Depois de um domingo flípico, esta retrospectiva volta ao lugar que é seu. O post abaixo foi publicado em 21/1/2007.
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Certo dia, já na minha velhice, um homem se aproximou de mim no saguão de um lugar público. Apresentou-se e disse: “Eu a conheço há muito, muito tempo. Todos dizem que era bela quando jovem, vim dizer-lhe que para mim é mais bela hoje do que em sua juventude, que eu gostava menos de seu rosto de moça do que desse de hoje, devastado.”
Penso freqüentemente nessa imagem que só eu ainda vejo e sobre a qual jamais falei a alguém. Está sempre lá no mesmo silêncio, maravilhosa. É entre todas a que me faz gostar de mim, na qual me reconheço, a que me encanta.
Muito cedo na minha vida ficou tarde demais. Quando eu tinha dezoito anos já era tarde demais.
Assim, de forma bela e estranha, começa o belo e estranho “O amante” (Nova Fronteira, 1985, tradução de Aulydes Soares Rodrigues), pequeno – na extensão – romance memorialístico com o qual Marguerite Duras (1914-1996) conquistou o prêmio Goncourt de 1984 e o sucesso comercial em escala planetária.
12 Comentários
Preciso ler este romance, obrigada pelo toque.
Caiu-me na hora certa a informação.
Sérgio, descobri o livro, tempos atrás, por causa do filme homônimo. Ambos são ótimos. Abraço.
Primeira vez que visito esse blog. Gostei muito, vou voltar outras vezes.
Abraço.
Gostei, esse eu não conhecia… Valeu a dica Sérgio.
Vou conferir.
Os textos de mademoiselle (é assim que se escreve?) Duras geralmente são meio chatinhos, mas esse começo aí realmente é muito bom… evocativo e meio poético… supimpa, eu diria.
Li esse livro ha uns 4 anos e ele ainda continua comigo (como poucos). Mademoiselle Duras é foda.
Foda tambem é seu blog, que conheci hoje. One of a kind.
Parabéns
Obrigado, Roberto e Lucas. Apareçam sempre.
Sérgio, quem escreve “muito cedo na minha ficou tarde demais” só pode ser extraordinária. Maravilha. Fiz também um comentário sobre a simplicidade com sofisticação no comentário daquele meu artigo no Rascunho. Vamos lá. Abs de Raimundo Carrero
momento…momento…”muito cedo na minha vida ficou tarde demais”…
Caro Carrero, obrigado por se juntar àquele debate, mesmo com atraso. Deixei uma resposta lá. Um abraço.
Quem quiser se deliciar mais com o trecho inicial completo de “O amante” pode ser lido
em LITOST: o espetáculo da miséria
http://ressentimento.wordpress.com/2008/04/29/157/
Poxa, esse é triste… a frase é linda mas é mentira, não era tarde demais e aquilo era só pra você escrever poesia…