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Ficção científica

28/11/2007

futuro-do-livro-3.JPGPara não mudar de assunto, aí vai o pequeno texto que escrevi para o belo livro de arte “O futuro do livro – sessenta visões”, que comemora os 60 anos da Ipsis Gráfica e Editora e que está sendo lançado hoje em São Paulo. Os exercícios de futurologia feitos por nomes como Milton Hatoum, Luis Fernando Verissimo, Marçal Aquino, Muniz Sodré, José Mindlin, Ziraldo, Gilberto Gil e Heloísa Buarque de Hollanda, para citar uma pequena fração da turma de convidados, acabam montando um painel de pontos de vista que faz justiça à polêmica suscitada pela nota aí embaixo. Quem, depois daquele post, quiser ler a seguinte historinha como uma prova de minha irremediável indecisão diante do tema, pode.

O argumento é de ficção científica, mas não inverossímil: certo dia, um Grande Pulso Eletromagnético varre a Terra. Vem do espaço, o Pulsão, como logo fica conhecido, talvez provocado por algum evento cósmico de escala inconcebível como o espirro de uma estrela mil vezes maior que o Sol – jamais teremos certeza.

Uma das razões pelas quais jamais teremos certeza é que o Pulsão, ao lamber nosso planeta e seguir viagem infinito adentro, apaga num segundo toda a memória digital acumulada pela humanidade em décadas de farra eletrônica. Assim, deixam de funcionar os telescópios que nos ajudariam a entender o fenômeno. Viram sucata junto com satélites, sistemas de controle de tráfego aéreo e terrestre, elevadores “inteligentes”, cadastros de pessoas físicas e jurídicas, bases de dados de cartões de crédito, memórias de celulares e computadores. Em poucos instantes vem abaixo um mundo alicerçado – irresponsavelmente, descobrimos então, mas é tarde – na informação digital. Morre mais gente nesse dia do que em todas as guerras dos séculos XX e XXI.

A reconstrução da vida na Terra será tarefa dura. Chega a parecer impossível, mas então os sobreviventes descobrem, um tanto surpresos, que conservam intactas as memórias armazenadas em seus cérebros biológicos. E que ainda têm – sim, em museus, porões, servindo como escora de porta – aqueles objetos quase esquecidos, herança de seus avós, chamados livros. Grande achado tecnológico. Estão meio corroídos, mas o que são larvas e brocas perto de pulsos eletromagnéticos?

36 Comentários

  • ricardo 28/11/2007em18:27

    bela idéia! é original ou reciclagem de algum clássico? Daria um ótimo conto ou novela.

  • Sérgio Rodrigues 28/11/2007em18:44

    Ricardo: reciclado não é. Daí a ser exatamente original vai uma distância: catástrofe cósmica ameaça a humanidade, mas bons valores tradicionais a salvam… De qualquer forma, sempre achei que o Grande Pulso Eletromagnético daria um bom filmão pipoca. Um abraço.

  • shhhhhh 28/11/2007em19:05

    Tinha uma série, chamada Dark Angel, que se passava num mundo pós apocalíptico, cujo apocalipse havia sido um grande pulso eletromagnético que varreu toda informação digital do mundo (ou dos EUA, pelo menos) Foi quando apareceu a Jessica Alba, que era a heroína.

  • joao gomes 28/11/2007em19:26

    é um exercício bem proximo da verdade. …ou possibilidade.
    Isso lembra Um cântico para Leibowitz” de W.Miller.

    Mas o perigo pode vir daqui mesmo. Um garotao de 12 anos, um nerd podem colocar abaixo toda essa parafernália chamado ciberespaço.

