Quem se lembra da esnobada que Steve Jobs, da Apple, deu no livro eletrônico depois que a Amazon lançou o Kindle? Disse o homem que sua empresa não se interessava por esse mercado porque “as pessoas não lêem mais” – e não estava falando da classe média brasileira. Na época, comentei aqui no Todoprosa que Jobs podia estar disfarçando, enquanto se preparava para lançar um aparelho matador.
Acho que me enganei. Tudo indica que o aparelho já estava no mercado àquela altura, embora só agora comece a ficar mais clara sua vocação – entre muitas outras – para a leitura. Acaba de ser lançado o eReader Pro for iPhone, algo que os fãs do iPhone aguardam faz tempo. O vídeo demonstrativo disponível no endereço aí atrás é promissor, ainda que meio mambembe, mas convém esperar para saber como a novidade passará pelo teste de fogo a que a temida brigada dos blogueiros de tecnologia a submeterá nos próximos dias. Tamanho da tela, superfície brilhante x fosca, disponibilidade de títulos para baixar em cada um dos formatos, são muitas as variáveis que precisam ser levadas em conta.
Uma coisa parece certa: é bem mais condizente com o espírito do tempo ter um leitor eletrônico embutido num aparelho de múltiplas funcionalidades do que carregar uma engenhoca que serve só para isso.
22 Comentários
Sérgio, um editor me disse outro dia que há um empresário visionário (ou seria um maluquinho?) preparando um lançamento do gênero para o fim do ano, aqui no Brasil. Não sei quando ao eReader, mas o Kindle não dá pra acessarmos daqui, certo? Eu acho muito difícil, muito mesmo, trocar minha biblioteca em papel por qualquer coisa. Mas, da mesma forma que mantenho meus CDs enquanto levo suas músicas no iPod, não vejo a hora de colocar as mãos numa dessas engenhocas que funcionam como biblioteca portátil. Abraço,
Parece útil para viagens, ou filas de espera… nem sempre é confortável ficar carregando um livro por aí, além de se correr o risco de amassar as páginas e a capa. E, às vezes, dependendo do ambiente, é desconfortavelmente pedante sacar um livro e começar a ler… com isso aí, dá pra dar uma disfarçada (a que ponto chegamos… disfarçar a leitura!)
Abs.
Instalei num iPod Touch. É bacana. Oferece 3 opções de tipo, 4 de tamanho do corpo, tem sistema de busca por palavras no livro inteiro e sumário. O app já vem com 2 livros: Tarzã o rei dos macacos e O último dos moicanos. No site do software há 25 título de graça. Tem Conrad, Andersen, Jack London, Victor Hugo, Jane Austen, Swift, Stevenson, Poe, Júlio Verne, Mark Twain, Dickens, Conan Doyle… E na App Store, de onde se baixa o ereader de graça, há vários títulos à venda, por 99 centavos de dólar. Existe um outro app com a obra completa do Shakespeare! Como comentou o Paulo, para viagens e filas, é uma beleza.
Ler??? pra que…isso é coisa de nerd…-.-“
Sérgio, em termos de experiência de leitura, o iPhone + eReader pouco acrescenta. O eReader é um formato criptografado. Atende às questões de “segurança”? Talvez, mas até quando? Não vejo (o que consideraria aí sim “a” revolução) um movimento em direção a enxergar “o livro” (seja em que formato for) como um serviço e não como produto.
Livros, esses agregadores sociais, são serviços e não produtos. Esse é o futuro dos livros. As ferramentas de search, bookmarks etc que usamos nos browsers (leitores universais da linguagem padrão da internet, o HTML) já resolvem os problemas operacionais.
Apostar em formatos proprietários, criptografados para proteção de um conteúdo que pode ser digitalizado a qualquer momento é insistir em não evoluir. Precisamos passar para o próximo capítulo.
Os escritores, assim como os músicos, (editoras e gravadoras também) deverão encontrar novos modelos de criação e negócio.
Por enquanto, tudo como antes…
Quanto custa essa engenhoca?
Claudio, talvez você esteja certo, mas essa é outra conversa. O que me interessa no momento é o potencial do iPhone como suporte físico de leitura. Se funcionar, acho que restarão poucas chances para outros aparelhos, pela razão exposta na última frase do post. Definido isso, os formatos são outros quinhentos.
Que engenhoca, Tibor? O eReader é gratuito, você paga por livro baixado. O iPhone não é barato, algo entre R$ 600 e R$ 2000 no Brasil, mas só falta fritar ovo.
Sérgio, o eReader do iPhone (ou mesmo o Safari, browser) não difere do modelo disponível nos Palms. Em termos de suporte físico, seja o iPhone ou qq outro i* que surja no futuro, concordo contigo: deverá representar uma convergência de mídias. O telefone celular até servirá para comunicação por voz, mas isso será apenas um detalhe.
