Vivemos, para o bem e para o mal, um tempo de pulverização, de multiplicação de referências. Não existem parâmetros reconhecidos por um número suficiente de pessoas para que o debate literário role direito, o clima é de um certo vale-tudo estético. Aí, claro, vêm os vírus oportunistas e quem acaba se dando bem é a turma da autopromoção, do marketing. Tudo isso é triste e angustiante, mas, pensando bem, talvez não seja de todo ruim. Porque é evidente que no meio desses escombros há um novo ambiente literário em gestação.
…
Lemos pouquíssimo. Você entra no ônibus, no metrô, e ninguém está lendo um livro. Nunca. Nem romance Sabrina. Nem faroeste de banca de jornal. Isso é um dado grave, a meu ver. Mas daí a acreditar em visões apocalípticas vai uma grande distância.
?
O tempo de amadurecimento da literatura e o tempo do blog são mais do que diferentes, chegam a ser antagônicos. O problema é que, uma vez publicado, qualquer texto passa por uma espécie de cristalização – esta é a minha experiência, pelo menos – que dificulta reescrevê-lo depois. E reescrever é a alma do negócio.
Entrevista boa é aquela que nos obriga a formular idéias que até então estavam vagas ou, em certos casos, que mal sabíamos ter. A que o Julio Daio Borges, da revista eletrônica Digestivo Cultural, fez comigo é uma dessas. Tão bacana – e tão mergulhada no assunto deste blog, literatura – que resolvi ceder a uma das táticas “autopromocionais” que critico para recomendá-la aqui.
A conversa com o DC rolou por e-mail, o que ajuda muito. Quando sou obrigado a falar, como na entrevista ao “Espaço Aberto” comandado pelo Edney Silvestre que estréia hoje às 21h30 na Globonews (e amanhã passa de novo, às 8h30 e às 15h30), bom, aí é imprevisível.
49 Comentários
“Por que não aproveitam essa paixão para se dedicarem a ser grandes leitores, leitores notáveis, mercadoria de que precisamos desesperadamente, em vez de serem escritores medianos como tantos outros?”
Matou a pau, Sérgio!
Concordo contigo, lemos pouquíssimo. Tenho procurado debater esse assunto no meu blog. Acho sempre importante falar sobre isso, precisamos da tal LPB, defendida por Luis Matta! Parabéns pela entrevista no Digestivo, muito legal mesmo. Se permitires gostaria de te enviar meu livro de litaratura juvenil publicado no ano passado. Se aceitares aguardo o endereço por e-mail.
Abraços,
Christian
Valeu, Sergio, pelo link. Bom comentar aqui tambem, boa repercussao, ate’ a Flip! Abraco forte, Julio
Sergio,
Li a entrevista e gostei bastante, sobretudo porque nela você se demora mais sobre algumas questões que volta e meia pintam por aqui. A que mais me chamou a atenção, e que há tempos queria comentar, é esse fato de que muito se escreve e pouco se lê. Sabe aquela expressão infeliz de não sei qual técnico de futebol, que dizia que gostava de ter em seu time ” zagueiro zagueiro”? Pois é, andei pensando: será que existe hoje no Brasil “leitor leitor”? A impressão que tenho é a de que as pessoas que consomem literatura, principalmente a contemporânea, estão envolvidas profissionalmente, de alguma forma, com o assunto. Seja porque são jornalistas, estudantes de letras, ou comunicação, ou por serem simples blogueiros. Não acho essa circularidade entre produtor e receptor ruim, mas a ausência do “leitor leitor” indica um número de consumidores de literatura pequeno, o que é péssimo não só para o mercado, mas para a cultura do país.
Pedro David
Eu me acho ´leitor leitor´. Só não leio no ônibus pq me dá dor de cabeça =p.
fui conferir no DC e gostei. Valeu!