  • Pedro David 29/11/2007em01:28

    Muito legal esse texto. No meu trabalho, de vez em quando, tem um “Pulsão” e a gente perde matérias inteiras. Já aconteceu com tese de mestrado de muito acadêmico também. Agora, a gente podia pensar por exemplo, que alguns livros não seriam achados. Então seriam convoidas pessoas do mundo todo para ajudarem a recompor um Quixote, por exemplo. Brincadeirinha bem Borgiana essa, não ? É só chamar o Funes o memorioso. Agora, a foda é se tiverem digitalizado a Biblioteca de babel. Aí, sei não…

  • Rafael Rodrigues 29/11/2007em03:19

    É justamente isso. Quando falam em deixar o livro impresso de lado e armazenar os livros no pc, eu sempre me saio com a mesma pergunta: é mais fácil meu pc dar um problema e eu perder tudo ou minha casa pegar fogo? Já perdi meus dados umas três vezes, pelo menos, em 10 anos de convivência com computadores – e não, não deu pra fazer backup -, mas minha casa nunca pegou fogo, em 20 anos que vivo aqui. Nada contra os arquivos e esses aparelhinhos que andam inventando, tipo o Kindle. Pode ser até que eu compre um, quando aqui chegar. Mas, para mim, nada melhor que o livro impresso.

  • moinha 29/11/2007em08:11

    E sem falar que é mais fácil roubar um Kindle do que uma biblioteca inteira. É só lembrar do exemplo do Coppola em Buenos Aires.

  • Daniel Brazil 29/11/2007em09:57

    Além (talvez antes) de Borges, a idéia de recriar livros através da memória já havia sido explorada por Ray Bradbury, em Farenheit 451. Poderíamos atualizar a idéia com seres humanos especializados em memorizar bancos de dados, além de livros. Pena serem tão sujeitos a danos, quebras e mau funcionamento…

  • Tibor Moricz 29/11/2007em11:24

    A idéia geral é bem clichê, mas sempre atual e perturbadora. Sim, daria um excelente conto… que tal arriscar, Sérgio? Depois manda pra eu ler…:-)

  • Claudio Soares 29/11/2007em11:53

    De certa forma já existem, Daniel: os portadores da Síndrome de Savant (e creio que Funes seria um deles).

    O texto é bom, Sérgio. Se a idéia é ou não original (O Tibor entende muito mais de Ficção Científica), penso que pouco importa (principalmente se considerarmos a possibilidade “do” Pulsão vir a ser “uma” Pulsão).

    Mas, nos tranquilizemos. A “memória” do Planeta está segura. As pesquisas e desenvolvimento na área de “storage” (digital) estão cada vez mais avançados e já existem formas de armazenamento (e recuperação de dados) bastante confiáveis.

    Um plano de contingência: em segurança de dados, uma área da Informática, um dos meios de assegurar o percentual mínimo de perda de dados (em caso de sinistros) é uma técnica chamada “espelhamento” (mirroring), uma cópia direta de um conjunto de dados (mal comparando, os “mirrors sites” funcionam de forma parecida) que nos permite recuperá-los a partir de uma cópia quase exata a qualquer momento.

    Agora, seguindo a proposta de Daniel Brazil, uma esperança (ainda que radical): Se por acaso a Teoria das Supercordas estiver correta, e o nosso universo realmente possuir 11 dimensões, teremos “espelhamento” o suficiente para nos garantir do(a)s Pulsões… 🙂

    Que venham os livros digitais!

  • Tibor Moricz 29/11/2007em13:33

    Flares solares podem causar blackouts de radiopropagação além de distúrbios em equipamentos de geração e distribuição de energia elétrica. Dependendo da intensidade, um desses flares poderia lançar todo o planeta em uma nova era pré-histórica. E isso não é extrapolação científica, é fato! Assim, livros digitais não serviriam para nada além de calço de porta (se tiverem peso suficiente para isso).

