O detetive Bart Lasiter estava em seu escritório estudando a luz que incidia da única janela sobre seu super-burrito quando a porta se abriu para revelar uma mulher cujo corpo lhe dizia que tinha acabado de comer seu último burrito por um bom tempo, cujo rosto informava que anjos existem, e cujos olhos denunciavam que ela seria capaz de fazer você cavar sua própria sepultura e depois lamber a pá até deixá-la limpa.
Essas linhas, de autoria do californiano Jim Guigli, foram as vencedoras do prêmio literário Bulwer-Lytton de 2006. Criado em 1982 pela Universidade de San Jose, nos EUA, o concurso anual de “piores começos de romances imaginários” homenageia o autor inglês Edward George Bulwer-Lytton, que em 1830 começou de fato um romance, chamado “Paul Clifford”, com a frase que Snoopy e outros amantes de clichês ajudariam a tornar imortal: “Era uma noite escura e tempestuosa”.
São horrorosas as primeiras linhas da história do detetive Lasiter, isso não se discute. Mas concordo com o blog londrino Culture Vulture, que encerrou a notícia da premiação com uma provocação aos seus leitores: sabemos que vocês podem fazer melhor do que isso – ou seja, pior. Quem se habilita?
13 Comentários
Taí. Eu já gostei. O estiilo lembra muito os romances policiais de um detetive das antigas, chamado Shell Scott (Sheldon Scott) e que foi sucesso de crítica e público no mundo inteiro. Só não lembro o nome do escritor. No Brasil foi editado no formato pocket book e era vendido nas bancas. Alguém se lembra?
Paul Auster, antes da fama, escreveu um bisonho romance policial noir para tentar ganhar dinheiro com ele.
Foi publicado como apêndice de um livro autobiográfico. É pavoroso, e esse início bem podia ser dele.
“Bisonho” e “pavoroso”?
Poderia explicar as razoes dessa critica?
Acho que tu nao entendeste que, nesse livro, Paul Auster brinca com os cliches de livros de detetive propositalmente.
me habilito, sim!
que tal… “era uma noite tempestuosa e escura” ?
essa do Lasiter… horroso e meio, sem dúvida.
João Paulo, eu também gostava muito e também esqueci o nome do autor. Tive que googlar: Richard S. Prather.
Esse início aí parece um plágio sem a graça e o charme das aberturas dos contos do detetive Ed Mort.
Era uma noite escura e tempestuosa e eu acabara de comer meu super-burrito quando uma mulher de beleza estonteante fez “psiu!” e perguntou se eu tinha outro burrito. Credo!
“… tempestuoso e escuro era o ventre da noite…”
“Eu estava debaixo da fraca luz de outono que filtrava pela única janela da sala. Não que eu fizesse muita questão (afinal eu era apenas um burrito, e não poderia alegar minha própria sofisticação em minha defesa), mas aquele não parecia ser exatamente o lugar mais adequado para a digestão de iguarias meso-americanas. Quando a mulher entrou quase morri de susto: ela parecia um burrito muito, muito grande.”
Acho que não consegui…
ANRAPHEL: É isto mesmo! Richard S. Prather. Valeu amigo.
Só para registro, um trecho da entrevista de Umberto Eco publicada no último caderno Mais (Folha de S.Paulo, 17/7/06):
“PERGUNTA – Pode-se dizer que, em “O Nome da Rosa”, o sr. realizou uma operação moderna e irônica sobre um grande afresco medieval?
ECO – Digamos que meu romance, assim como outras obras, admite dois níveis de leitura ou mais. Se eu começo dizendo: “Era uma noite escura e tempestuosa”, o leitor “ingênuo”, que não percebe a referência a Snoopy, usufruirá o texto num nível elementar, mas tudo bem. Depois há o leitor de segundo nível, que percebe a referência, a citação, o jogo, e, portanto, sabe que ali há sobretudo uma ironia. Nesse ponto, eu poderia acrescentar um terceiro nível, já que, no mês passado, descobri que a frase é o incipit de um romance de Bulwer-Lytton [1803-73], autor de “Os Últimos Dias de Pompéia”. E é óbvio que Snoopy também o estava citando.”
“A noite estava escura e chuvosa”
sera que consegui??
“A chuva escura da tempestuosa noite (…) “.