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Contra o inferno rosa

10/09/2006

A verdade é que a chick lit é ruim para os Estados Unidos porque é ruim para escritores literários, ambiciosos, homens ou mulheres. E isso significa que é ruim para todos nós. Enquanto a América cada vez mais desvaloriza o rigor intelectual, a educação e a compaixão, fica mais e mais difícil encontrar um bom livro. E acredite em mim – a ex-editora de ficção –, não é porque eles não existam. É porque o mercado está saturado de más escritoras que alegam representar todas as mulheres, entulhando as prateleiras e assegurando-se de que sua única história marginal e sem graça seja reproduzida dez milhões de vezes, como uma bonita versão rosa do inferno.

Tem provocado debates na – vá lá – “blogosfera literária” americana esse violento artigo (em inglês, acesso livre) contra o modismo da chick lit, ou literatura de mulherzinha, publicado na revista cultural “Dig”, de Boston. A autora, que se protege no anonimato, apresenta-se como “ex-editora de livros femininos”. Sua argumentação é simplista, dando às vezes a impressão de que toda a literatura era um poço de inteligência e sensibilidade até que Helen Fielding e companhia inventassem sua versão comercial e digestiva. Mesmo assim, chegamos a tal ponto que é sempre saudável quando alguém – especialmente nos Estados Unidos – tenta enxergar um palmo além da lógica do mercado.

6 Comentários

  • Conta uma estorinha titia 10/09/2006em09:56

    Como alguém deve ter dito…não viveu quem não escreveu um livro, plantou uma árvore, criou um filho, blah blah blah, etc e tal…mas o que antes ficaria relegado ao fundo de um baú com nome de diário ou algo assim, ganhou status de intelectualidade, formato de livro e direito a entrar em alguma livraria para comercialização, e isso virou regra…e com o risco de ficar milionários, ver traduzir seus contos em diversas linguas e ainda tornar-se da academia brasileira de letras.

  • Fábio Max 10/09/2006em11:51

    Eu pensava que a literatura tinha encontrado o fundo do poço com Sydney Sheldon e Harold Robbins.

    Depois, achei que o fundo do poço era a enxurrada da auto-ajuda, que, porém, ficou pior com a auto ajuda sexual (Homens são da PQP, mulheres são do Car… mesmo!) e piorou ainda mais com a auto-ajuda para executivos e estudantes de ultimo ano de faculdade, os famosos livros sobre “carreira”…

    Daí fiquei estupefato ao ver que o fundo do poço era a BS (não cito mais o nome dela por extenso) com sua bobagem meretrícia.

    Descobri que não é a literatura que está decaindo, é o público de idiotas que consegue comprar livros que está aumentando! Ora, hoje em dia, compra-se livros porque tal obra está na moda, lê-los e entendê-los é outra história!

    A boa literatura continua intacta, a questão é que o mesmo público que sempre a consumiu, continua consumindo… A má literatura é que explodiu em vendas e principalmente publicidade, dando uma impressão errada!

  • Luiz Mozzambani Neto 10/09/2006em14:31

    Não adianta! Confesso meu machismo! Não acredito que haja nos EUA mulheres capazes de emburrecer os estadunidenses… Não depois do Bush!

  • myrna 10/09/2006em15:17

    EU LI AQUELE LIVRO, HOMENS SÃO DE MARTE E MULHERES SÃO DE VENUS!
    UMA PORCARIA! UMA DROGA, UM FESTIVAL DE ROTULAGENS E EXPLICAÇÕES RIDICULAS! A MAIS RIDICULA DE TODAS FOI A EXPLICAÇÃO PARA A INFIDELIDADE MASCULINA: DIZENDO QUE É GENÉTICA! VAI SE FU….. A INFIDELIDADE É CULTURAL! E NÃO GENÉTICA!!!!

  • Lucas Murtinho 10/09/2006em18:13

    Esse debate já acontece há algum tempo – pelo menos desde a publicação de “This is not chick lit”, antologia-resposta a “This is chick lit”. Esse artigo é o golpe mais recente, e parece ser particularmente baixo: a autora escolheu se manter anônimo, mas o pessoal do Galleycat descubriu indícios de que ela não conseguiu encontrar um editor para o seu próprio romance. A solução de botar a culpa do seu fracasso numa falta de espaço para “literatura séria” provocada pela chick lit é conveniente.

    O grande problema é que essa fronteira entre literatura séria e entretenimento não existe: há chick lit boa e chick lit ruim, assim como há ficção científica boa e ruim, e literatura “séria” boa e ruim. Esse artigo é não só elitista ao dizer o contrário mas também condescendente por sugerir que o público é vítima de um esquema editorial para vender porcaria e manter o filé fora do mercado. Resta saber o que os editores ganhariam com isso.

  • anraphel 11/09/2006em16:04

    Existe aquele público propenso a adquirir o produto cultural pelo que esse tem de efeméride, geralmente com uma celebridade por trás. É o sujeito que vai à peça de Antonio Ermírio, assiste ao filme de Caetano Veloso e compra o livro de Jô Soares. Nos três casos, e em outros similares, o importante é comunicar aos amigos na mesa de bar, às vezes en passant, a aquisição. Não é moralismo, é constatação.