PARIS REVIEW: O senhor leu “O código Da Vinci”?
UMBERTO ECO: Sim, sou culpado disso também.
PR: Esse romance parece um subproduto bizarro de “O pêndulo de Foucault”.
ECO: O autor, Dan Brown, é um personagem de “O pêndulo de Foucault”! Eu o inventei. Ele tem as mesmas fascinações dos meus personagens – a conspiração mundial de rosa-cruzes, maçons e jesuítas. O papel dos Cavaleiros Templários. O segredo hermético. O princípio de que tudo está interligado. Suspeito que Dan Brown nem exista.
Essa é a parte mais divertida da entrevista de Umberto Eco à “Paris Review” (em inglês, acesso gratuito à primeira parte). Gostei de saber que o livro de Dan Brown parece um subproduto daquele romance decepcionante que Eco lançou depois do ótimo “O nome da rosa”. Se o original já era duro de engolir, “O código Da Vinci” não me pega mais. (Ou será que, aliviado da carga de pretensão que verga o livro do escritor italiano, ele pode ter ficado até mais simpático? Eis um mistério que prefiro não investigar.)
75 Comentários
Caro Sérgio,
Realmente, “O código Da Vinci” é um pastiche da obra de Umberto Eco – que também é muito chata, cujo final tem a mesma velocidade dramática.
Mas, como dizem os entendidos, é muito difícil manter um alto padrão literário quando se tem uma extensa obra. Em todo caso, o que mantém o escritor italiano em evidência é sua fina ironia.
Até concordo que “O pêndulo…” não seja isso tudo, mas um Eco mediano ainda assim é…bom.
Li dois comentários desfavoráveis sobre o romande “O pêndulo de Foucault” e discordo deles. Será que não perceberam a fina ironia do autor ao se referir aos Rosacruzes, Templários modernos, Maçonaria e outras instituições que se dizem herdeiras de segredos herméticos?
Sérgio, meu caro, criticar sem ler? Não espere “Literatura”, ou grandes conjecturas intelectuais, mas vale a diversão. Lemos também para nos divertir, não?
uau!!!!!
Não me lembro de ter feito uma crítica, Claudio. A não ser, claro, a “O pêndulo…”, um livro que me pareceu fraquíssimo, uma mistura malfeita de macumba para turista com tese de doutorado. Quanto ao Dan Brown, não o critiquei nem criticarei. Me limito a exercer o sagrado direito à não-leitura.
Não sei você, meu caro, mas eu leio principalmente para me divertir. Só que cada um se diverte ao seu modo, certo?
Se U. Eco é o pai Dan Brown, – Mchael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln – são mãe -(virou bacanal) autores do livro Santo Graal e a Linhagem Sagrada.
OPêndulo é bom, esse negocio de de linhagem Merovíngia descendencia de Maria Madalena é uma grande viagem, pois os merovinveos não passam de descendentes de bárbaros SIGISBERT IV – 884, pós Carlos Magno
Bingo! Sempre disse que que “O código” era chupado de “O Pêndulo”! As pessoas não me ouviam, talvez porquê não conseguiram passar das primeiras e pesadas páginas do livro do Eco. Mas vou discordar quanto à qualidade das duas obras : “O pêndulo de Foucault” é otimo, tão bom quanto “O nome da Rosa”. Já o “Código Da Vinci” não deixa de ser um bom livro para adolescentes, um bom roteiro para filme de mistério e ação.
Creio que estejam criticando antes de ler. Não é nenhum Shakespeare, mas é uma boa história policial. Tem ritmo, tem enredo. Ô gente, não custa passar os olhos, nem que seja só para poder espinafrar melhor.
enfim algo para mostrar como fomos panacas em aceitar o liuxo chamado dan brown
Gosto não, se discute, mas vou ler esse O Pendulo, para comparar, algumas pessoas gostam de leituras leves outras mais pesadas, OK.
Não gosto desses livros feitos para parecerem filmes… nem gosto dessas teorias de conspirações cristãs.
E Natasha, nós quem cara pálida? Eu não faço parte desse grupo que aceitou isso. Dan Brown ocupa lugar de honra na minha prateleira de “Não li e não gostei”. Como disse, não sou nem um pouco chegado nesses livros já feitos para se tornar filme. Mas também não estou dizendo que é ruim, só não faz meu estilo, nem de longe, mas quem quiser que leia e se divirta com isso.
