishers Weekly, será apenas porque as outras da coleção “Best of the best” não ficam atrás. * Michel Laub, oportuno, escreve sobre a forma mais garantida e socialmente aceita de assassinar um escritor: banalizá-lo em pílulas de auto-ajuda nas redes sociais. * A sempre provocante Laura Miller reflete na Salon.com sobre o direito que têm os escritores de ficção de puxar o tapete do leitor – e em que momento esse direito esbarra no direito do leitor de simplesmente abandonar o livro. * Um livro…
Estou lendo com muito prazer o recém-lançado “Conversas com escritores”, de Ramona Koval (Globo Livros, Biblioteca Azul, tradução de Denise Bottmann). É apropriado que o título chame de “conversas” (no original, conversations) as entrevistas feitas pela escritora e jornalista australiana especializada em literatura com 26 autores – entre eles Saul Bellow, Ian McEwan, Toni Morrison, Harold Pinter, Gore Vidal, Mario Vargas Llosa, Amós Oz e Martin Amis. “Há momentos em uma entrevista em que a gente prende a respiração, sem saber se o próximo passo vai trazer a humilhação pública ou um agradável alívio”, diz Koval na introdução. O risco faz mesmo parte de seu jogo. Não lhe falta informação sobre a obra dos autores entrevistados, mas tampouco falta coragem para se colocar diante deles em abordagens pouco convencionais. Fico pensando que talvez seja a oralidade do rádio, veículo em que ela apresentou durante anos um programa de sucesso em seu país, chamado The Book Show, a principal explicação para o fato de suas entrevistas se distanciarem do formato tradicional e virarem bate-papos propriamente ditos, com reticências, associações livres, apartes e epifanias. “Relendo estas entrevistas”, escreve Koval, “vejo que volto constantemente a perguntas sobre a maneira de avaliar uma vida,…
O chinês Mo Yan (foto), Nobel de literatura do ano passado, se defendeu em entrevista ao Der Spiegel – a meu ver, bem – das acusações generalizadas de ser um escritor governista. Em inglês (melhor do que alemão, certo?), aqui. Como noticiou ano passado o vizinho “Veja Meus Livros”, Mo Yan é considerado por alguns especialistas ocidentais em assuntos chineses uma espécie de “via do meio”. * Morrissey, em momento de rara infelicidade (que o Guardian criticou aqui), disse que não haveria guerra se todos os homens fossem gays, porque “gays não matam”. Alguém aí dê ao Moz um exemplar de “As benevolentes”, por misericórdia. * Estou bem curioso para ler essa biografia da talentosa e atormentada escritora mineira Maura Lopes Cançado, que teve uma vida triste. Ainda no forno, mas promete. * Deve ser, disparado, a pauta preferida do jornalismo inglês que trata de literatura: por que é tão difícil escrever cenas de sexo, blablablá. Durante algum tempo dei trela para o assunto aqui no blog, mas confesso que estou cansado. A obsessão com o sexo na literatura me parece cada vez mais um problema de quem vive uma escassez de sexo fora dela. Reconheço que Daniel Galera discorreu…
O segredo que Mark McGurl revela em ‘The Program Era: Postwar Fiction and the Rise of Creative Writing’ é o quanto a riqueza da cultura americana do pós-guerra (e aqui me atenho ao romance, por motivos que serão explicados) é produto de um sistema universitário e, o que é pior, do programa de escrita criativa como parte institucional e institucionalizada desse sistema. Não se trata apenas de uma questão de documentação e pesquisa histórica, abundantes no livro, mas de uma questão de vergonha: os escritores americanos modernos sempre gostaram de se imaginar livres do suplemento artificial à vida real que é a universidade e, sobretudo, dos cursos de escrita criativa. Quem sabe faz, quem não sabe ensina. Basta pensar no elogio que intelectuais europeus como Sartre e Simone de Beauvoir fizeram aos grandes escritores americanos que não deram aulas nem frequentaram a universidade, mas trabalharam como motoristas de caminhão, garçons, vigias, estivadores, enfim, em tudo menos como intelectuais, registrando “o fluxo constante de homens por todo o continente, o êxodo de toda uma cidade para os campos da Califórnia” – e por aí vai. Denso e recheado de provocações, o ensaio “O segredinho inconfessável da América”, do crítico marxista Fredric…