  • Gates Bezos 29/11/2007em13:56

    Tem gente que ainda não entendeu: os livros digitais já vieram. Estão aí desde que o Adobe reader foi lançado. Os e-readers também já existem há anos. E o livro digital não pegou. E não é porque ler na tela de um reader “cansa”. Isso é balela. Quem está acostumado a trabalhar no computador, lê numa tela do tipo do Sony reader sem problema nenhum. É porque o livro de papel é a tecnologia mais avançada que existe para leitura, até porque dispensa o uso da tecnologia para ser lido. Meu, pra que o cara vai querer ler um liro numa droga de uma máquina de 400 dólares se ele pode fazer a mesma coisa sem a máquina? Um CD, um vinil, um VHS, um DVD sempre vão precisar de um suporte tecnológico para rodar, por mais rudimentar que seja esse suporte. Por isso, a tecnologia vai aprimorando e racionalizando esses suportes. Daí o vinil virou CD que virou Mp3. O livro não tem essa. O que a tecnologia vai fazer pelo livro é produzir máquinas cada vez mais modernas que vão simplificar e baratear a impressão. As editoras vão passar a imprimir livros sob demanda. Isso já está acontecendo. Imprimir um livro há 20 anos era muito mais caro do que hoje. O livro digital pode vir a ser uma alternativa daqui a muito tempo, mas por enquanto, quando menos de 15 % da população mundial tem acesso á internet e só uma minoria desse número se anima a trocar o papel pelo e-book, o livro de papel não vai perder o seu posto para o eletrônico. O que a Amazon fez foi criar um aparelho para desestimular a pirataria de arquivos pdf que circulam na Net desde antes do Napster. Vocês não perceberam isso? O objetivo do Kindle não é atrair os leitores de impressos, mas os leitores de livros piratas digitais. Napsters do livro existem há anos e as editoras resolveram ser mais inteligentes do que as gravadoras e, em vez de mandar fechar esses sites e prender os responsáveis por disponibilizar as versões piratas em pdf dos livros, criaram um aparelho cheio de recursos para atrair os que já lêem livros digitais e animar os donos dos outros readers a troca-los pelo Kindle. Por isso, a Amazon disponibilizou acesso a jornais, blogs, Mp3, audio-livro. Por isso a conexão com a Amazon é feito gratuitamente e sem passar pelo computador para evitar que livros piratas fossem baixados. Por isso os livros não são baixados em pdf. Vocês são um bando de otários ao achar que a Amazon e as grandes editoras americanas fizeram isso para acabar com o livro impresso. Elas fizeram isso para reduzir a pirataria e faturar em cima dos consumidores piratas. Acordem!

  • Arnoud 29/11/2007em15:13

    O comentário acima mostra que uma pessoa instruída pode estar muito distante de ser uma pessoa educada.

  • Claudio Soares 29/11/2007em16:01

    O tema aqui discutido possui diversos “matizes”: experiência do leitor, intermedição editorial, “morte” do autor, grandes corporações querendo, através da tecnologia, dominar o mundo, etc.

    Gates-Bezos, estamos cientes do que vc alerta. Também não somos ingênuos em acreditar que os livros em papel serão varridos da face da Terra por uma sequência de 0-1s (ora, muitos ainda enviam carta, não é?).

    Roger Chartier tem um texto interessante que nos ajuda a compreender porque isso não ocorrerá: “O manuscrito na era do texto impresso”.

    Empresas, logicamente, precisam dar lucro. Agora, pirataria deveria ser uma preocupação também dos autores e, por que não?, leitores.

    O “produto” entregue, digitalmente, por Amazon e outras e-livrarias, podem e devem ter valores agregados que estimularão os seus clientes.

    Vale lembrar tb que o Kindle, mais do que um produto, é um serviço. Em informática, é o que chamariamos de ASP (Application Service Provider). Por exemplo, apesar de free (por enquanto) o Google Docs, também é um ASP. Temos uma conta e usamos o serviço de edição de texto, de planilha ou apresentação. O ótimo Gutenberg Project (também free) não deixa de ser isso também.

    O modelo de assinaturas (embutidas ou não) tende a aumentar nos próximos anos. Pagamos pela informação (e alguém precisa pagar a conta), não pelo seu suporte.