Dan Brown para mim é o Grand Thief Auto dos escritores… Muito falado, mas que a mim, nem de longe interessa.
Sérgio, “O Pêndulo de Foucault” não é minha obra favorita de Eco, mas é um belo trabalho. Chamá-la de “uma mistura malfeita de macumba para turista com tese de doutorado” é um tanto quanto etnocêntrico, a parte de “macumba” da obra está longe de ser o seu eixo.
O ar de “tese de doutorado” já ocorre nos personagens medievais de Eco, o que se esperar quando Eco cria seus editores intelectuais malucos?
“O Pêndulo de Foucault” é certamente um livro muito intelectualizado, oferece uma série de questões sobre o conhecimento e as suas limitações, foi alvo de grande debate entre críticos e filósofos. “Decepcionante” talvez para quem não o tenha compreendido.
Esse tipo de “crítica” é digna de leitores de Dan Brown.
Que belo comentário, Dênis. Não gostar do “Pêndulo”, considerá-lo um romance literariamente tosco, inverossímil, cheio de personagens bidimensionais, no limite do constrangedor, é coisa de gente intelectualmente limitada. Afinal, “críticos e filósofos” acharam muito bom. Parabéns pela independência intelectual, meu caro.
O problema, claro, não é o ar de tese de doutorado, que em “O nome da rosa” cai muito bem. É o “malfeito”.
Acho deveras inútil um post com a função de criticar, mesmo que, talvéz, merecidamente, uma obra que o crítico sequer tomou conhecimento. Sérgio Rodrigues decepciona como jornalista ao se apropriar dos achismos de uma sociedade hipócrita que critica, compra e se delicia de forma velada de prazeres antes criticados. E acaba decepcionando também como escritor, se apropriando de sensações de terceiros, vazias de conteúdo para ele mesmo, para imprimir algum sentido no que escreve… tão vazio quanto a sensação antes dita. Resumindo: chegou mais um pra falar sobre o que não sabe!
Bruno, tomara que você tenha lido o post com desatenção, porque não entendeu nada.
Basta dizer: não gostei, não me interesso. Tem que esculhambar com o trabalho dos outros! Escreva um livro e publique, assim beberá do próprio veneno!
só li o código da vinci pq já lera o pêndulo. O código é superficial e certamente inspirado no pêndulo; arma-se de todas as facetas para ser um roteiro de cinema holywoodiano. e é só. uma colagem (e aí pode até ter outros livros inspiradores). o pêndulo e umberto eco são densos, intelectualizados. umberto, uma mente realmente privilegiada. melhor ler algo de alguém que te desafia a pensar!
Tudo começou com os cortes de orçamento em Bolonha. O escritor precisava de dinheiro para pagar o aluguel de sua Villa da Toscana, que havia sido uma vinícola mas foi desativada para que ele tivesse a paz de que precisava para desenvolver teorias semióticas. Só uma coisa poderia salvá-lo: a literatura barata. Mas pegaria mal, um grande professor, um filósofo, um lingüista, um latinista, um romancista de renome. Foi então que, lendo as últimas provas do romance que estava para lançar, ele entendeu onde estava a salvação: na literatura barata. Foi um trabalho febril. Criou um pseudônimo, passou a escrever em inglês, contratou um borra-botas para se passar pelo tal novo autor americano em palestras ao redor do mundo (o cachê, fifty-fifty, eles combinaram). Faltava o enredo: novamente, o romance que já estava no prelo saltou para salvá-lo. Um dos personagens tinha todos os elementos de um thriller de sucesso. Morte, traição, história, arte, a Igreja corrupta, passeios por Paris. Assim nasceu o Código Da Vinci.
A Revista Entre Livros, número l e vl – ano l- respectivamente, na coluna do escritor Umberto Ecco, o livro “O Código Da Vinci” é comentado, de maneira distinta-origem e qualidade literária. Quem se interessar, e não já tiver lido as revistas, verifique os textos.
O mistério agora é descobrir de onde saiu o personagem Umberto Eco.
Leiam ” A farsa Da Vinci”! (Mark Shea e Edward Sri, Quadrante, 2004). Todos os erros do abjeto livro de Dan Brown são expostos com maestria para o leitor!
Diego: excelente. Abs.
Lendo alguns comentários parece que dizer “eu não gosto do Dan Brown é mais ofensivo do que dizer, por exemplo, “não gosto do Borges” ou “acho Rimbaud um babaca”. É a ditadura da mediocridade!
