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Começos (ainda) inesquecíveis: Antonio Tabucchi

14/09/2008

Quando morre um poeta, todos choram. Post publicado em 12/11/2006.

*

Antes tenho de fazer a barba, disse ele, não quero ir ao hospital com uma barba de três dias, por favor, vá chamar o barbeiro, mora na esquina, é o senhor Manacés.

Mas não temos tempo, senhor Pessoa, replicou a zeladora, o táxi já está na porta, seus amigos já chegaram e estão à sua espera na entrada.

Não importa, respondeu ele, sempre há tempo.

Ajeitou-se na poltronazinha onde o senhor Manacés habitualmente lhe fazia a barba e pôs-se a ler as poesias de Sá-Carneiro.

O singelo início da novelinha “Os três últimos dias de Fernando Pessoa”, do italiano Antonio Tabucchi (Rocco, tradução de Roberta Barni, 1996), talvez não seja memorável para qualquer um. É para mim. E o que vem em seguida não é menos: no hospital, Pessoa é visitado por um séquito de heterônimos antes de morrer.

7 Comentários

  • andre 14/09/2008em15:51

    Realmente. Fez mais sentido depois que você escreveu a rápida sinopse do livro. Acabei de ler “Giovani” de James Baldwin e estou chocado até agora com a força da história e a extrema precisão da narrativa. Um dos grandes gênios que vejo ser pouco mencionado por aqui. Gostaria de saber as impressões de quem mais leu, pois confesso e repito: estou em estado de choque até agora.
    Foi minha primeira experiência com a sua prosa, mas quero mergulhar em outros dos seus livros. Alguém recomenda algum em especial?

  • Sérgio Rodrigues 14/09/2008em16:52

    André, do grande James Baldwin, além de “Giovanni’s room”, só li “Another country”, ambos há muitos anos. Os dois me pareceram livros extraordinários, com destaque para aquela prosa de fino estilista que o cara tinha. “Giovanni’s room” principalmente.

  • Raul 14/09/2008em18:05

    Sérgio, fugindo do assunto do post, ficou sabendo do suicídio do David Foster Wallace? Pô, nunca li nada do cara, mas tinha gente que jurava que era melhor que Pynchon.

  • Sérgio Rodrigues 14/09/2008em21:06

    Pois é, Raul, barra pesada. Veja o post ali em cima.
    Abraço.

  • Saint-Clair Stockler 16/09/2008em10:47

    Tabucchi é um dos escritores que eu mais admiro – pela precisão da sua prosa, pela criatividade de suas histórias, pelo seu profundo conhecimento sobre a escrita.

    Acho que já li tudo dele que havia pra ler em português.

  • sonho bom 20/09/2008em21:17

    Lindo, lindo começo,Sérgio Rodrogues. De uma delicadeza sem par!
    Só tenho que agradecer, pela lembrança inefável…

  • Cezar Santos 20/09/2008em22:57

    Tabucchi é uma das jóias raras da literatura contemporânea. Faz uma literatura pós-moderna sem ser impenetrável, sensível, um autor que trata a palavra, a literatura, com enorme carinho. E, gozado, escreve livrinhos diminutos, ai pelas cento e poucas páginas ou nem isso.