Estou em pé à janela de um casarão no sul da França enquanto a noite cai, a noite que me conduzirá à manhã mais terrível da minha vida.
A primeira frase de “O quarto de Giovanni” (Giovanni’s room, Penguin Books, 1990, tradução caseira), novela lançada em 1956 por James Baldwin, está entre os começos mais singelos e perfeitos – no sentido de conjurar de saída um clima, uma voz e uma expectativa na cabeça do leitor – que se pode encontrar na literatura em qualquer tempo. Há quem considere a trágica história de amor entre o americano David e o italiano Giovanni, ambientada na Paris dos anos 1950, um dos pontos mais altos de uma certa “literatura gay”. O rótulo é reducionista e desnecessário, mas o resto da frase continua valendo.
9 Comentários
Realmente bom esse começo. Simples e muito direto.
Por sinal, e o lançamento do seu livro lá, Sérgio, o que deu?
Olha aí o começo que te falei:
“Todos conheceis a profunda melancolia que nos acerca, ao recordarmos tempos felizes. Eles são irrevogáveis, e deles somos cruelmente separados por uma distância maior que todas as distâncias juntas. Quando tornam a brilhar, as imagens do passado revelam-se ainda mais atraentes: lembramo-nos delas como do corpo da amada que morreu, que descansa nas profundezas da terra e, à semelhança de uma miragem, nos faz estremecer num esplendor mais alto e mais puro. De novo e sempre, em nossos sonhos ardentes, tateamos à sua procura, em cada pormenor e em cada ruga. Tudo se passa como se não tivéssemos enchido até a borda a medida da vida e do amor. E, no entanto, nenhum arrependimento traz de volta o que se perdeu. Ah, que este sentimento se torne uma lição a cada momento de felicidade!”
De “Nos penhascos de mármore” (1939), do escritor alemão Ernest Jünger (CosacNaify).
sérgio, fiquei interressado no seu livro novo. não tem como colocar um trecho aqui?
abraço.
Obrigado, Valéria.
Felipe e Isaac, dou notícias sobre “Elza” no post que acabo de publicar.
Abraços.
Sérgio, imagino que você tenha o livro em edição no original (por isso da tradução ‘caseira’). Mas, talvez para complementar a informação do post, o livro foi lançado (pela Rocco antes, agora pela novo século) apenas como Giovanni.
E é mesmo um brilhante começo. Pena que no decorrer do livro tenha umas escorregadas aqui e acolá.
Sergio,
Estou sem o livro à mão (e nem sei se você o tem), mas esta frase me parece com a que inicia um capítulo do livro O Filho Eterno, o segundo capítulo quando o filho nasce e o médico vem dar a notícia da síndrome de down.
Talvez uma citação?
Abraços,
Rodrigo
Rodrigo, a frase do Tezza é: “A manhã mais brutal da vida dele começou com o sono que se interrompe – chegavam os parentes”. Não acredito em citação, parece só uma coincidência mesmo: manhãs terríveis e brutais são menos raras do que deveriam, afinal.
Abraço.
Esse livro ganhou nova edição no ano passado pela Novo Século, mas com o título de Giovanni, tão somente. Não estou com a obra aqui em mãos para ver que forma o novo tradutor, Affonso Blacheyre, deu à primeira frase.
Rapaz: não conhecia este site e fiquei encantado com ele. Parabéns!