O início de um Campeonato Brasileiro marcado pela volta de jogadores de alto nível que andavam fora do país, Ronaldo Fenômeno à frente, é uma boa oportunidade para falar da história da palavra craque. Tudo indica que o termo, um dos muitos anglicismos que povoam o vocabulário do futebol, tenha nos chegado no equipamento esportivo de um daqueles ingleses que, no início do século passado, ainda nos ensinavam a jogar bola – poucas décadas antes de se inverter dramaticamente a posição de quem tinha coisas a aprender nesse departamento.
O desembarque oficial de craque em nosso idioma leva a data de 1913, quando apareceu no Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo. Era um tempo de aclimatação apressada de termos ligados ao futebol – casos semelhantes foram quíper (do inglês goalkeeper, goleiro), que praticamente caiu em desuso, e beque (de back, jogador de defesa), que ainda se usa hoje, embora zagueiro seja a forma preferencial. Sem mencionar o próprio termo futebol, versão aportuguesada de football, que se sobrepôs a todas as tentativas de criar um neologismo culto para nomear o esporte, como ludopédio e balípodo.
A matriz inglesa de craque é crack – não o substantivo, que quer dizer “quebra, rachadura” ou “ruído seco, estalo”, mas uma gíria antiga, existente pelo menos desde 1793 na língua de Bobby Charlton com o sentido de “excelente, de qualidade superior”. Assim, crack horse era um cavalo bom de corrida; crack shot, um tiro certeiro; e crack player, um grande jogador.
A adaptação de craque se deu tanto na grafia quanto na gramática: de adjetivo, a palavra se substantivou. Até hoje é usada de forma intensa no vocabulário esportivo, mas não apenas nele. Em sentido figurado, qualquer pessoa muito competente em sua especialidade pode ser chamada de craque.
Publicado na “Revista da Semana”.
6 Comentários
Uma explicação de craque!
Será que ao invés de irem pro estrangeiro, agora nossos craques ficarão por aqui? Acho que eles devem ver mais sentido quando jogam se o fazem em sua própria terra e pro seu povo. vamos ver…
seu blog continua excelente. abraço blogueiro.JG
E o que acha da nova expressão para craque – diferenciado? “Fulano é um jogador diferenciado”
Ra ra ra : )
Bem observado, Alexandre. Diferenciado, palavrinha marqueteira, pegou também no futebol.
Dedico esta coluna ao gol do Nilmar contra o Corinthians.