O caderno de anotações estava aberto no meio da mesa. Tinha só uma frase escrita nessas duas páginas que ficavam à vista. Dizia: “A partir de que idade se pode comesar a torturar uma criança?”
O fortíssimo começo de “Duas vezes junho” (Amauta Editorial, 2005, tradução de Marcelo Barbão), do argentino Martín Kohan, que comprei ontem na tenda montada pela Livraria da Vila em Parati, fez crescer meu interesse pela mesa que começa daqui a pouco (e que terá ainda Nathan Englander e Vítor Ramil). A novela de Kohan aborda a violência da ditadura argentina de forma original já a partir de seu começo estarrecedor: o erro de ortografia representado por “comesar”, uma bobagem, será prontamente corrigido; a barbaridade demencial, mas ao mesmo tempo burocrática, de torturar um recém-nascido para obrigar sua mãe a falar, não.
9 Comentários
Muito bom.
Assustador.
curiosíssimo!
Fibrilei!
Eu quero ler…
Me deram o Ciências Morais, que saiu agora. Eu folheei e não tive vontade de ler. Vou espiar de novo.
instigante, eu diria.
O começo é tão bom, mas tão bom, que o livro, infelizmente, não vai muito além dele. Não chega a ser ruim, mas não é nada que empolgue.
Comprei o Ciëncias Morais, dele.