Clique para visitar a página do escritor.

Começos inesquecíveis: Gabriel García Márquez (II)

23/04/2010

No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda, e por um instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado de cagada de pássaros. “Sempre sonhava com árvores”, disse-me sua mãe 27 anos depois, evocando os pormenores daquela segunda-feira ingrata.

A seção Começos inesquecíveis estava de férias desde outubro do ano passado, quando seu primeiro ciclo foi fechado com a eleição, pelos leitores do blog, da abertura de “Ana Karenina”, de Leon Tolstoi, como o mais memorável entre os começos memoráveis da literatura. Um dos concorrentes de Tolstoi na ocasião foi, é claro, Gabriel García Márquez com a primeira frase de “Cem anos de solidão”. Considerado por muitos vítima de uma injustiça, faz sentido que o colombiano ganhe agora mais uma chance de entrar no jogo, na segunda edição da enquete que o futuro nos reserva, e o privilégio de inaugurar a nova temporada de aberturas literárias brilhantes do Todoprosa.

O começo de “Crônica de uma morte anunciada” (Record, tradução de Remy Gorga, filho) pode não ser tão sensacional quanto o de “Cem anos…”, mas chega perto. O truque de embaralhar os tempos narrativos para abanar na frente do leitor uma cenoura que ele dificilmente deixará de perseguir é o mesmo. Para quem não leu, fica a recomendação: lançado em 1981, este “Crônica…”, com sua prosa sóbria, pode surpreender os fãs do estilo barroco empregado pelo autor ao narrar a história de Macondo, mas também é um livraço.

10 Comentários

  • Rosemeri Sirnes 23/04/2010em20:36

    Olá Sérgio, adorei o retorno da série “começos inesquecíveis”, saibas que li Lolita por causa da publicação daquele início espetacular, devorei cada palavrinha daquela obra inesquecível.

  • Ana Cristina Melo 23/04/2010em23:31

    Grande retorno!

  • Vinícius Antunes 24/04/2010em03:29

    Bom retorno! Mas, pra mim, começo de livro continua sendo o do Dom Quixote.

  • Rosângela 24/04/2010em08:21

    Vim anunciar que para mim é Fim esquecível. Os rafaéis & companhia tem razão. Cada um no seu cada um. Quero agradecer as oportunidades e desejar bons começos.
    A todos. Agora vou “dom quixotar ” até que perceba se é mais um fim ou mesmo novos começos.

    Um abraço e desculpa ter atrapalhado, pois não foi essa minha intenção. Tudo o que faço faço com intensidade, verdade e sem medo de ser infeliz.

    Rosângela

    • Daniel 26/04/2010em09:58

      É uma pena Rosângela se você não postar mais teus comentários!
      A diversidade de opiniões é sempre enriquecedora.
      Você fará falta, mesmo que, por vezes, não concorde com tuas opiniões eu defendo teu direito de tê-las.
      Um mundo feito somente de rafaéis & companhia pede pelo Armagedom ou é parte do próprio.
      Respeitemos as opiniões deles. Talvez seja o único modo como conseguem se espressar ainda.
      Não ligue ainda vão crescer e amadurecer e talvez um dia respeitem a opinião alheia.
      Abraços

  • Samuel 24/04/2010em10:01

    Interessante, muito. As primeiras palavras é a que prende o leitor. Há pouco tempo li um livro, (“O Rei de Girgentti”, de Andrea Camilleri, que me pescou pas palavras iniciais. Por causa delas li o livro quase de um só folego.
    É claro que cai de paraquedas neste blog, mas se ninguém se incomodar, de vez em quando apareço e vou dar minha colaboração. Um abraço.

  • YALI NUNES 25/04/2010em07:12

    Há também uma película muito boa baseada nesse livro.

  • luana 25/04/2010em13:26

    Um começo inesquecível e instigante é o do METAMORFOSE de Kafka!

  • Isabel Pinheiro 26/04/2010em08:53

    Hahahaha, eu com sono, achando que você estava fazendo uma paródia do começo de “Cem anos”… (o dia da morte, espera, lembrança) – e o pior é que EU LI “Crônica de uma morte anunciada”! Adorei a volta dos Começos inesquecíveis. Bjs

  • Francisco Fagundes 27/04/2010em12:51

    Não podemos nos esquecer dos inícios sempre magistrais do nosso Luís Ferrnando Veríssimo, como este, de “Os espiões”:
    “Formei-me em letras e na bebida eu tento esquecer…”