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Começos inesquecíveis: John Cheever

26/04/2009

Esta é uma história para ser lida na cama de uma casa velha em noite chuvosa. Os cachorros dormem e os cavalos de montaria – Dombey e Trey – podem ser ouvidos em suas baias do outro lado da estrada de terra, para lá do pomar. A chuva é suave e necessária, mas não desesperadamente necessária. O nível dos lençóis freáticos se mantém equilibrado, o rio próximo é abundante, os jardins e pomares – é uma virada de estação – estão irrigados no ponto ideal. Quase todas as luzes estão apagadas na pequena vila junto à queda d’água onde o moinho, tantos anos atrás, movia um tear de algodão.

Assim, em clima idílico, começa a novela Oh what a paradise it seems, do grande estilista americano John Cheever, lançada às vésperas de sua morte, em 1982 (Vintage International, 1991, tradução caseira – mas o livro tem uma edição recente no Brasil pela Arx, com o título “Ah, até parece o paraíso”). A história do velho executivo Lemuel Sears, apresentado como um sujeito do tempo em que as banheiras tinham pés em forma de garras de leão, merece como poucas o clichê “pequeno grande livro”. Com sua mistura quase porra-louca de ingredientes – descobertas sexuais na velhice, ecologia, gangsterismo –, teria tudo para desandar se não viesse embalada na prosa exata e encantatória de Cheever, sempre equilibrada em algum lugar improvável entre secura e musicalidade, comédia e drama, ternura e cinismo. Impossível negar que o cara é antes de tudo um contista, mas essa novela intrigante não fica muito atrás de seus clássicos curtos como “O nadador”.

16 Comentários

  • Valéria Martins 26/04/2009em11:52

    Oi, eu vou te ver na FLIP!
    Bjs

  • Rafael Rodrigues 26/04/2009em14:28

    Era o que faltava pra eu colocar esse livro na minha lista.

  • corinthiano do Programa Pânico 26/04/2009em17:47

    ………Ronaldo!

  • david leinad 27/04/2009em09:43

    Ei Sérgio!… Me ajude?! Que livro devo ler de Cheever? Por onde começar?…
    Abraço.

  • Sérgio Rodrigues 27/04/2009em16:08

    David, melhor começar pelos contos, sem dúvida. Se não gostar muito de contos, por esta novela mesmo.

    Valéria: que bom, nos vemos lá.

    Abraços a todos.

  • Paulo 27/04/2009em22:43

    Sérgio, eu tinha começado a ler essa novela de Cheever. Interrompi e agora vou voltar a ela graças a esse início. Em tempo: sua tradução está praticamente igual à da Arx. Abs.

  • Sérgio Rodrigues 27/04/2009em23:10

    Tem certeza, Paulo? Isso é bem curioso. Se puder reproduzir aqui o trechinho da Arx, ficarei agradecido.

  • Rodrigo de Oliveira 27/04/2009em23:48

    Uma entrevista excelente com o Cheever no Paris Review: http://www.theparisreview.com/media/3667_CHEEVER.pdf

    Aliás, o The Swimmer está largamente disponível na web. Um google search rápido e pronto (mas sugiro imprimir: é o tipo de coisa que não dá pra ler assim, sentado na telinha no computador).

  • Paulo 28/04/2009em07:16

    Sérgio, lá vai:

    “Esta é uma história para ser lida na cama, em uma casa velha, numa noite de chuva. Os cachorros estão dormindo e os cavalos selados – Dombey e Trey – podem ser ouvidos no estábulo, do outro lado da estrada de terra, além do pomar. A chuva é suave e necessária, mas não necessária com desespero. Os lençóis d´água estão na altura certa, o rio próximo esta cheio, os jardins e os pomares – estamos na época da mudança da estação – estão sendo irrigados à perfeição. Quase todas as luzes estão apagadas no vilarejo junto à cachoeira, onde a tecelagem, há tantos anos, costumava produzir fazendinha xadrex.”

  • Sérgio Rodrigues 28/04/2009em08:09

    Paulo, discordamos bastante. Fora a intenção evidente de acompanhar o original de perto, as duas traduções me parecem diferentes na maioria das soluções escolhidas. Mas obrigado por esse pequeno exercício matinal. Um abraço.

  • Lya Tapajós 28/04/2009em08:37

    Concordo, Sérgio. Sobretudo pela economia (sua) do verbo estar, cuja repetição na tradução da ARX emboprece demais o texto. Além disso, “necessária com desespero” é artificial, ruinzinho. A gente bota o olho e vê logo que é tradução do inglês. Você não vai dizer, é claro, mas eu posso: o resultado da sua é infinitamente melhor.

  • david leinad 28/04/2009em10:18

    comprei seu novo livro hoje. depois do almoço começarei a leitura. do cheever encomendei um de contos. vamos que vamos. abraço e obrigado pela dica.

  • Mariana 28/04/2009em12:14

    sérgio, o Elza é 2008 ou 2009? O copyright dá 2008, mas a informação sobre a impressão diz 2009.
    Abraço, Mariana

  • Sérgio Rodrigues 28/04/2009em12:38

    Mariana, oficialmente Elza é de 2008, ano do registro e de uma edição especial de dois mil exemplares para bibliotecas, que não chegou às livrarias. Comercialmente, o livro passou a existir em março deste ano.

  • Te 28/04/2009em12:41

    Conhecia o John Cheever do episódio de Seinfeld em que é revelado que o pai de uma namorada do George foi seu amante (The Cheever letters). Outro pra minha lista de leituras.

  • Leoncio Kamminsky 28/04/2009em13:31

    Bela abertura de novela. Alias, também sou fissurado em livros que começam em alto estilo. No meu blog (http://versoetudomais.blogspot.com) dou umas pinceladas em alguns dos que mais gosto, como Ana Kanina, Lolita e Retrato do artista quando jovem

    Grande abs e parabéns pelo conteúdo.

    LK