Terá começado com o fim da Primeira Guerra Mundial, nos passos de John dos Passos e e.e. cummings? Ou antes disso, com o desembarque do crítico de arte Leo Stein, irmão de uma certa Gertrude? Ou teria sido alguns anos mais tarde, quando lá pôs os pés pela primeira vez um sujeito chamado Ernest Hemingway – que se tornaria seu principal divulgador e figura mais emblemática? Seja como for, o fato incontestável é que a mitológica Paris da chamada Geração Perdida é uma criação americana, celebrada nostalgicamente por geração após geração de artistas americanos – o último deles, o cineasta Woody Allen, com o divertidíssimo “Meia-noite em Paris”.
Se a mitologia parisiense dos anos 1920-1930 tem em seu coração esse drástico deslocamento geográfico-cultural, não é tão espantoso que seu mais sucinto e espirituoso guia turístico-literário seja de autoria não de um americano, nem de um francês, mas de um brasileiro. Em “E foram todos para Paris – Um guia de viagem nas pegadas de Hemingway, Fitzgerald & Cia.” (Casa da Palavra, 128 páginas, R$ 39,30), o jornalista Sérgio Augusto equilibra num volume magro e bem ilustrado, que se presta tanto à leitura corrida quanto à consulta, o rigor no acompanhamento de diversas encarnações de endereços parisienses relevantes, tanto públicos quanto privados, e a fina prosa em que conta as histórias a eles ligadas.
Nascido como uma longa reportagem especial de turismo publicada em 1990 pelo jornal “Folha de S. Paulo”, o guia de Sérgio Augusto virou, por duas décadas, um “roteiro de viagem cultivé” (palavras do autor) para uma turma de entusiastas dispostos a se apegar àquelas páginas cada vez mais esfarelentas e amareladas. Além de ter conteúdo atualizado, o livro vem resolver esse problema do suporte.
Quando quer que tenha começado a tal “festa ambulante” de Hemingway, “E foram todos para Paris” sabe bem onde tudo acabou: no capítulo O último endereço, acompanha ilustres expatriados americanos até a dita “morada eterna” nos cemitérios de Père Lachaise, Montparnasse, Montmartre e Passy. O que equivale a dizer, claro, que não acaba mais.
3 Comentários
Cara, que livro bom, né? Sérgio Augusto sempre com textos deliciosos. A edição tá bem bonita e o cheirinho de toda aquela tinta gasta nas páginas tá uma coisa de louco. Devorei ontem e percebi que tava com saudade de ler os escritos do Augusto.
Não é estupendo, Arthur? A perfeita tradução editorial daquele carro maluco que o Owen Wilson pega no filme do Woody Allen. Um abraço!
Ler Sérgio Augusto, sobre política, cinema ou cultura em geral, é como ver Messi jogar: um prazer, uma satisfação a cada palavra ou toque na bola. Lembro de Cláudio Abramo elogiando Sérgio como o melhor texto daquela nova geração e dizendo que infelizmente não o conhecia.