Em 1938, o escritor americano John Steinbeck (1902-1968) tinha acabado de publicar “De ratos e homens”, mas ainda estava a um ano de distância de seu livro de maior sucesso, “As vinhas da ira”. Foi quando assinou um contrato em que cedia em caráter definitivo à editora Penguin os direitos de dez de seus títulos.
Uma decisão judicial de primeira instância nos EUA acaba de devolver à neta de Steinbeck, Blake Smylle, os direitos sobre esses livros (notícia aqui, em inglês). O juiz alegou que o autor não tinha como saber, na época, a dimensão que sua obra viria a adquirir. E que, portanto, é justo permitir que seus herdeiros renegociem os contratos.
A briga vale muito. Quase quarenta anos depois de sua morte, Steinbeck ainda vende cerca de 2 milhões de exemplares por ano.
15 Comentários
Sei que é legar. Mas será que é moral, parentes que não contribuiram para nada ficarem com louros da vitória?
Certamente os herdeiros não tem nenhum mérito sobre o sucesso das obras. Mas creio que os editores tb. não. “As vinhas da ira” pertence a um tempo em que o principal item do lançamento não era exatamente o marketing.
isso tá é parecendo a questão árabe-israelense…
Gostei. Para ceder 10 títulos à editora, Steinbeck só podia estar com a cabeça na sua ótima literatura. A editora se aproveitou. E Vinhas da Ira é uma obra magnífica, pungente e que felizmente pude ler no original.
Imagine se a moda pega e todos os “netinhos” ficarem brigando pelos direitos… o valor do livro (que é caríssimo) triplicaria pelo afã financeiro dos herdeiros.
Isso me lembra a história do carinha que a Coca-cola contratou pra bolar o logotipo (sei lá, ainda no século XIX): perguntaram se ele queria ganhar por garrafa vendida ou por empreitada, tipo uns 15 dólares. Como ele estava precisando de uma grana urgente, preferiu a segunda alternativa.
Não sei não viu… Na época do contrato, as editoras davam aos escritores um bom suporte. Adiantavam pagamentos, os editores eram quase que amigos dos escritores, pelo menos é a impressão que alguns escritores americanos daquela época deixam, como Fante, Bukowski e outros. Talvez uma divisão meio a meio ou 60% / 40% fosse melhor. Afinal, a editora investiu no Steinbeck. E “Ratos e homens”, que livro maravilhoso.
Tem razão, Rafael. Mas acho que aqueles tempos ainda tinham uma dose de inocência por pare dos escritores, e hoje as cifras são muito maiores.
Também gosto demais de Ratos e Homens, Rafael.
Leticia concordo e acrescento que os editores também eram mais inocentes.
Opa 🙂 Estou bem acompanhado 😉 Mas olha só: se o Steinbeck tivesse assinado esse contrato nos anos 90 e esse veredito fosse referente a esse contrato recente, tudo bem. Porque seria questão de negócios mesmo. Mas o caso é que naquela época, como disse a Letícia, existia muita inocência. Que eu não chamaria de “inocência”, mas de “boa fé”. Vamos ver se eu me faço entender: pelo que parece, naquela época os editores apostavam em escritores, davam-lhe um grande suporte, até os abrigavam em suas casas. É muito comum em textos autobiográficos, e eu vi isso em Bukowski e, de certa forma, em Fante, os escritores agradecerem a seus editores pela ajuda. Eu estou tentando lembrar de um filme que assisti no qual o editor de um escritor salva ele de uma roubada imensa, mas não estou conseguindo. Enfim, enquanto que hoje o cara tem que ralar, fazer o nome primeiro, pra depois a editora se interessar, naquela época, os editores é que pagavam pra ver. Hoje as editoras só pegam “escritores prontos”, digamos. O que não é errado, afinal, toda editora é um negócio e visa o lucro. Mas o romantismo, infelizmente, acabou. E a família do John, sinceramente, me pareceu oportunista demais.
Sem dúvida.
Sem discordar sobre uma relação muito mais estreita entre editor e autor naquela época nos EUA, bem lembrado aqui por Rafael, uma divisão como a proposta por ele seria mais justa.
O que não dá para aceitar é que um escritor ceda os direitos de 10 títulos seus para a editora. O editor, na sua perspectiva mais distanciada, percebeu de cara a altíssima qualidade literária de John Steinbeck em “De Ratos e Homens”. Lembrando que a Penguin é uma gigante editorial…
Valeu, Clara! E vou dizer uma coisa: acho que o editor do Steinbeck era muito mais “família” dele do que a própria família… Mas aí só alguém que conheça muito a história dele pra dizer.
Li do Steinbeck “Boêmios Errantes”. É sensacional. Agora, com tantos comentários postivos, fiquei curioso para ler “De Ratos e Homens”.
Como autora, invisto um bocado em estudos e especialização e sobretudo em conhecimento sobre contratos e direitos autorais. É JUSTO SIM que eu possa legar esse MEU patrimônio aos meus filhos.
Por que deveria deixar para o editor e/ou livreiro (gastar com os filhos deles) os meus 10%? E, sabiam que 50% até 80% do preço de capa do livro fica com o REVENDEDOR? Logo… que menos ganha com a vendagem de sua obra é o próprio criador.
E mais… em 75 anos após sua morte, a obra cai em domínio público (diferente de outros patrimônios como imóveis, peças de coleção, poupanças…) e passa a ser utilizada livremente por qualquer um.
Entender os direitos do autor como “inimigo”do livro revela uma profunda ignorância sobre produção e venda de obras intelectuais.
Abs, Thais.