Essa dinâmica troca de posts está mais para patrulha ideológica do que para crítica literária. O fato é: Dan Brown vendeu uma barbaridade. Fenômeno? Sim. Cadê a análise fundamentada? O problema do universo cult é o preconceito. Sem conhecer, não se pode criticar.
Luiz: a Quadrante é a editora da Opus Dei, o que já o torna suspeita. E o termo “abjeto” é muito forte para um livro apenas ruim.
Sim, o Dan Brown é um fenômeno: um fenômeno que soube reunir com sucesso uma série de clichês e chavões. Neste sentido Dan Brown é um mestre. Um mestre da indústria literária. Análise fundamentada? O Código Da Vinci inaugurou na época uma novo “gênero literário”: uma série de análises, algumas bem fundamentadas, sobre as furadas do livro. Agora, cada um lê o que quer e o que consegue entender.
Otto concodo com você, o Dan Brown é um escritor medíocre, a maioria dos comentaristas não se aprofuntaram em Historia – o livro só presta para enredo de filme idiota. O Dan Brown é o Pulo Coelho europeu – e eu ainda sou mais o Paulo Coelho.
“O Nome da Rosa” é uma ficção bem amarrada, nele Eco desfila toda a sua erudição de forma leve e irônica. A maldição do livro seguinte se dá n'”O Pêndulo”. Bem complicado, trama truncada, maçante, com alguns lampejos aqui e ali, como as aparições do Saint-Germain, mas frustrante em relação ao sucesso anterior.
“O Código Da Vinci”é bem inferior a “Anjos e Demônios”, que o antecede, mas sua suposta heresia fez com que fosse publicado antes no Brasil. As duas tramas são mirabolantes e rasas, mas valem como entretenimento. A obra de Brown não é literatura, é diversão somente, e bastante institucional. Eco, sim, é um iconoclasta, mas “O Pêndulo de Foucault” não gerou tanta polêmica, possivelmente por seu hermetismo.
Pinguim, co Pêndulo é diferente tem de bagagem para ler e para comentar, o U.Eco vai fundo em várias vertentes das crenças, e com uma fina ironia não é para qualquer um – tem muita genta falando bobagem sobre o Pêndulo.
Corvo, existe ficção boa e ficção ruim. “O Nome da Rosa” também exige do leitor mas é um bom livro, e teve a felicidade de agradar a todo tipo de público. “O Pêndulo”, não. Nele, UE mostra-se bem pedante, inebriado pelo êxito do primeiro romance, e preocupa-se mais em exibir um saber enciclopédico que com o enredo, e se perde no caminho. É melhor que “O Código”, claro, mas isso não quer dizer muita coisa.
Caro Pinguim, em parte eu concordo com você, mas quando se trata de temas medievais a coisa fica mais na ficção, falta muita documentação a História é montada a partir de documentos e de remendos.
Meu Deus! Taí algo que não sabia: Umberto Eco é religião e seus seguidores, legião, “quod multi sunt”, para adaptar a frase das Escrituras. Fugirei d’O Pêndulo de Foucault, senão acabarei me afogando em águas tão profundas…
Zurra, zurra… Não é que O pêndulo de Foucault seja pretensioso, você é que não entendeu lhufas das piadas do livro.
Quanto intelectual por aqui, não?
Ou será que vomitam o que ouvem falar por aí?
Melhor, adotam a postura “do contra”, rebuscam com algumas palavras “bacanas” e… BINGO!
Literatura é diversão também, minha gente!
Nem todo livro precisa (nem deve) ser pretensioso.
Há livros divertidos, revolucionários, libertários, superficias… mas não há os ruins.
Bem e mal, ruim ou bom… são apenas perspectivas, lapso temporal, gosto, capricho, ilusão.
Alguém já leu “Baudolino” ? Nesse livro há uma ironia exagerada, com situações absurdas sobre Templários, Santo Graal e tudo o mais. É bastante interessante, e acima de tudo, divertido. Porque, diga-se de passagem, eu leio para me divertir, incluindo nisso a leitura dos posts do ” todoprosa.” Sobre o Código, prefiro não falar nada, embora não veja nenhum problema em alguém criticar um livro que não leu…é muito divertido.. experimentem… dá uma sensação enorme de liberdade…É só chegar numa roda de discussão ( as das redações são as melhores nesse caso) e dizer bem alto: “Não li e não gostei”. “Não conheço, mas pelo nome deve ser uma merda…” É muito divertido mesmo…
“Sou culpado disso também”. Muito boa. Infelizmente, sou culpada de ter lido o malíssimo Da Vinci. Mas Dan Brown nunca mais.
