Yankees, go home! Hoje usada indiscriminadamente, e muitas vezes com sentido negativo, como sinônimo de nativo dos EUA, yankee é, curiosamente, uma das palavras mais misteriosas da língua inglesa. Ninguém sabe de onde veio, embora ao longo da história não tenham faltado teses etimológicas – algumas cômicas.
Acredita-se que, de início, yankee (que aportuguesamos com a grafia “ianque”) era um termo usado pejorativamente pelos holandeses de Nova York para designar os habitantes de Connecticut. Em seguida, os colonizadores britânicos o adotaram como sinônimo de qualquer colono americano. Em sinal de desafio, mais tarde foi o pessoal da terra que reivindicou orgulhosamente o nome, num percurso semelhante ao cumprido pela palavra “brasileiro”, que de início também tinha conotações depreciativas. Hoje, os dicionários nos informam que o sentido mais restrito de “ianque” é habitante da Nova Inglaterra, na região Nordeste dos EUA, que inclui entre outros o referido estado de Connecticut. Na Guerra de Secessão, porém, ianques eram todos os nortistas – que venceram. Isso significa que, numa das acepções restritas da palavra, o texano Bush não era exatamente um deles. Mas faz tempo que qualquer americano é chamado de ianque. Confuso? Ainda não vimos nada.
Segundo o Merriam-Webster etimológico, em que foi baseado o parágrafo acima, já se acreditou que yankee viesse do apelido de um fazendeiro de Massachusetts, Yankee Hastings, famoso por usar constantemente a palavra como expressão de contentamento; da palavra Cherokee eankke, “covarde”, que, verificou-se depois, nunca existiu na língua Cherokee; de uma tentativa dos índios de pronunciar English; das gírias britânicas yankie, “mulher decidida”, e jank, “merda”; e até do persa (!) janghe, “cavalo veloz”. Há muitas outras teses, a mais respeitável delas envolvendo um pirata holandês chamado Yankey, ou melhor, Jan Kees, que se pode traduzir como João Queijo. Mas chega. Essa breve lista basta para deixar claro que estamos diante de uma tremenda confusão.
Publicado no “NoMínimo” em 7/3/2007.
10 Comentários
Que pena! Gosto tanto desta parte… Teria tanto para falar… desfaria toda a confusão. Com certeza.
Mas respeito.
Que venham muitas…
Tô de ^^ ( rsrs )
Olhar pode, né Sérgio?
Obrigada. ( ^ ^ )
Já li duas vezes. Muito legal.
Mas o Bush é de Connecticut.
Remo, na certidão sim, mas Bush se mudou pequeno para o Texas, cresceu e fez carreira lá. Difícil imaginar alguém mais texano.
Oi Sérgio,
um pequeno adendo… Queijo em holandês é Kaas. Kees é apenas um nome próprio, apelido de quem se chama Cornelis (Cornelius). O mesmo se dá com Jan, que é o apelido de quem tem o nome Johannes.
Muita gente tem o nome de registro “latinizado”, mas acaba sendo conhecido pela versão “holandeizada”. Cornelis também pode ser conhecido por Corneel, Cor, Corné. Johannes, por sua vez, também pode ser chamado de Johan, Joop, Janus ou Hans (este último eu também não conhecia a origem…)
Antigamente na Holanda (meu sogro tem uma árvore genealógica de mais de 10 gerações), o sobrenome não era nada mais que o nome do pai. Alguns continuam assim até hoje.
Abraços aqui da Holanda!
Ana Paula.
Ana Paula, obrigado pela mensagem. O Merriam Webster registra também, como possibilidade, o diminutivo de Cornelius que você cita. Mas não descarta a possibilidade de que Kees fosse uma variação dialetal frísia de Kaas, queijo. Ou as duas coisas simultaneamente, como costuma ocorrer com os fatos da língua. Um abraço aqui do Brasil.
A história que ouvi diz que “Jan” era um nome ou apelido muito comum entre os primeiros colonos holandeses no Novo Mundo. A segunda leva de colonos, vinda da Inglaterra, já contava com algumas famílias mais abastadas, que consideravam esses primeiros colonos primitivos e caipiras. O apelido pejorativo “Yankee” ao pé da letra poderia ser traduzido como “Joãozinho” mas tinha o significado de “jeca”.
NPC 26 - A dominação cultural dos Estados Unidos | Na Porteira Cast
minha monografia também envolve “holandeses e yankees” e como fonte de pesquisa, vou usar essa informação.