Seria de imaginar que o rápido despejo da literatura das páginas das revistas comerciais fosse uma bênção para as revistas literárias, especialmente nos ambientes acadêmicos que se tornaram portos seguros para (e mecenas de fato de) escritores cujas obras não vendem o suficiente para gerar receita. Seria de esperar que os leitores leais de escritores estabelecidos promovessem um aumento na tiragem dessas pequenas revistas e que as universidades passassem a enxergá-las sob uma nova luz – não apenas como promotoras do prazer da literatura, mas como promulgadoras de uma nova era de escrita socialmente consciente nesses tempos pós-comerciais. Mas quanto menos comercialmente viável a ficção foi ficando, menos ela parecia se preocupar com seu público, que por sua vez tornou-a ainda menos comercial, até que, como uma estrela moribunda, ela parece à beira de implodir. Na verdade, a maioria dos escritores americanos parece ter esquecido como escrever sobre grandes temas – como se dar a mínima pelota para o mundo fosse algo que ficou esmagado sob a sola da bota do pós-modernismo.
As reflexões amargas de Ted Genoways – editor da “Virginia Quarterly Review”, uma pequena e (cada vez menos) prestigiosa revista literária acadêmica dos EUA – merecem ser traduzidas para o ambiente bem menos profissional da literatura brasileira. Tenho notado que um descaso semelhante, de escritores ressentidos com o leitor indiferente, alimenta por aqui um círculo vicioso que só interessa às hordas do filistinismo. Basta ver os mal-entendidos que costumam cercar a discussão sobre o crescente divórcio entre ficção nacional e “leitores comuns”. Alguém observa que fulano, autor criado no vácuo, não sabe escrever pedrinhas e logo vira um defensor da literatura “fácil”, “vendida”. Mas desde quando fácil é sinônimo de competente? Vendido é o texto que tenta, pelo menos tenta, se projetar além da cabecinha opaca do autor?
Estranho ser tão difícil entender o óbvio. Sim, qualidade literária e sucesso comercial são coisas tão distantes entre si quanto, digamos, sexo e automóvel (embora, como estes, possam se encontrar). Mas não, sustentar que um autor é bom porque ninguém o lê não faz o menor sentido – não mais do que dizer que a caixa registradora é o único crítico literário digno desse nome. A verdade é que no fim das contas, oh mundo cruel, não existe literatura sem leitores – poucos, muitos, mais ou menos – e tentar produzi-la no vácuo gera um volume insalubre de literatura de qualidade inferior.
A saída, já que o leitor anda mesmo difícil de laçar? Aprimorar o laço, não tem outra. Ou que venha o dilúvio.
37 Comentários
“Tratar a escrita como sua alma ao invés de seu sustento.”
Eis o segredo…
“Tenho notado que um descaso semelhante, de escritores ressentidos com o leitor indiferente…”.
Dane-se também o escritor, pois.
Obs. periférica: o Brasil guarda enorme ressentimento contra quem tem algum sucesso. Tudo que faz sucesso é uma merda. Como tenho 52 anos, posso garantir que, nos anos 70, até Tom Jobim era merda.
Abraço.
Milton, não foi o próprio Tom que disse “no Brasil o sucesso alheio é tomado como ofensa pessoal” ?
Sérgio,qual o significado de Best seller?Em todos os rankings(meu Deus como é mesmo que se escreve?) literários,os primeiros lugares são dos mais vendidos.Isto me faz pensar nos filmes…quais são os mais cotados?
Os que dão mais bilheteria! Cansei de comprar livros por indicaçôes “sérias”e depois ficar indignada,querendo meu dinheiro de volta. Sabendo que os bons escritores estão aí.!!
Aprimorar o laço?Ou aprender jogar o laço?Se a leitura for boa,não me importa ser laçada,nem que seja na cucharra!!!
Sempre pensei que as pessoas escrevessem para ser lidas. Mas venho descobrindo um aqui, outro ali, para quem os leitores são um desconforto.
