Ninguém teria acreditado, nos últimos anos do século XIX, que este mundo era atenta e minuciosamente observado por inteligências superiores à do homem e, no entanto, igualmente mortais; que, enquanto os homens se ocupavam de seus vários interesses, eram examinados e estudados, talvez com o mesmo zelo com que alguém munido de um microscópio examina as efêmeras criaturas que fervilham e se multiplicam numa gota d’água.
O começo do clássico de ficção científica “A guerra dos mundos” (Alfaguara, tradução de Thelma Médici Nóbrega, 2007), romance lançado em 1898 pelo escritor inglês H.G. Wells (1866-1946), impressiona pela precisão “científica” da prosa. A frieza do tom torna ainda mais sinistra a ameaça de invasão marciana que prenuncia.
12 Comentários
Só a ficção científica para criticar a suposta perfeição e empáfia da sociedade (nesse caso, a vitoriana). Excelente escolha.
òtima pedida para um começo inesquecível Sérgio…
Nunca esqueço do reboliço que a narração do livro cusou um alvoroço nos EUA… o narrador foi Orson Wells… só não lembro a data, mas dou uma pesquisada despois…
Abraços.
O mais interessante é que a adaptação desse começo inesquecível está lá na recente investida oliudi/cruisiana ao tema e provoca o mesmo efeito. Esse começo inesquecível é um bom exemplo da situação sempre presente.
É realmente um paradoxo essa impressão de rigor científico que a narrativa de Wells transmite, principalmente porque esta não era sua preocupação central, ao contrário do seu contemporâneo Jules, que embasa suas obras em extensas descrições e termos científicos. Talvez isto se explique pela sua formação em biologia, que nesta época contemplava um pouco de todas as ciências naturais e humanas, permadas por uma crença geral no rigor científico como solução para os males humanos.
“permeadas”
Sugestão para sua série de começos inesquecíveis: o de O coronel e o lobisomem de José Cândido de Carvalho.
Esse começo inesquecível me fez lembrar um outro autor muito bom de ficção, Stanislaw Lem… Solaris é ótimo e me lembra muito o trabalho de H.G Welles…
Para contrapor (ou corroborar – dependerá do seu ponto de vista) “Penguim Island” (1908) de Anatole France: “In the mean time Penguinia gloried in its wealth. Those who produced the things necessary for life, wanted them; those who did not produce them had more than enough. “But these,” as a member of the Institute said, “are necessary economic fatalities.” The great Penguin people had no longer either traditions, intellectual culture, or arts. The progress of civilisation manifested itself among them by murderous industry, infamous speculation, and hideous luxury. Its capital assumed, as did all the great cities of the time, a cosmopolitan and financial character. An immense and regular ugliness reigned within it. The country enjoyed perfect tranquillity. It had reached its zenith.”
Otimo começo..uma das poucas coisas boas do filme com mesmo nome, o “tomcruiz” é uma bosta de ator….desperdiçou a chance de fazer um belo filme..
Me parece que o livro deve ser bem melhor do que o filme. O que você acha, Sérgio?
Acho que sim, Lorena. Mas também, no caso desse filme, não é muito difícil.
Pôxa Sérgio, o filme não é tão ruim assim… 🙂 É “pipoca”, dá para se divertir sim…
Vou contar um curiosidade: em 1928 Santos-Dumont veio ao Brasil apresentar uma invenção chamada “Transformador Marciano” uma “geringonça” que supostamente auxiliava esquiadores em subidas. Parece-me que não fez muito sucesso.
Uma outra: o próprio Santos-Dumont é citado em alguns livros do H. G. Well (está lá no Project Gutenberg).