A verdade é que a chick lit é ruim para os Estados Unidos porque é ruim para escritores literários, ambiciosos, homens ou mulheres. E isso significa que é ruim para todos nós. Enquanto a América cada vez mais desvaloriza o rigor intelectual, a educação e a compaixão, fica mais e mais difícil encontrar um bom livro. E acredite em mim – a ex-editora de ficção –, não é porque eles não existam. É porque o mercado está saturado de más escritoras que alegam representar todas as mulheres, entulhando as prateleiras e assegurando-se de que sua única história marginal e sem graça seja reproduzida dez milhões de vezes, como uma bonita versão rosa do inferno.
Tem provocado debates na – vá lá – “blogosfera literária” americana esse violento artigo (em inglês, acesso livre) contra o modismo da chick lit, ou literatura de mulherzinha, publicado na revista cultural “Dig”, de Boston. A autora, que se protege no anonimato, apresenta-se como “ex-editora de livros femininos”. Sua argumentação é simplista, dando às vezes a impressão de que toda a literatura era um poço de inteligência e sensibilidade até que Helen Fielding e companhia inventassem sua versão comercial e digestiva. Mesmo assim, chegamos a tal ponto que é sempre saudável quando alguém – especialmente nos Estados Unidos – tenta enxergar um palmo além da lógica do mercado.
6 Comentários
Como alguém deve ter dito…não viveu quem não escreveu um livro, plantou uma árvore, criou um filho, blah blah blah, etc e tal…mas o que antes ficaria relegado ao fundo de um baú com nome de diário ou algo assim, ganhou status de intelectualidade, formato de livro e direito a entrar em alguma livraria para comercialização, e isso virou regra…e com o risco de ficar milionários, ver traduzir seus contos em diversas linguas e ainda tornar-se da academia brasileira de letras.
Eu pensava que a literatura tinha encontrado o fundo do poço com Sydney Sheldon e Harold Robbins.
Depois, achei que o fundo do poço era a enxurrada da auto-ajuda, que, porém, ficou pior com a auto ajuda sexual (Homens são da PQP, mulheres são do Car… mesmo!) e piorou ainda mais com a auto-ajuda para executivos e estudantes de ultimo ano de faculdade, os famosos livros sobre “carreira”…
Daí fiquei estupefato ao ver que o fundo do poço era a BS (não cito mais o nome dela por extenso) com sua bobagem meretrícia.
Descobri que não é a literatura que está decaindo, é o público de idiotas que consegue comprar livros que está aumentando! Ora, hoje em dia, compra-se livros porque tal obra está na moda, lê-los e entendê-los é outra história!
A boa literatura continua intacta, a questão é que o mesmo público que sempre a consumiu, continua consumindo… A má literatura é que explodiu em vendas e principalmente publicidade, dando uma impressão errada!
Não adianta! Confesso meu machismo! Não acredito que haja nos EUA mulheres capazes de emburrecer os estadunidenses… Não depois do Bush!
EU LI AQUELE LIVRO, HOMENS SÃO DE MARTE E MULHERES SÃO DE VENUS!
UMA PORCARIA! UMA DROGA, UM FESTIVAL DE ROTULAGENS E EXPLICAÇÕES RIDICULAS! A MAIS RIDICULA DE TODAS FOI A EXPLICAÇÃO PARA A INFIDELIDADE MASCULINA: DIZENDO QUE É GENÉTICA! VAI SE FU….. A INFIDELIDADE É CULTURAL! E NÃO GENÉTICA!!!!
Esse debate já acontece há algum tempo – pelo menos desde a publicação de “This is not chick lit”, antologia-resposta a “This is chick lit”. Esse artigo é o golpe mais recente, e parece ser particularmente baixo: a autora escolheu se manter anônimo, mas o pessoal do Galleycat descubriu indícios de que ela não conseguiu encontrar um editor para o seu próprio romance. A solução de botar a culpa do seu fracasso numa falta de espaço para “literatura séria” provocada pela chick lit é conveniente.
O grande problema é que essa fronteira entre literatura séria e entretenimento não existe: há chick lit boa e chick lit ruim, assim como há ficção científica boa e ruim, e literatura “séria” boa e ruim. Esse artigo é não só elitista ao dizer o contrário mas também condescendente por sugerir que o público é vítima de um esquema editorial para vender porcaria e manter o filé fora do mercado. Resta saber o que os editores ganhariam com isso.
Existe aquele público propenso a adquirir o produto cultural pelo que esse tem de efeméride, geralmente com uma celebridade por trás. É o sujeito que vai à peça de Antonio Ermírio, assiste ao filme de Caetano Veloso e compra o livro de Jô Soares. Nos três casos, e em outros similares, o importante é comunicar aos amigos na mesa de bar, às vezes en passant, a aquisição. Não é moralismo, é constatação.