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Começos inesquecíveis: Graciliano Ramos

20/06/2006

Antes de iniciar este livro, imaginei construí-lo pela divisão do trabalho.

Dirigi-me a alguns amigos, e quase todos consentiram de boa vontade em contribuir para o desenvolvimento das letras nacionais. Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas; João Nogueira aceitou a pontuação, a ortografia e a sintaxe; prometi ao Arquimedes a composição tipográfica; para a composição literária convidei Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, redator e diretor do Cruzeiro. Eu traçaria o plano, introduziria na história rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o meu nome na capa.

“São Bernardo” (1934), de Graciliano Ramos (39a edição, Record, 1983).

5 Comentários

  • Luiz André 21/06/2006em10:50

    Graciliano é dos nossos grandes. Enxuto e preciso.

  • Antônio Augusto 21/06/2006em20:48

    Graciliano seguia o método das lavadeiras de Alagoas.

  • Antônio Augusto 21/06/2006em22:11

    “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.
    Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.”
    Graciliano Ramos

  • Stella 21/06/2006em23:28

    Li este livro há uns quarenta anos. Foi justamente o início o que mais me impressionou. Comecei um pouco confusa, pensando tratar-se de mero prefácio e de súbito percebi que já estava na trama do romance. Voltei e reli. Inesquecível

  • sonho bom 22/06/2006em08:02

    “Graciliano Ramos achieves his effects, making his novels into the works of art they are, by combining a deep psychological insight with a terse, taut, almost bare prose style that is unique in Brazilian Portuguese.”
    (An Anthology of Brazilian Prose- R. L. Scott-Buccleuch and Mário Teles de Oliveira)