Pedro David: li Baudolino, mas creio que eu estava em uma fase meio “garota enxaqueca”. Muita gente já falou para eu ler novamente e largar de ser ranheta. A verdade é que comprei logo que foi lançado, mas não gostei nem um pouco. O que você chama de “ironia exagerada” foi o que me irritou, eu tinha a impressão de que podia ver uma mão muito pesada de autor ali, dava para enxerdar o Eco rindo e se auto-congratulando das próprias tiradas espertinhas. Mas admito sem dificuldade que pode ser pura má vontade minha.
eu fiquei meio sem entende…pq não li o livro “Codigo da Vinci”…mas não sabia q Dan Brown na verdade era Eco..
Nunca consegui ler “O nome da rosa” até o fim, nem o filme, é muito chato. Li o “Código” e achei interessante, bem costurado, intrigante. Alguns escritores são muito pretenciosos. Outros, apenas escrevem.
O Pêndulo não é um romance de aventuras, nem um romance de personagem – é um romance sobre a interpretação hermética do mundo, um romance de idéias e sua influência no “real”. É, para mim, o melhor livro de Eco, li de capa a capa umas quatro vezes.
Sheyla, a maior diferença entre autores como Eco e Brown não é a pretensão, mas o quanto cada autor é cioso com a qualidade do texto.
Caro Sérgio, me pareceu que, através de sua ironia sempre fina, você preconceitualizou o livro de Brown. Claro, um dos direitos do leitor é não ler: o que talvez equivaleria a um certo “suicidio do leitor”, já que leitores se realizam na leitura. Lemos por diversão, formação e informação. No meu caso, penso que seja o seu também, me divirto sempre. E leio o que gosto e o que não gosto também (até para saber porque não gosto)…
Gostei BASTANTE do “pêndulo de Foucault”, achei uma leitura envolvente e interessante; que bobagem isso, de “escrita pretensiosa”, pretensiosa é ESSA CRÍTICA. Já vi criticarem até Seinfeld nessa base…o que sempre me pareceu coisa de quem não entendeu, e magoado com referências que a obra faz a coisas que o “crítico” não conhece, o limitado leitor a qualifica de “pretensiosa”. Pretensioso é o saber inócuo, vazio, imposto; o que é citado na história cumpre uma perfeita e coerente função no contexto. Fora que isso de chamar o Eco de pretensioso é o clichê supremo…
Dan Brown é, evidentemente, leitura-chiclete, de onde até pode advir algum prazer, tal e qual adviria de um chiclete, mesmo. O truque, amiguinhos, é ler o máximo que se pode, não o MÍNIMO.
…agora, quanto à crítica sem ler…waaaaaaaall….
Falemos rapidamente de “O Pêndulo…”: é um livro que talvez Borges gostasse. Mas também é possível que não. Sou suspeito a falar desse livro, que me inspirou algumas idéias aplicadas no meu “SD8”. Apresenta algumas discussões interessantes sobre o uso da tecnologia.
Sobre “O Código…”: o livro é melhor “pipoca” que o filme, sugiro que seja lido de forma desarmada (pois assim até surpreende) e não é sucesso por acaso: lembrando que Geraldo Jordão Pereira demonstrou seu gênio ao comprar os direitos de sua publicação no Brasil por poucos milhares de dolares.
Agora, o que sinceramente não entendo é o porquê do professor Eco se sentir tão incomodado com “O Código”. Sabemos pela imprensa que ele até já se recusou em participar de uma mesa com Brown. Mesmo com a notória influência que os trabalhos de Eco demonstram sofrer da obra de Borges, se vivo, acredito que o argentino jamais se recusaria a participar de uma mesa com o italiano.
Bem, talvez se Brown tivesse sugerido Eco como sua principal influência (e não Sidney Sheldon) a coisa mudasse de figura… Bem, aguardemos o “The Solomon Key”…
p.s.: alguém falou de preconceito e patrulha ideológica contra dan brown.
Cadê isso? Vi aqui preconceito com o Eco.
