Ao invocar o sobrenatural, ele (Norman Mailer) pode parecer afirmar que as forças que moviam Hitler eram mais do que meramente criminosas; no entanto, o jovem Adolf ao qual ele dá vida nessas páginas não é satânico, nem mesmo demoníaco, mas apenas uma figura nefasta. Manter vivo o paradoxo infernal/banal, em toda a sua inescrutabilidade angustiante, talvez seja a maior das conquistas desta mui considerável contribuição à ficção histórica.
O sul-africano J.M. Coetzee elogia (em inglês, acesso livre) no “New York Review of Books” o novo romance de Norman Mailer, The castle in the forest, sobre um jovem Adolf Hitler e seu, digamos, demônio da guarda. Vê no livro uma espécie de desafio ficcional à tese da “banalidade do mal” de Hannah Arendt. Interessante. Coetzee é, pelo menos aqui em casa, um escritor muito maior do que Mailer. Sua opinião tem peso.
20 Comentários
Sérgio, J.M. Coetzee parece ser unanimidade no meio. Não tive oportunidade de ler seus livros ainda, mas ouvi coisas muito boas sobre “Desonra” e “Elizabeth Costello”… fiquei curioso com o autor e estes dois livros que mencionei… você caro Sérgio e os amigos comentaristas, quem pode me dar um parecer? Uma opinião? Encontrei outros livros dele além dos mencionados, fiquei na dúvida em qual comprar: Os dois que já li comentários oui entrer de cabeça em um que não ouvi ou li nada…
Obrigao, abraços…
P.S.: Desculpem a fuga do tema… mas acredito J.M. Coetzee sobresai Norman Mailer e seu demõni nazista…
Se voce for jovem ou estiver passando pela crise dos 20, leia Juventude
Que curioso. O último elogio que fizeram ao Mailer já deve ter uns trinta anos..
E Mr. Ghost Writer, leia o Desonra. Para ontem.
Coetzee bota no chinelo todos os Amis, Barnes e McEwans da vida – que são excelentes escritores, mas… Bem, digamos que a geração deles tem um gênio, e aí vira covardia. Desonra é o maior romance publicado nos últimos 30 anos, pelo menos entre os que eu li. Alguém sugere um oponente à altura?
Considero O ano da morte de Ricardo Reis a essa altura, Roberto.
Quanto à obra de J. M. Coetzee, um romance aquém do Desonra, mas muito acima dos livros que conheço dos outros autores que você cita, é À espera dos bárbaros (li a tradução da Best Seller e não a recente da Companhia das letras). Eu digo com a melhor intenção que este livro é angustiante.
Estava sentindo falta de alguma alusão a Coetzee neste blog. Ele realmente é um baita escritor.
Coetzee é realmente um baita escritor. Uma característica interessante é que seus livros todos estão num altíssimo nível. Se fosse para resumir em uma palavra, acho que poderíamos usar “angustiante”, como foi citada ai em cima pelo Tiago. Realmente, os livros do Coetzee angustiam, por que mostram muito da barbárie, da pusilanimidade do ser humano consigo próprio e com os animais…
Mr. Ghost(WRITER) pode começar por qualquer um dos livros do sul-africano. Mas sugiro entrar pelo Desonra… que é pra começar levando uma bordoada logo de cara.
Vá no Desonra e segure o tranco, por que é literatura de primeira.
O cara não faz concessões.
PS. Enaltecer Coetzee para denegrir McEwan, Barnes e Amis é besteira… São grandes escritores também, que escrevem num outro diapasão e estilo. Mas, principalmente o McEwan, tem uma obra das mais importantes, que também mostram muito do desconforto do homem moderno com suas contradições. Reparação, por exemplo, é o primeiro clássico da literatura do século 21 (acho que já li isso antes em algum lugar) e Sábado é um livraço, simplesmente imperdível para quem gosta de boa literatura.
Quanto ao Mailer, tem coisas boas, mas é um escritor de mais espuma que substância.
Eu não denegri ninguém, Cezar. Gosto desses autores, leio a todos com prazer, só não acho que eles cheguem onde o Coetzee chega. O comentário tem mais a ver com meu entusiasmo pelo Coetzee do que qualquer outra coisa.
Roberto, também acho o McEwan um escritor grande demais para que o Coetzee lhe faça sombra. “Reparação” e “Amor para sempre” me impressionaram – assombraram? – bem mais do que os livros que li do Coetzee.
Mas bom, discutir gosto literario pode ser divertido mas nunca leva a lugar nenhum. Esse comentario é pra recomendar meu livro favorito do Coetzee, o “Age of iron”, do qual pouca gente fala. Não sei se saiu no Brasil, mas é muito bom. E desrecomendo o “Vida e época de Michael K”, que ganhou o Booker Prize mas é bem mais ou menos.
