Jamais a conheci em vida. Ela existe para mim através dos outros, como prova dos caminhos em que a sua morte os lançou. Voltando ao passado, buscando apenas fatos, eu a reconstruí como uma menina triste e uma prostituta, quando muito alguém-que-poderia-ter-sido, rótulo que também poderia se aplicar a mim. Gostaria de lhe ter concedido um final anônimo, de tê-la relegado a breves palavras de detetive, num relatório sumário de homicídio, com cópia carbono para o legista, e mais papelada para enterrá-la em vala comum. O único erro em relação a esse desejo é que ela não teria gostado que fosse assim. Por mais brutais que sejam os fatos, ela gostaria que fossem todos revelados. E como lhe devo muito e sou o único que sabe a história inteira, incumbi-me de escrever essas memórias.
Dois começos em um: o de “Dália negra” (Record, 2006, tradução de Cláudia Sant’Ana Martins), romance lançado em 1987, e o da carreira brilhante de James Ellroy, um escritor que, embora a tentação seja grande, não dá para enfiar no escaninho “policial” – pelo menos não sem esquartejá-lo antes.
2 Comentários
Cara, eu ia comprar esse livro ano passado, mas esqueci!!! Como pude? Deu pane… Mas vindo aqui voce me lembrou, ha ha ha, que coisa! Sempre quis ler esse autor, será esse mesmo O Livro de boas-vindas dele?
Meu queixo caiu! Que texto maravilhoso!