Assim, pra QUALQUER pessoa que tenha lido mais que 10 livros na vida, ou, vá lá, 10 livros RAZOÁVEIS, não Zíbia Gasparetto, é NÍTIDA a qualidade de um livro escrito com o toque do gênio ou bem escrito. A diferença de um “pêndulo” pra um “código” é que o prazer que o livro bem escrito proporciona é infinitamente MAIOR. É saber contar a história e fazê-lo com arte, não é só contar a história.
Dizer que se critica Dan Brown (de resto, um a leitura agradável, que não incomoda, pois uma história que se move) por preconceito é como não saber diferenciar aqueles Luises Fernandos Veríssimos e Arnaldos Jabores, os Borges de forwards de email dos autores REAIS.
Qualquer um que tenha lido uma página de verdade dos dois autores vê a qualidade maior, nos reais (Eco, Veríssimo) a fuga do clichê, da idéia vulgar e senso comum, do óbvio, a boa e inesperada construção de frases, em comparação com os forwards pobres de espírito e literatura, com os livros-chiclete.
Nada contra quem goste dos forwards, mas o fato é que há um mundo além deles. Além de Dan Brown. Como disse George Bernard Shaw vendo aquele festival de neons coloridos em Las Vegas: “pra quem não sabe ler, deve ser uma coisa lindíssima”.
Muito animado o debate, obrigado a todos pela participação. Um certo patrulhismo à parte, há idéias bem interessantes sendo trocadas aí. Só duas coisas:
1. Ao contrário da calúnia lançada inadvertidamente pelo camarada Claudio, eu NUNCA critico sem ler. Já esnobar, claro que sim. Por que alguém nessa vida finita e sempre minguante seria obrigado a ler Dan Brown ou, aliás, qualquer autor? Prefiro me divertir com Alan Moore – com sua devida licença.
2. Ao pessoal surpreendentemente numeroso que insiste na tecla da profunda erudição – muito mal resolvida literariamente, em minha módica opinião – do “Pêndulo”, uma frase de Tom Stoppard na Flip que não me canso de repetir:
“Não damos prêmios para intenção, mas para realização.”
Abraços a todos. E aos que estão de passagem – apareçam sempre.
Não poderia deixar de comentar…eu odiei O Pêndulo de Foucault! E só terminei de ler por conta da mesma pretensão (filha da insegurança, provavelmte) que eu vi por aqui. Umberto Eco pode ser um erudito e blá-blá-blá, mas não é absoluto e infalível! Como nada neste mundo.
A única coisa bacana sobre ler O Pêndulo.., foi que me dei conta do quão medíocre (e injusta comigo mesma e com o prazer que eu sinto com a leitura) eu estava sendo ao me obrigar a ler algo que não me agradava só porque “ah, é o Umberto Eco”.
E, para quem nunca fez, vai um conselho: achincalhar um livro que nunca leu é uma delícia. Os iniciantes podem começar com Paulo Coelho. Garanto que o prazer é idêntico ao que se tem ao criticar algo que se leu e você ainda não precisa se submeter ao castigo de ler algo que não gosta.
Do debate todo, o que mais me chamou a atenção foi essa recorrente repulsa à erudição. A idéia de que uma pessoa pode gostar de obras bem escritas e densas e, conseqüentemente, desprezar os minutos de prazer proporcionados por uma leitura sem grandes pretensões intelectuais incomoda muita gente mal resolvida.
Pessoal, ninguém é obrigado a gostar de livros “difíceis” (e a maioria da humanidade não tem instrução suficiente para isso), mas há pessoas que conseguem – não por serem melhores, mas por terem estudado o suficiente para conseguir. Concordo, por outro lado, que os letrados não têm direito de cobrar leituras elevadas de quem quer que seja, mas não vi isso sendo feito por aqui.
A obra de Dan Brown não precisa ser limitada por críticas. Ela já tem limitações suficientes. Desculpem-me a sinceridade, mas é evidente que, para atingir tamanho sucesso e conseguir tantos leitores, um livro precisa ser simples. Quanto menos complexidade intelectual, melhor. A maioria da população mundial tem pouca instrução, e fenômenos de massa precisam respeitar certos limites.
