Acaba de sair o melhor romance brasileiro do ano – sim, em minha módica opinião e até o momento, será preciso fazer a ressalva? O fato é que 2007 vem me dando poucos argumentos para discordar dos leitores que, aqui mesmo na caixa de comentários do Todoprosa, insistem em situar nossa literatura contemporânea numa faixa de (in)competência entre a da Anac e a do beisebol praticado em campos nacionais. E como o blog, com raras exceções, prefere manter silêncio sobre livros que não possa elogiar, a literatura brasileira pouco tem dado as caras neste Primeira mão, o que é uma pena. Mas ficou mais fácil combater a versão literária do que Nelson Rodrigues chamava de nosso “complexo de vira-lata” depois de ler o romance “O filho eterno”, de Cristovão Tezza (Record, 240 páginas, R$ 36).
Escritor curitibano nascido em Santa Catarina, Tezza, de 54 anos, é quase um autor consagrado – embora os limites dessa quase-consagração sejam tão constritos que ele continue sendo novidade para muita gente num ambiente cada vez mais marcado pela baixa condutividade de mérito. Livros como “Trapo”, “Breve espaço entre cor e sombra” e “O fotógrafo” garantiram a esse professor da Universidade Federal do Paraná, além de prêmios, o reconhecimento da crítica e alguma circulação entre os apreciadores de ficção de qualidade. Acredito que Cristovão Tezza tenha agora a chance de ir além desse circuito fechado devido a uma combinação de dois fatores.
O primeiro é o relançamento de sua obra pela Record – que, juntamente com o romance inédito, está repondo nas livrarias “Trapo”, “O fantasma da infância” e “Aventuras provisórias”, em volumes com o mesmo projeto gráfico. O segundo e mais importante fator é que “O filho eterno” trata, com coragem e brilhantismo, mas também com aparente simplicidade, de um tema de forte apelo emocional.
Como o protagonista de seu romance, o autor tem um filho com síndrome de Down. O livro não disfarça o caráter de acerto de contas do escritor com seu filho – ou, melhor dizendo, consigo mesmo no papel de pai desse filho. Ainda assim, Tezza rejeita o rótulo de memorialismo para ficar com o de romance: a narração é toda em terceira pessoa, por exemplo.
“Quando comecei a me tratar por ‘ele’, o livro ganhou a dimensão de ficção, que é o que importa, e autonomia. Para o leitor que não me conhece, os aspectos factuais são irrelevantes” , declarou em entrevista à “Gazeta do Povo” de domingo passado. “Além disso, ao criar o narrador do livro e fazer do pai um personagem, conquistei uma independência brutal, uma capacidade ou uma coragem de dizer as coisas que eu jamais teria se falasse de mim mesmo.”
Faz sentido. O que poderia sugerir distanciamento acaba por se mostrar, pelo contrário, um achado técnico que permite ao autor mergulhar na vertigem emocional de uma história repleta de armadilhas e voltar de lá com um texto que não se esquiva de nenhum tema e jamais soa uma nota falsa, edulcorada ou apelativa. Difícil saber se a façanha maior, aqui, se situa no plano da literatura ou da vida. Talvez não haja distinção.
