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Começos inesquecíveis: James Baldwin

15/03/2009

Estou em pé à janela de um casarão no sul da França enquanto a noite cai, a noite que me conduzirá à manhã mais terrível da minha vida.

A primeira frase de “O quarto de Giovanni” (Giovanni’s room, Penguin Books, 1990, tradução caseira), novela lançada em 1956 por James Baldwin, está entre os começos mais singelos e perfeitos – no sentido de conjurar de saída um clima, uma voz e uma expectativa na cabeça do leitor – que se pode encontrar na literatura em qualquer tempo. Há quem considere a trágica história de amor entre o americano David e o italiano Giovanni, ambientada na Paris dos anos 1950, um dos pontos mais altos de uma certa “literatura gay”. O rótulo é reducionista e desnecessário, mas o resto da frase continua valendo.

9 Comentários

  • Felipe 15/03/2009em16:14

    Realmente bom esse começo. Simples e muito direto.

    Por sinal, e o lançamento do seu livro lá, Sérgio, o que deu?

  • Valéria Martins 15/03/2009em20:01

    Olha aí o começo que te falei:

    “Todos conheceis a profunda melancolia que nos acerca, ao recordarmos tempos felizes. Eles são irrevogáveis, e deles somos cruelmente separados por uma distância maior que todas as distâncias juntas. Quando tornam a brilhar, as imagens do passado revelam-se ainda mais atraentes: lembramo-nos delas como do corpo da amada que morreu, que descansa nas profundezas da terra e, à semelhança de uma miragem, nos faz estremecer num esplendor mais alto e mais puro. De novo e sempre, em nossos sonhos ardentes, tateamos à sua procura, em cada pormenor e em cada ruga. Tudo se passa como se não tivéssemos enchido até a borda a medida da vida e do amor. E, no entanto, nenhum arrependimento traz de volta o que se perdeu. Ah, que este sentimento se torne uma lição a cada momento de felicidade!”

    De “Nos penhascos de mármore” (1939), do escritor alemão Ernest Jünger (CosacNaify).

  • isaac 15/03/2009em21:55

    sérgio, fiquei interressado no seu livro novo. não tem como colocar um trecho aqui?
    abraço.

  • Sérgio Rodrigues 16/03/2009em12:19

    Obrigado, Valéria.

    Felipe e Isaac, dou notícias sobre “Elza” no post que acabo de publicar.

    Abraços.

  • Thiago Candido 16/03/2009em21:26

    Sérgio, imagino que você tenha o livro em edição no original (por isso da tradução ‘caseira’). Mas, talvez para complementar a informação do post, o livro foi lançado (pela Rocco antes, agora pela novo século) apenas como Giovanni.

    E é mesmo um brilhante começo. Pena que no decorrer do livro tenha umas escorregadas aqui e acolá.

  • Rodrigo Coelho 18/03/2009em09:47

    Sergio,

    Estou sem o livro à mão (e nem sei se você o tem), mas esta frase me parece com a que inicia um capítulo do livro O Filho Eterno, o segundo capítulo quando o filho nasce e o médico vem dar a notícia da síndrome de down.

    Talvez uma citação?

    Abraços,
    Rodrigo

  • Sérgio Rodrigues 18/03/2009em12:45

    Rodrigo, a frase do Tezza é: “A manhã mais brutal da vida dele começou com o sono que se interrompe – chegavam os parentes”. Não acredito em citação, parece só uma coincidência mesmo: manhãs terríveis e brutais são menos raras do que deveriam, afinal.
    Abraço.

  • Carlos André Moreira 22/03/2009em20:17

    Esse livro ganhou nova edição no ano passado pela Novo Século, mas com o título de Giovanni, tão somente. Não estou com a obra aqui em mãos para ver que forma o novo tradutor, Affonso Blacheyre, deu à primeira frase.

  • Jorge de Lima 17/12/2009em08:08

    Rapaz: não conhecia este site e fiquei encantado com ele. Parabéns!