Essa apostasia se insinua no abismo largo que separa o fim de um romance do início do próximo. Não se trata de um bloqueio, não é uma longa noite, mas uma questão de profunda indiferença. A felicidade está em algum outro lugar. Passam-se os meses e lá vem uma virada, um realinhamento. Começa com um cutucão. Um detalhe, uma frase ou uma sentença pode dar início a esse retorno. Não precisa ser brilhante. Basta exalar um certo calor imaginativo. Em belo artigo no “Guardian” (em inglês, aqui), Ian McEwan fala sobre a crise de fé que costuma acometê-lo toda vez que termina um romance. Crise de fé na ficção, entenda-se. Por que perder tempo com narrativas inventadas se o mundo da ciência e da história está cheio de livros mais, digamos, relevantes para a compreensão do mundo em que vivemos? McEwan conta que a fé lhe volta sempre de forma meio fortuita, nunca a partir do plano geral de uma obra grandiosa e sim da leitura de uma frase solta, uma imagem bem sacada, um achado feliz – miudezas, os “divinos detalhes” de que falava Nabokov. * O desejo de escrever para o grande público está firmemente enraizado no peito…
Conversando outro dia com uma amiga, romancista talentosa que tem ministrado oficinas literárias, ela dizia que uma de suas maiores dificuldades é explicar aos alunos o que vem a ser um clichê. Fazer o orgulhoso autor de uma frase como “as ondas lambiam voluptuosamente a areia”, que tanto o agrada por sua carga poética, compreender que ela é inaceitável. Não apenas ruim mas desclassificante, algo que um leitor mais exigente tenderá a interpretar como deixa para desistir do livro. Nessa hora, talvez seja didático mencionar o exemplo de Snoopy. E de Bulwer-Lytton. E de Urbano Loureiro. E de tantos outros que começaram ou se sentiram tentados a começar uma história com aquela frase imortal, emblema supremo do clichê literário em todos os tempos: “Era uma noite escura e tempestuosa.” Romancista, poeta, dramaturgo, político e barão, Edward Bulwer-Lytton (1803-1873) passou à história com a glória irônica de ter sido seu criador. Se alguém já tinha usado uma fórmula parecida, o que não acho improvável, a imensa popularidade da obra do nobre inglês em sua época – proporcional ao desprezo que lhe devotariam as gerações futuras – garantiu à frase de abertura de seu romance Paul Clifford o privilégio de fixar a…
Eis que de repente (de repente, será?) sobe o quociente de inteligência literária da imprensa brasileira. A coluna do escritor gaúcho Michel Laub (de “Diário da queda”) na “Folha de S.Paulo”, sobre temas culturais e comportamentais variados, não é notícia nova, mas um texto refinado e anticlichê como este “Existe amor no FB” parece demonstrar que ele vai acertando cada vez mais a mão. Como tem acertado de saída, em sua aparente determinação de agarrar pelos chifres os temas literários diante de um público de massa, o também gaúcho Daniel Galera (de “Barba ensopada de sangue”) na coluna que estreou na última segunda-feira no Segundo Caderno do jornal “O Globo”. O texto de hoje trata do polêmico – especialmente no Brasil – uso de marcas registradas em textos de ficção. O quadro ganha novo reforço a partir do mês que vem, quando estreia no jornal curitibano “Rascunho” a coluna do crítico carioca João Cezar de Castro Rocha (de “Crítica literária: em busca do tempo perdido” e “Exercícios críticos: leituras do contemporâneo”). Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Castro Rocha é um acadêmico que não teme – pelo contrário, busca – o front da imprensa e que tem…
