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Fala, Nabokov

17/12/2008

Presente de Natal do YouTube, esse Papai Noel moderno: Vladimir Nabokov falando longamente de literatura em seu inglês de forte sotaque russo num documentário narrado em francês (via Omnivoracious, o blog da Amazon). Além de ler as primeiras linhas de “Lolita” em seu idioma natal e naquele que adotou, o grande escritor despeja diante da câmera, com uma marra monumental que me pareceu temperada por uma leve mas inequívoca sugestão de molecagem, strong opinions mais devastadoras que as de qualquer personagem de Coetzee. Como estas:

Fico perplexo e me divirto com as idéias fabricadas sobre supostos “grandes livros”. Que, por exemplo, o asinino “Morte em Veneza”, de Mann; o melodramático e pessimamente escrito “Doutor Jivago”, de Pasternak; ou as crônicas caipiras de Faulkner possam ser considerados obras-primas, ou pelo menos aquilo que os jornalistas chamam de “grandes livros”, é para mim o mesmo tipo de ilusão de quando uma pessoa hipnotizada faz amor com uma cadeira.

Nunca é demais lembrar: ano que vem a Alfaguara brasileira participa do lançamento mundial de The original of Laura, um Nabokov inédito.

16 Comentários

  • Fernando Torres 17/12/2008em12:52

    1. Valeu pelo presente, nunca pensei em ouvir Lolita em russo, até por que não entendo tal lingua.

    2. “Toda Rússia que preciso está comigo” – Achei maravilhoso.

    3. “pelo menos aquilo que os jornalistas chamam de “grandes livros”, é para mim o mesmo tipo de ilusão de quando uma pessoa hipnotizada faz amor com uma cadeira” – Perfeito!

    4. Cheio de marra? O que é isso Sérgio? Nós de fora do Rio não entendemos essa gíria.

  • Bernardo Brayner 17/12/2008em14:14

    Deu vontade de chorar.

  • Thiago Maia 17/12/2008em14:47

    Já vi o Sabato afirmando que o Nabokov não gostava do texto do Dostoiévski – não sei se assim se escreve o último.

  • Saint-Clair Stockler 17/12/2008em15:00

    Ah, o tio Nabô era um fofo mesmo! Amo, amo!

  • Isabel Pinheiro 17/12/2008em15:05

    Putz, concordo inteiramente com a opinião dele sobre Dr. Jivago…

  • Fernando Torres 17/12/2008em15:05

    Thiago, não tem muito certo e errado quando soletramos uma palavra em Russo o alfabeto é outro e as letras representam sons diversos.

  • Thiago Maia 17/12/2008em16:42

    Opa, obrigadão, Fernando.

  • Sérgio Rodrigues 17/12/2008em16:50

    Thiago, é verdade, Nabokov realmente detestava Dostoievski. Achava-o derramado, melodramático, dono de um estilo sujo.

    Fernando, marra é arrogância, autoconfiança excessiva, imodéstia – acompanhada ou não de razões para isso. Romário era (é?) chamado de baixinho marrento.

  • Outro Paulo 17/12/2008em17:41

    Se fosse qualquer outro, haveria dezenas de críticas à “marra”, ao absurdo de se criticar, sem apresentar razões para tal, Pasternak, Falkner e Mann. E, em outras oportunidades, Dostoievski. Mas, como foi dito pelo Nabokov, o pessoal finge que o que ele disse faz algum sentido.

  • Valéria Martins 17/12/2008em18:26

    Só sei que gosto mais do Nabokov do que de todos esses que ele menciona. Mas acho “Morte em Veneza” um grande livro também.

  • Alexandre 18/12/2008em04:49

    Sérgio, por que os escritores se odeiam tanto? Uma banda de rock não consegue ser tão boçal. Povo doido… deviam ser mudos. Nada mais antipático ( em qualquer profissão) do que topar com um sujeito que pisa ( pior dos crimes) sem precisar ,
    em alguém que ( como ele) possui grandes qualidades. Li Lolita e Fogo Pálido. E Nabokov é realmente um grande escritor. Cuspir em Dostoiévski?! Por que não cuspir na Rússia? Seria mais digno. Desconhecia esta ingratidão. Como leitor, sem pretensão artística alguma, percebo que a gratidão é não é o forte da literatura. Se existe é pouca, quase nenhuma.

    P.S. Não gostar de um gênio é um triste direito, mas não reconhecer suas qualidades, me parece algo mais grave. Se vivo fosse, mandaria um recado para o sr. Nabokov: ” Quem tem medo fere os outros.”
    Alexandre.

  • Breno Kümmel 18/12/2008em07:16

    O que o Nabokov faz não tem nada a ver com o que o Dostoiévski faz. Nabokov é um esteta, tudo por uma frase perfeita, enquanto o Dostoiévski escreve romances filosóficos, de debate de idéias. São personalidades artísticas completamente diferentes, se tivessem vivido na mesma época os dois teriam se odiado.

    É besteira achar que todo mundo é obrigado a gostar de todos os clássicos.

  • josé rubens 18/12/2008em09:04

    Concordo com o Alexandre, não há nada mais boçal do que este ódio que escritores nutrem por alguns de seus pares. É algo que contraria até mesmo o princípio norteador da literatura, que é comungar sonhos,pesadelos, angústias, alegrias, etc. Uma crítica fundamenta, vá lá. Agora, desancar a obra alheia, isso é demais!

  • Claudio Soares 18/12/2008em10:51

    Grande Nabokov! O lançamento do “projeto Nabokov” da Alfaguara é ansionamente aguardado por todos nós.

    Sérgio, talvez vc já o saiba, mas compartilho com os demais amigos do TP que o professor Brian Boyd, maior especialista mundial da obra de Vladimir Nabokov, já em jan/2009, estréia como colaborador do PONTOLIT.

    Vladiiiimir Nabôookoff, em suas “Aulas de literatura”, propôs um interessante exercício [repasso a vcs, a resposta de Nabokov, quem quiser pode antecipar]:

    Como deve ser um leitor para ser um bom leitor? [selecione 4 respostas]

    1] deve pertencer a um clube de livros?
    2] deve se identificar com o herói ou heroína?
    3] deve concentrar-se no aspecto sócio-econômico?
    4] deve preferir uma história com ação e diálogos a uma que não os tenha?
    5] deve ter visto o livro em filme?
    6] deve ser um escritor debutante?
    7] deve possuir imaginação?
    8] deve possuir boa memória?
    9] deve ter um dicionário?
    10] deve possuir algum sentido artístico?

    O que vcs acham? Quais as 4 características de um bom leitor, segundo Vladimir Nabokov?

    Abs,

  • Claudio Soares 18/12/2008em11:31

    Entrevistando Vladimir Nabokov [The Paris Review – The Art of Fiction No. 40]: http://www.theparisreview.org/viewinterview.php/prmMID/4310

  • Bruno Moraes 18/12/2008em11:59

    “(…) the things I detest (…) Concise dictionaries (…) Humility! What a splendid word! (…)”

    Décadas se passaram e ele continua atual. Ou melhor, atemporal, virtude de pouquissimos.