Ambos poetas, críticos e professores de literatura com décadas de reflexão sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade, Alcides Villaça e Antonio Carlos Secchin protagonizaram há pouco um dos melhores momentos da Flip 2012, na mesa “Drummond, o poeta moderno”. Cada um partiu da leitura detida e apaixonada de um poema – “O elefante”, no caso de Villaça, e “Áporo”, no de Secchin – para iluminar aspectos da obra do autor homenageado. Curiosamente, os dois poemas pertencem ao livro “A rosa do povo” (1945), da fase politicamente engajada do poeta, o mesmo em que Antonio Cícero foi buscar “A flor e a náusea”, que leu e comentou na conferência de abertura, quarta à noite. Encarregado da mediação da conversa de hoje, o ex-curador da festa Flavio Moura apontou essa coincidência aos dois debatedores, que no entanto não confirmaram a tese de uma suposta centralidade do título na obra drummondiana. Secchin, porém, observou que a costumeira leitura de “A rosa do povo”como um livro simplesmente “político” deixa de levar em conta que Drummond, mesmo tendo se aproximado do Partido Comunista, permaneceu um poeta complexo que cultivava, “ao lado da rosa pública, outras flores íntimas em seu jardim secreto”. Em suas…
Por Raissa Pascoal Era de se esperar que uma mesa intitulada Autoritarismo, Presente e Passado, com mediação do jornalista Zuenir Ventura e a participação do ex-deputado federal Fernando Gabeira e do ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro Luiz Eduardo Soares, fosse mais política que literária. E assim foi. Sem decepcionar expectativas, a mesa de Soares e Gabeira passeou pela história política do Brasil, tratando da tradição autoritária brasileira, que, para o político do PV, chega até o governo atual de Dilma Rousseff. VEJA Meus Livros: Jonathan Franzen é uma gracinha “A relação da presidente Dilma com o Congresso Nacional é um pouco de distância. Não porque o despreze, mas porque os marqueteiros disseram que era importante afastar a sua imagem da imagem dos congressistas. Hoje, você não vê projetos do governo ou a presidente chamando congressistas para convencê-los de uma ideia. O Congresso passou a ser carimbador e, nesse sentido, a relação é autoritária. Ela não fala com o Congresso nem com os partidos, mas direto com a população a partir de uma técnica marqueteira”, disse Gabeira. Ainda falando de autoritarismo, Soares e Gabeira apresentaram seus comentários sobre a Comissão da Verdade, instalada pela presidente no início do…
Na mesa “Ficção e história”, no fim da tarde de hoje, na Tenda dos Autores, o espanhol Javier Cercas e o colombiano Juan Gabriel Vásquez, dois escritores com muito em comum, travaram uma conversa cordial em que sobressaiu uma determinação de concórdia, evidentemente fundada numa camaradagem já estabelecida (“na Austrália, aquela vez, dissemos que…”, mandou Cercas a certa altura). Ainda assim, foi curioso observar como, sob a superfície, algumas tensões estéticas acabaram por transparecer entre dois cultores do romance histórico. Vásquez, um sucesso de crítica desde sua estreia, com o romance “Os informantes”, é autor ainda de “História secreta de Costaguana” (ambos lançados no Brasil pela L&PM), e ganhou ano passado o prêmio Alfaguara com o ainda inédito por aqui El ruido de las cosas ao caer. Uma das vozes emergentes mais destacadas da literatura contemporânea em espanhol, afirmou, concordando com Milan Kundera, que “a única razão para escrever um romance é dizer algo que só um romance pode dizer. O romance como gênero não reproduz o mundo, deve recriar o mundo. O romancista pode distorcer os fatos conhecidos para chegar a uma outra verdade, uma verdade metafórica”, disse, lembrando que em “História secreta de Costaguana”, que recria a história…
