Que conselho o senhor daria a alguém que deseja dedicar-se à literatura no papel de escritor?
Meu conselho-padrão, que muita gente acha que é piada mas é sério, costuma ser o seguinte: desista se for capaz. O mundo da literatura parece charmoso e tal, mas a verdade é que o jogo é muito duro e nem sempre leal, as recompensas são fugidias e as chances de fracasso – não só comercial, mas estético mesmo – estão todas contra você. Agora, se depois de considerar tudo isso o sujeito ainda for incapaz de desistir do seu plano maluco, então é escritor mesmo, e nesse caso todos os conselhos se tornam fúteis. Cada um tem que encontrar seu próprio caminho. Ler muito, ler tudo, e não ter pressa demais de publicar talvez sejam recomendações úteis. Arranjar um jeito de sustentar seu “vício” também me parece um bom toque. A menos que seja rico de berço ou de baú, um escritor deve ter outra profissão, sob pena de ser levado pela ânsia do profissionalismo a vender seus escritos cedo demais, tornar-se um marqueteiro juramentado ou sair à caça de bocadas estatais – e nada disso é muito saudável para aquilo que realmente importa, isto é, o texto.
Da minha entrevista ao “Rascunho” deste mês, que está online.
14 Comentários
Poxa, senhor Sérgio, eu adoraria uma bocada estatal. O senhor, não?
Li essa entrevista faz teeeempo…rs.
Sensatos conselhos, Sèrgio. Mas que um baú ajuda, isso ajuda ; )
a grande prova do amor do escritor pela escrita é continuar escrevendo mesmo sem a menor perspectiva de que alguém vai sequer bisbilhotar o que ele rabiscou em algum canto… nem todos conseguem, mesmo alguns grandes escritores dependem muito da sensação de repercussão para motivar a mão a não ficar parada. Não considero isso errado, são posturas. Alguns escritores como Valéry desconsideravam totalmente a necessidade do outro (tanto que sua maior obra, seus Cadernos, é praticamente ilegível e impublicável), outros enfatizam o caráter comunicativo da atividade. Para esses, a falta de leitores (reais ou, ao menos, prováveis) é castrante.
Ótima entrevista, Sérgio. Muito elucidativa e equilibrada. Parabéns. Abração!
É isso ái, Sérgio: o escritor é aquele que é incapaz de desistir, pois se o cabra for investir em outra área o mesmo coeficiente de tempo e energia que ele consome em um livro, ele ganharia muito mais dinheiro e prestígio…
Li só agora a entrevista, pois, quando fui catar o Rascunho nos pontos em que ele é distribuído aqui em Curitiba, ele já tinha acabado — será algum indício? E as vendas, como estão indo?
O livro pretendo ler ainda esta semana.
Abraços.
Muito bom, sobretudo o final.
Gosto dos escritores-prostitutas; são menos esnobes e mais sinceros.
As prostitutas-escritoras também estão na minha lista de apreço, embora por outros motivos.
Sérgio: lista tão eclética quanto interessante, a dos autores que não lhe abandonam. Achei curiosa a pergunta final do Rogério, mas seguindo por esse ‘labirinto’, concluiria que a literatura é a melhor forma (não de se esperar mas) de se enfrentar a morte (pelo menos enquanto ainda acreditarmos em sua comovente eficiência).
Os escritores deveriam ser melhor estudados… a ciência ainda não os considera malucos o suficiente. O que realmente importa é a p*rra do texto, mesmo que o cara ganhe uma miséria ou seja sustentado pela mãe. Nunca se aproxime demais de um escritor, é o meu conselho. Leiam seus livros, mas não os considere como amigos. Nunca. Nem de brincadeira. Eles não gostam de você. Eles não gostam de ninguém. Tire a literatura deles e o que sobra é ódio puro. Não permito que ninguém da minha família se aproxime de um escritor, mesmo do Paulo Coelho, que é santo e faz chover. E digo para minha filha, com conhecimento de causa: ” É para o seu bem.” – Dos três que ela admira, a saber: Philip Roth, V.S. Naipaul e Norman Mailer, os três já tentaram matar uma mulher. E o Mailer quase conseguiu!
Viu? É o que estou dizendo, escrever bem não garante nada. Nem mesmo caráter. Será que um dia a ciência explica o surto de um Céline? Nem vale a pena. O cara era doido. Ponto. Sócrates, o pederasta mais famoso da antiguidade, antes de beber seu veneninho, disse para sua amiga Platão: ” Não esqueça de expulsá-los da República, tá? Cambada de ingratos!” Escritores só servem ( quando servem) para ser lidos. Deus castigou. Não sinto pena.
Kaputt.
Quer dizer: semana que vem.
Otto: Elza vai muito bem nas livrarias, obrigado. Depois aguardo seus comentários.
Moutinho, valeu. E feliz aniversário.
Claudio: obrigado. A lista (que não saiu no jornal de papel, só no site) tem espírito brincalhão mas é séria também.
Abraços a todos.
Não ter pressa em publicar, economizar dinheiro suficiente para comprar a divulgação de suas obras, com revisões ao fino trato, com prefácio de algum famoso, com marketing, entrevistas na TV e tudo mais, também é excelente e promissor começo.
Mas quem não tem economia vai mesmo é tirar minhocas do asfalto!
Talvez o melhor mesmo seja escrever por hobby. Se começar a funcionar, que se mude o foco.
Abraço,
Pablo
http://cadeorevisor.wordpress.com
Talvez o melhor mesmo seja escrever por hobby. Se começar a funcionar, que se mude o foco.
Abraço,
Pablo.