Quando morre um poeta, todos choram. Post publicado em 12/11/2006.
*
Antes tenho de fazer a barba, disse ele, não quero ir ao hospital com uma barba de três dias, por favor, vá chamar o barbeiro, mora na esquina, é o senhor Manacés.
Mas não temos tempo, senhor Pessoa, replicou a zeladora, o táxi já está na porta, seus amigos já chegaram e estão à sua espera na entrada.
Não importa, respondeu ele, sempre há tempo.
Ajeitou-se na poltronazinha onde o senhor Manacés habitualmente lhe fazia a barba e pôs-se a ler as poesias de Sá-Carneiro.
O singelo início da novelinha “Os três últimos dias de Fernando Pessoa”, do italiano Antonio Tabucchi (Rocco, tradução de Roberta Barni, 1996), talvez não seja memorável para qualquer um. É para mim. E o que vem em seguida não é menos: no hospital, Pessoa é visitado por um séquito de heterônimos antes de morrer.
7 Comentários
Realmente. Fez mais sentido depois que você escreveu a rápida sinopse do livro. Acabei de ler “Giovani” de James Baldwin e estou chocado até agora com a força da história e a extrema precisão da narrativa. Um dos grandes gênios que vejo ser pouco mencionado por aqui. Gostaria de saber as impressões de quem mais leu, pois confesso e repito: estou em estado de choque até agora.
Foi minha primeira experiência com a sua prosa, mas quero mergulhar em outros dos seus livros. Alguém recomenda algum em especial?
André, do grande James Baldwin, além de “Giovanni’s room”, só li “Another country”, ambos há muitos anos. Os dois me pareceram livros extraordinários, com destaque para aquela prosa de fino estilista que o cara tinha. “Giovanni’s room” principalmente.
Sérgio, fugindo do assunto do post, ficou sabendo do suicídio do David Foster Wallace? Pô, nunca li nada do cara, mas tinha gente que jurava que era melhor que Pynchon.
Pois é, Raul, barra pesada. Veja o post ali em cima.
Abraço.
Tabucchi é um dos escritores que eu mais admiro – pela precisão da sua prosa, pela criatividade de suas histórias, pelo seu profundo conhecimento sobre a escrita.
Acho que já li tudo dele que havia pra ler em português.
Lindo, lindo começo,Sérgio Rodrogues. De uma delicadeza sem par!
Só tenho que agradecer, pela lembrança inefável…
Tabucchi é uma das jóias raras da literatura contemporânea. Faz uma literatura pós-moderna sem ser impenetrável, sensível, um autor que trata a palavra, a literatura, com enorme carinho. E, gozado, escreve livrinhos diminutos, ai pelas cento e poucas páginas ou nem isso.