Na América Latina e na Espanha, o mais próximo que temos de um Deus da literatura se chama Paul Auster.
Essa frase do escritor boliviano Edmundo Paz Soldán em seu blog no site “Boomeran(g)” me fez engasgar com a pipoca. Está certo que opinião é mercadoria baratinha – um dos dramas da blogosfera. Está certo também que, do ponto de vista literário, o Brasil não fica exatamente na América Latina, embora faça fronteira com ela. Por fim, não é menos certo que o escritor do Brooklyn merece mais respeito do que ultimamente tem recebido da crítica: mesmo tendo parado de acompanhar seus lançamentos há alguns anos, quando seu lado mais pesadamente alegórico – seu pior lado, a meu ver – começou a prevalecer, já tive minha fase austeriana compulsiva; até hoje considero “Leviatã” um grande romance e “Trilogia de Nova York”, um livro-chave para entender a literatura dos anos 80. Feitas todas essas ressalvas, estarei exagerando ou “Deus da literatura”, com inicial maiúscula e tudo, soa como um dos maiores despautérios dos últimos anos?
Em tempo: um amigo meu, que de bobo não tem nada, gostou muito do último livro de Auster, “Homem no escuro” (Companhia das Letras). Estou coletando outras opiniões.
26 Comentários
A minha opinião, Sérgio: http://bravonline.abril.com.br/conteudo/assunto/assuntos_293881.shtml
Sérgio, não li “Leviatã”, mas”Trilogia de Nova Iorque”, sim. Este último é mesmo um livro excelente. Aliás, ele me deu uma injeção de ânimo para escrever, tempos atrás. Ainda sobre Auster, acabei de comprar “Homem no Escuro”, que logo irei consumi-lo com prazer.
Por falar em coisa boa, li o seu “Fruta por dentro” no papel (piauí). No papel é bem melhor. De fato um conto rico em detalhes e ás vezes melancólico. Não sei por que senti um pouco de Nelson Rodrigues nele. Me perdoe por esse pensamento e me corrija se eu estiver errado. Valeu a leitura.
Lembrei de uma frase do Ivan Lessa em que ele dizia que gostava do Auster mas que ultimamente tinha baixado um caboclo muito chato nele (Auster). Pra falar só dos livros mais recentes, achei o SCRIPTORIUM bem chato, mas gostei bastante do DESVARIOS NO BROOKLYN (menos pretensioso, mais pra divertimento bem feito). Abraços.
Ééé, Sérgio. Se isso não é um descarado exagero, é no mínimo uma “nelson-rubada” bem dada.
Estou acabando o “Homem no Escuro” e devo dizer que é uma terrível montanha-russa de qualidade, que, ao que tudo indica, no final vai acabar como começou: no plano. Morno.
Paul Auster, infelizmente, perdeu a mão (o braço e os olhos) nesse último. Mas a leitura vale, nem que seja pela crítica. Ou pelo gosto sadomasoquista… Ou para poder falar “Auster? Aquele duas mãos esquerdas!?”. Ou, como eu, que tenho compulsão: se comecei um livro vou acabá-lo…
Abraços
Hummm…Okay, Texeira, vou deixar pra ler Homem no Escuro lá pro final de ano quando já tiver esquecido o seu comentário acima! Rss
Já fui Austermaníaco. Hoje, acompanho a obra dele a certa distância.
Da fase mais recente, li NOITE DO ORÁCULO e VIAGENS NO SCRIPTORIUM. Gostei do primeiro, mas achei o segundo bem chatinho. Dá muitas voltas ao redor do próprio umbigo. (ou do umbigo do autor, que seja).
Engraçado é que os dois livros dele que me trazem as melhores lembranças são pouco citados, mas vá lá: MR. VERTIGO e TIMBUKTU.
E só agora fui ver que o Jonas citou os livros que mencionei… 🙂
Se antes, durante o tal “boom”, o Brasil, de um Murilo Rubião, de um Guimarães Rosa, foi excluído do “clubinho”, agora, que o mundo foi praticamente remapeado, e somos mais associados ao BRIC (Brasil, Russia, India, China), ou, como chamam, “países emergentes”, não vejo porque sermos associados à LA. Não nos faz falta alguma.
Esse boliviano (nada contra os bolivianos) é um grande gozador, ou tem segundas intenções.
“Deuses da Literatura” parece-me uma expressão ridícula, pois, sempre, no fundo, se baseará em opiniões.