É possível que a romancista e poeta Amanda McKittrick Ros (foto), uma professora nascida em 1860 na Irlanda do Norte, não tenha sido a pior escritora do mundo. Com certeza foi a escritora ruim que mais sucesso fez justamente pela ruindade de sua literatura. Esbarro em sua história fascinante no ebook Epic fail (Fracasso épico), de Mark O’Connell, que teve um trecho (em inglês) reproduzido há poucos dias na revista eletrônica Slate. O surrealismo involuntário da prosa absurdamente artificiosa de Ros já foi apontado por sua legião de admiradores-detratores – com hífen porque são as mesmas pessoas, a admiração sendo no caso uma forma de gozação. A novidade do enfoque de O’Connell é lançar a hipótese de que Ros também tenha inventado sem querer o pós-modernismo ou pelo menos um de seus traços mais marcantes, a elevação irônica da ruindade galopante a uma forma de arte. Não se trata de fenômeno isolado. Ros está para as letras como Ed Wood está para o cinema e Pedro Carolino, autor do hilariante “Novo guia da conversação em portuguez e inglez” (Casa da Palavra), para os estudos linguísticos. Mestre insuperável da purple prose, como os anglófonos chamam o estilo empolado típico da subliteratura,…
“A redoma de vidro” (The bell jar), o único romance da poeta americana Sylvia Plath, foi lançado sob o pseudônimo de Victoria Lucas em 1963, poucos dias antes de sua morte. Está completando meio século, portanto, e para comemorar a data o editor teve a ideia de relançá-lo embalado na inacreditável capa chick lit aí ao lado. Como se Sylvia Plath e Sophie Kinsella não fossem antípodas, mas irmãs literárias. Tempos realmente estranhos: um dia vamos rir disso tudo? * Em compensação, como os tempos estranhos são os mesmos em que a informação flui com liberdade inédita, o áudio do famoso discurso de paraninfo feito por David Foster Wallace em 2005, chamado “Isto é água” (e lançado recentemente no Brasil na coletânea de ensaios “Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo”), pode ser ouvido na íntegra, em duas partes, aqui. * Para mim, a oficina foi essencial para, digamos, começar a escrever. Porque, na Oficina, uma das maiores revelações foi a de que o apelo sensorial é um dos maiores méritos que um texto pode ter. Dito assim – e de repente eu me leio –, parece uma platitude, uma banalidade, uma ociosidade. Mas, dentro…
Em artigo publicado no caderno Ilustríssima de ontem, Fernando Antonio Pinheiro, professor de sociologia da Universidade de São Paulo, retoma com convicção uma pauta de sucesso emergente entre certos acadêmicos: a tentativa de trazer Paulo Coelho (foto) para o “domínio culto da literatura”, do qual “o escritor mais lido no mundo” teria sido excluído numa operação em que “a desqualificação [é] ostentada como troféu pelas camadas letradas”. Pinheiro recorre a um famoso ensaio do poeta José Paulo Paes sobre a incipiência da literatura de entretenimento no Brasil para dizer que Coelho é vítima de uma visão estreita e arbitrária do que cabe no campo literário, uma “definição literária do literário, típica do sistema brasileiro, que nega assento ao artesão competente no âmbito do entretenimento”. O artigo começa com a aplicação de cascudos. Escritores que têm uma fração ínfima do sucesso comercial do autor de “O alquimista”, mas são considerados “sérios”, Milton Hatoum e Marçal Aquino teriam tratado Coelho como invisível ao falar da pouca repercussão internacional da literatura brasileira num debate de 2010. Isso, afirma o articulista, seria “bastante representativo dos contornos que ganharam aqui [no Brasil] as relações entre literatura e mercado”. Escreve Pinheiro que… …os debatedores [Hatoum e…