    O Kindle (ou qq outro e-reader ou “information appliance”) deve, no futuro próximo, ser adquirido tal e qual adquirimos receptor da Net (ou como os celulares já deveriam o ser): por commodato.

    O formato do dispositivo, certamente, não me interessa. Isso é matéria de estudo para designers, psicólogos e profissionais de ergonomia (e no final, é possível que tudo, música, livro, tv, etc, venha embutido em um celular).

    O que me instiga mesmo é como os conteúdos (e os produtores desse conteúdo) serão influenciados. De que forma a arte será influenciada, entende?

    E quais formas de comercialização desse conteúdo serão possíveis? O escritor poderá publicar por uma editora, mas também poderá criar um serviço baseado em assinaturas (diretas ou indiretas).

    Vejam o exemplo da popularidade do blog do Aguinaldo Silva (que anda “publicando” Duas Caras pela Globo): lá, ele vem antecipando capítulos. Claro, que a Globo não gostou. Mas, isso certamente é um diferencial do blog, algo que não encontrará espaço no horário (caríssimo) da TV.

    Uma editora (até por questão de sobrevivência) também limita seus gastos (inclusive, é uma possibilidade, o tamanho da obra).

    Fora a questão ecologicamente incorreta de cortar ávores para produzir livros de papel, penso que o livro digital é, sem sombra de dúvidas, muito mais inteligente e (acreditem) democrático.

    ***

    Tibor: A possibilidade de ser lançado novamente em uma era pré-histórica (ou pós histórica) por Flares Solares (o que é isso, afinal de contas, Tibor?!) me preocupa menos do que a possibilidade (remota, prefiro crer) de um asteróide vir a se chocar com a Terra. Neste cenário nem os “resistentes” livros de papel nos adiantariam muito. Podemos, então, começar a pensar na possibilidade de voltar a escrever em pedra… 🙂

  • Tibor Moricz 29/11/2007em16:32

    Os flares, também chamados de rajadas solares, são explosões que acontecem quando uma gigantesca quantidade de energia, armazenada em campos magnéticos próximos às manchas solares, é repentinamente liberada. Atualmente são responsáveis por mais de 1 bilhão de dólares de prejuízos em todo o mundo.
    Não sei quais são as probabilidades de sermos atingidos por um asteróide grande suficiente para nos lançar à uma hipotética pré-história, mas sei que flares solares são corriqueiros e a possibilidade de ocorrer um tão poderoso para fazer explodir todas as centrais elétricas do planeta são grandes. Tanto que investem fortunas em planos de ação para casos como esse.
    Já imaginou o planeta sem energia elétrica por um ano ou mais?
    Teríamos chips de memória com toda a nossa história e cultura armazenados. Mas nenhum equipamento para fazê-los aflorar.
    Caos.

  • cachaceiro 29/11/2007em17:21

    seu bando de putanheiros letrados!

    parem de discutir física, não entendem nada. vê-se logo que são de humanas, não de exatas.

  • Gates Bezos 29/11/2007em20:39

    Depois da febre do primeiro dia de vendas do Kindle, semelhante à do IPhone, parece as vendas estagnaram. E parece tambem que os números divulgados inicialmente pela Amazon sobre a procura pelo Kindle eram exagerados. O fracasso do Kindle tem muitas razões. Leiam aqui http://www.notebooks.com/2007/11/19/10-reasons-the-amazon-kindle-will-fail [em inglês]

  • Athayde 29/11/2007em21:13

    Tempos atrás, pinto novo nesse negócio de computador, tinha escrito 120 páginas de um romance, apertei uma tecla misteriosa e puf! – a tela ficou branca. Eu,hein!

  • Athayde 29/11/2007em21:16

    Fiquei dias desolado. Depois achei ótimo. O livro devia ser tão ruim que até a máquina ou a Providência estavam conspirando.