Leia abaixo o quarto capítulo de “O filho eterno”:
A manhã mais brutal da vida dele começou com o sono que se interrompe — chegavam os parentes. Ele está feliz, é visível, uma alegria meio dopada pela madrugada insone, mais as doses de uísque, a intensidade do acontecimento, a sucessão de pequenas estranhezas naquele espaço oficial que não é o seu, mais uma vez ele não está em casa, e há agora um alheamento em tudo, como se fosse ele mesmo, e não a mulher, que tivesse o filho de suas entranhas — a sensação boa, mas irremediável ao mesmo tempo, vai se transformando numa aflição invisível que parece respirar com ele. Talvez ele, como algumas mulheres no choque do parto, não queira o filho que tem, mas a idéia é apenas uma sombra. Afinal, ele é só um homem desempregado e agora tem um filho. Ponto final. Não é mais apenas uma idéia, e nem mais o mero desejo de agradar que o seu poema representa, o ridículo filho da primavera — é uma ausência de tudo. Mas os parentes estão alegres, todos falam ao mesmo tempo. A tensão de quem acorda sonado se esvazia, minuto a minuto. Como ele é? Não sei, parece um joelho — ele repete o que todos dizem sobre recém-nascidos para fazer graça, e funciona. O bebê é parrudo, grande, forte, ele inventa: é o que querem ouvir. Sim, está tudo bem. É preciso que todos vejam, mas parece que há horários. Daqui a pouco ele vem — aquele pacotinho suspirante. A mulher está plácida, naquela cama de hospital — sim, sim, tudo vai bem. Há também um rol de recomendações que se atropelam — todos têm alguma coisa fundamental a dizer sobre um filho que nasce, ainda mais para pais idiotas como ele. Eu fiz um curso de pai, ele alardeia, palhaço, fazendo piada. Mas era verdade: passou uma tarde numa grande roda de mulheres buchudas, a dele incluída, é claro, com mais dois ou três futuros pais devotos, atentíssimos, ouvindo uma preleção básica de um médico paternal, e de tudo guardou um único conselho — é bom manter uma boa relação com as sogras, porque os pais precisam eventualmente descansar da criança, sair para jantar uma noite, tentar sorver um pouco o velho ar de antigamente que não voltará jamais.
E as famílias falam e sugerem — chás, ervas, remedinhos, infusões, cuidados com o leite —, é preciso dar uma palmada para que ele chore alto, assim que nasce, diz alguém, e alguém diz que não, que o mundo mudou, que bater em bebê é uma estupidez (mas não usa essa palavra) — eles não vão trazer a criança? E que horas foi? E o que o médico disse? E você, o que fez? E o que aconteceu? E por que não avisaram antes? E por que não chamaram ninguém? E vamos que acontece alguma coisa? Ele já tem nome? Sim: Felipe. Os parentes estão animados, mas ele sente um cansaço subterrâneo, sente renascer uma ponta da mesma ansiedade de sempre, insolúvel. Ir para casa de uma vez e reconstruir uma boa rotina, que logo ele terá livros para escrever — gostaria de mergulhar no Ensaio da Paixão de novo, alguma coisa para sair daqui, sair deste pequeno mundo provisório. Sim, e beber uma cerveja, é claro! A idéia é boa — e ele quase que gira o olhar atrás de uma companhia para, de fato, conversar sobre esse dia, organizar esse dia, pensar nele, literariamente, como um renascimento — veja, a minha vida agora tem outro significado, ele dirá, pesando as palavras; tenho de me disciplinar para que eu reconquiste uma nova rotina e possa sobreviver tranqüilo com o meu sonho. O filho é como — e ele sorri, sozinho, idiota, no meio dos parentes — como um atestado de autenticidade, ele arriscará; e ainda uma vez fantasia o sonho rousseauniano de comunhão com a natureza, que nunca foi dele mas que ele absorveu como um mantra, e de que tem medo de se livrar — sem um último elo, o que fica? Em toda parte, são os outros que têm autoridade, não ele. O único território livre é o da literatura, ele talvez sonhasse, se conseguisse pensar a respeito. Sim, é preciso telefonar para o seu velho guru, de certa forma receber sua bênção. Muitos anos depois uma aluna lhe dirá, por escrito, porque ele não é de intimidades: você é uma pessoa que dá a impressão de estar sempre se defendendo. Sentimentos primários que se sucedem e se atropelam — ele ainda não entende absolutamente nada, mas a vida está boa. Ainda não sabe que agora começa um outro casamento com a mulher pelo simples fato de que eles têm um filho. Ele não sabe nada ainda.
