A capa do novo livro do jovem escritor gaúcho Antônio Xerxenesky, “A página assombrada por fantasmas”, uma coletânea de contos sobre livros e escritores que acaba de sair pela Rocco, parece ter sido inspirada pelo mesmo vento que soprou a capa do novo romance do escritor inglês Julian Barnes, The sense of an ending, que a Jonathan Cape põe na rua semana que vem – e que mesmo inédito já está na lista do prêmio Man Booker.
As evidentes diferenças – a arte do livro inglês é mais limpa e mais preparada para disputar aos gritos a atenção do leitor na livraria, enquanto a do brasileiro leva a um limite ousado a ideia de palimpsesto, de rasura – não escondem o fato de que se trata de capas irmãs. Em ambas, as letras parecem prestes a desaparecer, a se desfazer em borrões.
Os lançamentos praticamente simultâneos eliminam qualquer possibilidade de influência de uma sobre a outra. O que o belo trabalho da designer gaúcha Ieve Holthausen tem em comum com o de seu colega britânico parece ser apenas aquilo que, à falta de um nome melhor, o pessoal chama de Zeitgeist. As letras que aspiram a sumir teriam algo a ver com a sentença condenatória que paira sobre os livros de papel?
Não, espero que você não seja do tipo que compra livro pela capa. Mas que ela ajuda, ajuda.
6 Comentários
EU COMPRO!! ::)) Sem sombra de dúvida, amo capas belas, sou meio viciada nos livros da Cosac por causa da editoração, mas claro que não compro porcaria em capa, acho mesmo que se for porcaria não tem capa que me seduza… essas duas aí, por exemplo, compraria sem pestanejar ::) O do antonio quase certo,
abraço,
clara
So para esclarecer a capa da Ieve foi aprentada como um dos trabalhos de conclusão na ESPM no primeiro semestre de 201O.
oque da para perceber é que IEVE está longe de seguir o caminho traçado por editoras comerciais e ou convencionáis … parabens a design gaucha com os olhos bem abertos para a inovação e a pesquisa, parabens aos editores e ao autor do livro pela ousadia (sinônimo de coragem pra criar o novo)e por último me paresce a carência de contraste e hierarquia no letering tornaria a Obra “sutilmente” atraente.
Não é o tema de minha preferência… mas certamente a capa me faz pensar e sentir a nostalgia do papel que se esvai por entre os dedos do “Touch Screen” em rasgadas camadas da atualidade… futura!
Sérgio, já comprei um livro pela capa: http://www.lpm-editores.com.br/blog/?p=1230
Vi por acaso numa livraria e me impactou de imediato a genialidade da idéia, baseada num mínimo de elementos. Comprei na hora. O livro em si é muito bom. Dificilmente o gênero noir me decepciona.
Descobri o que me incomoda no seu blog. Você é pernóstico.
As duas capas, à primeira vista e na pequena escala em que são mostradas, se parecem, mas são ideias bem diferentes. Na inglesa, o texto meio que se esconde em uma nuvem (?) entre o que parecem sementes de dente-de-leão levadas ao vento. Na brasileira, páginas superpostas foram rasgadas, descobrindo as palavras que formam o título e nome do autor em negrito.
Ambas são bonitas, mas, sem bairrismo, a brasileira me agrada muito mais: além de mais criativa, sugere uma terceira dimensão que dá vontade de folhear.