  • Mozzambani 30/11/2007em08:41

    Essa questão toda parece preocupar mais os escritores que os leitores, que deveriam ser os maiores interessados. Talvez porque trocamos a máquina de escrever pelo PC, achamos que os leitores farão o mesmo em relação ao velho livro de papel… MAs eu acho que os leitores não nos seguem tanto como gostaríamos! (rsrsrs)

  • Henrique 30/11/2007em10:00

    Isso aqui tá virando sucursal da INFOEXAME…Isso ainda é um blog literário ou eu perdi alguma coisa!?

  • Claudio Soares 30/11/2007em10:48

    Gates-Bezos: Amazon e Sony acertam e ganham importância histórica pela coragem em desbravar um novo mercado.

    Além da HP (novidade para mim, soube pelo seu link), a Philips (Polymer Vision) trabalha no eReadius e o IPhone tem um sonho de se tornar um eReader tb.

    Isso demonstra que com tantas opções e concorrência chegaremos a uma boa combinação de preço x qualidade.

    Por que os escritores (e editores) devem se informar sobre as novidades tecnológicas?

    Não apenas porque o livro está se transformando, mas também o perfil dos leitores.

    Às gerações dos Baby Boomers (nascidos do pós WWII até 1964) e da Generation X (nascidos entre 1965-1980), se junta a Generation Y ou MTV Generation, ou ainda Internet Generation (a denominação se aplica à sociedade americana, mas por diversas razões, podemos aplicá-la também ao Brasil).

    Para o público leitor que se forma, o teclado e monitor são ferramentas de entretenimento, trabalho, etc tão comuns quanto o lápis e o papel para as gerações anteriores.

    E a internet muda tudo, sabemos.

    A obra em si, ou o conceito que temos dela, certamente adquirem perspectivas complementares para um público que se interessa por FanFics, Mashups de aplicações, músicas, vídeos, etc.

    A questão é (não sabemos a resposta, visto que somos uma geração de transição) como conseguiremos combinar o que aprendemos no passado, com as tantas possibilidades que o presente descortina e que o futuro consolidará…