Súbito, a porta se abre e entram os dois médicos, o pediatra e o obstetra, e um deles tem um pacote na mão. Estão surpreendentemente sérios, absurdamente sérios, pesados, para um momento tão feliz — parecem militares. Há umas dez pessoas no quarto, e a mãe está acordada. É uma entrada abrupta, até violenta — passos rápidos, decididos, cada um se dirige a um lado da cama, com o espaldar alto: a mãe vê o filho ser depositado diante dela ao modo de uma oferenda, mas ninguém sorri. Eles chegam como sacerdotes. Em outros tempos, o punhal de um deles desceria num golpe medido para abrir as entranhas do ser e dali arrancar o futuro. Cinco segundos de silêncio. Todos se imobilizam — uma tensão elétrica, súbita, brutal, paralisante, perpassa as almas, enquanto um dos médicos desenrola a criança sobre a cama. São as formas de um ritual que, instantâneo, cria-se e cria seus gestos e suas regras, imediatamente respeitadas. Todos esperam.
Há um início de preleção, quase religiosa, que ele, entontecido, não consegue ainda sintonizar senão em fragmentos da voz do pediatra:
— …algumas características… sinais importantes… vamos descrever. Observem os olhos, que têm a prega nos cantos, e a pálpebra oblíqua… o dedo mindinho das mãos, arqueado para dentro… achatamento da parte posterior do crânio… a hipotonia muscular… a baixa implantação da orelha e…
O pai lembra imediatamente da dissertação de mestrado de um amigo da área de genética — dois meses antes fez a revisão do texto, e ainda estavam nítidas na memória as características da trissomia do cromossomo 21, chamada de síndrome de Down, ou, mais popularmente — ainda nos anos 1980 — “mongolismo”, objeto do trabalho. Conversara muitas vezes com o professor sobre detalhes da dissertação e curiosidades da pesquisa (uma delas, que lhe veio súbita agora, era a primeira pergunta de uma família de origem árabe ao saber do problema: “Ele poderá ter filhos”? — o que pareceu engraçado, como outro cartum). Assim, em um átimo de segundo, em meio à maior vertigem de sua existência, a rigor a única que ele não teve tempo (e durante a vida inteira não terá) de domesticar numa representação literária, apreendeu a intensidade da expressão “para sempre” — a idéia de que algumas coisas são de fato irremediáveis, e o sentimento absoluto, mas óbvio, de que o tempo não tem retorno, algo que ele sempre se recusava a aceitar. Tudo pode ser recomeçado, mas agora não; tudo pode ser refeito, mas isso não; tudo pode voltar ao nada e se refazer, mas agora tudo é de uma solidez granítica e intransponível; o último limite, o da inocência, estava ultrapassado; a infância teimosamente retardada terminava aqui, sentindo a falta de sangue na alma, recuando aos empurrões, sem mais ouvir aquela lengalenga imbecil dos médicos e apenas lembrando o trabalho que ele lera linha a linha, corrigindo caprichosamente aqui e ali detalhes de sintaxe e de estilo, divertindo-se com as curiosidades que descreviam com o poder frio e exato da ciência a alma do seu filho. Que era esta palavra: “mongolóide”.
Ele recusava-se a ir adiante na linha do tempo; lutava por permanecer no segundo anterior à revelação, como um boi cabeceando no espaço estreito da fila do matadouro; recusava-se mesmo a olhar para a cama, onde todos se concentravam num silêncio bruto, o pasmo de uma maldição inesperada. Isso é pior do que qualquer outra coisa, ele concluiu — nem a morte teria esse poder de me destruir. A morte são sete dias de luto, e a vida continua. Agora, não. Isso não terá fim. Recuou dois, três passos, até esbarrar no sofá vermelho e olhar para a janela, para o outro lado, para cima, negando-se, bovino, a ver e a ouvir. Não era um choro de comoção que se armava, mas alguma coisa misturada a uma espécie furiosa de ódio. Não conseguiu voltar-se completamente contra a mulher, que era talvez o primeiro desejo e primeiro álibi (ele prosseguia recusando-se a olhar para ela); por algum resíduo de civilidade, alguma coisa lhe controlava o impulso da violência; e ao mesmo tempo vivia a certeza, como vingança e válvula de escape — a certeza verdadeiramente científica, ele lembrava, como quem ergue ao mundo um trunfo indiscutível, eu sei, eu li a respeito, não me venham com histórias — de que a única correlação que se faz das causas do mongolismo, a única variável comprovada, é a idade da mulher e os antecedentes hereditários, e também (no mesmo sofrimento sem saída, olhando o céu azul do outro lado da janela) relembrou como alguns anos antes procuraram aconselhamento genético sobre a possibilidade de recorrência nos filhos (se dominante ou recessiva) de uma retinose, a da mãe, uma limitação visual grave, mas suportável, estacionada na infância. Recusa. Recusar: ele não olha para a cama, não olha para o filho, não olha para a mãe, não olha para os parentes, nem para os médicos — sente uma vergonha medonha de seu filho e prevê a vertigem do inferno em cada minuto subseqüente de sua vida. Ninguém está preparado para um primeiro filho, ele tenta pensar, defensivo, ainda mais um filho assim, algo que ele simplesmente não consegue transformar em filho.