Rubem Braga faz cem anos e recebe as honras merecidas como o maior cronista da literatura brasileira. O título é informal, mas justo. Machado de Assis? Não lhe falta primazia em outros gêneros, acredito que não se incomodasse de olhar o mais carioca dos capixabas de baixo para cima nesse quesito do monumental desfile do Grupo A das letras auriverdes. Mas então estamos falando de um concurso, de uma competição? Talvez seja meio constrangedor admitir, mas é bem disso que estamos falando. O cronista que estaria completando um século se tivesse seguido os passos de Niemeyer – em vez de morrer como um de seus queridos passarinhos em 1990 – é posto como todo mundo sob o duro escrutínio da posteridade. Os jurados somos nós, leitores, críticos, acadêmicos, jornalistas. Seriíssimos, sobrancelhas franzidas, pesamos sua obra, ponderamos os efeitos da passagem do tempo e rabiscamos a nota num papelucho. Chega o dia da apuração e descobrimos, a maioria sem surpresa, que Rubem Braga leva dez, nota dez! A festa na quadra não tem hora para acabar. Machado, nove vírgula nove. Sabino, nove vírgula sete. Etc. É aí que está o problema, aliás insolúvel. A louvação do que deve ser louvado é…
Millôr Fernandes A morte de Millôr Fernandes – frasista, cronista, cartunista, artista plástico, dramaturgo, tradutor, pensador, poeta, filólogo, inventor do frescobol, gênio do humor e do pessimismo anarco-humanista – atacou a cultura brasileira na esquina da inteligência com a alegria. (Leia mais. E mais.) Antonio Tabucchi Dois cancelamentos seguidos nos impediram de ver na Flip o maior aliado da língua portuguesa nascido em um país não lusófono. Em sua novela “Os três últimos dias de Fernando Pessoa”, o poeta português que era o ídolo literário do escritor italiano adia a morte, dizendo: “Sempre há tempo”. Até não haver mais. (Leia mais.) Ivan Lessa Uma das burrices nacionais que levaram Ivan a virar um londrino de bengala e sobretudo foi a nossa mania, cada vez mais saidinha, de achar que a inteligência – inseparável do senso de indignação moral, embora isso muita gente não entenda – pode se subordinar a conveniências políticas sem virar burrice. (Leia mais.) Gore Vidal Vidal venerava as Letras com L maiúsculo a ponto de, mesmo sofrendo com seu declínio – como evidentemente sofria com o declínio americano – não admitir desistência: “Idealmente o escritor só precisa ter como audiência os poucos que o entendem. É cobiça…
Será ou não um preconceito pensar que não há exceções à regra segundo a qual nada de bom se pode esperar de quem responde ‘Fernão Capelo Gaivota’ à pergunta ‘Qual é o seu livro preferido?’. A disposição retrospectiva do fim do ano me leva longe: desencavei aqui o comentário que fiz em 2009 sobre um saboroso artigo (trechinho acima) publicado no jornal espanhol “El País” acerca dos riscos de dar livros de presente. Assinado por Leila Guerriero, o texto satiriza com humor afiado a tendência a um certo esnobismo que costuma atacar em maior ou menor grau todo mundo que se considera bom leitor. Trata-se de terreno pantanoso: para alguns, o nome desse esnobismo é simplesmente bom gosto, enquanto para outros é preconceito mesmo. De uma forma ou de outra, multiplicam-se as armadilhas no caminho de quem, inocente e bem intencionado, escolhe um título para dar de presente. Quando acerta na mosca, um livro provavelmente conta mais pontos do que qualquer outro regalo em sua faixa de preço. No entanto, o mesmo exemplar de “Cinquenta tons de cinza” que seria de bom tom dado a cinquenta pessoas pode reduzir seu filme a cinzas nas mãos da quinquagésima primeira. A verdade…
O ano que está terminando foi feliz para quem ama livros propriamente ditos – de papel e tinta, cola e costura – e tem grandes buracos na estante que gostaria de preencher. O que significa dizer que também foi generoso com aqueles que tiverem disposição e fundos para investir num presentaço natalino que o personagem mencionado acima não esquecerá jamais. O grande acontecimento do fim do ano é o início do relançamento, pelo selo Biblioteca Azul da editora Globo, da famosa edição do gigantesco painel ficcional “A comédia humana”, de Honoré de Balzac, organizada pelo crítico húngaro-brasileiro Paulo Rónai. Em capa dura, com mais de 800 páginas em média, os quatro primeiros de dezessete volumes chegaram este mês às livrarias ao custo de R$ 74,90 cada um. Acompanha-os o volume mais magro (248 páginas, R$ 39,90) “Balzac e a comédia humana”, coleção de ensaios do próprio Rónai que traz em cada linha aquela combinação rara de erudição, legibilidade e gentileza que era sua marca e que faz dele o melhor cicerone que um leitor poderia desejar ao se aventurar pelo universo (poucas vezes a palavra foi tão apropriada a um conjunto de ficções) criado pelo escritor francês ao longo de…
