Foi num sábado. Quero dizer que se não fosse num sábado talvez não tivesse acontecido. Porque sábado é um dia violento. Um dia em que as pessoas se sentem muito alegres ou muito tristes. Ele se sentiu muito triste.
Se minha memória ainda merece confiança, é a primeira vez que uma abertura de conto vem parar nesta seção, normalmente dedicada a romances. Essas são as linhas iniciais de Num sábado, um dos 25 contos do livro “Tarde da noite” (Vertente Editora, 1970), do mineiro Luiz Vilela. Se vamos fugir à regra ou, quem sabe, inaugurar uma nova tradição, que seja com um dos maiores contistas brasileiros da história.
27 Comentários
PARA CEZAR SANTOS:
Escreva uma boa linha, quem sabe a partir daí poderá fazer afirmações.
E tem mais:
errare humanum est, perseverare autem diabolicum!
Lembrei-me do começo inesquecível de Borges, o primeiro conto de Ficciones, sobre o planeta inventado.
Abraço.
Cadê o Bemveja, hein? Tô com saudades… (é sério).
Luiz Vilela: contista esplêndido!
Outro contista mineiro deslumbrante é Duílio Gomes. Seu livro de contos Verde suicida tem contos magníficos. Pena que não é reeditado há anos.
Me desculpem a imodéstia, mas nós contistas mineiros somos FODA
S
Saint-Clair: obrigado pela lembrança. Li ‘Verde suicida’ na Ficção (você leu Ficção?) e nunca me esqueci. Belíssimo conto, achei na época. Não me lembrava do nome do autor. Abraços.
S O C O R R O !!!!
Por birra e vontade, assumi a Secretaria de Cultura da cidadezinha aqui ( 6.000 habs, o mais baixo IDH do Paraná).
Preciso e urgente de um texto de teatro muito, mas muito engraçado e de fácil compreenção. Nada trágico, nada complexo. A vida já é muito trágica e complexa para que a ficção a imite.
Aceito humildemente ajuda. Sugiram algo.
Que seja simples, para amadares dedicados mais de pouco ou nenhum talento – inclusive do “diretor” aqui…
O melhor copmeço de con to que conheço é
“Gostaria de ser factual e cronologicamente exato” (Rubem Fonseca, “Relatório de Carlos”). Pelo ritmo.
Sérgio, descobri um exemplar do livro do Duílio pegando poeira nas prateleiras da biblioteca do Instituto de Letras lá da Uerj. Claro que fiz uma cópia rapidinho! O livro tem contos belíssimos. É uma aula de como escrever bem um conto.
Mas sou, também, o feliz proprietário de diversos números da Ficção, que comprava num sebo ali perto da Praça Mauá, nos idos da década de 90 do – ai! estou ficando velho – século passado. Devo ter uns 30 números, mais ou menos. Minha mãe já quis jogar no lixo, mas ameacei estrangulá-la. Rsrsrs.
Aliás…
… Não está na hora da Cosac & Naify republicar os livros do Duílio Gomes, não, hein? Eu às vezes fico de queixo caído com a falta de memória literária (e não só literária) do brasileiro. Em qualquer outro lugar do mundo, os livros do Duílio Gomes já estariam em dezenas de reedições, só aqui é que um cara como ele ou alguém como Júlio César Monteiro Martins (que – veja só! – descobriu que a melhor saída para o Brasil é mesmo o aeroporto e foi virar Diretor de escola na Itália! Estranhos e misteriosos são os caminhos do Senhor…), outro maravilhoso contista da década de 70, autor de livros interessantíssimos como Torpalium, Muamba e Bárbara, são completamente ignorados pelo “público leitor”.
Às vezes dá uma tristeza… 🙁
Fiz uma homenagem ao Duílio Gomes no meu livro de contos Dias estranhos, dando o título de “Pequena história com maçãs” a um conto meu e dedicando-o ao Duílio. No livro Verde suicida o Duílio tem um conto chamado “Pequena tragédia com maçãs”. Não sei como – coisas do Deus Google, suponho – ele leu meu conto e me escreveu um e-mail pra lá de simpático, dizendo que tinha gostado bastante do meu conto, e que eu era um bom contista, que devia continuar escrevendo, pois o Brasil estava precisando de contistas assim como eu (tá, gente, desculpem esse momento absolutamente vaidoso, mas conto isso na boa, sem nenhuma arrogância ou pretensão). Claro que um elogio desses vindo de quem veio vale mais do que todos os jardins da Bibilônia juntos. Fiquei tremendamente emocionado.
Infelizmente, acabei por perder o e-mail do Duílio. Queria muito contactá-lo novamente, pois faço questão de mandar um exemplar do livro pra ele – se e quando o meu livro for publicado. O que, suponho, só vai acontecer o dia em que eu criar vergonha na cara e mandar ele pras editoras. Sim, sou tremendamente lento: só pra escrevê-lo levei 13 anos. Ando desconfiado de que vou levar mais 13 pra mandá-lo pras editoras… Rsrsrs.
Jardins da Babilônia, digo.
Aqui, no Todo prosa, ate hoje a maioria acachapante dos posts trataram de romances ou romancistas. Saúdo a mudança dos ventos…
Saint-Clair,
primeiramente, obrigado pelos contos de FC que me enviaste. Assim que tiver tempo vou lê-los. Valeu!
E realmente, o Vilela é um senhor contista. De uma geração de mineiros que dava gosto. Também fui leitor da Ficções, Saint-Clair.
Boa lembrança sobre o Julio Cesar Monteiro. Li dele alguns dos contos mais legais naqueles 70’s idos.