Livros que falam de livros foram o tema da conversa entre o espanhol Enrique Vila-Matas e o chileno Alejandro Zambra, no meio da tarde de hoje, na mesa “Apenas literatura”. Isso tornou simpática, ainda que pouco surpreendente, a conversa entre dois autores que de resto têm diferenças significativas – inclusive de maturidade e prestígio, com Vila-Matas, nascido em 1948, representando o papel de autor solidamente estabelecido e Zambra, que é de 1975, o de jovem revelação. Vila-Matas, que está lançando pela Cosac Naify, sua editora habitual, o romance “Ar de Dylan”, provocou risos discretos ao dizer que a cena inicial do livro, embora poucos acreditem, foi inspirada numa história real ocorrida com ele. “Eu estava quieto na minha casa e recebi um convite para uma conferência na Suíça. Era uma conferência sobre o fracasso. Isso me surpreendeu bastante. Contei para alguns amigos, e todos ficaram com pena de mim. A verdade é que nunca fui ao congresso, porque tinha outro compromisso”, afirmou. Mas o episódio serviu de pontapé inicial para mais um romance metalinguístico, lúdico e irônico do autor de “O mal de Montano”. Zambra começou por fazer um esforço tocante para ler em português – “língua que desconheço amplamente”,…
Por Maria Carolina Maia A nova literatura brasileira, que aliás ganha uma edição especial da revista literária Granta nesta quinta-feira, marcou a primeira mesa da 10ª Flip. A nova literatura brasileira e a morte. O goiano André de Leones, o gaúcho Altair Martins e o mineiro Carlos de Brito e Mello se runiram no palco principal da festa em Paraty para falar da presença da finitude em seus livros. “Em A Passagem Tensa dos Corpos, eu parti da ideia de que, quando uma morte acontece, se inicia uma narrativa”, disse Brito e Mello, o último a falar e, apesar do carisma geral, um dos mais interessantes da mesa, que foi mediada pelo professor de literatura João Cezar de Castro Rocha. “Quando escrevia, eu lembrei da minha experiência de criança na casa dos meus avós em Visconde do Rio Branco, interior de Minas Gerais, onde a família se reunia aos fins de semana, especialmente na cozinha. Nessa cidade, os óbitos eram comunicados por um carro de som, na rua. Quando o carro anunciava um nome, todos na cozinha começavam a contar coisas da vida da pessoa, que então virava um personagem.” Brito e Mello, que teve o romance A Passagem Tensa…
O poeta Antonio Cícero foi responsável pelos melhores momentos da mesa de abertura da Flip, a primeira das três previstas para homenagear Carlos Drummond de Andrade, encerrada agora há pouco. Ao fazer um inspirado exercício de close reading, isto é, de leitura detida, verso a verso, do poema “A flor e a náusea”, terminou por se aproximar mais – e ao público – do poeta mineiro do que o crítico Silviano Santiago conseguiu, com sua explanação de ambição totalizante, que ele mesmo se apressou a reconhecer como tarefa “inglória”, de uma obra extensa e multifacetada demais para tanto. A noite começou com uma breve crônica de Luis Fernando Verissimo, escalado para saudar a décima edição da Flip – festival ao qual, certa vez, escreveu que aceitaria vir “até para trocar uma lâmpada”, como lembrou o curador Miguel Conde ao apresentá-lo. O cronista tratou de divertir o público com sua verve, lembrando que em 2008, ao entrevistar, nervoso, o dramaturgo inglês Tom Stoppard no palco da Tenda dos Autores, confundiu-se a chamou o evento de “Clip”. “O público não entendeu, mas o C era de celebração”, brincou. Afirmando ter sido convidado para apresentar na Flip um “panorama da obra” de Drummond,…
O homenageado – demorou – é Carlos Drummond de Andrade, mas a décima edição da Festa Literária Internacional de Paraty, que começa hoje à noite, promete ser dominada por outro tímido famoso: o escritor catalão Enrique Vila-Matas, que está no Brasil lançando seu novo romance, “Ar de Dylan”, topou na última hora dobrar seu tempo de exposição no evento para suprir a lacuna deixada pela desistência do francês J.M.G. Le Clézio. Além de dividir a mesa das 15h de quinta-feira com o chileno Alejandro Zambra, como estava previsto, Vila-Matas fará uma conferência no horário mais nobre de todos – 19h30 de sábado –, que havia sido reservado para o prêmio Nobel de 2008. Sob o título “Música para malogrados”, consta que falará sobre alguns dos temas que revisita obsessivamente em seus romances, entre eles o potencial redentor do fracasso e a recusa do ato de escrever como gesto artístico maior. “O momento em que a literatura se reduz a um produto de mercado é também o momento de sua irrevogável extinção. Este, afirma Enrique Vila-Matas, é o momento que vivemos hoje”, diz o programa da Flip. É ironicamente apropriado, bem ao gosto de Vila-Matas, que seu imprevisto protagonismo tenha sido…