No momento em que enfim se volta para a cama, não há mais ninguém no quarto — só ele, a mulher, a criança no colo dela. Ele não consegue olhar para o filho. Sim — a alma ainda está cabeceando atrás de uma solução, já que não pode voltar cinco minutos no tempo. Mas ninguém está condenado a ser o que é, ele descobre, como quem vê a pedra filosofal: eu não preciso deste filho, ele chegou a pensar, e o pensamento como que foi deixando-o novamente em pé, ainda que ele avançasse passo a passo trôpego para a sombra. Eu também não preciso desta mulher, ele quase acrescenta, num diálogo mental sem interlocutor: como sempre, está sozinho.
55 Comentários
Bem, o Kenzaburo Oe ganhou um Nobel por fazer mais ou menos isso… quem sabe o Tezza dessa vez não ganha um Jabuti?
Uma Noite em Curitiba e O Fotógrafo são excelentes romances.
Sem dúvida trata-se de uma delicada questão pessoal. Portugal Telecom nele!
Ih, quero só ver o que o Vinícius Jatobá vai escrever depois de ler os elogios ao Tezza. Rs.
O livro que mais gosto do Tezza (um dos meus escritores preferidos) é A suavidade do vento. Divertidíssimo!
Rapaz, lembro uma entrevista desse cara no programa entrelinhas, da tv cultura. Engraçado p/ caramba esse sujeito! Bom, mas quanto ao que interessa: p/ mim, depois de ler as impressões do Sérgio, é dica de leitura mais que anotada.
Sérgio, uma sugestão de pauta, se me permite: por que as editoras brasileiras não fazem versão paperback de seus livros. Há a L&PM e a Cia. de Bolso, mas por que não há a Record de Bolso, Objetiva de Bolso e por aí vai? Deveria ser aqui como nos países de língua inglesa, há versões tradicionais, mas meses depois edição em papel mais barato. Esse livro do Tezza, por exemplo, poderia sair no próximo ano em edição com papel mais barato, custando menos. Ou as editoras brasileiras, ao contrário daquelas em países como Inglaterra, França e EUA só publicam para seu feudo de leitores endinheirados, e a ralé que se dane?
O melhor desse post foi a expressão “baixa condutividade do mérito”. Bastante significado concentrado numa frasezinha. É sua?
Daniel: já li essa matéria algumas vezes. Parece que as editoras alegam algo como nosso público leitor de baixa renda não ser grande o bastante para sustentar a escala exigida pelo livro de bolso.
Simone: salvo algum plágio inconsciente, a expressão é minha.
Daniel,
A editora Record lança em setembro um novo selo para atender a essa demanda. Acredito que em breve outras editoras devam também movimentar o mercado.
Sérgio, já que você tocou no nome do Nelson, ele escreveu um livro maravilhoso sobre ter um filho deficiente. ” A menina sem estrela” (escrito para sua filha que naxceu cega) é uma das coisas mais lindas que já se publicou em língua portuguesa.
Li Uma noite em Curutiba e a partir de então Tezza foi para minha lista de autores preferidos. Pelo trecho do novo romance aqui, o livro promete. E é disso que a literatura brasileira precisa: ficção como reflexão da vida.