Dispenso… Apesar de ser designer, e acho que exatamente por isso, não vejo utilidade para esses produtos dispensáveis que as empresas fazem parecer indispensáveis.
Nada contra a evolução, mas em particular não topo com o Iphone de jeito nenhum…
Se for pra carregar alguma coisa, que seja ainda um livro, porque por isso os ladrãoes não se interessam, haja vista o o valor insignificante que um livro tem no escambo por substâncias ilícitas…
Prefiro carreagar ainda um livro de papel do que uma engenhoca que pode ser levada atrativo para pessoas que não trabalham honestamente…
Como existe vários tipos de leituras (“How to read a book”, de Mortime Adler), segue um exemplo de “feature” a ser recebido com os livros digitais.
O Wordle (uma dica de Mario Costa e Cézar Taurion, da IBM) gera um “word cloud” de qq texto fornecido.
Criei um exemplo com o romance “Dom Casmurro” em http://wordle.net/gallery/wrdl/70061/Dom_Casmurro,_de_Machado_de_Assis
Muuuuuito bom, hein C. S. Soares?
Você mudou o número máximo de palavras?
Ou o Machado foi econômico mesmo?
Obrigado pela dica.
Abraço
Felipe, não tenho acesso ao algoritmo do site, mas entendo que apenas as palavras de maior ocorrência apareçam. Entretanto, usando um script de contagem de palavras (word count) no MS-Word ou OpenOffice, podemos constatar, facilmente, que Machado, para criar “Dom Casmurro”, usou um vocabulário de pouco mais de 2000 palavras.
Peraí,
o cara vai ler na telinha do IPhone? Li o anuncio no link e nao entendi esse ponto.
Mas, Sérgio, mesmo que o Kindle ou aparelhos semelhantes tenham uso limitado, não é legal saber que dá pra comprar por 10 dólares alguma boa obra de referência e pesquisá-la com uma economia de tempo e uma precisão que podem escapar na pesquisa “física”? Eu escrevo profissionalmente, faço pesquisas com freqüência e, muito antes de alguém surgir com essa idéia do livro virtual, eu já sonhava com um “control + find” que pudesse me levar à página certa da informação que eu estava procurando… Abs
600 a 2000 reais… dá pra comprar uma porrada de livros com isso… e sem risco de ser roubado, como bem lembrou o Mr. Writer.
Mas que o iPhone é atraente, isso é!
Onde tem iPhone por R$ 600,00?
C. S. Soares: perguntei sobre o número de palavras porque vi que há a opção de aumentar o limite de vocábulos da nuvem, no menú “layout”, opção “maximum words”. O número default é 150. Peguei uma crônica do meu blog para teste e aumentei o número de palavras para 400, e a nuvem ficou muito maior do que a do Dom Casmurro…
Abraço
Exatamente, Felipe.
Um ponto fundamental de ser observado na questão do iPhone (iPod etc) é a desvinculação entre dispositivo de acesso e conteúdo.
As pesquisas sobre qq conteúdo (incluindo aquela leitura que Mortimer Adler chamou de sintópica) torna-se mais fácil.
O desenvolvimento da TI tem buscado possibilitar aos seres humanos “gastar” mais tempo na informação do que na busca dessa informação.
Em 1984, John Cage, da Sun Microsystem, anunciava “the network is the computer”.
Esqueçam desktops, laptops, celulares. Estes são apenas dispositivos de acesso. Como será a TV digital (e como tem sido o próprio livro “analógico”).
A internet é o grande computador distribuído, colaborativo e on-line.
E tudo o que funciona “sobre essa camada da internet” é serviço, e este deverá ser cada vez mais personalizado.
Conforto ainda é um fator tão fundamental quanto a praticidade. E a tela do iPhone não dá pro gsto não.
Abss!
Por favor, só me acordem quando chegarmos à estação literatura. Obrigado!
ZZZZZ….
Apple Inc: O maior varejista do mercado de música dos EUA
O mercado musical tem muito a ensinar ao mercado editorial. É a era da “Cauda Longa”. Apple, com a sua “iTunes Store”, desde abril, é a número 1 no mercado varejista de música nos EUA, batendo o Wal-Mart.
Como diz aquela piada: o chaveiro é aquele objeto utilíssimo que nos permite perder todas as chaves ao mesmo tempo em vez de termos o trabalho de perder uma por uma…
Sinceramente, eu não gostaria da idéia de um telefone celular que incluísse um livro eletrônico, até porque a vida útil de um telefone celular é muito pequena. Quando a bateria vicia, a gente já troca. E os programas que trocam informações entre o telefone celular e o computador necessariamente o escravizam a ser fiel daquela marca de telefone.
O livro digital deve ser um objeto separado, único. Pela própria natureza (arquivos .doc?), não precisa de muita frescura. Basta uma grande memória e uma imensa resistência para ser quase eterno.
Juntar livro e telefone celular é o fim da picada.