Histórias de faroeste? Isso mesmo. Mas histórias de faroeste escritas por ninguém menos que Elmore Leonard, 80 anos, um mestre da narrativa veloz que é dono de um ouvido perfeito, imbatível na estetização da língua americana falada hoje e, por conta de tudo isso, um dos maiores prosadores vivos da língua inglesa. Quem acha que todos esses elogios não combinam com um escritor assumidamente comercial deve pensar de novo. Leonard não é um literato. É uma fábrica de histórias, do tipo que lança um livro por ano e vê muitas de suas tramas irem parar na tela grande – a maioria das vezes em filmes aquém de sua qualidade, mas recentemente em dois sucessos hollywoodianos, “O nome do jogo” e “Jackie Brown”.
Mais conhecido como autor de romances policiais, foi escrevendo contos e romances do gênero western que Elmore Leonard fez sua carreira decolar, a partir dos anos 50. Vale conferir, em inglês, os aplausos com que o sisudo “Financial Times” comemora o lançamento de todos os seus contos de bangue-bangue num só volume, na Inglaterra, aqui.
Os romances de faroeste de Elmore Leonard vêm sendo lançados no Brasil pela Rocco, que publica o autor há muitos anos – como se pode conferir neste link da Livraria Cultura. Isso é ótimo, mas quem puder deve fazer de tudo para ler o homem no original. Escritores de ouvido perfeito não dão vida fácil a tradutores. Nunca encontrei uma tradução que chegasse perto de fazer justiça a Leonard, e isso não é necessariamente culpa de ninguém. É mérito do homem.
25 Comentários
E qual livro você indica pra quem nunca leu “Elmore Leonard”, Sérgio?
Nunca ouvi falar… escritor de bang-bang para mim, era o Marcial Lafuente Estefania, famoso autor de livros de bolso nos anos 60. Peguei o hábito dessa leitura por influência de meu pai, que nunca o deixou, até o fim da vida, em 1993…
Mazi, pode pegar qualquer um dos policiais que não tem erro. Eu gosto especialmente de “LaBrava”, “City primeval” e “Stick”. “Get Shorty”, adaptado para o cinema (com o título no Brasil de “O nome do jogo”), também é muito bom.
Pois eu garanto pela tradução de “Hombre”, meu caro Sérgio Rodrigies. Não vou botar a mão no fogo — sincera e honestamente falando — pela tradução dos colegas encarregados dos outros sete “westerns” de Leonard, lançados pela Rocco, porém, pelo trabalho no “Hombre” (sobre o qual me debrucei durante mais de um ano, para manter aquele estilo a “palo seco” do homem — e também porque o livrinho, na minha opinião, é uma pequena obra-prima), lá estão [pegue um exemplar, e confira] o estilo enxuto, as situações descritas “à faca” e os traços dos personagens fixados em escassas linhas, além do idioma passado pelo nervo dos Hammets & Chandlers, para não falar dos “Kilimanjaros” da língua escalados por Ernest, Scott e outros da “turma” perdida em Paris, na três primeiras décadas do século passado.
PS: Acrescento uma coisa: há uma história por trás dessa “coleção” da Rocco para a qual não haveria espaço – sem tomar o dos outros – neste espaço dos comentários. É uma “histórinha” talvez exemplar, em parte sobre como se tomam algumas edições editoriais aqui em Pindorama…
Pois eu garanto pela tradução de “Hombre”, meu caro Sérgio Rodrigues. Não vou botar a mão no fogo — sincera e honestamente falando — pela tradução dos colegas encarregados dos outros sete “westerns” de Leonard lançados pela Rocco, porém, pelo trabalho no “Hombre” (sobre o qual me debrucei durante mais de um ano, para manter aquele estilo a “palo seco” do homem — e também porque o livrinho, na minha opinião, é uma pequena obra-prima), lá estão [pegue um exemplar, e confira] o estilo enxuto, as situações descritas “à faca” e os traços dos personagens fixados em escassas linhas, além do idioma passado pelo nervo dos Hammets & Chandlers, para não falar dos “Kilimanjaros” da língua escalados por Ernest, Scott e outros da “turma” perdida em Paris, na três primeiras décadas do século passado.
PS: Acrescento uma coisa: há uma história por trás dessa “coleção” da Rocco para a qual não haveria espaço – sem tomar o dos outros – neste espaço dos comentários. É uma “historinha” talvez exemplar, em parte sobre como se tomam algumas edições editoriais aqui em Pindorama?
Não conheço sua tradução do Hombre, Monteiro, mas a defesa que você faz dela traduz firmeza. É claro que vou conferir.
Li todos os livros de faroeste dele, lançados pela Rocco, e há equívocos de tradução em alguns, como verter “read signs” – significando ler rastros, rastrear – para “ler placas”. No meio do deserto do Arizona.