No auditório da Biblioteca Nacional, no centro do Rio, quarta-feira à noite, predominavam escritores, editores, tradutores e jornalistas culturais. Compondo a mesa estavam a inglesa Amy Webster, representante da Feira do Livro de Londres, e o escritor João Paulo Cuenca, além de mim. A propósito do lançamento carioca da revista literária londrina “Litro”, que em seu número 114, com edição da inglesa Sophie Lewis, reuniu autores brasileiros – Cuenca e eu entre eles – a ideia da noite era discutir as possibilidades de exportação de nossa literatura para o fechado mercado britânico num momento em que o cenário econômico mundial deixou o Brasil, por assim dizer, na moda. Por via das dúvidas, Amy começou tratando de jogar muitas pints de água gelada em qualquer fogueirinha que pudesse – tudo é possível – ter começado a arder no peito dos ufanistas. Com apenas 3% de seu mercado ocupado por traduções, uma fatia mínima que é abocanhada quase inteiramente por vendedores de peso como o sueco Stieg Larrson, o fato é que as brechas para a entrada de literatura brasileira no Reino Unido são virtualmente inexistentes. Membro de uma delegação de editores britânicos que está no Brasil neste momento para conhecer melhor…
O fato de escrever sobre literatura neste blog há seis anos, sem interrupções, me leva a ser convidado com frequência para tratar de um assunto que deve ter grande apelo para o público interessado em literatura, a julgar pela vaga cativa que os curadores lhe destinam na programação de feiras e congressos: o da convergência entre o velho mundo das letras e o novo mundo digital. Sempre que me perguntam em tais ocasiões se a internet mudou ou vai mudar nosso jeito de escrever, respondo que sim, claro que mudou, está mudando, mas não tão depressa nem tão inequivocamente quanto se costuma imaginar. Estamos, como é típico da contemporaneidade, apalpando o caminho numa sala escura. Este artigo (em inglês, via Arts & Letters Daily)) que acaba de sair no último número da revista literária americana “n+1” acende algumas luzes no breu, como se pode ver nos trechos abaixo: Nos seus melhores momentos, o Twitter diverte e instrui. Alguém, frequentemente alguém de quem você não esperaria isso, condensa o Espírito do Tempo numa ótima anedota, epigrama ou sacada. (…) Olhe para sua página do Twitter no momento errado, porém, ou mande você mesmo um tweet idiota, e de repente um infinito…
Incentivo à leitura e divulgação da literatura brasileira contemporânea parecem temas áridos, para não dizer inglórios? Que tal convocar os profissionais? A agência de publicidade Lew’LaraTBWA acaba de inventar uma utilidade cultural surpreendente para o espaço daquele “texto legal” que muitas empresas colam no pé dos e-mails de seus funcionários, em geral algo chato na seguinte linha: “Esta mensagem e seus arquivos anexados podem conter informações confidenciais e/ou legalmente protegidas etc.” “Por que o texto legal que aparece no final do e-mail não pode ser legal de verdade?”, pergunta o material preparado pela agência para apresentar a Biblioteca do Texto Legal, uma criação de Cesar Herszkowicz e Max Geraldo. Desde a semana passada, os e-emails dos funcionários da agência trazem no pé crônicas e minicontos de escritores brasileiros convidados. Tenho a honra de estar nessa primeira leva (com o conto “História do mundo em 13 tweets”, que pode ser lido por quem clicar na imagem acima), ao lado de Ignacio de Loyola Brandão, Xico Sá, Antonia Pellegrino, Elisa Andrade Buzzo e Milly Lacombe, entre outros autores. Se a moda pega, não sei não. Corremos até o risco de virar um país de leitores. * Ontem, no Sobre Palavras, me despedi…
