O romance mais vendido hoje na livraria virtual Amazon, Bad twin, foi publicado na semana passada e logo deslocou o fenômeno “O código da Vinci” para o segundo lugar. A façanha é ainda mais respeitável porque o thriller de Dan Brown, além de ter sua própria história de sucesso, está turbinado no momento pela propaganda do filme nele baseado.
Nada disso, porém, é o mais importante no caso de Bad twin. O que torna o livro um caso realmente único é o fato de seu autor, Gary Troup, não existir – ou melhor, só existir como personagem de ficção. Troup é um dos passageiros que não sobreviveram à queda do avião no seriado de TV “Lost”. Na história, o manuscrito de Bad twin foi encontrado entre os destroços e lido por um dos sobreviventes.
A diferença entre Gary Troup (anagrama de “Purgatory”, como alguns fãs de “Lost” não demoraram a descobrir) e outros autores de mentira – aquele “lourinho/lourinha” que andou pela Flip ano passado, por exemplo – é que o jogo ficcional, no caso do personagem de “Lost”, é assumido. Leva a questão da autoria para um terreno que a obsessão pós-moderna com a história-dentro-da-história ainda não tinha ousado sonhar, mas não invade o Código Penal.
A caixa registradora continua tilintando enquanto os leitores tentam adivinhar que autor se esconde por trás de Troup – alguns apostam em Stephen King. Mas tudo passa por brincadeira e é difícil negar que seja, inclusive quando o próprio site da Amazon ajuda a embaralhar ficção e realidade e informa que “o autor Gary Troup entregou o manuscrito de seu aguardado thriller, ‘Bad twin’, poucos dias antes de embarcar no condenado vôo 815”.
12 Comentários
Vende-se a venda do livro. Dá-se a isso o nome de marketing. Do texto, nem uma única nota. O (suposto, eventual) leitor, compra a compra do livro, obrigatória, e passa a fazer parte do jogo (no caso, quem é o autor). O texto? Oras, o texto!
Quando é que você vai descobrir Teresa Horta?
Os anjos
Os anjos descobrem
a vulva
no mesmo instante
em que sabem
do pénis:
com
as pernas ligeiramente
abertas
e desviando as asas
São raríssimas as
asas
que não partem dos seios
a florir nos
ombros
Como um manso púbis
com os seus veios
de sombra
E o anjo
debaixo
ficou a acariciar o pénis
do anjo que voava
por cima
de manso procurando
o fundo
da vagina
Shirlei, deve ser uma falha minha: não entendi. Você queria que eu publicasse uma resenha do livro do cara do Lost? A notícia em si não vale nada? Não seria justo o contrário? Explica de novo?
Obrigado pelo poema, gostei. Mas o Todoprosa, como o nome indica, só vai falar de prosa.
Não, Sérgio, eu não acho que você deveria fazer uma resenha do texto, não é isso. É muito legal da sua parte dividir conosco o que você ainda está lendo, por sinal. Minha crítica vai diretamente à indústria livreira. Montam-se best sellers com a rapidez da frase que os traduzem. O livro é best seller antes de chegar às bancas, porque a editora faz um imenso esforço $ para isso. A mim não interessam best sellers – quero saber o que está surgindo de novo em termos de texto (como a mineira que você comenta abaixo). No Brasil, temos meia dúzia de best sellers que ninguém lê mas compra. Tem que comprar, ostentar embaixo do braço, ter na sala, sobre a mesa. Tem até alguns que eu não posso mencionar, se não quiser correr o risco de ser trucidada. De resto, é uma pena você restringir o espaço à prosa (Mª Teresa é das poucas pessoas que sabem usar o erotismo poeticamente). Aliás, agora quem não está entendendo sou eu. Só prosa?
Só prosa, Shirley, e prosa literária (não-ficção também fica fora). Por quê? Porque é o que eu mais leio, o que eu escrevo, porque é preciso ter foco, porque sou um só, coisa e tal. E no mundo tem prosa que não acaba mais, concorda?
Sabe quando uma coisa fica incomodando? Pois é.
1) O poema Os anjos acima é de Maria Teresa Horta, excelente poetisa portuguesa, cuja leitura recomendo. Acho incrível a maneira poética como ela trata assuntos realistas.
2) O que me incomodou na história do Gary Troup é que, para mim, é incrível esse marketing para vender o livro. Não é o livro e seu conteúdo que estão à venda, mas a necessidade (pós-moderna, se você quiser) de fazer parte do grupo que comprou e ter uma opinião sobre (nesse caso) quem é o autor. O livro, dentro desse contexto, é o que menos importa.
Acho que agora eu fui mais clara.
Em tempo: sua nota é perfeita, está nos informando; em nenhum momento quis desmerecer a sua informação. ‘Magina!!!
Escrevemos simultaneamente. Sim, concordo. Vou ter que batalhar a poesia.
Bem, na verdade, eu gostaria se saber duas coisas. Primeiro, os autores de Lost tem alguma ligação com essa historia? e Depois, o livro parte do pressuposto que seria um passageiro do voo, mas na verdade a historia de Bad Twin nao tem nada a ver com a serie? Fiquei com essas duvidas.
Caro Rafael, a ligação dos autores de Lost com o livro é evidente: trata-se de uma orquestração “oficial”. Quanto ao conteúdo, bom, não li (nem pretendo ler), mas em geral as histórias-dentro-da-história acabam dizendo a que vieram na história principal, em algum momento, por mais independentes que pareçam.
Caso interessante, mas não inédito. Quando a série concebida pelo David Lynch, “Twin Peaks”, estava no auge, os “Diários Secretos de Laura Palmer” também galgaram os primeiros lugares nas listas de best-sellers do mundo inteiro, Brasil incluído.
Gostei dos argumentos e abri um novo tópico na comunidade do Stephen King com (Ctrl+C Ctrl+V) a matéria na íntegra e seus devidos créditos. olha o link http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=3918&tid=2467342601406558552&start=1 .
Meia duzias de livros que estao na lista de Best Seller que as pessoas comprar mas nao leel só pra ostentar embaixo do braço?
Me desculpe, mas só se isso for no seu meio, pq no meu, pelo preço do livro, quem compra quer ler e de preferencia ainda empresta e pega emprestado pra economizar.
A minoria pode fazer o q vc disse, mas brasileiro tem preocupaçoes bem maiores que parecer cult