A grande sensação literária da Índia no momento, já traduzida para o inglês, é uma empregada doméstica chamada Baby Halder e seu livro de memórias, “Uma vida menos banal”. Halder teve vida miserável – abandonada pela mãe aos 4 anos, casada aos 12 com um supercanalha, mãe um ano depois – e só começou a escrever incentivada por um patrão, professor universitário aposentado, que lhe deu um caderno escolar e uma caneta quando descobriu que ela, sempre que tirava o pó da estante, aproveitava para bisbilhotar dentro dos livros (notícia completa do “Herald Tribune International”, em inglês, aqui). O mesmo professor a ajudou a “editar” mais tarde o material bruto.
Consta que “Uma vida menos banal” é forte e emocionante a seu modo cru, mas isso contribui pouco para o fato de os quatro cantos do mundo estarem ouvindo falar do livro – inclusive, agora, os leitores do Todoprosa. Méritos à parte, é difícil não ver no caso de Baby Halder mais uma amostra do vício contemporâneo de tratar qualquer arte como um subproduto – não muito importante, aliás – da biografia do artista.
6 Comentários
Pq “supercanalha”?
A frase da Dorothy é excelente!
Nos anos 50 (ou teria sido nos anos 60?), houve uma empregada brasileira que também lançou um livro de sucesso, “Quarto de Despejo”. Acho que era Carolina de Jesus o nome dela…
Era Quarto de Despejo, sim, Espezinhador. Mas acho que Carolina era catadora de papel e não empregada doméstica. Não importa. Confesso que tenho alguma simpatia pelo movimento (ou tendência, sei lá), que faz as pessoas decidirem narrar suas próprias vidas – seja em papel, seja em blogs. Daí a dizer que estão produzindo literatura é outra história. Mas, plena era digital, esse mundo narrador de Javé, essa mania que faz desde o garotão zonasul até a doméstica indiana botarem a vida por escrito é um fenômeno a ser observado com algum carinho.
Mulher, indiana e doméstica.
Vai acabar governadora…
ma
Pois é. Para mim o autor pode fazer marketing do livro à vontade – mas detesto os que ficam fazendo marketing pessoal com o livro. E alter-ego deveria servir para diminuir a carga de auto-referência, não para aumentar.