Lucas, concordo com você sobre o McEwan. Ele e o Coetzee estão entre os grandes contemporâneos, não vejo sombra de nenhum sobre o outro. O livro que você menciona eu não li, mas consta que saiu aqui há alguns anos, pela editora Caramelo, com o nome de “A idade do ferro”.
Quanto a mim, recomendo o óbvio mas magnífico “Desonra” como porta de entrada e acho bom evitar – pelo menos por enquanto – a cricri Elizabeth Costello.
Estou lendo o último dele, Slow Man, sensacional. Que traduzam logo. Também seria interessante se alguém lançasse por aqui “Stranger shores”, livro de ensaios sobre literatura, gênero em que o professor John Maxwell também é craque.
Abraços.
Cormac McCarthy é imensamente maior que o Coetzee. Mas voltando à vaca fria: Sérgio, acho que essa discussão que você introduziu mereceria um ensaio mais elaborado, não dá pra desmanchar a tese da Hannah Arendt (exposta principalemente no gigante “Eichmann em Jerusalém”) em duas linhas. Fica com cara de palpite. E acho que o melhor Mailler é o que escreve sobre Boxe. “A luta” é um clássico.
Caríssimos:
É curioso observar como o post que tratava de um elogio de Coetzee para Mailer, recaiu na discussão sobre o próprio Coetzee.
Como disse o próprio Sérgio, é fácil de entender: Coetzee é muito superior. Mailer, mesmo quando fez algum sucesso, nunca chegou perto de Desonra ou Vida e época de Michael K, só para citar dois.
Quanto à comparação com McEwan acho que estão próximos. E que McEwan é algom mais “pop”, mas não menor em qualidade.
Clelio, nem ensaio nem palpite: sem ter lido o livro de Mailer, me limito a registrar a interessante visão de Coetzee. Que, veja bem, não chega nem perto de dizer que Mailer desmancha a tese de Arendt, diz apenas que existe uma tensão de idéias entre um e outro. Recomendo ler o ensaio dele, longuíssimo, no NYRB.
Achei curioso alguém aqui ter contra-indicado “Vida e época de Michael K”. Considero um grande livro. A propósito, Sérgio, já que estamos falando dos “grandes escritores contemporâneos”, e Amós Oz? É impressão minha ou nunca foi citado neste blog? Um abraço.
Gosto de Amos Oz, Tamara. Tenho a impressão de já tê-lo citado, sim, mas de passagem. A hora dele vai chegar. Abraço.
Tenho percebido, neste e em outros fóruns, que essa discussão acerca de Coetzee e McEwan muitas vezes ganha ares de “escolha de Sofia”, como se fosse preciso optar por um dos dois. Eu mesmo caio nessa armadilha. Talvez seja minha admiração pelo Coetzee que, dentro da minha cabeça, faça sombra nos outros autores, e não exatamente o tamanho dele como escritor. Enfim, anfã. Deixa pra lá.
Amós Oz foi a minha grande descoberta nesse primeiro mês de 2007. Li três livros e estou encantado.
Amigos comentaristas, Sérgio,
Agradeço as dicas e sugestões… e despeito do que sei de Coetzee, estava esperando mesmo que Desonra fosse bem cotado para o início… também sabia da possibilidade do tranco e da leitura angustiante, acredito que isso, aliado ao fato do escritor estar sempre muito bem cotado chamou-me bastante a atenção.
A cadeira cativa de Coetzee em minha biblioteca está garantida…
Quantto a crise dos vinte anos, bem, tenho 26, caminhando para os 27 em maio… no entanto tal crise não me assolou nem mesmo aos 20 redondinho, menos ainda agora. Acho que só esperei mesmo o momento mais apropriado de ler Coetzee… sabem como é… comecei a ler relativamente tarde… aos 19 anos… pouco antes dos 20 redondinhos…
Coincidência talvez.
Abraços caros amigos comentaristas, Abraços Ségio
Obrigado pelas dicas sempre muito bem vindas…
Desculpe, digo: Abraços Sérgio…
Coetzee e Mailer são dois grandes escritores. Talvez Coetzee ganhe em preocupação com o “literário” (como Faulkner), enquanto Mailer está mais próximo da “atividade” (levar a literatura ao campo da ação, ou vice-versa, como Hemingway). Por isto mesmo, Mailer parece mais corajoso ao enfrentar seus temas, desde os primeiros livros na década de 1950. Uma curiosidade: folheei o livro de Mailer na livraria e vi algo interessante – embora diga na capa que se trata de uma “novel”, o livro tem bibliografia.