Curioso pela migração de gênero e público, comecei a ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. Pouco mais de meia hora depois tinha parado de ler “Morte súbita”, o primeiro “romance adulto” de J.K. Rowling, a criadora de Harry Potter. A leitura teve morte súbita – e vale registrar que eu tinha optado pelo original, The casual vacancy, o que inocenta do crime a tradução brasileira recém-lançada pela Nova Fronteira – por doses cavalares de academicismo e clichê na trama e na linguagem. Não, claro que isto não é uma resenha. Só quem lê uma obra inteira, e com ponderação, pode se atrever a resenhá-la. Mas é um toque: a vida é curta para tanto livro, e “Barba ensopada de sangue” está aí mesmo. * Todos sabemos que juízos estéticos baseados em ideias como “belo” e “sublime” pertencem ao passado. Mas o que significa a predominância contemporânea de categorias como “fofo” e “interessante”? O recém-lançado livro Our aesthetic categories (Nossas categorias estéticas), da poeta e crítica literária Sianne Ngai, acha que significa muito. Resenha da Slate, em inglês, aqui. * A entrevista dada à “Folha de S. Paulo” pelo crítico Rodrigo Gurgel,…
O blog vizinho “Veja Meus Livros” está recebendo até o próximo dia 9 inscrições para um concurso de microcontos no formato Twitter, em parceria com a editora Globo. Os vencedores receberão como prêmio uma pequena montanha de livros. O desafio é resumir, em até 140 caracteres, a saga de Sherazade, a contadora de histórias das “Mil e uma noites”. Tarefa dura: na verbosidade obrigatória da moça que noite após noite entretinha o sultão com suas narrativas para não morrer, 140 caracteres dariam conta de uns poucos segundos. Estarei entre os jurados. O microconto ultrassintético continua sendo, a meu ver, o maior desafio de quem pretende usar o Twitter para fazer ficção. É estranho que tenha sido um gênero definitivamente menor – com trocadilho, claro – no primeiro festival de ficção do Twitter, que durou cinco dias e terminou ontem. Há mais Sherazades do que Daltons no mundo. O Twitter Fiction Festival teve um grande e indiscutível mérito: reunir gente de todo o planeta em torno da hashtag #twitterfiction. O clima – exagerado, como é comum nesses casos – era de urgência e fervor. “A literatura nunca mais será a mesma depois disso”, chegou a dizer alguém. O que é cômico,…
Não, Roth não abandonou sua arte, não enterrou sua varinha como Próspero. Foi a arte que lavou suas mãos diante desse escritor irremediavelmente trivial e constrangedor. Tomando de empréstimo o título do primeiro livro Roth, a coletânea de contos ‘Adeus, Columbus’: Adeus, Philip! E, olhe, a porta da rua é a serventia da casa. O artigo publicado pelo crítico americano Lee Siegel no “Estadão” de domingo, chamando de “absurdo sem tamanho” a comoção em torno da aposentadoria de Philip Roth, afoga um ou dois argumentos interessantes num caldeirão tão cheio de ódio e amargura que a coisa acaba por entornar inteira em seu colo. Siegel, vale lembrar, é um notório defensor da tese de que o romance está morto. Descobrir que o público ainda se importa tanto com o que um romancista faz ou deixa de fazer deve ser mesmo muito frustrante. * Ano passado, poucos dias depois de se tornar o maior fenômeno de popularidade instantânea da história da Flip, o escritor português Valter Hugo Mãe me disse, numa longa conversa que se transformou nesta reportagem: “Muitas coisas na vida são momentos. Eu não me admirava nada de vir aqui no próximo ano e saber que ninguém mais se…