Saint, vou escrever que como crítico literário estive errado e que Tezza é, sim, um ótimo autor. Há críticos que “acertam” sempre porque nunca arriscam falar o que realmente pensam. Com o Tezza cometi uma impropriedade. Há momentos que os críticos não estão à altura do que lêem, e foi meu caso com o Tezza quando o li. Abs,
“Eu fiz um curso de pai, ele alardeia, palhaço, fazendo piada. Mas era verdade: passou uma tarde numa grande roda de mulheres buchudas, a dele incluída, é claro, com mais dois ou três futuros pais devotos, atentíssimos, ouvindo uma preleção básica de um médico paternal, e de tudo guardou um único conselho — é bom manter uma boa relação com as sogras, porque os pais precisam eventualmente descansar da criança, sair para jantar uma noite, tentar sorver um pouco o velho ar de antigamente que não voltará jamais.”
E pensar que freqüentei o curso de pais, junto com minha esposa, então grávida. Nós, pais devotos, ouvindo tudo atentos – a descrição do Tezza é exata. Além do importante conselho sobre a relação com os sogros, que a mim foi dado também, lembro-me da simulação do banho, na qual fui chamado a tomar parte, cabendo o papel do bebê a uma boneca velha.
Para o pai, os instantes que antecedem o parto são inesquecíveis. Vivi o momento e, por isso, posso dizer que o torvelino de pensamentos conflituosos foi circurgicamente descrito pelo autor.
A ele, meus parabéns.
O Tezza é bom mesmo. Lembro-me quando li o primeiro, Juliano Pravolini ((salvo engano de alguma letra), fiquei maravilhado com a mistura de ingenuidade e maldade do personagem principal. O livro trai uma certa incipiência na construção de personagens e de enredo, mas já mostrava o potencial do Tezza, o que se confirmou pra mim com o seguinte (na minha lista, não sei se na ordem de publicação), Trapo, que mostra um autor já no domínio da técnica romancesca.
Depois disso, A suavidade do vento, Breve espaço entre cor e sombra, O fantasma da infância (de que gostei menos…), só confirmaram um autor interessantíssimo.
Não li O fotógrafo, de que já tive boas referências. Vou ler esse ai recomendado.
Taí, o Tezza é um autor que merece mais reconhecimento e vendas, óbvio.
Boa dica, Sérgio…
Agora a Record vai lançar livros de bolso, sucessos do passado pretérito; deu no PublishNews outro dia. Tem outra grande também que pretende fazer isso.
Sérgio,
Não sei se você irá se lembrar de mim: organizamos, no ano passado, a semana “A palavra escrita está em crise?”, aqui no UnicenP, em Curitiba. Sabe, para a família (sou sobrinho do Cristovão), é difícil um distanciamento emocional do livro e comentei com amigos que minhas opiniões sempre seriam muito suspeitas. Agora, com as primeiras impressões da crítica, já começo a perceber que não penso muito diferente do que você e vários outros jornalistas estão escrevendo e sentindo: “O Filho Eterno” é um livro especialíssimo. Se quiser uma opinião de difícil isenção, afirmo que poucas vezes pude experimentar na minha vida de leitor algo com uma força narrativa tão intensa. É o livro mais diferente do Cristovão – quem leu a obra anterior não deve se basear muito nela para avaliar. E, para mim, é certamente o melhor livro dele.
Abraços,
André Tezza
André: claro que me lembro, aquela palestra no UnicenP foi um prazer. Quanto ao livro ser o melhor do homem, mesmo não conhecendo a obra de Cristovão Tezza tão bem quanto você, tendo a concordar. Um abraço.
Sérgio,
Em tempo: o Christian, que aparece como o vizinho, no final de “O Filho Eterno”, é o mesmo Christian que saiu para jantar contigo depois da palestra… Ele é vizinho do Cristovão e meu amigo desde os tempos de faculdade.
Abraços! André
Então Curitiba é a cidade dos escritores catarinenses com excelentes livros “memorislistas”. O outro é Roberto Gomes, com seu “Todas as casas…”. Pena que ninguém leia.