Acredito que, na atual conjuntura, “dane-se o leitor” é justamente o que não pode acontecer, de modo algum. O escritor precisa se reencontrar com o leitor e cabe a quem escreve aprimorar seu trabalho tendo em vista isso. Quem deseja escrever para ser entendido daqui a alguns séculos, nenhum problema, mas para o leitor atual e o sedimento da nossa literatura, acredito que uma reconciliação entre escritor e leitor se faz muito necessária, quase urgente. Principalmente porque os avanços tecnológicos têm sido benéficos para o contexto da Literatura. Se com a Televisão, ela podia perder espaço, agora com a Internet e livros digitais, ela pode retomar a dianteira (rs).
Se você me permite, abordei um pouco dessa questão num texto pro Portal Literal, publicado também em meu blog (http://www.nadapessoal.com.br/2009/08/10/entre-a-ironia-pos-moderna-e-a-literatura-contemporanea/) Não sou especialista nem nada, apenas um estudante que se interessa por esse debate. Abraço.
Acho que existe uma questão implícita que precisa ser levantada, que é a satisfação pessoal do autor e que pode vir, iamgino, de 3 fontes: *dinheiro, *glória, *umbigo. Como dinheiro é quase impossível e glória muito difícil (com os cadernos de “cultura” atolados em telenovelas e bigbrothers, e os únicos críticos assalariados da imprensa nacional sendo os de cinema e música), sobrea umbigo. É simples behaviorismo.
Há um texto de Blanchot, “A literatura e o direito da morte” que começa assim: “Podemos certamente escrever sem nos indagar por que escrevemos.” Trata-se de uma discussão sobre estes questionamentos: o que é a literatura, por que escreve o autor… Achei a leitura difícil, mas vale a pena conhecer
Novelas são escritas para terem participantes( não podemos esquecer que as consultas são determinantes, para agradar aos ouvintes) .
Filmes misteriosos lotam bilheterias. E os filmes hoje só não lotam porque soam muito falso. As pessoas estão sedentas de verdades.
Se o livro cona uma verdade e se ese livro é aquele que faz brotar filme enão…
O ser humano gosta de ver algo que é verdadeiro… mesmo parecendo fictício….
Sérgio, vou de antemão atribuir essa coincidência ao zeitgeist e às contingências, forças-mestras que imperam e são ignoradas por todos. Calma, explico:
Terminei ontem mesmo de ler um livro soberano sobre o tema. Chama-se “The gift”, de Lewis Hyde.
Recomendo milhões de vezes a quem se interessa pelas questões que envolvem arte, criação e o momento aterrador em que o artista tem que tornar sua obra num produto para ser vendido.
O que mais impressiona em Hyde é a forma como ele vai buscar nas fábulas e mitos da antiguidade a gênese para os problemas todos que hoje somos forçados a discutir.
Descobri Hyde ano passado, e o site dele tem muitas coisas legais para se ler com calma e pensar. Segue o endereço: http://lewishyde.com/
A verdade está no gênero.
Tweets that mention Dane-se o leitor? | Todoprosa -- Topsy.com
Manuel Carreiro,
Coincidência ou não, as fábulas e mitos da antiguidade tentam sufocar o que Gênesis explica e muito bem.
O homem só poderá entender a realidade a partir da Verdade de Sua Realidade Primeira.
Por isso ser a Bíblia o Livro mais lido do mundo e sendo assim a Verdfade não está nem na gênese dos mitos e nem no gênero.
A Verdade está em Gênesis.
Mas como crer nisso não é popular e nos afasta de tudo e de todos, é preferível se enveredar por caminhos de mitos… e fazer de conta que não se crê naquele… “NO PRINCÍPIO, DEUS!”
E o mais interessante é que os livros “sobre” são os mais vendidos… Não importa se a favor ou contra.
A Bíblia é o limite.
Acompanhemos os noticiários.
É preciso humildade para ser íntegro na verdade.
Sinto muito, mas eu não falei absolutamente nada para você. Apenas indiquei um livro pro Sérgio sobre um tema que ele aborda no post: a questão sobre o alcance da literatura e a diferença entre arte sincera e arte comercial.
Por favor, não se enderece a mim distorcendo coisas que escrevi, ou usando coisas que eu disse para alimentar a sua visão maniqueísta.