  • Gates Bezos 30/11/2007em13:26

    Claudio Soares, acho que você ainda não entendeu o que eu disse, então vou repetir: menos de 15% da população do planeta tem acesso à tecnologia. Entenda como tecnologia, acesso à informática. Neste caso, teconologia = informática = computadores. Desses 15%, só uma parte tem acesso a computadores em casa. A outra parte, a maior, acessa no trabalho e em lan houses. Muitas dessas pessoas, a maioria delas, não são leitoras vorazes de livros. Elas lêem de vez em quando um livro. Um aparelho como o Kindle só interessa para quem lê muito livro, porque ele não tem nenhuma outra vantagem em relação ao livro de papel. Comparar com o DVD e com o CD é besteira. O DVD tem um monte de vantagens em relação ao VHS, como opções de ver o filme dublado e legendado em não sei quantas línguas, imagem mais definida, som mais cristalino. O CD se impôs sobre o vinil porque tinha muitas vantagens: capacidade maior de armazenamento, som mais cristalino, não precisar mudar de lado… O Mp3 tem vantagens sobre o CD comercial, senso a maior delas a possibilidade de você baixar ou comprar a música isoladamente sem precisar levar o disco todo. Mesmo assim não foi o Mp3 que acabou com muitas lojas de discos pequenas. O que acabou com essas lojas, pelo menos no Brasil, foram principalmente 1)a concorrência com as mega-lojas tipo Lojas Americanas, Livraria Saraiva, entre outras,, que negociavam volumes de compra muito maiores com as gravadoras a preços menores o que fazia uma concorrência desleal com as pequenas que não tem esse poder de barganha. Nas Lojas Americanas você encontra um CD por 15 reais que uma loja comum não consegue vender por menos de 20. 2) A pirataria de CDs, que são vendidos em camelôs e lojas na 25 de Março ou sei lá mais aonde, por preços que podem chegar a 1 real. Porque o que sustenta uma loja de CDs comum não é um disco do Pink Floyd, do caetano, do Schubert, do Miles Davis. Isso é exceção. O que sustenta essas lojas é a Ivete Sangalo, o Babado Novo, Chitaozinho e Xororó, funk, pagode, esses ritmos populares. As músicas baixadas em Mp3 nos computadores são as exceções do mercado. Elas ajudaram, claro, a esvaziar o mercado, mas sozinhas não conseguiriam causar tanto estrago, porque no Brasil só uma minoria tem acesso a computador.
    O que eu quero dizer é: enquanto um livro eletrônico não oferecer uma vantagem real em relação ao livro de papel, ele não vai pegar. Ele vai seduzir muitos adeptos da tecnologia, mas a maioria dos leitores não vai se interessar. Acabei de chegar da Livraria Cultura da Paulista e ela está lotada de gente comprando livro. Eu tenho uma prima que mora no Japão, que é o paraíso da tecnologia e onde o livro eletrônico existe há uns 10 anos e ela disse que lá o troço não pegou. Não pegou no sentido que algumas pessoas foram para o eletrônico, mas a maioria continua no papel. Tenho certeza que o Kindle vai encontrar um público, mas vai ser um nicho pequeno. Por mais aparelhos que a Amazon venda, será sempre pouco em comparação com o universo de leitores. Volto a dizer: enquanto menos de 15% da população mundial tiver acesso à informática, o livro de papel não acaba. Vou repetir: enquanto menos de 15% da população mundial tiver acesso à informática, o livro de papel não acaba. Vou repetir: enquanto menos de 15% da população mundial tiver acesso à informática, o livro de papel não acaba. E mesmo entre esses 15%, o livro eletrônico só será atraente se ele tiver uma vantagem gritante em relação ao impresso, que não vai ser o preço (afinal os readers custam 400 dólares). Se um dia a leitura de um livro eletrônico for superior à de um de papel, aí o eletrônico pega. Mas se não aconteceu no Japão até hoje, não vai ser no Brasil, esse atraso feudal, que vai acontecer primeiro, né?
    Um conselho: veja o que acontece no Japão e aí você saberá como será o Brasil daqui a 80 anos.

  • Noga Lubicz Sklar 30/11/2007em13:35

    Sérgio, desde que li esse seu post fiquei matutando. A coisa faz sentido, mas havia, não sei, alguma coisa que não estava bem. Finalmente concluí o que era e escrevi a respeito, confere lá: http://www.noga.blog.br/2007/11/kindle-kinder.htm

  • Adolfo Chico Pinho Rosa Neto 30/11/2007em13:58

    Sergio, nada contra, mas eu acho esse tema de fiquicao cientifica meio chato, a nao ser quando voce fala dos serezumanus encontrando os livros intactos. Nao pude deixar de lembrar do Farenheit 451.

    Tua sinopse tem uma sacada boa: Se eles, serezumanus, se dao conta de que possuem ainda uma memoria biologica intacta e ‘lugares de memoria’ – como museus, poroes infectos de arganazes, estatuas, e etc. – para lembrarem do passado, entao da-se ai a velha risada dialetica do capeta: Que passado escolher, que tradicoes eleger para o futuro? – believe it or not, tem gente que vive as voltas a vida toda nessa punheta sociologia.

    Ainda no tema carnavalesco-sociologico-intergalatico…

    Um pequeno conto otimo de ficcao cientifica eh um de Walter Benjamin, se nao me engano no ‘Via de Mao Unica’… Dois jogadores de xadrez frente a frente. Pensam que pela logica, pelo movimento controlado, ou pelo ardil de suas secretas estrategias poderao vencer um ao outro. Porem, nao contam com a oculta presenca de um anao que, sob a mesa, fumando uma narguileh, controla misteriosamente os movimentos das pedras…

    Nao sei nao, mas pra mim isso tambem eh ficcao cientifica.