Tirando essa besteirada de “deus da literatura”, na minha opinião (cd um aqui, provavelmente, terá a sua diferente), digamos que o Saramago, que escreve em português, é o maior dos escritores vivos.
Não se pretende deus, apenas escreve. E agora, até blog.
Pois é, Sérgio, cuide-se, agora o Samarago virou blogueiro! 🙂
Eu não falo nem portunhol, então tenho dificuldade (e preguiça) de ler em espanhol, mas me parece que o Soldán está criticando o fato do Paul Auster ter sido endeusado pelo público, não? Sérgio, entendi errado ou o blogueiro também não concorda que o Auster seja considerado o bambambam atual? Também não concordo, e olha que sou austermaníaca de carteirinha (por razões bem particulares, que levam em conta o “método auster de criação”). Um abraço
Ele poderia ter falado Philip Roth, né? Ou Coetzee, mesmo que esteja bem mais longe (geograficamente falando). Mas a literatura do Auster exerce uma grande influência fora dos EUA. Dizem que lá dentro o apito dele se ouve bem baixo.
Isabel, o Soldán não critica o endeusamento de Auster. Pelo contrário, registra com certa perplexidade o fato dele não ter dentro dos EUA a importância que teria na América Latina. Mas não aponta nisso um exagero latino-americano, fica mais perto de tratar o fato como injustiça dos americanos. E acaba traçando um paralelo maluco entre Auster e Cervantes para tentar explicar isso. Enfim, um post estranho.
Exatamente, Sérgio. Ele escreve: “El gran mérito de Auster es hecho suyos a algunos de nuestros escritores más importantes, para devolvernoslos como si fueran otra cosa. Lo leemos como si fuera literatura norteamericana de primer nivel, pero en el fondo nos gusta porque sus juegos extraños nos parecen muy conocidos. De hecho, lo son.”
Edmundo parece um “deslumbrado americanizado”. Nada contra os americanos também, mas o que senhor Soldán apresenta, me parece, uma visão obtusa.
Em um outro post, Soldán, com uma visão ainda mais limitada, classifica “Tropa de Elite” de filme fascista.
Uau, bota estranho nisso. 🙂
Lendo jornais espanhóis tendo a concordar com o boliviano: eles realmente acham que Auster é uma grande maravilha. Agora, concordar com os espanhóis, é outra coisa… Em 2006 ele recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias, o mais importante da Espanha [outros ganhadores: Arthur Miller, Günter Grass, Vargas Llosa] e, se me lembro bem, não li qualquer discordância na imprensa
Curiango, acompanho com certa regularidade o El País e nunca percebi essa idolatria a Paul Auster. Ele ganhar o Príncipe de Asturias me parece normal. Nélida Piñon também ganhou, e, como você diz, não li nenhuma discordância na imprensa.
Sérgio, mais uma reles opinião
http://www.digestivocultural.com/blog/post.asp?codigo=2009
Mariana, a sua resenha e a do Jonas eu já tinha lido. Obrigado, de qq maneira, por socializar o link. Um abraço.
Eu acho que dona Siri [a esposa de Paul] escreve muiiiiiiito melhor que ele. Experimentem.
Olá Sergio! Estou ” de molho” em casa pois acabei de passar por uma cirurgia. Descobri seu blog por um caminho no mínimo diferente. Até hoje não sei pronunciar COETZEE! Já procurei em vários lugares e peguntei pra várias pessoas. E, pela internet, acabei de decobrir uns 5 modos diferentes. Um deles, a sua versão. Quanto ao tema do comment: acabei de ler Homem no Escuro e o achei primoroso. A mistura das narrativas é pra lá de interessante. Gostei muito. Já li NOITE DO ORÁCULO, amei, e VIAGENS NO SCRIPTORIUM, achei chatinho.
Gostei do blog, voltarei mais vezes!
Sindico, larga esses caras da McOndo pra la! So eu ainda insisto nisso… li o Suenos Digitales… ateh o fim… por que sou um bocoh de mola…sem comentarios.
Sindico, outra coisa, concordo com teu amigo que de bobo nao tem quase nada. Gosto muito do Auster, mas reconheco que desde o Scriptorium – a ateh ja no Timbuktu – ele anda muito preocupado com o tema da morte e isso pode tornar os caminhos do que escreve meio melancolicos. Li o Man in the Dark, por coinscidencia ha tres semanas. Pra quem conhece o Auster, o August Brill é um personagem novo, mas que ainda lembra algo do protagonista do Smoke. Em contrapartida, nao tem relacao alguma com os anagramas da Siri e dele proprio ( Iris ou o P.A. ) do Leviathan – que ja eram reinvencoes de livros anteriores. Evidentemente, nao eh um livro de acao, como nada do que escreve.
