Acho difícil entender por que alguém iria querer passar suas horas de leitura na companhia dos virtuosos, dos realizados e dos capazes quando o fracasso é tão mais interessante – e, infelizmente, muito mais comum. Hoje em dia nós os chamamos de anti-heróis (é mais educado), mas para mim eles sempre serão os perdedores da literatura.
Gostei desta lista de grandes “perdedores” da ficção, publicada pelo BookForum e elaborada por Mark Sarvas, do blog Elegant Variation. Não conheço a turma toda, mas a julgar por Timofey Pnin, de Vladimir Nabokov, por Alec Leamas, de John Le Carré, e por Tommy Wilhelm, de Saul Bellow, a coisa faz sentido.
E antes de perguntar quais seriam, na opinião dos leitores do Todoprosa, os principais candidatos brasileiros ao título, uma pequena questão tradutória: dividir a humanidade entre winners e losers, isto é, vencedores e perdedores, é coisa de americano, sim. O que talvez impeça a palavra de viajar bem, mas não a idéia. Aqui chamamos o loser de fraco, fracassado, pobre-diabo, otário, quem sabe bundão.
O tipo nunca foi escasso em nossa literatura, pelo contrário. Trata-se apenas de decidir quem vence a disputa. Talvez o Amaro de “Clarissa”, de Erico Verissimo. Ou o Bentinho de “Dom Casmurro”, de Machado de Assis. Ou a Macabéa de “A hora da estrela”, de Clarice Lispector. Ou…
29 Comentários
Meu voto é para João Pedroso, em O sorriso do lagarto, de João Ubaldo Ribeiro e relançado em belíssima nova edição pelo Alfaguara. Como se diz no Sul de Minas, fracassado “até o último furo”.
Sérgio, voto em David Foster Wallace.
Mas, a respeito, um link:
Macunaíma. O Anti herói máximo
Brás Cubas
No belo ensaio “O pobre-diabo no romance brasileiro”, o José Paulo Paes elege os protagonistas de quatro livros: “O coruja” (Aluísio de Azevedo), “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (Lima Barreto), “Angústia” (Graciliano Ramos) e “Os ratos” (Dyonélio Machado).
Eu incluiria ainda os protagonistas de “O amanuense Belmiro”, do Cyro dos Anjos, “O braço direito”, do Otto Lara Resende, e “O ventre”, do Carlos Heitor Cony.
Ou… Rubião, de “Quincas Borba”, cuja trajetória é a concretização de: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.
Policarpo Quaresma seria um bom candidato…
Luís da Silva de Angústia é, no meu modo de ver, o perdedor, o fracassado, o impotente, o vingativo, o ressentido por excelência da literatura brasileira.
Para mim o pior perdedor é o protagonista de Marcos Rey em uma série da coleção Vaga-lume: O Mistério do 5 Estrelas, Um Cadáver Ouve Rádio, etc…
Não lembro se o nome dele é Leo ou Angelo, só sei que ele estava sempre ao lado da quase-namorada, uma menina com a mesma idade e meio riquinha – e por isso inacessível de acordo com o pensamento dele. Maior perdedor, pq a menina correspondia aos sentimentos dele, só que o bundão não tinha coragem de se declarar e aí tudo ficava no zero-a-zero mesmo. E em 4 livros!!!!!
Sem pensar muito, também voto no Policarpo Quaresma.
luís da silva, angústia.
O maior perdedor da literatura brasileira é, sem dúvida, o escritor Gustavo Flávio, do romance Bufo & Spallanzani, do Rubem Fonseca. Vocês lembram o que ele perdeu?
Sérgio, mesmo fugindo do assunto do post, é preciso contar algo: No Recife, houve um leilão beneficente de manuscritos e originais literários. Sabe quanto os originais do romance de Raimundo Carrero – O amor não tem bons sentimentos, finalista do Portugal Telecom – arrematou? R$ 500,00 (Não está faltando nenhum zero: quinhentos reais). Fico imaginando que um chiclete mascado de qualquer subcelebridade arremataria mais. Seriam os escritores losers?