Os entusiastas desse tipo de livro deviam entender, contudo, que os Dan Browns não precisam ser literatura, eles não precisam ser admirados por possíveis contribuições artísticas. É outro ponto (além das vendas) em que superam as obras-primas literárias. Não são literatura, mas o mundo os lê com muito mais entusiasmo. É impossível convencer alguém que tenha uma formação razoável de que isso é arte. O bestseller é bom como entretenimento fácil, e isso também é importante. Mas eu, por exemplo, prefiro suprir minha cota de bobagens no cinema mesmo. É mais rápido. (mais rápido do que ler este comentário, provavelmente)
Pelo jeito, muita gente aqui viu o Pêndulo balançando e não resistiu: Foucault!
Pois é, Rodolfo: faz tempo que considero o antiintelectualismo um dos grandes problemas da cultura contemporânea. O outro é o intelectualismo. A maior qualidade desse debate foi que ambos se fizeram representar com uma eloqüência até singela.
…depois que o vocábulo “fenômeno” passou a designar um certo jogador de futebol; depois que apareceu aqui (e não entendi bem a colocação) aplicado ao D.Brown. Mas as discussoes tem sido em torno de qualidade do texto, mais que sobre o enredo. Como nao li nenhum dos livros citados, comentarei os exemplares do trabalho dos dois através da via de “O nome da Rosa” de U.Eco e “Fortaleza Digital” de D.Brown (se não me engano o primeiro livro dele).
O enredo de eco apesar de toda a erudição exibida ao longo do processo de desvelar o mistério do mosteiro apresenta-se bem integrada, coesa. Eco conseguiu fazer um trabalho que julgo titânico, pois sua alma de pesquisador e intelectual ficou cerceada e de maneira parcimoniosa aparecia ao longo da história descrita no livro.
Vale ressaltar que depois dele os romances históricos começaram a ser uma nova vertente de sucesso de vendas. Isso lá pela idos dos anos 80´s.
D.Brown em seu livro começa, o primeiro capítulo, nitidamente como que descrevendo um script. Quando lí o primeiro capítulo foi essa idéia que se formou em minha cabeça. E, de resto não vejo mal nisso. Mas o texto de D.Brown arrasta-se sem humor, e de trancos em trancos chega a pretensão de discutir liberdade individuais (especialmente da informação). Aliás dizem ser este o problema central da história. Acho que o coitado deveria ter lido um pouco de “Os Sete Minutos” e alguns cursos introdutórios de direito e filosofia para dar maior verossimilhança —the real thing— a seu livro.
Logo, comparando os epígonos pelos seus frutos, U.Eco faz muito mais eco qualitativamente no que cocnerne a enredo e texto.
Li Fortaleza digital e gostei muito. No que se propõe fazer, Dan Brown é um excelente escritor. Pelo menos acerta mais do que o Eco, que às vezes é pomposo demais pro meu gosto – como no citado caso do pêndulo que acabou virando penduricalho….
Enfim: feliz sou eu que consigo ler praticamente de tudo.
Sérgio, não me leve a mal (como também não levarei o “calúnia lançada inadvertidamente pelo camarada Claudio”, que é tão forte, quanto despropositado) mas “esnobar” com anúncio é, traduzindo, criticar com estilo (me lembra o “vôo” do Buzz Lightyear em Toy Story).
Isso (é claro) nada tem a ver com intelectualismo ou antiintelectualismo (ambos tremendas besteiras por serem, em suma, antiprodutivos e antiartísticos) mas algo que considero ainda mais pernicioso (apesar de sabermos que tudo, ou qs tudo, no final, é ditado pelas “leis do mercado”): o não vi (ou não li), não gostei; e também a sua contrapartida: o elogio gratuito .
Mas, Sérgio, confesse: leu ou não leu o “CDV”? Folheou, ao menos? 🙂
Essa conversa toda sobre o “Pêndulo de Foucault” é curiosa e muito mais interessante do que as arengas travadas em torno do “Código da Vinci”. Nela, entrevejo um perfil singular de leitor, que é leitor esotérico (não pensem em Paulo Coelho; estou empregando o adjetivo no seu sentido originário, contraposto a exotérico). Umberto Eco compartilha assim a sorte (ou seria sina?) de um James Joyce, de um Ezra Pound: seus leitores, de tão atordoados com jogos verbais, puzzles eruditos, referências pops e brincadeiras metaligüisticas que caracterizam o estilo desses renomados autores, sentem-se como que iniciados em segredos herméticos, que somente poucos iluminados conseguem compreender (ainda que imperfeitamente). Aquele que não consegue penetrar os altos desígnios que se escondem por trás das palavras desses, como direi, novos profetas, esse, sem sombra de dúvida, faz parte da malta de bárbaros, aos quais é vedado o acesso a verdades tão altaneiras.