“… Lemos pouquíssimo. Você entra no ônibus, no metrô, e ninguém está lendo um livro. Nunca. Nem romance Sabrina. Nem faroeste de banca de jornal…”
Ando de Metrô quase todos os dias (normalmente vou e venho do trabalho a pé (12 Km), mas o calor tem me impedido disso ultimamente), e o que vejo é uma parcela bastante representativa de passageiros ocupados com leitura. Isso mesmo: Livros. Mas isso, aqui em Sampa, linha Norte/Sul. Talvez essa realidade seja diferente no Rio. O calor inibe a leitura?
o calor inibe os neurônios.
E aí, Sérgio? O Narebah vai concorrer ao PPL?
*ops, o coment cortou o parêntesis: Prêmio Penitenciário de Literatura. e o link a respeito: http://www.noga.blog.br/2007/04/literatura-para-todos.htm
Você anda de ônibus e de metrô, rapaz? Se esse for o critério, as pessoas lêem sim muito mais do que as pesquisas gostam de apontar. Aqui em Brasília, muita gente viaja com revistas, jornais e livros… E no Rio, pelo que eu me lembro, as pessoas tb lêem nos coletivos. Talvez valha a pena dar uma voltinha neles… 🙂
É mesmo, Zé e Tibor? Que ótima notícia, viramos uma nação de leitores e eu não sabia. É verdade que não me referia a jornais, apostilas ou livros de auto-ajuda: o contexto (para não mencionar Sabrina e o faroeste) deixa claro que eu falava de literatura – boa ou má, tanto faz. Mas quem sabe não é o começo de alguma coisa? Por favor, me mantenham informado do andamento dessa revolução. Abraços.
Eu me referi a literatura – boa ou má, tanto faz, e não a apostilas, livros de auto-ajuda, jornais, filipetas, folders, catálogos, bíblia, revistas e outros que tais. Embora eu more em São Paulo (provavelmente um dos rincões do país menos favorecidos intelectualmente (junto a Brasília), a considerar a sua fina ironia, Sérgio), minha capacidade de interpretação dos fatos ainda está preservada. 🙂
Quando neguinho tá desesperado, catálogo da Hermes (não a “Hermés, francesa, a “Ermes” brasileira mesmo), sobretudo naqueles lançamentos de calcinha e sutiã, é literatura erótica. A mão amiga nas horas difíceis.
Nem vem Tibor, nem vem. Menos favorecidos intelectualmente é aqui no Rio Grande do Sul. Parafraseando o Woody Allen, este é um Estado que forma grandes médicos e grandes doentes. Aqui temos Feira do Livro há 50 anos, vem gente de todo o País e o gaúcho médio (inclusive da classe média, com grana) só compra livro espírita da Zíbia Enroletto ou cuja capa combine com o feng shui. Ah, e compra uma vez por ano, quando acontece a Feira. Eu, que escrevo contos e romances, cansei de responder à famosa (e equivocada) pergunta “E aí, como estão as tuas poesias?” Tudo isso porque sou recalcado, tenho uns três ou quatro livrinhos e um currículo invejável: NUNCA me convidaram para entrevistas; NUNCA me convidaram para sarau literário ou debate; NUNCA me convidaram para coletânea; NUNCA me incluíram na indicação do Prêmio Açorianos; NUNCA me incluíram em “autores gaúchos”, NUNCA pediram a minha opinião; os “amiguinhos” do “jornal-famoso-local” NUNCA indicaram os meus livros. Portanto não venha roubar dos gaúchos a ignorância que é nossa, por direito. Tem até cheiro: bosta de cavalo.
Ah, a Folha de São Paulo (Marcelo Pen) deu destaque para um dos meus livros, em 2002. Não vem xingar paulista na minha frente! Não vem!(vai encarar?)
Tá, Roberto, São Paulo, Brasília e Rio Grande do Sul. Você é parente daquele Schultz do “Guerra, sombra e água fresca”?