Acho o Cristóvão ótimo. Mas tenho até receio de que esse livro, pelos poucos comentários que li acima, corra o risco de ser lido – e valorizado – mais pelo tema (se descobrirem que pode ser “pessoal”, sai de baixo), do que pelo livro mesmo.
Como se sabe, os escritores, hoje, só fazem sucesso se forem, como pessoas, cidadãos, alguma coisa especial: paraplégico, gordo, artista, prostituta etc. Tá feio.
Ah, é, Sérgio? Então quer dizer que em Curitiba você sai pra jantar com os seus fãs, né?
Magoei…
Já estava de olho no novo romance do Cristovão Tezza, em compasso de espera: soube pelo site dele que sairia no final de julho. Desde Trapo, acompanhei toda sua obra: A suavidade do vento, Juliano Pavolini, O fantasma da infância, Aventuras Provisórias, Uma noite em Curitiba, Breve espaço entre cor e sombra e O fotógrafo (confesso que estou em falta com Ensaio da Paixão). Para mim, trata-se de um dos maiores escritores brasileiros vivos. Ler seu texto é vital para mim. Aliás, ficou marcada na memória a entrevista que fiz com ele para o jornal que editava na época da faculdade, em 94. Lembro nitidamente da alegria com que fui recebido em sua casa, e de sua curiosidade por saber como aquele leitor do Rio de Janeiro o havia descoberto.
A entrevista acabou ficando pruma segunda visita, já que naquela tarde deixar a conversa correr livre foi um movimento irresistível. Lembro bem do seu filho, de olhar curioso e gentil, que logo perguntou se ele não ia oferecer uma cerveja ao visitante. O que provocou no pai um comentário muito bem humorado, algo como “puxa, ele diz isso pra todo mundo que me visita, assim vão pensar que eu vivo bêbado”.
Meu prezado escritor, espero não estar cometendo uma indiscrição. Gostaria apenas de partilhar um momento que pra mim tornou-se inesquecível. E voltou com força quando descobri o tema do novo romance desse escritor que tem entre seus fãs o próprio Dalton Trevisan. Logo pensei comigo, “porra, catarse pouca é bobagem”. E apesar de aparentar uma novidade em sua obra, não me estranhou tanto a coragem. Porque o que sempre me atraiu no texto do Tezza foi a convicção com que ele se entrega ao fazer literário. Sua literatura ensina que é preciso ter coragem para se despir e exorcisar os próprios demônios.
Esta semana fui numa livraria apenas para ver e folhear “O filho eterno”. Cheguei a ler uns trechos e fiquei na dúvida se seria ficção ou memórias. Lendo seu belo texto, Sérgio, confirmou-se a minha suspeita: óbvio, é literatura!
Antes de ler este romance, já me vi aplaudindo de pé a escolha do título, coisa de artesão, de quem sabe pesar cada palavra e seus significados variáveis.
Não li, mas digo sem medo de errar: pelo conjunto da obra, Cristovão Tezza merece cada prêmio que recebeu e que ainda não recebeu.
Caraca, mandei “exorcizar” com “s”. Deve ser o adiantado da hora. Foi mal, aê!
Ele deve ter bebido na fonte do Kenzburo Oe. Não que isso seja demérito. Vamos ler e ver.
Sergio,
Valeu a dica, fiquei interessado nesse livro. Ainda não checia o autor, ao que tudo indica parece ser um bom investimento.
Por falar em país e filhos, Sérgio, você conhece um autor japonês chamado Kazuo Ishiguro? Ele tem um livro chamado “Não me abandone jamais”. Não ouvi falar muito dele, mas é algo muito parecido com o livro de Tezza, pelo menos eu acho que sim.
Você conhece o livro do japa?
Abraços…
Digo, “ainda não CONHECIA o autor”…
ola.
Nao conheço o cidadão.
Mr Writer, não li esse livro do Ishiguro – um autor britânico, aliás, que escreve em inglês. Embora tenha nascido no Japão, mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos de idade. Mas o parentesco japonês de “O filho eterno”, reconhecido pelo próprio Tezza na entrevista que eu linkei, é com Kenzaburo Oe mesmo, como alguém já destacou acima. Um abraço.