Claudio, vc fez em em não levar a mal meu comentário. Também não levarei o seu.
Se tudo corresse bem eu teria, pela media do brasileiro, ainda uns 480 meses de vida. Eh pouco pra ler tudo que eu quero. Por isso resolvi assistir o filme. Juro. Quase dormi.
Do Eco li o Interpretacao e superinterpretacao sobre uns dialogos dele com o Rorty. Esse vale a pena principalmente pra quem pensa que pode fazer critica literaria de orelhada.
Saint-Clair,
E o que Don Brown “propoe a fazer”?
Excelente por que meu caro?
Tentei ler Dan Brown uma vez. Parei com três capítulos. Tinha vergonha de ser visto perdendo o meu tempo com algo tão ruim. Tantas e tantas fórmulas que parecia coisa de Syd Field, cada cena estruturada da mesma maneira, em cima de um vazio de informações tenebroso.
Feliz por ter desistido logo no começo. Se ser bom no que faz é criar leitura pop, ele perde de longe para Nelsons Demilles da vida.
nem devemos.
Li Dan Brown e me diverti. Nunca peguei nenhuma doença contagiosa com isso (não gostei de CDV). E leio de tudo, até do que não gosto – O que não é o caso de DB. Minha vergonha é ser flagrado sem estar lendo alguma coisa, mesmo que seja uma lista de compras de supermercado (que ultimamente anda muito curtinha… maldito dinheiro que me escapa…).
Quem sabe o Fortaleza Digital, quem sabe…
CDV jamais. Não bastasse a história ruim, ainda fico imaginando o Tom Hanks de peruca.
Era isso! Parabens sergio,eu sabia q havia lido algo semelhante,e é isso:Dan Brown é uma personagem criada por HE. Realmente o Pendulo de Foucault é a matriz deste besteirol americano,com a diferença que o pendulo mostra quanta besteira pode ser inventada a partir de um simples papelucho de lavanderia! HE é genial, pois coloca em xeque as teorias conspiratorias,seitas secretas,avatares e similares:tudo besteira,produto de mentes perturbadas. Dan Brown, alem de não existir como escritor erudito, é completamente ignorante qto a Historia e Geografia – como todo americano,aliás – o q ficou demonstrado no “código”
nossa como conseguem fala tanta bestera??
os livbivros de dan brown ou seja la quem for são otimos,com mta historia e com teses bem fundamentadas,confesso ainda não ter lido o “pendulo….” mas eu gostei bastante de todos os livros do dan brown.
sou um jovem tenho apenas 18 anos e tenho certeza q ja li mto mais livros do q mtas pessoas nesses comentarios q estão falando mal do codigo da vinci.
na minha opinião ele escreve mto bem lembrando bastante o alexandre dumas.
com mta ação e uma historia q vc não consegue parar de ler.
O Pêndulo de Foucault é, na minha opinião, o melhor livro de Humberto Eco. Irônico, profundo e, tirando o final que achei poderia ser melhor, é um grande livro.
QUEM LEU E CRITICOU “CODIGO DA VINCI” PERDEU TEMPO DUAS VEZES. QUEM LEU E NAO GOSTOU PERDEU TEMPO PRECIOSO LENDO. PARABENS A QUEM PREFERE PAULO COELHO, POIS SABE DIFERENCIAR ENTRE O RUIM E O PIOR. SUGIRO QUE LEIAM VICTOR HUGO, CHARLES DICKENS, MIGUEL DE CERVANTES, DOSTOIEVSKI, MACHADO DE ASSIS, MARK TWAIN, ETC. OU ENTAO COMPREM A COLEÇAO COMPLETA EM DVD DE “O SENHOR DOS ANEIS” E “””DELICIEM-SE”””.
Comentário de Rodolfo — 8/8/08 | 12:09
Foi perfeito esse comentário.
