Ontem, encontrei as cartas que Violet escreveu para Bill. Estavam escondidas entre as páginas de um dos livros dele, de onde escorregaram e caíram no chão. Embora eu já soubesse da existência dessas cartas fazia anos, Bill e Violet nunca me contaram o que havia nelas. Contaram, no entanto, que minutos depois de ter lido a quinta e última carta, Bill mudou de idéia sobre seu casamento com Lucille, saiu pela porta do prédio da Greene Street e foi direto para o apartamento de Violet, no East Village. Quando segurei aquelas cartas com minhas mãos, senti que tinham o peso misterioso das coisas encantadas por histórias que já foram contadas e recontadas uma infinidade de vezes. Enxergo muito mal atualmente e levei um tempo enorme para conseguir lê-las, mas acabei conseguindo distinguir cada palavra. Quando guardei de novo as cartas, sabia que começaria a escrever este livro hoje.
Mais conhecida por aqui como “a mulher do Paul Auster”, a americana de ascendência norueguesa Siri Hustvedt mostrou em “O que eu amava” (Companhia das Letras, 2004, tradução de Sonia Moreira), seu terceiro romance e o primeiro lançado no Brasil, que tem voz própria e madura. O tijolo de 500 páginas sobre a amizade de um quarto de século entre um pintor e um historiador da arte – o próprio narrador, com quem Hustvedt compartilha a formação – demora um pouco a passar do claro, com seu tom de crônica sensível de duas famílias de uma Nova York artística, para o escuro perturbador e marcante da segunda parte. Mas, pensando bem, luz e sombra já estavam lá, pinceladas com leveza, naquele elegante começo.
Um comentário
Minha mãe leu O que eu amava e gostou. Eu infelizmente não li, ainda.