Pronto, deu-se a mágica. Parati virou a capital brasileira da literatura do dia para a noite. Nessa hora importam muito pouco as críticas, que nunca estiveram em falta, às imperfeições do evento: começou, está começado. Enquanto as ruas de pedras irregulares são pisadas por exércitos de sapatos, sandálias e tênis fabricados nos quatro cantos do mundo, num assustador desafio à resistência de milhares de tendões, as quedas de luz na sala de imprensa fazem jornalistas experimentados perder de dez em dez minutos o trabalho escrito nos últimos dez minutos. Mas ninguém reclama. A prometida rede wi-fi? Amanhã, quem sabe, murmura-se nessa sucursal fluminense da Bahia. E daí, se você entra num botequim e encontra Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, ainda triste com a desistência de última hora de Ricardo Piglia? “O livro dele (‘O último leitor’) é a melhor obra de não-ficção publicada pela editora este ano”, avalia Schwarcz.
Na mesa ao lado, o jovem autor angolano Ondjaki conta suas primeiras experiências com uma especialidade da terra: virou várias doses de cachaça e ficou de pé, garante. A voz firme e o equilíbrio passável confirmam a história. É pouco provável, porém, que a resistência do rapaz ao álcool chegue perto de rivalizar com a do inglês Christopher Hitchens, que em poucas horas em solo brasileiro já adquiriu bem cedo a reputação de processar bebidas em ritmo industrial.
Eis uma vantagem, pelo menos teórica, para o sóbrio Tariq Ali (foto), o grande adversário ideológico de Hitchens em Parati. Em sua primeira entrevista aqui, Ali afirmou que, ao visitar o Brasil alguns anos atrás, alertou para o risco de Lula, eleito pelos pobres, governar para “o FMI e o governo dos Estados Unidos”, como fez Tony Blair no Reino Unido. Esperto ele, não? Mas talvez esteja mais no espírito da Flip fugir de análises políticas e observar que Tariq Ali é os cornos do turco Nacib de “Gabriela, cravo e canela”. Podem conferir. Como Jorge Amado é o autor homenageado este ano, a presença do escritor paquistanês aqui ganha uma nova dimensão, não ganha?
Mas isso é só o começo. A inauguração oficial da Flip vem apenas agora, agora mesmo: Maria Bethânia acaba de subir no palco, decretando o fim desta nota. Amanhã tem mais.
6 Comentários
Serginho, não se engane. Por wireless, they probably mean computerless. E, consequentemente, matérialess… Boa sorte!
Parati devia continuar fabricando cachaça!
Ah, desculpa, deve ser o mau-humor de estar acordado a essa hora, mas… e a literatura?
Isso aí que você relatou está parecendo a São Paulo Fashion Week… Um monte de gente fazendo carão e nós que nem bobos fazendo Ahs e Ohs.
Isso é que é vida… e eu aqui, no ar-condicionado…
Para não perder o costume registro o meu protesto habitual contra a discriminação que nós, usuários Linux, sofremos por parte do NoMínimo, que nos veda o acesso aos clássicos, através de scripts que parecem ter sido escritos propositalmente para isso.
A nós, usuários de software livre, restam duas opções: ou instalar plugins visando a enganar os programadores da página ou escarafunchar o código-fonte para descobrir a url onde se hospedam os arquivos .mp3, que qualquer player toca.
Nenhuma das duas me agrada, pois não sou ladrão, para entrar sorrateiramente onde não me querem.
Só me resta parabenizar o blog do Noblat, que não pratica essa odiosa discriminação!
EI, FLÁVIO, DEIXA DE SER CHATO E ENTERRA ESSE LINUX N0 QUINTAL!