O dialogo dele com a neta sobre os Ladroes de Bicicleta e a Grande Ilusao eh maravilhoso, para quem gosta de cinema e literatura. Enfim, eu recomendo, mas ainda bem que minha opiniao nao tem influencia alguma sobre vossas vidas.
abraco
Tem uma fase dele que é realmente ótima. O Palácio da Lua, Leviatã, Trilogia de Nova York, A Música do acaso e No país das últimas coisas são quase do mesmo nível. Fiquei alguns anos sem acompanhar os lançamentos e quando fui ler Desvarios no Brooklyn e A noite do Oráculo achei-os muito fracos. Não li o Scriptorium, mas acho boa a idéia geral do enredo pelo menos.
Me parece que o comentario do Soldán tem algo de irônico e um pouquinho também de invejoso. A verdade é que Auster é um dos mais interesantes escritores atuais, não importa que esteja um tantinho irregular ultimamente.
Por coincidência, terminei há pouco a leitura de “À velocidade da Luz”, do Cercás (livro apresentado pelo Sérgio) ….cara, vi Auster ali, juro que vi. A literatura do americano é tão forte na sua aparente simplicidade que já está influenciando muita gente boa mundo à fora.
Houve um tempo que os cadernos culturais no Brasil se babavam pelo Auster (mandavam até repórter ir ao Brooklin entrevistá-lo), mas hoje há uma certa frieza com o gajo.
Mas o cara é muito bom sim, e eu ainda sinto uma leve ansiedade benfazeja quando estou na iminência de pegar um novo livro dele. Essa ansiedade, confesso, tem se tornado cada vez mais rara nos últimos anos em relação a qualquer autor.
Achei Leviatã mais ou menos… o Auster escreve bem, sabe organizar uma estória, mas por vezes cri uns narradores bem chatinhos, que se consideram ótimas pessoas e grandes pais de família. Chato. Dele, só gostei de A Invenção da Solidão, mesmo assim apenas da primeira parte. Ainda assim, reconheço que se trata de um bom escritor.
Não é legal descobrir uqe 70% da população leitira, em algum momento davida, foi tarada e bitolada em Paul Auster?
Eu já fui.
Li primeiro o gibi de Cidade de Vidro, depois O Inventor da Solidão e daí a Trilogia de NY.
Depois passei um bom tempo sem grana pra comprar livros, mas tava com tanta vontade de Paul Auster que eu comecei a copiar os desenhos do gibi num caderno, só pra expremer mais o suco desse bagaço…
Tipo, nunca fiz isso pelo Mick Jagger.
Sérgio, teria sido melhor ter publicado o primeiro parágrafo completo do Edmundo Paz Soldán. Nele há uma complexidade que tua nota descartou. Soldán mesmo parece ter respondido. Auster não é mencionado por Bloom e Woods e foi descrito como “um asteróide em uma galáxia de planetas imensos”.
Frase sensacional, que não vemos em nossa imprensa literária, quanto menos em blogs, infelizmente.
Abaixo o parágrafo inicial:
En América Latina y España, lo más cercano que tenemos a un Dios de la literatura se llama Paul Auster. En Estados Unidos, ese mismo Dios tiene su propio Paul Auster Day en Brooklyn, pero hay un límite para la veneración. Ni James Wood ni Harold Bloom, los críticos literarios más influyentes hoy, lo mencionan como un escritor importante. La gente lo lee, pero el respeto se reserva para Philip Roth, Updike, Toni Morrison, DeLillo y compañía. Quizás en el futuro se intente recuperar a Auster; hay obra para ello, sobre todo la trilogía de New York y Leviatán. Por lo pronto, sin embargo, Auster es apenas un asteroide en una galaxia de planetas inmensos.
Caro Gibran, cada um tem o direito de admirar o que quiser – aliás, o apetite com que se exerce tal direito é uma idéia que está no cerne deste meu post. Só insisto num ponto que me parece bem claro: o que você chama de “complexidade”, isto é, o modo como Soldán expõe as reservas com que os críticos americanos encaram Auster, é no fundo um lugar-comum. Está mais para cascudo nos críticos americanos, a velha e banal história do “santo de casa etc.”