Interessante e oportuna, a entrevista. Só pra distoar um pouco do confete geral: ia comentar, mas percebi que tanto Tibor quanto Zé o fizeram aí em cima. Realmente, o quadro pintado por você, Sérgio, parece meio desatualizado. Cá em Sampa, cada vez mais vejo pessoas lendo no ônibus e no metrô (ando muito em ambos). Lembrei de um comentário de Ricardo Kotscho, cá NoMinimo mesmo”: o jornalismo, cada vez menos, é feito da redação com ar-condicionado, ao invés de buscar a notícia “in loco”. Que o exemplo do cronista-andarilho Xico Sá (vizinho teu) seja seguido (sim, faz bem largar o carro na garagem, às vezes).
Antes de mais nada gostei muito da sua entrevista mas vou discordar um pouco com o “? Lemos pouquíssimo. Você entra no ônibus, no metrô, e ninguém está lendo um livro. Nunca. Nem romance Sabrina. Nem faroeste de banca de jornal?”.
Ando de trem todos os dias e de metrô regularmente e vejo sempre algumas pessoas com livros nas mãos. Não sei se é uma boa ou má literatura mas pelo menos já é um começo.
“Olha, Sérgio, agradeço muito pela oportunidade que você está me dando ao comentar lá na sua entrevista no “Espaço Aberto”, da Globonews, hoje às 21:30 (repete amanhã), sobre a existência de ROBERTO SCHULTZ e do seu blog “A Caixa de Romeo y Julieta”(http://acaixaderomeoyjulieta.blogspot.com/), cujo Romance de mesmo nome espera uma Editora”
“É sério?”
“Não”.
Se vc vir alguém lendo no ônibus aqui em Brasília, pode saber que é mais um estudando pra concurso público. Sobre a entrevista, as respostas foram boas, mas não tive paciência pra ler as perguntas.
Sérgio, gostaria apenas de sugerir uma pauta: o livro “O cheiro do ralo”, do Lourenço Mutarelli. Sei que o oba oba está todo focado no filme. Mas o livro é que é da vez. Se já leu, esqueça a sugestão. Se não leu, creio que se surpreenderá. Abraço.
Em tempo, está ótima a entrevista no DC.
Sérgio
Considero-me a leitora por excelência, aquela que todo escritor pediu a Deus. Apaixonada por literatura desde que aprendi a ler, passei a adolescência e a juventude a devorar livros e livros. E se não me tornei uma escritora foi por absoluta incapacidade – o excesso de leitora paralisou-me. Afinal como escrever após ter lido Flaubert, Shakespeare, Machado de Assis? (Quanta pretensão!)Seria necessário “matar todos os pais”. No entanto, como nada é perfeito, aviso aos escritores atuais, desesperados por leitores: raramente leio lançamentos. Não por preconceito pela literatura contemporânea. Simplesmente os livros só se tornam acessíveis ao meu bolso quando chegam aos sebos, portanto daqui a uns 50 anos estarei lendo os clássicos de hoje. Claro que há exceções: comprei o ÚLTIMO (risos) do Saramago, o ÚLTIMO (risos) do Garcia Marques e…o PRIMEIRO seu.
Leitura, quero dizer
Pô, Cássia, tava contando com você para tomar uma taça de vinho ordinário no lançamento do meu “A Caixa de Romeo y Julieta”, quando sair, daqui a 20 anos. Pelo jeito você vai comprar o livro só daqui a 70, quando eu for um presunto podre sob a terra e a obra cair em domínio público. Um leitor a menos, eu, que já tenho tão poucos.
Leu o “Memórias de minhas putas tristes” do García Marquez? Que tal ler o último do desafeto dele, o Vargas Llosa? “Travessuras da Menina Má” é muito bom embora má seja a menina. Muito má.