Prolixo. Poderia cortar a metade e flexionar mais o ponto de vista– o texto padece, em menor grau, da “self-absorption” que compromete a literatura no Brasil esses dias.
Além disso, “súbito, a porta se abre e entram os dois médicos (…)” é desnecessariamente dramático. Bastaria descrever a situação e o leitor intuiria a seriedade daquele momento. O texto melhora, vale a pena clicar no “leia mais”, sobretudo pelo penúltimo parágrafo.
O maior mérito do texto, a meu ver, é a sensação de desnorteamento, do nó na garganta a muito custo suprimido pelas lembranças rápidas que ocorrem ao narrador e resultam em parágrafos longos, desarticulados pela força demolidora da notícia.
Textos sobre autores que se deparam, em suas vidas pessoais, com perdas e dilemas familiares costumam gerar livros muito incisivos, vide o já citado Menina Sem Estrela.
Um textos que mais me comoveu é o início do “Afeto que se Encerra”, do Paulo Francis, em que ele conta sobre a morte da mãe em decorrência de uma complicação pós-parto.
Há tb um artigo muito contido e emocionante do Diogo Mainardi sobre o filho, que tem paralisia cerebral se não me engano, e a quem ele compara a um super-herói.
p.s.: o Never Let me Go, do Kazuo Ishiguro, não tem nada a ver com o tema do livro do Tezza.
Ô, vejabem, não é com o Ishiguro..é com o Kenzburo Oe…mas desenvolva aí uma tese bacana, erudita sobre isso, vai….não deixe barato, cara!
Odicleuso, por favor preste atenção, tanto quanto isso seja possível a suas faculdades, e leia o comentário acima do Mr.Writer de 11:57.
Ah, neimmm…. desenvolva a tese ai, vai….
Rá, rá, rá.
Cada comentário, um flash. Adoro quando duas bibas se estapeiam. Muito chic.
Bemveja, o texto do Mainardi a que você se refere é muito bom mesmo. A comparação, no entanto, é com um búlgaro (“Meu pequeno búlgaro”, Veja, 09-05-2001).
Olha, eu recomendo muito mesmo “Não me abandone jamais, do Ishiguro. Resenhei esse romance pro Rascunho (se alguém se interessar, o texto está no meu site). Não acho, contudo, que tenha a ver com o livro do Tezza não…
Sérgio, mais uma vez agradecido pela dica e pelos esclarecimentos.
Abraços respeitosos.
Marcelo Moutinho,
Obrigado também, ouvi por alt sobre esse livro e anotei o nome do autor e do título, mas não pude conferir mais nada sobre ele…
Obrigado.
Só para esclarecer: o tema do Tezza (filho deficiente) é o mesmo tema do excelente “Jovens de um novo tempo: despertai.” de Kenzaburo Oe. Nesse também há um acerto de contas entre o pai escritor e o filho portador de deficiência. Esse eu li. E é ótimo.
Se não me engano o livro de Ishiguro é sobre clonagem humana.
Cara Ana Z., obrigado pela dica, na verdade ao que parece ele escreveu bastante sobre o filho, até antes dele nascer. O texto sobre o “pequeno búlgaro” também é muito comovente.
A coluna que eu tinha em mente chama-se “Uma metáfora perfeita” (ele compara o filho a um homem do futuro, preparado p/ viagens espaciais a la Capitão Kirk em Star Trek) e está disponível em
http://veja.abril.com.br/240702/mainardi.html
Obrigada pelo esclarecimento, Benveja, e pela generosidade do link – o “Uma metáfora perfeita” é um belo texto. Desculpe a confusão.
Um abraço,
Ana
Saint-Clair,
Se você faz tanta questão de jantar com o Sérgio arrume um tio escritor de quem ele gosta.
Não é bairrismo.
Caro Sérgio, o Tezza é bom demais, merci pela dica. E também pelas dicas de blogs e sites bem interessantes, como o da Ana V, por exemplo. Apesar de às vezes rolar um certo “estranhamento” entre alguns leitores, acho que alguns blogs, como o seu, criam uma comunidade de leitores bem antenada e tornam a literatura bem viva e dinâmica. Que bom!
