Antes de designar a venda ilegal de favores por representantes do poder público, corrupção é deterioração, decomposição física, apodrecimento. “Corrupto” vem do latim corruptus, particípio de “corromper”: é o corrompido, o podre, o que se deixou estragar.
Como se vê, nossa linguagem condena a corrupção com uma veemência muito maior do que seria de esperar numa sociedade inclinada a pagar a cerveja do guarda sem pensar duas vezes. Pior: a palavra pode nos induzir ao erro quando dá a entender que a prática é uma espécie de acidente ou queda, desvio lamentável num caminho feito para ser reto e solar. E se ela estiver mais próxima de ser um sistema?
Publicado no “NoMínimo” em 27/5/2005.
3 Comentários
Teríamos um Leviatã movido a 10%.
Há algo de estranho no reino da Dinamarca…
Pensando na palavra: talvez não condenemos o ato. Afinal, deteriorar-se é o destino natural de todos nós. Estamos destinados à corrupção?
Por favor, me cremem.
Vinícius Antunes