O crítico inglês Terry Eagleton (foto) acaba de dar uma interessante entrevista para a revista acadêmica “The Oxonian Review” (em inglês, aqui). Nela apresenta uma visão extremamente negativa do atual estado dos estudos literários acadêmicos e dá um conselho seco aos “jovens críticos”: “Não é um bom momento para estar nas universidades”. Vindo de um nome fundamental da teoria literária britânica, o desabafo tem impacto. Na sua opinião, os jovens estudiosos de literatura sabem “discorrer de forma muito inteligente sobre o contexto de um poema”, sem no entanto ter a menor ideia de como “falar dele como poema”. Marxista, Eagleton tenta dar a esse desejo de restauração dos valores tradicionais da literatura uma roupagem progressista: trata-se, a seu ver, de recuperar para os críticos a relevância cultural dos grandes “intelectuais públicos”, em oposição ao que considera o conformismo reinante com o fechamento da academia em si mesma. Reagindo a uma provocação dos entrevistadores, o crítico traça então um limite para a autocrítica: afirma não acreditar que a razão do problema deva ser buscada numa suposta overdose de teoria dentro da universidade. Ela estaria no mundo lá fora, num miasma em que entram “a mídia, o pós-modernismo, o status da palavra…
Conhece essas ilustrações de 1919, do inglês Harry Clarke, para os contos de mistério de Edgar Allan Poe? Eu não conhecia. Coisa finíssima. * Hoje, dez da manhã, quando se abriram os portões virtuais, tudo correu com suavidade na compra de ingressos para a Flip no site Tickets for fun. Agora, passando do meio-dia, as entradas para a Tenda dos Autores estão esgotadas na maioria das mesas, o que era previsível, mas ainda não ouvi – por email, telefone ou redes sociais – nenhum sinal do choro e do ranger de dentes que em outras edições do evento eram parte da paisagem, diante de conexões que caíam no meio do processo de compra, informações desencontradas etc.. Sim, está certo que cobrar 20% de “taxa de conveniência” é extorsivo, mas isso não é exclusividade da Flip. No décimo aniversário da festa, a bagunça da venda de ingressos parece ser uma herança maldita que ficou definitivamente para trás. * Você gostaria de viver para sempre? Tolinho. Um livro do filósofo Stephen Cave explica por que a imortalidade é uma daquelas ideias que parecem ótimas e na verdade são péssimas. Como champanhe no café da manhã. * Furo de Raquel Cozer na “Ilustrada”…
Se você for um daqueles que contemplam a obra-prima de James Joyce a certa distância, com um misto de fascínio e pavor, sem jamais se animar a encarar suas muitas centenas de páginas, saiba que seu nome é legião. Talvez você tenha passado batido pela tradução pioneira de Antonio Houaiss (Civilização Brasileira, 1966) porque ela tem fama de erudita demais – “será que ele usa todas as palavras do dicionário dele?” – e um estranho “Sims” como palavra final, quando o original é um simples Yes. (Millôr Fernandes, irreverente como o próprio Joyce, sugeriu a tradução “É”, como num grito de orgasmo.) Pode ser ainda que a versão mais coloquial da professora Bernardina Pinheiro (Objetiva, 2005), que procurou tornar o “Ulisses” menos intimidador, mais joycianamente brincalhão, e ainda restituiu o “Sim” de Molly Bloom à sua singularidade, também não tenha sido suficiente para levá-lo a encarar o tijolo. Nesse caso, quem sabe você está se sentindo finalmente tentado a dar uma chance a Leopold Bloom na recém-lançada tradução de Caetano Galindo (Penguin/Companhia), que consumiu dez anos de trabalho, contou com a “coordenação editorial” de um tradutor experiente como Paulo Henriques Britto e vem embalada numa capa elegante e cabeçuda como…
