Cansado de experiências de criação literária online? Eu também, um pouco, mas isso não quer dizer que não haja formatos novos por descobrir. Um dos mais curiosos estreou esta semana: o site Estrangeiros, uma idéia da escritora brasileira Daniela Abade, reúne sete autores – além da própria Daniela, a argentina Florencia Abbate, a austríaca Claudia Chibici-Revneanu, o italiano Max Mauro, o canadense David McGuire, o australiano Matt Rubinstein e o mexicano Gonzalo Soltero. Em cinco idiomas, cada um com o seu, e sem tradução, eles escrevem posts fictícios sobre cidades situadas no país de um dos colegas. Cidades que nunca visitaram.
Daniela, autora do romance “Crônicos” (Agir), tem experiência nesse tipo de invenção. Ficamos amigos em 2004, durante a ambiciosa, divertida (para nós com certeza, mas acho que também para os leitores que entraram no clima) e absurda Cadeia de Palavras.
7 Comentários
Pra variar, não tem ninguém da França. Tudo bem, o francês não é mesmo uma língua fácil.
Mas gostei da idéia. Parabéns pra Daniela!
As cidades invisíveis?
Anrafel, mais pra Budapeste. As cidades existem, eles apenas nunca as visitaram.
A essência é Budapeste – a motivação primeira veio do fato de eu escrever um programa de viagens sem viajar. Mas Calvino foi também definitivamente uma inspiração, Sérgio. Bem sacado por Anrafel.
Saint Clair, convidei três escritores franco-parlantes. Os únicos que não aceitaram entrar no jogo. Todos os outros aceitaram de primeira. Depois da francofonia desistir de mim, desisti da francofonia. Não foi negligência à lingua, com certeza.
Bela idéia, Daniela!
A evolução para o livro eletrônico (prefiro chamá-lo “networked book”) e as mudanças correspondentes, inclusive na producão literária, clamam por projetos desse tipo. Projetos colaborativos são a alma da web 2.0, e estimulam “brainstorms”.
Ao escritor, faz bem cultivar esse olhar estrangeiro. O hábito nos cega. O exercício da imaginação é sempre muito saudável. Fora o fato de que ela, já escreveu Coué, é sempre mais forte que a vontade.
Há alguns meses, escrevi um conto ambientado em Torino. Nunca estive lá. Mas a imaginei como “a cidade onde vivem os escritores”.
O conto, para sair em revista, precisou sofrer alguns cortes (ah, os limites físicos do papel…), mas na web, fiz uma experiência integrando o conto com algumas ferramentas on line do Google.
É apenas uma brincadeira, claro, mas me abriu a cabeça para outras possibilidades interessantes.
A “experiência” (incluindo link para uma “extended version” do conto) foi relatada aqui: http://blog.pontolit.com.br/2007/09/01/navegando-o-conto-la-sindone-nas-versoes-do-editor-e-do-autor/ .
Oi Daniela, obrigado pelos esclarecimentos. Sabe, a reação dos franceses não me surpreende nem um pouco… rsrs.