Rodrigo: concordo com você, há defeitos como esse – infelizmente – em quase todos os livros da “Coleção Faroeste” da Rocco. Como tradutor de “Hombre”, entre eles, lamentei isso, citei-os num artigo para a BRAVO (edição de junho de 2004) e, aqui, neste blog onde o Sérgio sempre levanta boas questões, aproveito para esclarecer: sou eu o “culpado” por essa Coleção da Rocco, pois me propus a traduzir o “Hombre” para a editora (quando fiquei sabendo que os direitos do livro de Elmore Leonard eram dela, no Brasil), e mais: sugeri – precisamente à Mônica Figueiredo, do Departamento Editorial – que eles lançassem uma coleção com as melhores novelas do Oeste, de autores como Jack Shaeffer (“Shane”/Os Brutos Também Amam”, Alan Le May (“The Searchers”/Rastros de Ódio etc), Walter Van Tilburg Clark (“The Ox-Bow Incident”/Consciências Mortas) e outros — além do Leonard de “Hombre”, é claro.
E o que é que a editora carioca fez? Como ela tinha “em casa” os direitos das novelas de Oeste dele (Leonard), provavelmente como “contra-peso”, eu suponho, de algum contratro referente aos lançamentos policiais do escritor, contratou comigo a tradução de “Hombre” e, com duas tradutoras, a versão de mais sete dos “westerns” leonardianos que dormiam nas suas gavetas…
Bem, traduzi o “Hombre” da melhor forma que podia – volto a garantir -, porém fiquei pasmo com essa “decisão” editorial.
Pensei, até, que ela não prosseguiria até as “vias de fato” da publicação etc (isto é, alguém mais sensato, lá, quem sabe reverteria a coisa?)… mas, foi em vão. Na Bienal de São Paulo, há dois anos, a Rocco lançou cinco “westerns” de EL –“Hombre” com um prefácio nosso — e, meses depois, mais três “novelas de cowboy” do MESMO autor, perfazendo os oito títulos de uma coleção que deveria ter se chamado “Coleção Elmore Leonard do Oeste”, ou algo assim. Este já longo
“post” pode dar uma idéia, portanto, de como as coisas podem ser estranhas numa grande editora brasileira, e, também, talvez explique que, nos outros sete livros da tal “Coleção”, o rigor tenha sido na base do “mínimo esforço” etc, abrindo brecha para erros como o que você apontou (e outros até mais GRAVES, acrescento eu).
Sérgio, Parabéns!
Muito oportuna sua matéria sobre o Elmore Leonard. Eu sou fã de carteirinha dele e já li todos os policiais e os principais westerns e concordo em grau gênero e número contigo sobre a leitura do original, sem desmerecer a tradução de “Hombre”, do Fernando Monteiro, que não conheço.
Os diálogos dele são realmente imbatíveis.
A filmografia completa das obra de Leonard:
Hombre (1967), com Paul Newman
Mr. Majestik(1974) com Charles Bronson
52 Pick Up(1986) com Roy Scheider e Ann-Margret
Get Shorty (1995)com John Travolta, Danny de Vito e Renee Russo
Jackie Brown (1997) com Pam Grier e Robert Forster
Be Cool (2005) com John Travolta e Uma Thurmann.
Oops,
Me esqueci de incluir na filmografia
Out of Sight (1998) com George Clooney e Jenifer Lopez.
Antony: foi bom você lembrar que existe um excelente filme – dirigido pelo competentíssimo Martin Ritt – baseado em “Hombre”. Aliás, diante de um texto de Leonard (também roteirista, e dos bons), um diretor de cinema precisa apenas sentar na sua cadeira e dirigir os atores, eu imagino. O filme já está, inteiro, ali no original.
3:10 to Yuma (1957) e
Valdez is coming (1971) com Burt Lancaster completam a filmografia
3:10 to Yuma é com Glen Ford e Van Heflin
Antony: mais dois westerns de qualidade, que vc oportumente lembrou, baseados em originais de Leonard: “Valdez” e o ótimo, o excelente “3:30 to Yuma”, que, no Brasil, veio a ser, esquisitamente,
“Galante Sanguinário” (?), com Glenn FOrd e Van Heflin dirigidos pelo mestre Delmer Daves de “Cowboy”/”Como Nasce um Bravo” e outros. (E um preto-e-branco espetacular, desses que dão saudade quando a gente assiste ao uso da cor – muitas vezes SEM função – na maioria dos filmes de hoje.
Fernando, isso que você relata é muito sério. Sério e esquisito, uma vez que a editora da Rocco, a Vivian Wyler, é uma profissional pra lá de competente. Não posso dar opinião a respeito das traduções, porque não li nenhum dos livros.
Fugu F:
eu conheci a Vivian Wyler, no tempo em que ela trabalhava no “Jornal do Brasil” — e também tenho a mesma impressão, sua, sobre a competência da hoje editora da Rocco. Porém, basta vc ir numa livraria e manusear a “Coleção Faroeste” para conferir: apesar desse título abrangente, verá oito westerns de Elmore Leonard (e nem todos no mesmo nível: há dois ou três “mais ou menos”, uns três bons, um muito bom – “Quarenta Chibatadas Menos Uma” – e uma pequena obra-prima do gênero, que é “Hombre”). Apenas este, por mim traduzido, tem prefácio — porque a Rocco queria uma espécie de “prefácio-chapa” (para TODOS os oito, entenda-se) e eu coloquei para eles que “prefácio” é individual, ou seja, para CADA obra (o que é estranho, vc não acha?, para se ter de “ensinar” a uma grande editora) etc. Bem, como não quiseram isso – isto é, pagar por cada texto específico para cada título – publicaram o prefácio no “Hombre”
mesmo, e deixaram os outros sete livros SEM. [Embora pedissem que eu “acrescentasse” a citação dos outros sete títulos ao prefácio de “Hombre”].