Agradeço se você não fizer isso mais. Além do mais, há uma certa conduta para comentar em blogs, e os seus constantes e sucessivos comentários neste post pareceram-me um tanto quanto deselegantes embora, admito – isso não é um problema meu. Cada um conduz o seu blog como quer.
Estou me lembrando agora de uma Doutora em Literatura que veio dar uma “Palestra-Poética” para um grupo de engenheiros, onde o Poeta escolhido foi o Português Jorge de Sienna ( espero não ter escrito o nome do poeta errado…rsrs), também engenheiro.
Um dos textos escolhidos escarnecia de Deus. Aquilo me incomodou muito. Aproveitando as próprias palavras do autor em outros poemas procurei mostrar um pouquinho de minha idignação com os descaso com Deus, tão ironisado no texto de Jorge, cujo título era “Gênesis”.
No final do texto ele dizia que Deus havia guardado a àrvore do conhecimento do bem e do mal e por isso era de se esperar que fosse enganado.
Então, no poeminha que fiz, coloquei no final:
” A Arvore guardada não foi a do conhecimento, mas a da vida. E NÂO era de se esperar que o JORGE fosse enganado…”
Por que não era de se esperar? Porque Está Escrito.
Mas os leitores de Bíblia para fazerem suas leituras românticas e venderem, lêem pela metade. Não tendo a Revelação, vivem pagando mico.
O que é isso que não seja orgulho e soberba?
Na hora, a Doutora me pediu o meu email( e até hoje não me mandou nada) e disse: O JORGE DE SIENA neste momento DEVE ESTAR dando VOLTAS NO Túmulo.
Bem, eu só entreguei o papelzinho, mas ela insistiu que eu lesse. Mesmo sabendo que isso seria “prejudicial a minha imagem”, dei três passos e li o poema . Que silêncio!
Deus é Deus.
Se existe uma coisa que Deus me ajuda e sempre, é quando compartilho suas Verdades.
Mas é preciso humildade… e humildade é dependência dEle.
Somos nada não, gente!
Leiamos Gênesis…
Laço ou dilúvio? Eis a questão… rsrs
Quanto à leitura fácil, não importa se seja fácil ou difícil, importa que tenha enredo lógico.
Ninguém gosta muito de ler algo surreal que faz de conta que é. Aquela coisa que cada um pensa o que quiser, e parece que o autor é uma sumidade.
É igual pintura.
Se um pintor faz detalhes lindos em paisagens, pessoas, etc, é um senhor pintor. Mas não vende… porque a moda é colocar um pincel no rabo de um cavalo e esperar que as manchas virem obra de arte.
Que cara de pau da mentirada…
Os bons escritores ( Machado de Assis que o diga…) escrevem enredos com lógica.
Os ilógicos ganham fama para tirarem a fama dos lógicos.
Que bom que a Biblia é Logos.
E melhor ainda que seja Rhema também.
É isso…
Fui muito lógica, né?
Muito fácil de ser entendida, né?
É disso que o povo gosta, a elite finge que não gosta e os eruditos não assumem.
Fui soberba? Meu Deus! Longe de mim essa praga.
Estou sendo honesta em meu pensamento.
Penso que os críticos de Machado de Assis são mais famosos do que foi o próprio Machado.
É sempre assim…
Os aproveitadores estão aos montes por aí… Há séculos…
Hi! Falei demais…
E O SEGREDO É tirar DEUS JESUS CRISTO do contexto…
não é popular… né?
Só para os mansos e humildes de coração…
Seja erudito seja o analfabeto do sertão…
Sou sertanejo e tenho muitos amigos eruditos aqui (não me incluo ainda no tipo). Seus comentários são lamentáveis, não apenas por demonstrar preconceito, como por mostrar burrice mesmo. Humildes de coração? Onde estão? Nas igrejas dos santos que já estão com o paraíso garantido? Ademais, por que será que os leitores da bíblia nunca conseguem interpretar outros textos? Ou ao menos manter-se dentro do assunto tratado? Deve ser porque também não saibam ler seu próprio livro sagrado. O gênese deve ser a verdade mesmo, por isso que até nossos dias o ovo de morcego é importante na nossa alimentação.
Ponto.