Desculpe mas não vou encher a entrevista de elogios unica e exclusivamente pelo entrevistador. Elogia demais, não acho que isso seja necessário para uam boa entrevista. Li a do João Moreira salles e achei o ó os elogios rasgados à familia Moreira salles. Podia ter feito isso em um email à parte. (nada contra as iniciativas culturais da família, mas contra à esse puxa-saquismo jornalístico)
21:55 – A entrevista no Globonews “acabou de acabar”. Achei curta, mas foi bem dito (bendito!). Na verdade não há o que dizer, além disso e na entrevista do Digestivo foi dito mais e melhor, em função do tempo de elaborar, como o próprio Sérgio já havia avisado. É, a vida do candidato a escritor, meio “rezar pra cair nas graças de alguém”. E cair. Ou não. O Sérgio cavou a sua oportunidade. Feliz dele.
Roberto, prometo fazer um pé de meia para comprar o seu primeiro romance,contando que ele não seja tão ordinário quanto o vinho prometido.
Sim, li as memórias das putas do Garcia Marques e não, não li a menina má do Vargas Llosa. Será ela tão desalmada quanto a avó da Erêndira? Se você diz eu acredito – talvez valha a pena o investimento.
Vou cobrar o vinho quando do lançamento da “Caixa…”
E não é? E não é? Não há nada mais decadente do que lançamento de livro de escritor desconhecido. Vinho vagabundo (pode ser usado como limpa-vidros, se sobrar) e regulado, com salgadinhos igualmente contados. Um banner às suas costas; aquelas fotografias com a caneta na mão, fingindo que está autografando um livro que você já autografou no mês passado para o cara. E todo mundo ainda recomenda “capricha na dedicatória, você é meu fã antigo, hein?” (querendo dizer, ao contrário, que ELE é seu “fã”). O cara da editora controlando o garçon, a mãe do sujeito ou uma amiga encalhada perfumadas com “Paloma Picasso” paraguaio, todas sorridentes. Alguns amigos que NÃO compram o livro e vão lá só para beber o vinho, mesmo ordinário. Depois de bêbados dizem “esse é o nosso poeta”, quando o que você está lançando é um livro de contos ou um romance. Tem também o “leitor desconhecido”, que geralmente são umas “tias” (e olha que já tenho 42 anos…) que leram uma resenha do livro que saiu em alguma revistinha obscura ou que compraram pelo título romântico do livro, por engano. Quando vai todo mundo embora você faz uma cara de quem não quer nada e pergunta, discretamente, em voz baixa, “quantos vendeu?”. O gerente da livraria responde, em alto e bom som “Cinco. Já é um começo, hein?”, para seu constrangimento. Já escrevi cinco e lancei quatro. Foram todos assim. Um, inclusive, em São Paulo, na Cultura do Shopping Villa Lobos. O resto aqui no Sul. Ou seja, só muda o lugar. Agora deu vontade de cortar os pulsos. Tem gillete aí?
Credo, Roberto, você jogou por terra toda a minha ilusão acerca das suaves, ternas e inebriantes noites de autógrafos. Estou desolada. A persistir nesse empreito, sugiro que tenha sempre à mão caixas e caixas de prozac. Fiquei condoída e, para demonstrar a minha boa vontade, prometo comprar 2 exemplares do “Caixa…”, mas se ele for ruím de doer, eu mesma te fornecerei as gilletes.