A propósito, prefiro perder meu tempo lendo outros livros e autores a ter que ler algo de Dan Brown… Não sei se é bom ou ser é ruim, só não faz meu estilo, não me agrada, não me desperta curiosidade, não me tira do repouso para o estado de moviento… Prefiro ficar sem ler a ter que ler algo como “Código” de Dan Brown e suas teorias de conspirações da igreja e todas essas besteiras que, pasmem, muitos acreditam…
Se for pra ler algo sobre conspiração, Valis de Philip K. Dick é infinitamente melhor, mais louco, paranóico e divertido. “O império nunca terminou”…
Notas sobre livros e outras coisas legais de 9.8.2008 | Livros e afins
Sérgio, talvez eu tenha feito um comentário demasiadamente rude no meu último post, mas confesso que fui movido pela sua crítica ao trabalho de Eco de igual estatura . Nas linhas abaixo explicarei a razão pela qual a considero assim.
Rafael, comparar Joyce com o autor de “O Nome da Rosa” é um despropósito, há intelectualismo em Eco (o que se esperar de um intelectual), mas hermetismo nenhum. São autores absurdamente diferentes, inclusive em projeto e público.
Reforço a dica do chico sobre o livro “interpretação e superinterpretação”, que além de Rorty há muitos outros “críticos e filosófos” debatendo com Eco (mas do que o gosto, o respeito pela obra surge da sua repercussão, Sérgio).
E gostaria de citar, de cabeça, uma passagem de o “Pêndulo de Foucault”. Será confuso, mas quem se lembrar do original vai entender:
Jacopo Belbo está conversando com certo psicanalista renomado (porém, meio patético) quando ouve deste algo que está intimamente ligado com seus problemas conjugais. Ele tenta confirmar se o psicanalista havia dito isto que ele havia ouvido, ao que ele responde que “jamais havia dito uma coisa dessa”, e depois completa de uma forma bastante estúpida que caracteriza a personagem do psicanalista:
“Se você entendeu isso, é porque era isso que queria entender”.
Eis o cerne do livro. Hermetismo? Intelectualismo? Exibicionismo? Eu acredito que não.
O que muitos repetem como pretensão intelectualóide de Eco, na verdade é a crítica mais contundente ao próprio esoterismo acadêmico que tal autor poderia fazer, nos limites de sua cátedra.
Concordo Dênis: para se entender (que seja…) o romancista, leia-se o ensaísta. “Opera Aperta” (Obra Aberta), de 1962 e “Interpretação e Superinterpretação”, em cima das Conferências Tanner (1990) ajudam. A hermenêutica esclarecerá o tal “hermetismo”.
Ilustrando, uma passagem do segundo:
“Em 1962, escrevi minha Opera Aperta. Nesse livro eu defendia o papel ativo do intérprete na leitura de textos dotados de valor estético […] subestimaram o fato de que a leitura aberta que eu defendia era uma atividade provocada por ma obra (visando sua a interpretação) […] Tenho a impressão de que, no decorrer das últimas décadas, os direitos dos intérpretes foram exagerados…”
Dênis, se é rude dizer que “O pêndulo de Foucault” – quaisquer que fossem as brilhantes intenções de seu autor, das quais nunca duvidei – sofre de insuficiência literária, então sou rude mesmo. Aquilo não funciona como romance, é um engenho capenga. Não falta cerebração, falta arte. Eis o que separa a ambição da pretensão: não o alcance intelectual, a amplitude das idéias ou do vocabulário, mas a máquina ficcional que lhes dá (ou nega) sustentação.
Naturalmente, há quem pense de forma diferente, mas não me parece justificável ser agredido por expressar tal opinião.
Opinião que, de resto, acredito ser cada vez mais dominante em termos de “repercussão” à medida que o livro deixa de ser objeto de críticas doutas e cai no colo dos leitores de ficção, responsáveis pelo destino histórico de qualquer romance.
Melhor ler o Isaías Pessotti, gente…
Dênis,
Não comparei Eco a Joyce ou vice-versa. Apenas acentuei o fato, por mim constatado empiricamente, que o público desses dois autores tem em comum uma certa prentensão à sobreeminência. Como esses dois autores fazem brincadeiras eruditas o tempo todo, eles acabam atraindo um certo tipo de leitor, que é aquele que se sente alçado a um patamar elevado por conseguirem identificar certas referências que o comum dos mortais não consegue divisar. O hermetismo, que é uma característica que J. Joyce fez questão de elevar a alturas “nunca dantes navegadas”, não é o busílis.
De restou, estou fazendo uma generalização. Se não a carapuça não servir, sinta-se livre para ignorá-la.
Taí Rafael, falou e disse!