Outro “monstro” dessa turma é o Wander Pirolli, que morreu no ano passado, puxa vida…
Um livrinho dele, chamado “A mãe e o filho da mãe”, devo ter lido umas 20 vezes… ficava fascinado com aquilo, aquele mestria em diálogos. Até hoje, de vez em quando, retomo o livrinho, feio, tamanho meio de bolso, em papel jornal, já muito sujo, e releio com o mesmo prazer, uma aula de como escrever contos.
PS. lá em cima, a tal de uma, deixa um recado endereçado a mim? …o que é aquilo? confesso que não entendi, uma…qual é a sua?
Uma, que tal procurar sua Turma?
Sérgio Rodrigues: passando o meu e-mail para o Saint-Clair, remeto-lhe o end. do meu amigo Duílio Gomes, aqui em BH.
Fico feliz com os elogios aos contos de Duílio Gomes, pois, realmente, ele é um dos principais de Minas, da geração 60/70.
Cezar,
Estou aqui torcendo pra você curtir os contos de FC!
Pois é, o Wander Piroli. Outro contista fabuloso! Sempre admirei esses escritores que conseguem escrever textos que fluem sem nenhum obstáculo quando os lemos. O leitor incauto diz “Nossa, como é fácil escrever”, quando, de fato, chegar a esse nível dá um trabalho tremendo! (Veja os contos do Murilo Rubião, outro exemplo de alguém que “escreve fácil”, rsrs). Li o Wander Piroli adolescente, 15, 16 anos, naqueles livros da série “Para gostar de ler”, da Ática. Nunca mais me esqueci. Nem dele, nem do João Antônio. Este é muito citado, mas pouquíssimo lido.
Tanta gente boa esquecida: Wander Piroli, Renard Perez, João Antônio… No afã das “novidades”, os leitores (e, principalmente, os editores) esquecem dessas nossas riquezas literárias. Se bem que no caso do João Antônio a Cosac & Naify relançou a obra dele, se não me engano. Se não foi a C&F foi alguma outra grande editora. Custava fazer o mesmo pelo Wander Piroli e pelo Duílio Gomes?
Oi Jeferson!
Se você desejar, pode mandar o e-mail do Duílio Gomes direto pro meu e-mail: saintclairstockler@gmail.com
Abração e muito obrigado. E mande o meu abraço pro Duílio!
Excesso de explicações. Get to the action! Get to the point! Deixe que o leitor tire suas conclusões sobre o ânimo dos personagens por meio das ações narradas.
O início me lembra diferentes citações e aspectos da vida cultural (desde o “bloody sunday” até “Saturday Night (is the Loneliest Night of the Week)”, uma das canções interpretadas por Frank Sinatra), mas não me parece memorável em si mesmo. No máximo, remete a uma daquelas narrações em off de filmes noir.
Brancaleone, Molière, de preferência o “Doente Imaginário”, que é engraçado, crítico e requer poucos recursos cenográficos.
O Vilela é o pior “dialoguista” da literatura brasileira.
CEZAR SANTOS:
Vc chega lá…mas com trocadilho não se faz uma boa oração. Améns.
Uma,
É caso de fixação sexual?…
Não conheço os contos deste escritor, e pelo que falam aqui, fiquei super curiosa a respeito de sua obra. Agora, sinceramente, esse início não tem nada de inesquecível, é absolutamente corriqueiro. Mas vou botar fé nos elogios e correr atrás.
Sem desqualificar nenhum dos citados, muito pelo contrário, indico aquele que é um dez melhores livros de contos publicados no Brasil na segunda metade do século XX, “As Peles Frias”, de Haroldo Maranhão.
Elias,
Me parece que o Maranhão é o tipo de autor que agrada imensamente a quem consegue lê-lo.
Confesso que já tentei duas ou três vezes e não consegui, inclusive esse “As peles frias”, do qual tenho um exemplar que me olha im´´avido do alto de minha minúscula estante. Há ainda aquele paródico sobre Machado, o “Memorial do fim”, que também tentei e não consegui avançar… pela sua dica, vou tentar mais uma vez neste feriado.
Cezar:
Acho Haroldo (1927-2004) um escritor que, como poucos, recentes, soube fazer da língua portuguesa uma arte de finíssimo trato. Aqui em casa estou cercado de mais de 8 mil livros que gravitam em rotação cabalística. Quando menos dou, me aparecem do nada. Por isso, vejo vários Haroldo em torno, mas não enxergo o Peles Frias, mas, acho, a coletânea traz o excelente conto A Morte de Haroldo Maranhão, que tenho em outro livro. Comece por ele, se estiver no Peles. Desde Avalovara, de Osman Lins, considero Cabelos no Coração, romance de Haroldo, o grande romance inventivo da língua. Também recomendo Rio de Raivas e Os Anões (relendo este livro, há pouco, dobrava-me de rir, há cenas impagáveis, assim como no Rio de Raivas, que vale a pena conhecer para penetrar na história da fantástica Folha do Norte, jornal de Belém onde o avô de Haroldo, retratado no livro, ficou recluso por anos e anos, por conta de uma rixa política local). Aliás, Haroldo fez parte de um trio que se formou intelectualmente em Belém: ele, Benedito Nunes e Mário Faustino (nascido em Teresina), notável, singularíssimo poeta, que criou a quase inacreditável Poesia-Experiência, página do lendário Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Nunca mais houve alguém como Mário Faustino nos suplementos literários.
Sobre Memorial do Fim, quando lançado, em 1991, José Paulo Paes escreveu, na Veja, uma excelente crítica. Se você quiser, tenho uma entrevista que fiz com o Haroldo no momento em que os exemplares do Memorial chegavam da editora para o autor, em seu apartamento no Rio. Fiz a entrevista de bate-pronto, antes, claro, de ler o livro, que me foi me passado naquele exato momento. E aquele abraço.