Sérgio, ainda não li sua entrevista no Digestivo. Recebi-a ainda cedo, estou no mailling deles, mas o dia foi corrido e, confesso, as perguntas do … me esqueci o ‘nome’ do dono do Digestivo sempre me cansam e me deixam com a sensação de que ele tem que falar sempre e mais e melhor do que o próprio entrevistado. Mas vou ler, vou. Guardei-a. Porque o admiro, porque sou assídua em seu blog, quase sempre concordo com você, li seu primeiro livro há anos (nem sabia que você era você), enfim, há mil razões pra lê-la. Sinto só ter vindo aqui agora, altas horas e, portanto, ter perdido sua entrevista na Globo News. Acho pouco provável que a consiga ver amanhã nesses horários absurdos. Gosto muito do programa, acho o Edney um entrevistador capaz e, especialmente, respeitoso com o entrevistado, dá-lhe espaço, deixa-o falar… enfim… Mas o mais mais é que concordo com seu comentário: lemos (nós e os outros) cada vez menos. Ando raramente em metrô e ônibus, mas vejo isso em aeroportos, entre meus amigos todos que tanto liam, com outas pessoas com as quais convivo e em mim mesma que hora dessas morro com o peso dos livros que compro, ponho na mesa de cabeceira e por falta de tempo (mais interno que externo, mais subjetivo que real) me matariam se caíssem sobre minha cabeça. Pensando bem, seria uma boa morte! rs
Abraço pra você,
Ana
ah, sim, e o que vejo de leitura em Congonhas ou Santos Dumont é quase sempre: O monge e o executivo. Por diós!!!!!
Sergio,
Gostei de tua entrevista, mas as perguntas (aquilo parece mais um inquerito policial de tao caudaloso e assimétrico. Quando eu acabava de ler a pergunta já nao sabia do que o entrevistador estava dizendo na primeira linha.) Em minha opinião o entrevistador pareceu mais um colegial deslumbrado e afoito por obter informações para seu trabalho de feira de ciências.
Quanto aos blogueiros acredito que tem muita producao boa. E há blogueiros que usam este espaco democratico para socializar sua arte. alias nao existe o velho adagio popular que diz que “o artista deve ir onde o povo esta?” (Mesmo que este povo em questao representa menos de 10% da populacao brasileira conforem dados do IBGE.) Considerando que a publicacao de um livro em formato impresso, sua propaganda e distribuicao é uma via crucis terrivel e cara para muitos.
Viajei duas vezes este ano, de avião. Somando, cinco horas de atraso em aeroportos.
Li dois romances (inclusive tua dica, Sérgio, do Onze Noites, e aprovei!), e a balconista disse que o movimento estava grande, nunca venderam tanto. Acho que tem livraria de aeroporto subornando os controladores de vôo,,,
Mas ando de ônibus desde a infância, aqui em São Paulo, e me parece que há menos leitores rodoviários. Inclusive eu, deixei de ler por causa da vista cansada…
Menos Ana Lima, menos. O Edney Silvestre é bem simpático e tal, mas as perguntas beiram um pouco àquelas que fazem pra gente em sessão de autógrafos (vide minha postagem acima) do tipo “o que te inspira para escrever essa bobajada toda?” ou, como os mais taradões “me conta, essa mulher aí do conto você já….”. Em todo o caso, é sempre um espaço. Além disso o Edney Silvestre descende de uma grande linhagem de artistas e apresentadores, onde estão incluídos o Jota Silvestre e o Silvestre Soluço, da Corrida Maluca.
Obs.: meu comentário de — 12/04/2007 @ 10:04 am. refere-se a Entrevista concedida ao Digesto.
(antes que seja interpretado erroneamente, vez que nao assisti a entrevista ao Edney Silvestre.
Sinceramente acho que o Edney de Silvestre que é poderia, em alguns momentos, ter se tornado mais … Selvagem. Sacou o trocadilho? Rá-rá-rá.
Sérgio, uso o metrô diariamente aqui em Brasília, vejo bastante gente lendo, embora não sejam nem 20% dos passageiros. E entre estes não sei se chega à metade os consumidores de literatura, tem muito jornal, jornaleco, apostila, bíblia e auto-ajuda. Também não considero uma amostragem segura para julgar os hábitos de leitura do resto da população. Pois até mesmo eu, leitor compulsivo, há alguns meses não gostava de ler no metrô por causa do barulho e do desconforto.
Contudo, tenho a mesma visão que você, de que cada vez se lê menos livros.
Sérgio: Gostei da sua entrevista no Espaço Aberto: Literatura. Edney Silvestre é um entrevistador generoso. Deixa o entrevistado à vontade para dar o seu recado.