    Engracado eh que nessa discussao toda, Thomas Jefferson era tao avesso a tecnologia que culpava arado a cavalo pelo degringolar da sociedade americana… na cabeca dele o yeoman, quase digger, era o ideal de homem americano (ironia on) Se ele tivesse o Kindle, provavelmente, imprimiria tudo que baixase, pois ca pra nos, uma tela de computador por 8 horas no dia eh insano.

  • Gates Bezos 30/11/2007em14:22

    O livro de papel morreu:

    Nova megastore na Paulista

    Os paulistanos apaixonados por cultura, entretenimento e informação terão mais um motivo para visitar o repaginado Shopping Paulista, agora Shopping Pátio Paulista (Rua Treze de Maio, 1.947 – SP). Na última quarta-feira (28/11), juntando-se ao esforço de atualização e sofisticação do centro comercial, a Saraiva põe em prática sua proposta de MegaStore, substituindo a loja de menor porte que já operava naquele espaço por uma de mais de 1000 m², localizada na área de expansão do empreendimento. Com investimento de R$ 4.5 milhões, a nova Saraiva MegaStore integra um novo espaço infantil, uma área especial para eventos culturais, além da charmosa cafeteria Suplicy Cafés Especiais. Informações pelo telefone 11-3171-3050.

  • Gates Bezos 30/11/2007em14:40

    Fico imaginando as pobres vítimas daquela tempestade em Bangladesh, correndo para salvar seus Macintosh e seus Sony readers. A Sra. Noga Sklar, que parece que mora no Rio de Janeiro, deveria sair do seu conforto da Zona Sul e passar um dia na periferia de algum dos municípios da Baixada Fluminense, tipo Nilópolis e Caxias e ver se ali o Kindle tem espaço pra pegar. Noga, pergunta pras pessoas o que elas acham do Kindle e do Sony Reader. Vou fazer o mesmo aqui na periferia de Sampa. Se eu voltar vivo, conto como foi.

  • sergio 30/11/2007em14:48

    Sérgio, e a Copa?

  • Claudio Soares 30/11/2007em14:53

    Gates-Bezos: Suas idéias (tão arraigadas no status quo) tranformam o seu pseudônimo em um grande paradoxo (mais do que uma suposta ironia).

    Fique tranquilo, os livros de papel por muito tempo ainda existirão (Graças a Deus!) pois, como alguém disse por aí, “é um dos poucos dispositivo que não precisa ser desligado entre a decolagem e o pouso do avião”.

    Mas, penso, é compreensível sua confusão. Explico: nossa geração (de transição) vivencia diferentes revoluções. Algumas delas (relacionadas ao ato de ler):

    1) revolução do texto eletrônico;

    2) revolução da técnica de produção dos textos (Aqui um aparte: Noga, li seu post, e acredite, Ligia Fagundes Teles ainda usa máquina de escrever e está escrevendo como nunca!);

    3) revolução do suporte do escrito (aqui está o cerne da discussão deste post);

    4) e até das práticas de leitura.

    Não sou eu quem digo. É o historiador Roger Chartier (dentre outros). Uma tese com a qual concordo. Habitaremos uma área cinzenta e todos conviveremos bem. Os “manuscritos” (“datilografados” tb), os “impressos” e os “eletrônicos”.

    Em relação ao suporte de leitura, ao leitor, interessa a solução e a facilidade de acesso a ela; não quem a desenvolveu (isso aqui definitivamente não é a Corrida Maluca): seja Amazon, HP, Sony, etc (na edição de hoje, o Valor Econômico, por exemplo, critica, de forma superficial, a meu ver, o Kindle).

    O que interessa é que a antiga oposição livro, escrita, leitura versus tela (antes mais associada ao cinema e à TV) cai por terra com o advento dos “computadores embutidos”.

    Concordo que nem todos possuem condições de comprar um Kindle, ou mesmo ter acesso a informática (no nosso país é pior, muitas vezes nem a um livro). Porém, há menos de 10 anos, nem a um celular a maioria tinha acesso.

    Lembre-se: o que aqui discutimos é um processo. E mais: o livro eletrônico não deve ser encarado como uma simples substituição do livro de papel.