Relato tudo isso para esclarecer como uma boa idéia – a coleção de diferentes autores de novelas do Oeste de alta qualidade – pode ser simplesmente destruída por razões de economia (suponho), com ou sem a indiscutível competência da Vivian Wyler. E os erros de tradução – que realmente existem, em pelo menos seis dos títulos da “Faroeste” -certamente pertencem ao mesmo contexto tipo “vamos fazer de qualquer jeito, que vem a dar no mesmo”, digamos. Muita gente no Brasi pensa assim, infelizmente, e não só no ramo editorial (vide a CBF e o que acaba de acontecer com a seleção brasileira)…
1) “As histórias eletrizantes de Elmore Leonard, muitas delas transformadas em filme, crepitam com seus característicos diálogos. Situadas numa paisagem magnífica, pintada com pinceladas eloqüentes, encontram-se, nesta série, histórias cruas e amargas de coragem, traição e redenção, que revelam o espírito de uma fronteira do faroeste como só Elmore Leonard poderia recriar.” Esse é o “release” da Coleção Faroeste da Rocco. Acho que não preciso falar mais nada sobre esse assunto.
2) Erros de tradução existem e vão existir, sempre. Em alguns livros mais, em outros, menos. Óbvio que, em alguns casos, o descuido pode ter sido maior. Ou pode ser maior. Mas existem algumas questões que devem ser levadas em conta. Eu não quero citar o livro nem a editora aqui, mas sei de um caso de um “livro de ocasião” (ou seja, que foi lançado para aproveitar uma “onda”, um fato que estava acontecendo ou prestes a acontecer) no qual tradução e revisão saíram muito prejudicadas por conta da pressa em lançar. A próxima edição será corrigida e tal, mas os editores não poderiam deixar de lançar o livro na época. São questões comerciais. Não podemos ser românticos ou ingênuos e pensar que editores e editoras fazer apologia à arte. Eles visam o lucro. Dindin, bufunfa, money. É a vida deles, é o ganhar pão. O máximo que podemos fazer quando nos depararmos com edições ruins ou mal cuidadas é enviar um email para a editora, reclamando do problema e sair no boca a boca, dizendo que tal edição é ruim. E esperar que uma boa alma nos presenteie com uma edição nova e revista hehehe
3) Sobre um prefácio só para vários livros, não vejo mal nenhum nisso. Afinal, é uma coleção. Bastaria colocar uma biografia do autor, uma breve análise de sua obra e pronto. É uma coleção… É diferente, por exemplo, de a Cia das Letras com o Philip Roth, que pode colocar tanto prefácios iguais quanto diferentes em seus livros, já que eles não têm uma “Coleção PR”. Apenas publicam os títulos dele aqui.
Bom, acho que já falei bastante. Abraços a todos.
Rafael, você escreveu: “Sobre um prefácio só para vários livros, não vejo mal nenhum nisso. Afinal, é uma coleção. Bastaria colocar uma biografia do autor, uma breve análise de sua obra e pronto.” Bem, isto aí que você descreveu NÃO é propriamente um PREFÁCIO. Pode ser, digamos, uma “introdução”, ou nota prévia, editorial, de caráter biográfico – ou bio-bibliográfico – sobre o autor etc.
“Prefácio”, no rigor da palavra, é outra coisa, com mais nuances, autorais, de opinião crítica fundamentada sobre autor, obra etc etc. Esse, o conceito universal de prefácio (mas você, Rafael, tem todo o direito de querer, talvez, inventar outro)…
Inventá-lo-ei, então. Errei na definição, mas poderia ser essa introdução então, em todos os livros, ao invés do prefácio pra cada obra. Não seria tão ruim 🙂
E é que mais se faz, nos debates da maioria dos blogs brasileiros: inventa-se de tudo, para “argumentar” de qualquer jeito…
humrum. é verdade.
Obrigada, Sérgio.
Apenas uma pequena observação: Marcial Lafuentes Stefania… era mulher e não homem.
Perdão, escrevi o nome da autora errado… Marcial Lafuente Estefania era mulher e não homem.
Só para informar que, acabo de assistir com a máxima emoção, um dos grandes classicos do faroeste, baseado na obra deste
soberbo autor ELMORE LEONARD; trata-se de ” 3:10 TO YUMA” de 1957 com, GLENN FORD e VAN HEFLIN, direção de outro cobra do cinema, DELMER DAVES, que recomendo a todos os apreciadores de filmes de qualidade. Em tempo: a fotografia em preto e branco é simplesmente magnifica.
Um abraço.