Tezza é sempre um baita escritor, abs Raimundo Carrero
Ainda não li nada do Cristovão Tezza e também não o conhecia. Mas assisti uma entrevista hoje pela manhã 01/09/2007 as 05:30 hs na Globo News e fiquei maravilhada com ele. Portanto irei nesta segunda adquirir o Livro pois estou muito curiosa para ler. Trabalhei durante 08 anos como professroa de crianças surdas. Depois enviarei meu comentário sobre o livro que antecipadamente acho que deve ser maravilhoso.
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Sérgio, desculpe-me pelo contato tardio – só hoje tomei conhecimento do seu blog: não vou lançar mão de elogios porque ambos sabemos que são desnecessários.
Sou um frequentador assíduo de sebos, principalmente por causa da grana curta, e nesta semana comprei Trapo e Juliano Pavolini, do Cristóvão Tezza. Já os li. E estou economizando pra comprar O filho eterno – na livraria, obviamente.
Por falar em compra, os seus livros ainda estão em catálogo?
Vou garimpar as livrarias de Londrina. Talvez os ache.
Um abraço.
Caro Athayde, obrigado pela mensagem. Sim, todos os meus livros ainda estão em catálogo. O que não quer dizer que seja fácil encontrá-los em livrarias, cada vez mais dedicadas apenas a lançamentos recentes. O mais novo, “As sementes de Flowerville”, que ainda não completou um ano de lançado, ainda se acha por aí. Os outros estão naquela fase em que só a livraria virtual salva. Um abraço.
Cinco demio may demio Cinco may
http://www.lib.hcmut.edu.vn/forum/viewtopic.php?t=217
sobre o texto do livro:
UFA!!!!
ESTOU SEM RESPIRAR.
UFA!!!.
O que Cristovão Tezza escreveu, é extremamente difícil. Só um grande escritor ( e homem) enfrenta honestamente um filho, qualquer filho. Durante a leitura ( não conhecia o livro) não consegui escapar do discurso implacável do narrador, que é inteligente e culto, mas ainda imaturo; Também perdi o fôlego! Sou um leitor comum e parei aqui por acaso . E para minha surpresa, fui nocauteado por um texto bonito, doloroso e raro. Fui convencido. Comprarei o livro. Sérgio Rodrigues, seu blog é inteligente e diferenciado. E o senhor escreve muito bem. Obrigado.
Cordialmente:
Alexandre.
Estou paralisada: o estilo tipo”fluxo de consciência”, os fatos, as escolhas lexicais, a voz narrativa…O FILHO, AMÃE, …Nossa Quero ler, sofrer, entender e transformar-me… em alguém melhor, é claro. Conhecia TEZZA apenas como autor dos livros de PRATICA DE TEXTOS que fazem parte da bibliografia dos cursos de leitura e Produção de Textos. Preciso ler essa obra.
Estou deslumbrada! A honestidade com que o autor descreve os sentimentos de um homem, que diante do filho “mongoloide” inicialmente nega-se como pai e esposo, é realmente impactante!!! Entrar em contato com o que de fato ocorre, descrever sensasões e emoções, assim, de forma nua, crua, direta, é quase tão difícil quanto sofrida. Fui completamente convencida. Vou comprar o livro. Selma
Eu estava fazendo uma pesquisa sobre tezza , para estudo de vestibular , e nossa , amei ler oquarto capítulo de “O filho eterno” , quero ler as 222 paginas , nossa leitura que me prendeu a atenção. josiane
Declaradamente o “pai” não deseja esse “filho”. Na verdade esse pai não deseja filho algum. Ao menos, não nesse momento. Eis o subtexto do romance de Tezza. Dramatizar a “inconformidade” com o ocorrido, emprestando-lhe um relevo que talvez não exista, relativizando-o, (como se fosse possível relativizar um fato), tira muito da força (que em
ficção chama-se verossimilhança. Não confundir com lição, mensagem, catarse, etc) do romance. Mas parece que o gênero romance está mesmo morto. Então é preciso encontrar outra “rubrica”.