    Mais ainda (mas isso já seria tema para um post a parte): o livro eletrônico exige, vejam bem EXIGE, que nos desliguemos (em parte pelo menos, para podermos enxergar o novo) dos velhos hábitos adquiridos com as limitações dos antigos suportes de leitura (livros).

    O hipertexto não é linear (para satisfazer nossa dificuldade de adaptação, o forçamos a ser; mas ele não necessariamente o é). É relacional.

    E isso influenciará nossa forma de pensar e nosso modo de aprender (já que fazemos parte da “civilização dos livros”).

  • Sérgio Rodrigues 30/11/2007em15:03

    Xará, a Copa segue firme. A final está anunciada para semana que vem, entre o tijolo da Ana Maria Gonçalves e o romance do Assis Brasil, que eliminou o meu na semifinal. Confere lá no http://www.copadeliteratura.com
    Um abraço.

  • Claudio Soares 30/11/2007em15:57

    O “Sementes” é um bom (e instigante) livro (já o disse aqui, por ocasião de seu lançamento). Merecia melhor sorte. (Aguardamos os novos frutos de sua pena, Sérgio). Mas, Assis Brasil tb é craque. O mais importante entretanto, é que a “Copa” cumpre, com maestria, o seu papel: divulga, diverte e tudo isso com muito “fair play”. Parabéns a todos!

  • Sérgio Rodrigues 30/11/2007em16:19

    Obrigado, Claudio. Chegar entre os quatro finalistas ficou de bom tamanho. Torço muito pela Copa, uma bela novidade na literatura brasileira. Um abraço.

  • Gates Bezos 30/11/2007em19:06

    Claudio Soares, agora chegamos a um consenso. Você acaba de me provar que é um cara realista e ponderado. Fiz questão que colocar lenha na discussão porque tem uns idiotas aí na internet, que acham que o papel vai acabar amanhã e que a internet vai tomar o lugar de tudo já no ano que vem. Tem uns donos de sites culturais por aqui, uns caras recalcados que foram esnobados por alguns jornalistas da grande mídia impressa, com razão, e que declararam uma “guerra” ridicula ao papel. Esses caras são tão patéticos que preferem não ver a realidade para fazer proselitismo barato. Com certeza o livro eletrônico será uma alternativa ao papel, mas vai levar muitos anos até que ele comece a se revelar de verdade.

  • Sérgio Rodrigues 30/11/2007em19:55

    Gates Bezos: não sei a que jornalistas esnobados pela “grande mídia” você se refere, mas não vi nada parecido com esse espírito belicoso por aqui. Vi uma conversa agradável, levemente perplexa, de gente de boa fé que tenta enxergar alguns palmos escuridão adentro. A única pessoa que destoou e declarou guerra a alguma coisa foi você, batendo na tecla do presente e do futuro imediato como se isso liquidasse o assunto. Na boa, o nervosismo em que essa conversa o deixa deve abalar a confiança do mais fanático torcedor do papel. Você não é herdeiro da Ripasa ou coisa assim, é?

  • pérsia 02/12/2007em12:25

    rs. olha, sérgio, se não vale perguntar profissão, idade etc., também não vale perguntar da grana.
    ok, situa-se, então, o limite da questão, 15% têm acesso à informática no planetinha, e qual o percentual dos que compram livros, lêem livros (pra mim, algo como 3 livros por ano, se não forem de aLta ajuda, identificam um leitor de livros) entre os que têm, ou não, acesso à informática? a discussão transborda a superposição, não?
    se surgem novos modelos de escrita, surgem também novas formas de leitura (4), o de textos curtos;o que dá uma rapidinha a qualquer hora do dia; aquele que se emaranha em links e pode ler por horas e não voltar ao texto por que começou (meio louco, encantado por informações, pela não-linearidade etc.), sem dúvida, transformações.

  • pérsia 02/12/2007em12:26

    o leitor de textos curtos, o de…