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Começos (ainda) inesquecíveis: E.L. Doctorow

23/08/2009

Ninguém tomava ao pé da letra as coisas que Martin Pemberton dizia; ele era melodramático demais, ou atormentado demais, para falar sem floreios. Por isso as mulheres o achavam atraente – viam-no como uma espécie de poeta, embora ele fosse mais crítico do que poeta, um crítico de sua própria vida e época. Assim, quando Martin começou a dizer que seu pai ainda estava vivo, nós que o ouvíamos falar e nos lembrávamos de seu pai tínhamos a impressão de que ele estava se referindo à persistência do mal, em termos gerais.

Alguém, creio que Don DeLillo, já disse que o segredo da literatura está no modo como se enfileiram palavras, o resto é secundário. O que sugere um paradoxo: o que há de mais “profundo” na escrita estaria logo ali na superfície, numa combinação de sinais gráficos que leva o leitor a submergir naquilo – ou ir embora. O primeiro parágrafo de “A mecânica das águas”, do escritor americano E.L. Doctorow (Companhia das Letras, 1995, tradução de Paulo Henriques Britto), é um ótimo exemplo de como pode ser poderoso esse negócio de uma-palavra-depois-da-outra.

Publicado em 1/5/2007.

5 Comentários

  • ri ventura 23/08/2009em12:36

    vai como sugestão: que tal o começo de O Estrangeiro???

  • Sérgio Rodrigues 24/08/2009em12:35

    Ri: obrigado, mas o começo d’O Estrangeiro já passou por aqui. E já voltou:

    http://colunistas.ig.com.br/sergiorodrigues/2008/08/31/comecos-ainda-inesqueciveis-albert-camus/

  • josé rubens 24/08/2009em14:28

    Sérgio,

    Prefiro mil vezes este começo (ainda) inesquecível: “Quando Neumani entra na sala, a moça de cabelos longos está ajoelhada entre as pernas do coroa de terno branco sentado na grande poltrona marrom.”

    Ela tem a façanha de nos inquietar logo de cara, num apelo visual muito intenso e, por que não, erótico.

  • Sérgio Rodrigues 24/08/2009em16:38

    José Rubens: obrigado pela lembrança e um abraço.

  • Tom 24/08/2009em23:11

    Campanha: Sérgio Rodrigues no twitter.