Genial, genioso e muito mais recluso do que Rubem Fonseca jamais sonhou ser, o contista curitibano Dalton Trevisan é o vencedor do 24º Prêmio Camões 2012, o mais importante da literatura de língua portuguesa. O vencedor do Camões – que também já premiou os brasileiros João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar e o próprio Rubem Fonseca, entre outros – recebe 100 mil euros, em torno de R$ 260 mil. Presidido pelo crítico brasileiro Silviano Santiago, o júri tomou a decisão por unanimidade. O anúncio foi feito hoje de manhã em Lisboa por Francisco José Viegas, secretário de Cultura de Portugal. Leia aqui a reportagem do jornal português “Público”. O júri justificou assim a escolha: “Dalton Trevisan significa uma opção radical pela literatura enquanto arte da palavra. Tanto nas suas incessantes experimentações com a língua portuguesa, muitas vezes em oposição a ela mesma, quanto na sua dedicação ao fazer literário sem concessões às distrações da vida pessoal e social”. Dalton, que completa 87 anos no mês que vem, manteve em toda a sua carreira impressionante fidelidade a um estilo de prosa de crescente minimalismo e temática inconfundível, marcada em doses iguais por erotismo à flor da pele, provincianismo e uma espécie aguda…
No distante julho de 2007, impressionado com a capacidade que tinham os “debates críticos” sobre a literatura brasileira dos últimos 20 anos de descambar para lugar nenhum, publiquei aqui um Sobrescrito em forma de enquete chamado O problema é ‘o problema’, mais tarde compilado no livro “Sobrescritos” (Arquipélago Editorial, 2010). As respostas foram desenhadas de acordo com as metodologias mais avançadas de prospecção sociocultural da Universidade de Itaguaí, a fim de cientificamente dar conta de todos os vetores relevantes da nossa “cena”. O único problema com aquele experimento pioneiro é que a enquete era falsa, um mero simulacro literário de enquete: o internauta não votava. Será por isso que, cinco anos depois, ainda estamos mais ou menos no mesmo lugar? Por via das dúvidas decidi republicar a enquete, mas desta vez é diferente: ficamos interativos, docemente interativos. Vote, caro leitor, e ajude a descascar esse pepino. . [poll id=”61″]
O poeta e frasista gaúcho Fabrício Carpinejar criou um fato cultural mais relevante e atual do que a polêmica entre Caetano Veloso e Roberto Schwarz ao cancelar ontem, por meio de uma carta aberta, sua participação na Feira do Livro de Bento Gonçalves (RS). Motivo: a organização do evento acertou um cachê de R$ 170 mil com o rapper e autor de literatura infantil Gabriel o Pensador, depois de, alegando limitações orçamentárias, fechar com Carpinejar e outros escritores um pagamento de apenas R$ 1 mil. A questão é relevante porque acende um raro holofote numa zona de fronteira típica do ambiente literário dos últimos anos: aquela em que os velhos valores cabeçudos, introspectivos e desprovidos de vintém da leitura se cruzam com os da sociedade do espetáculo, essa senhora rica, espalhafatosa e desmiolada. Uma espécie de metáfora coletiva do casamento de Arthur Miller e Marylin Monroe. A tentativa de transformar escritores em atores e livros em objetos cênicos da grande peça que hoje se encena mundo afora, chamada “Celebridades”, tem promovido a proliferação de feiras e “festas literárias” pelo país, na esteira do sucesso da Flip. Isso faz de escritores viajantes contumazes e lhes proporciona uma bem-vinda fonte alternativa de…
Baixada a poeira, já dá para dizer: Laura Miller, ex-jurada do prêmio Pulitzer, publicou na Salon.com a melhor reflexão (em inglês) que vi por aí sobre a polêmica ausência de um representante da literatura de ficção entre os laureados deste ano, algo que não ocorria desde 1977. Miller explica o frequente atrito entre as deliberações do júri, formado por gente da área de literatura, e o aval do conselho do Pulitzer, que tem interesses variados e costuma levar as decisões para um terreno próximo do gosto médio – daí, aliás, a costumeira eficácia do prêmio como propulsor de vendas. Os conselheiros se comprometem a ler os finalistas, claro, mas é só. Qualquer manobra fora desse terreno é limitada. Miller sustenta basicamente que, como hoje em dia ninguém fora do gueto literário tem tempo nem vontade de se manter em dia com os lançamentos, por melhores ou mais comentados que eles sejam, o consenso em situações desse tipo tende a ser cada vez mais difícil: Segundo todos os relatos, o grupo (de conselheiros) não conseguiu construir uma maioria em torno de nenhum dos três títulos recomendados pelo júri. É certamente improvável que um número suficiente deles tenha lido ficção de forma…