Dia desses, um estudante de Jornalismo de Belo Horizonte me mandou um pequeno questionário por email sobre as relações entre internet e literatura. Quase respondi que está na hora de arrumarmos uma pauta mais original, mas me contive – ainda bem. É verdade que já faz alguns anos que nossos papos andam um tanto obsessivos, mas talvez isso seja compreensível diante da vastidão do tema. Acabei respondendo o que sempre respondo, que a internet não me parece um ambiente muito propício para a criação literária em si, mas é sem dúvida o paraíso para todo o resto: divulgação, debate, circulação, descoberta, pesquisa, tietagem, compra, venda, o diabo.
Um belíssimo exemplo disso é este site da Universidade de Rouen, na França, em que se pode ler o texto de “Madame Bovary” em francês e, clicando num trecho qualquer, abrir o fac-símile do original manuscrito – a maioria, como este aí ao lado, rabiscadíssimo por Gustave Flaubert em sua lendária caça à “palavra justa”. Escoltando a página com os garranchos há uma outra, limpa, com sua decifração/transcrição. À parte a utilidade óbvia para estudiosos de Flaubert, trata-se de um brinquedo genial. E um encontro emocionante entre literatura e internet.
8 Comentários
tu é pago pra isso?
tá me zoando
q texto meia boca
“Ler para viver”, como escreveu Flaubert.
Assim, a internet [que não se dissocia da vida], onde lê-se e escreve-se como nunca, 24×7, é potencialmente um novo espaço para a criação de narrativas.
Cada romance publicado em livro, desde o ‘Ingenioso Don Quixote’ recebe, naturalmente, a co-autoria de Gutenberg, pois o meio, sabe-se, influencia o conteúdo.
Na web, penso, os romances [ou qualquer outro termo que os represente] deverão receber a co-autoria de Tim Bernes Lee. Ou seja, se livro é livro, internet é internet. Mas, o texto ainda é outra coisa.
É possível existir literatura na internet? Ou ainda melhor, será que ela representará [na internet] o que dela conhecemos hoje?
Sim, claro, e muito mais. Algo de novo, vê-se, anuncia-se [do contrário, não se discutiria tanto o assunto]. As sombras antecipam o futuro.
Na internet, eu prefiro ver a literatura atingindo sua mais natural evolução. E não haverá nada de mal nisso.
Maravilha o site da Bovary.
Sergio, adorei este site, obrigada por linkar!
Na verdade esse tipo de experiência já tinha sido feito em ambiente offline, quando, por exemplo, lançaram os textos inéditos do Robert Musil em CD-ROM. Os editores acharam que o hipertexto se prestava melhor a explicar as sinuosas relações entre os textos diversos.
Por sorte, as tecnologias atuais da internet permitem reproduzir esse ambiente de forma pública e online.
O meio eletrônico precisa ser bastante utilizado, até ser dominado pela prática literária, e não o contrário.
Eu acredito na internet como uma ferramenta sincera e democrática de comunicação (e aqui, incluo a literatura, por vezes a conversa entre almas, corações e pensamentos). Um lugar onde o anônimo ganha espaço e pode buscar seus pares ou simplesmente compartilhar suas frases, seus escritos. Se isso coloca no mesmo celeiro obras-primas e lixo não reciclável, cabe a cada um fazer o seu processo de seleção. Mas penso que o benefício – exemplificado aqui por este site que você indicou – seja bem maior que o prejuízo e que o meio não possa ser ignorado.
fabuloso.
flaubert é gênio.
com certeza não gostaria e nem usaria a internet para a sua literatura, apenas para passar o tempo. 🙂