O maxilar de Spade era largo e ossudo, seu queixo era um V muito pronunciado, abaixo do V mais suave formado pela boca. As narinas se arqueavam para trás para formar um outro V, menor. Os olhos amarelo-cinzentos eram horizontais. O tema do V era retomado pelas sobrancelhas um tanto peludas que se erguiam a partir de duas rugas gêmeas acima do nariz adunco, e o cabelo castanho-claro tombava – de suas têmporas altas e retas – em uma ponta, por cima da testa. De modo bem ameno, ele parecia um satã louro.
Disse para Effie Perine:
– O que é, meu bem?
O início de “O falcão maltês” (Companhia das Letras, tradução de Rubens Figueiredo, 2001), obra-prima lançada em 1930 por Dashiell Hammett (1894-1961) e fortíssimo concorrente ao título de maior romance policial da história, marca o momento – não desprovido de choque – em que a descrição da literatura realista encontra o grafismo econômico dos gibis.
7 Comentários
Ai, que delícia Sérgio, um verdadeiro choque.
Dashiell Hammett era espetacular. Como era mesmo o nome da mulher dele? òtima tb.
Lillian Hellman, Osrevni.
Gol de placa, Sérgio! O velho Dash era bom demais. Na edição que tenho, há uma primorosa apresentação de Ruy Castro, que notou: “Dashiell Hammett é seco como um Martini”. Perfeito.
Nunca fui fanático, mas sou entendido e já fui “metido a entendido” em gibi.
Interessante que essa seja a onda do momento, ser “entendido em gibi”.
É chique messs esse negócio?
O Fábio tá certo. O velho Dash era craque em gibi. Fez maravilhosos roteiros para Alex Raymond e seu personagem Phil Corrigan, mais conhecido como o “Agente Secreto X9”.
Agora, Fábio, quanto a essa história de “entendido” e “metido a entendido”, que fique bem entendido que como Sam, eu sou espada.