Vocês estão todos enganados. O maior perdedor da literatura brasileira é Matias Deodato de Castro e Melo. Conhecem? Duvido! Apesar de ser o protagonista de um dos melhores contos do Machado ninguém lembra-lhe o nome. Vai ser caipora assim nos infernos.
Boa noite, e calçai-vos!
CAMILO MORTÁGUA de Josué Guimarães
O cara perde toda a fortuna, a mulher, os filhos. E quando vai ser resgatado pela mulher que sempre o amou, ele leva um tiro na cabeça.
Além do já citado Belmiro, de Cyro dos Anjos, o José Maria do conto Viagem aos seios de Duília, de Aníbal Machado.
Ainda acho que o Luís da Silva é o candidato mais forte… fugindo para a Sulamérica, acho que o Santiago Zavala de “Conversa na Catedral” é um belo de um bundão…
Lembrei!!! O pobrezinho se chama Gino. Gino, de Marcos Rey , é o maior perdedor da literatura brasileira!!!!
Sou mais o Luiz da Silva, do Angustia de Graciliano.
Um loser revoltado.
O monge de Thaïs (Anatole France)_ tentou salvar a mocinha e se deu mal e o Mersault de Camus, um perdedor nihilista.
O Belmiro é o meu perdedor predileto, além do amor-próprio, que não está em nenhum manuscrito porque não me encomendaram uma autobiografia, talvez pela grande possibilidade de encalhar nas lojas tomadas de espíritas e autoajudantes.
Meu voto vai para o personagem principal do romance “Mad Maria”, não recordo o nome, do Márcio Souza.
E ai Anna May, eu também gostava muito dessa serie do Marcos Rey. O trio de personagens eram Léo, o personagem principal, Angela sua quase namorada, e Gino seu melhor amigo, que era muito inteligente e o ajudava a solucionar os crimes.
Como maior perdedor da Literatura Brasileira, eu votaria em Floriano, filho do Dr. Rodrigo Cambará, personagem do Arquipélago, ultima parte da trilogia do Tempo e o Vento, do grande Érico Veríssimo.
Eu odiava!!! Lia machado e alencar numa boa, mas coleção Vaga-Lume, por Deus!!! De tudo o que li, só gostei de ‘Garra de campeão” (acho que do próprio Marcos Rey) e “Açúcar Amargo”, que até hj (30 primaverinhas no RG) continuo achando literatura de primeira. É como “Números Pares, Ímpares e Idiotas” de Juan Jose Millas: travestido de livro juvenil, uma obra para todas as idades.
Agora me ocorreu outro perdedor Crasso : Horácio, o mauricinho superficial, preconceituoso e fetichista de “A Pata da Gazela” de José de Alencar. Quem mandou julgar a amada pela suposta aparência do pé? SI FU com todas as letras.
Na minha opinião há muitos perdedores em nossa literatura, acho que os principais são : Mestre Amaro e Coronel Lula, Fogo Morto,de José Lins do Rego; Fabiano, Vidas Secas, Luis da Silva, Angustia, do Graciliano; o marido da Dona Quita do Incidente em Antares, Erico Verissimo, ele é tão bundão que não consigo me lembrar do nome; o Pádua, Dom Casmurro, do Machado.
belmiro borba (o amanuense belmiro, de cyro dos anjos) é um looser cool.
corrigindo, “loser cool” (sic).
Macabéa é fortíssima candidata, assim como seu namorado Olímpico.
Paulo Simões, protagonista de Pessach: a Travessia é um dos mais trágicos perdedores da literatura contemporânea.
Difícil escolher quem foi mais cruel com seu personagem, Cony ou Lispector.
Vitorino Carneiro da Cunha, de Fogo Morto, do José Lins do Rego
o Amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos
Paulo Honório, de São Bernardo, que perdeu tendo conseguido.