Temos ou não temos leitores? «
Espero que minhas reflexões tenham sido doces…
Rosângela,
Vi que você é fã da poesia portuguesa (a propósito: escreve-se Jorge de Sena). Assim sendo, gostaria de citar um dos meus poemas prediletos do Fernando Pessoa, pelo heterônimo Alberto Caiero. Como é longo, vou-me ater ao essencial. Espero que você goste também:
Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
(…)
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou –
“Se é que as criou, do que duvido” –
“Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres”.
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
(..)”
Depois de uma sequência de jabs da Rosângela, veio o Rafael com um cruzado de esquerda. Aguardemos os segundo round que promete ser emocionante.
“… aguardemos “O”…” rs
Bom, o dilúvio já veio… Resta esperar pelos barbaros, como disse Luiz Braz na materia “Convite ao Mainstream”
Que isso, Tibor? Como o personagem da ópera de Mozart, Io son un uomo di pace, e duelli non fo, se non a mensa…
A resposta a isso tudo está nos noticiários.
Quem tem olhos de ver…
Não. Não tenho preferência por nenhuma poesia.
Nâo conhecia Jorge de Sena e nem seu olhar sobre Gênesis.
Jorge de Sena está morto.
Jesus Vive.
Fernando Pessoa está morto.
Jesus Vive.
De Gênesis a Apocalipse Jesus É.
Nossa, Rosângela, parece que você ficou chateada. Injustiça! Eu nem havia citado a melhor parte do poema do Alberto Caeiro. Delicie-se com seus olhos:
“[Jesus] Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas –
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.
Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!
Uns sonham…
Outros têm visões…
Outros ainda inventam…
Pedi uma Palavra ao Senhor e abri a Biblia aleatoriamente. Olha o que nos trouxe:
“O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta.”
“O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos ímpios derrama coisas más.”
“O parecer alegre traz alegria ao coração, e as boas novas dão saúde aos ossos.”
“O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e a humildade precede a honra.”
Provérbios 15. 18, 28, 30, 33
O que tem de gente procurando o Senhor da Alegria…
Somos nada não, gente.
Leiamos Apocalipse.
Rafael, você pode desferir cruzados, diretos, ganchos… a Rosângela não cai, mesmo massacrada.
Só tenho a acrescentar uma coisa: Jesus está morto. Se não for assim, é um zumbi e o Xerxeneski deveria tê-lo usado em seu romance Areia nos dentes.
O Seu acrescentado, Tibor, não acrescenta e nem descrecenta… Jesus não depende do seu achado para ser… Ele não provou para ninguém quem Ele é.
Nem para seus algozes.
Alguém está estragando este blog, que pena!! Certos assuntos, ou certo proselitismo, deveria ir para outro lugar. Inclusive porque a paixão é tamanha que perde o bom senso e a possível graça. Se é que tem alguma….
Minha gente, discutir com um religioso, sobretudo os mais fervorosos, é inviável, mesmo porque seus argumentos são sempre fundamentados em outros argumentos sustentados e compartilhados somente por eles mesmos. “Porque se deve proibir o aborto?” – “Porque a Bíblia diz blá blá blá”. “Porque se deve escrutinar os gays?” – “Porque a Bíblia diz blá blá blá”. O que fundamenta as “escolhas” dele (ou dela) é sempre outra “escolha” que, se você não compartilha, não faz sentido algum. Agora, preciso dizer que acho bem complicado ter que aturar coisas da seara pessoal com tanta frequência, em tantos lugares e via tantos meios.
Rosângela, se Jesus está vivo, melhor pra ele.
Se você o encontrou, que ótimo para você.
Agora, por favor, poderia manifestar seu fanatismo religioso e seu proselitismo da fé em termos mais contidos? Se você já está salva e Deus está aí com você e Jesus está vivo (não está, assim como os demais – em termos biológicos Jesus está tão morto quanto Jorge de Sena e Fernando Pessoa. Mais até, já que os outros ao menos há prova de que existiram), então por que você não se alegra na sua em vez de ficar fazendo propaganda? Quer convencer a quem com essa palhaçada? Só se for a você mesmo, porque a mim não será.
Eita mulher chata!