Da porta do La Crónica Santiago olha a avenida Tacna, sem amor: automóveis, edifícios desiguais e desbotados, esqueletos de anúncios luminosos flutuando na neblina, o meio-dia cinzento. Em que momento o Peru se fodera?
Boa pergunta: em que momento? Antes ou depois do Brasil? Em busca de uma resposta, o leitor é convidado a atravessar as 790 páginas de “Conversa na Catedral” (Arx, 2004, tradução de Wladir Dupont), o terceiro romance de Mario Vargas Llosa, lançado em 1969.
6 Comentários
Magistral.
Achei o último livro de Vargas Llosa, Travessuras da Menina Má, muito bem escrito mas sem o ímpeto das obras maiúsculas que o peruano escreveu nessa sua primeira fase. Conversa na Catedral, A Cidade e os Cachorros, Tia Júlia e o Escrevinhador, todos livros relevantes e escritos com uma habilidade que faz qualquer aspirante querer jogar o livro longe de inveja.
PIor que tem gente que menospreza Vargas Llosa por sua conhecida filiação política à direita, provando que aquele papo anterior de priorizar detalhes da vida pessoal na apreciação de uma obra é a mais rematada estultice.
Vargas Llosa é, a meu ver, o maior prosador latino-americano vivo.
Conversa na Catedral é um livro “difícil” (o número de páginas intimida), mas extraordinário, e nunca chato. A habilidade que o autor tem de desenvolver vários enredos e personagens alterando o estilo a cada investida é espantosa, não raro genial.
Tia Júlia e o Escrevinhador, por exemplo, além de ser um romance delicioso, no que tange à “arte da escrita literária” é mais instrutivo que qualquer bem intencionado manual para iniciantes, desses que romancistas veteranos (ou críticos literários) costumam publicar de vez em quando – incluindo o próprio Vargas Llosa.
Tia Júlia e o Escrevinhador, por exemplo, além de ser um romance delicioso, no que tange à “arte da escrita literária” é mais instrutivo que qualquer bem intencionado manual assinado desses
Conversa na Catedral realmente é denso, mas está longe de ser uma leitura cansativa, pois Vargas Llosa consegue prender a atenção do início ao fim. O livro é pura literatura.
Escritorzaço, livraço e começaço…putz…
Valeu Sérgio,
estava esperando o dia que conversa na catedral entraria finalmesnte como um começo inesquecível.
A cidade e os cahorros também é fantástico, assim como A casa Verde.
Parabéns pelo Sucesso de Elza… Juro que vou ler, é só uma questão de por prioridades na lista…
Eu tinha uma tia que adova o livro Poderoso Chefão. Mas descobriu um jeito de fazê-lo melhor ainda, segundo ela: pregou com durex todas páginas que descreviam cenas de sexo. Não era puritanismo; entendia que a densidade da narrativa prescindia de tais detalhes. Assim me passou o livro e assim o lí, adolescente. Achei ótimo mas depois, claro, fui ler em outro exemplar as partes censuradas. Lembro disso a propósito de Travessuras….. É muito bom mas acho que seria bem melhor se não tivesse toda a parte referente à temporada japonesa da personagem.