Concordo em relação a vários pontos que você abordou (o das escassez de tramas, por exemplo, eu critico – sarcasticamente – no romance que lancei ano passado).
Em relação a um outro tema permita-me discordar (aquele de que faltam leitores e que “escritores medianos” prestariam um serviço melhor à Literatura deixando de escrever e dedicando-se apenas à leitura).
Penso que sua proposta já se inicia com um complicador: a quem competiria a tarefa de “aferição e classificação” dos escritores? À crítica literária de jornal? Às Universidades? Editores? Ao gosto dos leitores (legítimo e muitas vezes esquecido)? Ao bom senso dos próprios escritores?
A Literatura é mesmo essa espécie de “elixir da longa vida”, sabemos. Enquanto mortal, o homem escreverá. Aliás, como sempre escreveu.
Em termos mercadológicos, a diferença é que antes, o arbítrio de editores era bem maior. Impedia que muita coisa (inclusive boa) chegasse ao grande público.
Hoje, a era do “broadcast” se transmuta na era dos “multicasts” ou mesmo “unicasts”, até em literatura. Vivemos uma época de transição. E não se deve limitar a capacidade de expressão.
Que o escritor (que assim se acreditar) escreva. E a escolha do que deve ser lido? Que seja dos leitores (não exclusivamente de críticos ou editores).
Pois é essa mudança de paradigma que nos permite, inclusive, discutir literatura aqui nesse importante espaço (e nunca é demais repetir) democrático.
Imagine se nossas opiniões só pudessem ser expressas se publicadas (leia-se aferidas e classificadas) pelos jornais ditos tradicionais?
Cláudio: uau, essa história de um órgão para emitir licença para escritores é um pesadelo digno de Flowerville. Obviamente, não proponho – nem conheço nenhum maluco que proponha – nada do tipo. Minha observação se referia só a um certo oba-oba, uma certa baixa coletiva de autocrítica que marca nosso tempo. Mas não descarto que isso tenha até um lado saudável. Agora, que cada um faz com suas escritas e suas leituras o que bem entender é algo tão indiscutível que só o fato de reconhecer no seu comentário um exagero argumentativo me impede de me ofender com ele. Um abraço.
Sergio: e faz muito bem em não se ofender, por que além de não ter sido minha intenção ofendê-lo (apenas me junto à sua reflexão), ofendendo-se, o faria por muito pouco.
Agora, passado o nosso pesadelo “owelliano” ou, como preferir, “flowervilliano”, me vem à lembrança, principalmente quando vc comenta a “baixa coletiva de autocrítica”, aquela história do Kafka e do Max Brod.
Chego mais uma vez à conclusão que de fato tudo é muito relativo. Concorda?
Forte abraço e mais uma vez parabéns pela bela entrevista!
Sergio, gostei bastante da entrevista no Espaço Aberto.
Curiosidade:como você escolhe os nomes de seus personagens. Tipo: o primeiro nome que te ocorre à mente, ou você fica pensando muito se o nome combina com o personagem?
Outra:você tem uma imagem nítida deles(personagens), ou pelo menos, do protagonista?
Clara, obrigado. Manda um email que eu conto, essas intimidades autorais não cabem no blog. Um abraço.
Puxa, desculpa se fui meio incoveniente ou invasiva, não tinha me dado conta. Bem vou aproveitar a sua gentileza e copiar e colar as mesmas perguntas e te envio por email. Antes que você se arrependa! Abraço.
boa e má literatura! bah! assim fica difícil conversar…
Verdade, está meio esquemático. Que tal péssima, má, razoável, boa e ótima?
Sérgio, não recebi nenhuma resposta ao meu email de ontem à noite. Como foi você que se prontificou a me responder por email, aguardo. Abraço.
Beleza, já recebi seu email e já escrevi agradecendo.
Valeu, grande abraço.